domingo, 14 de julho de 2019

Pela cabeça


Tenho estado a ver anúncios de aluguer de quartos. Só encontrei dois de que gostei. Ambos pertencem a casas do meu actual senhorio. Só me fazem que não esqueça que desta vez ele não me ofereceu um quarto numa das suas muitas casas. "Sorry, you have to go". Foram as palavras que me disse com o que me pareceu falsa consternação quando os inspectores abandonaram a casa confirmando as suspeitas sobre as dimensões do quarto serem abaixo dos requisitos exigidos por lei.

Não devia ter sido tão precipitado em dizer "lamento, mas tens de ir embora" se afinal o despejo não tinha de ser imediato. Eles dão-lhe 18 meses para solucionar o problema, que tem duas soluções: aumenta o quarto e paga para ter a casa certificada contra incêndios ou elimina o quinto quarto, dispensando assim a renda extra.

Neste momento tenho plena consciência que sou a peça mais importante da casa. Mas também a menos desejada. Receio que até por ele. O que me entristece. Mas adiante, que tristezas não pagam dívidas. Disse que me considero a peça mais importante da casa porque enquanto cá estiver, dou-lhe renda. Assim que sair e até ele alargar o quarto, não será possível meter outro arendatário, pois a lei não o permite.

Assim sendo, tem de levar comigo porque isso significa dinheiro a mais. Sem mim, seria dinheiro a menos.

Nesta cidadezinha os quartos são tão deprimentes, em casas tão sem jeito, e tão caros! Procuro algo que me comunique bem-estar. E tenho encontrado apenas em anúncios de casas dele. Que coisa!

E ele tem uma porrada de casa na localidade. Pelo menos seis. O não me oferecer como alternativa um quarto quando vejo que tem tantos a vagar, magoa-me. Mas também posso interpretar esta sua atitude como oportunista. Se me "oferecer" outro, perde de imediato a renda deste. Assim sendo, não lhe é conveniente fazê-lo. Nunca vai me oferecer porque isso significa perder dinheiro.

O meu receio é que quando chegar a hora dele tomar uma decisão - ou o fim do prazo dos 18 meses - ele me repetir as palavras "Sorry, you'll have to leave" com o que me pareceu uma secura disfarçada de falso lamento. "Existem mais casas, o que não faltam são quartos" - outra coisa que me disse aquando me deu a notícia de que vinham inspeccionar a casa.

Outra coisa que lhe está a falhar é comunicar no chat quem é que vem para cá morar. Isto é muito sério e grave. Porque em todas as outras ocasiões, ele sempre comunicou a todos na casa o nome do novo morador, idade, profissão. Agora... silêncio. A mais-nova vai sair dentro de 18 dias e NADA dele dizer ai ou ui. E eu sei porquê. Porque a única pessoa que não sabe de nada SOU EU.

Foi o senhorio que pediu diretamente aos italianos para lhe indicarem alguém para a casa. E eles logo começaram a fazer telefonemas. Ao todo apareceram QUATRO rapazes, todos italianos, todos "amigos" dos que cá moram.

Ninguém me disse isto. Eu é que ouvi. Primeiro, ouvi o senhorio entrar em casa naquele dia da inspecção, ficar surpreso ao ver três pessoas dentro quando só contava com uma, demorar para me olhar no rosto e cumprimentar e depois chamar um pouco à parte os dois italianos e pedir-lhes para arranjarem alguém para cá morar.

Mas ao mesmo tempo sei que o rapaz disse: "Ela já sabe do amigo da X". Quando a mais-nova "comunicou-me" que ia sair - coisa que o senhorio também omitiu de MIM - respondi-lhe que já sabia e perguntei ao rapaz se sempre vinha para cá um amigo da X.

Quando virei as costas, entre eles, ele desabafou surpresa por eu saber que procuravam para cá morar um dos deles. E colocou a hipótese de eu ter ficado a saber disso por ter falado com o senhorio nesse dia no jardim. Mas o tema da conversa entre nós dois foi só o jardim em si. Eu comprei flores e ele autorizou-me a plantá-las em sítios específicos. Eu queria "jardinar" e ele queria ver umas áreas secas do jardim com plantas. Juntou-se a fome com a vontade de comer. Só isso.

Ele nem me ofereceu o uso de ferramentas de jardinagem, já que eu entrava com o trabalho e o material principal. Não tinha que oferecer mas seria uma cortesia que eu esperaria dele no início ou se se tratasse de um dos italianos. Ele permitiu que usasse uma pá que está na arrecadação, que durante todo este tempo tinha um trinco na porta, aberto. Eu julgava-o fechado, até me meter na jardinagem. Um destes dias encontro o trinco fechado e um pequeno garfo cheio de teias de aranha e ferrugem deixado do lado de fora. A pá, eu própria tinha-a deixado fora.

Até hoje não sei se foi ele que fechou o cadeado. Se foi, entristece-me porque, mais uma vez, este sempre esteve aberto, o que permitiu aos cá de casa retirar de lá, o ano passado, uma cadeira que nunca devolveram ao barracão. Não sei se foi ele que colocou uma planta perto das minhas de compra. O que sei é que, noutros tempos, ele teria a cortesia de comunicar por mensagem escrita "deixei um vaso com flores no jardim, por favor cuidem". Ele envia mensagens para tudo e mais alguma coisa. E até respondeu a uma mensagem-ataque (mensagens destinadas a mim) depois da meia-noite, a semana passada. A mais-nova, tendo-me escutado a sair do WC, foi-se lá enfiar de seguida e de imediato escreveu uma longa mensagem no chat dizendo para não se fechar a janela do WC, que ela e a mais-velha estão sempre a abrir a janela, que esta deve ficar sempre aberta, porque impede a formação de bactérias e estamos no verão, está calor, deve ficar aberta, porque senão criam-se fungos disto e daquilo, que é prejudicial para a saúde, pode causar doenças, etc, etc.

A sério: uma longa e extensiva mensagem fora de horas que podia muito bem ser transmitida pessoalmente no dia seguinte. Se a pessoa fosse bem intencionada, claro está. Mas ele, o senhorio, que já me deu um raspanete uma vez por lhe enviar uma mensagem depois da meia-noite, Decidiu não ignorar aquela e escreveu: "Concordo e apoio".

E a parvalhona, tal e qual uma criança a precisar de validação e que tomem o seu lado, respondeu: "Obrigada, papá".

Nessa noite em que fui ao WC e fechei a janela, CHOVEU e estava ventoso. Eu há uma semana que estava com tosse e nariz entupido, sempre a fungar e a tirar ranhoca. Mas pronto... é "verão", que não se cometa o crime de se fechar uma janela numa noite fria durante cinco minutos!

Mas são por estes episódios que denoto que o senhorio é mais afável com a italienada e menos atencioso comigo. Não costumava ser assim. Ele era igual. Mas desde que aquela mais-velha andou a tentar soprar aos ouvidos dele... naquela primeira semana em que eu fui trabalhar e eles perceberam os meus horários... Ela andou a encher-lhe os ouvidos. 

Por isso é que acho que ela é a pior de todos eles. É calculista, manipuladora, não dá ponto sem nó. E disfarça o seu fel e desprezo com um sorriso e voz doce. O rapaz é desprezível - porque nunca me fala nem nunca me falou, para ser honesta. Fui sempre eu a puxar conversa e a ter quase nenhuma resposta em troca. É muito frustrante. Mas ao invés de perder os meus pensamentos no: "mas o que foi que eu fiz?" decidi cagar porque o problema nunca fui eu - mas eles. Que teimaram em não ser receptivos e sempre foram de rejeitar qualquer tentativa afável de convívio. 

Posso ser eu a sair prejudicada mas se depender da minha vontade e interpretação de justiça, este karma vai-lhes cair em cima. Só lhes desejo que venham a passar pelo triplo do que me fazem passar e que a vida futura lhes traga o dobro do que me desejam. 

2 comentários:

  1. Antes de comentar o post e já nos diversos que fizeste verifico que aí tudo é inspeccionado e ai de quem não cumpra as leis, o que por cá não acontece e os senhorios fazem/coram/despejam tudo e todos para obterem mais e mais lucro.
    Quanto ao post eu que detesto dar lições de moral e fazer julgamentos do quer que seja, digo o que diria a uma filha minha: sê tu própria sem marinar no que te dizem ou fizerem, honesta, humilde e segue em frente porque a verdade virá sempre ao de cimo. O caminho por vezes têm pedregulhos e há que saber ultrapassá-los e eu sei que conseguirás. Quem te pisou/derrubou um dia será pisado e não derrubado mas sim esmagado.

    Um enorme abraço e um bom domingo que por aqui acordou triste e sombrio:)

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    1. Obrigada Fatyly, que os bons ventos te oiçam!
      Uma pessoa cansa-se de ser constantemente pisada e ver os que pisam continuar a vida deles felizes e impunes. A certa altura precisa-se de acreditar que a vida lhes vais reservar o troco na medida correta.

      Mas olha que eu também tinha essa ideia das inspeções e da lei por cá, mas disse-me o próprio senhorio que não é nada assim. "Calhou", para minha "sorte", isso acontecer nesta casa, porque preenche os requisitos únicos de 5 ou mais moradores. A cidade está cravejada de casas com menos inquilinos, que reunem menos condições e não ligam a leis. Aqui a coisa só funciona com denúncia. Malícia, claro está. O senhorio soube por uma ex inquilina que na casa onde esta morava actualmente quando inspecionada desmancharam o quarto na sala mas quando os inspectores foram embora, voltaram a colocar as camas. Ele passou-lhes logo o endereço. Aqui se ele me quiser fora do quarto e com a cumplicidade dos italianos cá enfiar outra pessoa, certamente que ninguém vai denunciá-lo. E os inspectores não aparecem de surpresa, só por marcação. Há muita casa que não tem boas condições - como a minha primeira - mas a lei não anda atrás desses. A "lei" é oportunista. Diz que pensa no conforto dos moradores mas na realidade anda à caça de dinheiro. A criar impostos novos, a fazer exigências... tudo com custos.

      Olhe, se tiver fé peço-lhe que reze por mim. Quantas mais boas energias, melhor. Abraço!

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