O meu trabalho consiste em informar turistas sobre viagens, transportes, pontos de turismo, hoteis, etc.
Muitas vezes alguém apressado aproxima-se e antes de parar já está a «arrancar» e a querer a resposta à pergunta que lançou ao ar. São os apressados. Os que percebem que têm de estar em algum lugar depressa e se vêm com pouco tempo. Uns correm que nem baratas tontas de um lado para o outro. Ao avistá-los, ofereço ajuda mas estão com demasiada pressa e por isso fingim não ouvir e seguem caminho. Julgam que disponibilizar tempo para me ouvir é... perda de tempo.
Mas sabem o que descobri?
Ganha-se tempo. Na realidade, pode-se até ganhar bastante tempo se se parar para pedir informações. Basta aguardar apenas cinco segundos que podem fazer a diferença. Dar cinco segundos, meio minuto, para que a informação possa ser emitida e assimilada não é perder tempo. É recuperá-lo.
Ganha-se tempo. Na realidade, pode-se até ganhar bastante tempo se se parar para pedir informações. Basta aguardar apenas cinco segundos que podem fazer a diferença. Dar cinco segundos, meio minuto, para que a informação possa ser emitida e assimilada não é perder tempo. É recuperá-lo.
Na pressa o que vejo são pessoas que, mesmo recebendo direcções exatas, vão enfiar-se nos lugares errados. Mas as que considero piores são aquelas pessoas a quem perguntas se podes ajudar e elas ficam paradas a fingir que não te ouviram.
Ignoram-te. Isso para mim é de tão má educação.
Por vezes não volto a oferecer. E vejo-as ali, a tentar descobrir por elas mesmas para onde se devem dirigir, quando, em três segundos, já o saberiam e já estavam a meio caminho. Diria que em 90% desses casos, passados uns 5 a 10 minutos todos regressam mais perdidos, a querer ser orientados. As mais inteligentes perdem esse tempo e seguem contentes e agradecidas, conscientes que já economizaram uns bons minutos de stress e de pesquisa. Até caminham mais tranquilamente, porque sabem para onde vão. Os que não sabem, caminham apressadamente, hesitantemente, sempre com a cabeça levantada e o pescoço em todas as direcções, em busca de informações visuais, sinais, nomes, setas...
E perdem tempo. Os apressados interpretam muita informação mal. Agora que o verão está cada vez mais à porta, já dá para notar as consequências. Ao invés de pessoas geralmente sempre bem dispostas, já aparecem com frequência os viajantes irritados, mal dispostos e mal educados. Mais uma vez, aqueles que não se precaveram, não sairam de casa antecipadamente para fazer uma viagem, para comprar um bilhete, e chegam cheios de pressa e a refilar com todos que, naquele preciso dia, "meteram-se" no seu caminho.
Hoje atendi uma mulher que chegou já a avançar, sem parar e a refilar. A duvidar das indicações que lhe dei a respeito do local onde tinha de se dirigir. Então ofereci-me para a conduzir até lá. Pelo caminho conversei um pouco, tentando que descontraísse. Estava atrasada por culpa dela mas, claro, responsabilizou todas as outras pessoas menos a si mesma. Vai que a conduzo até um determinado sítio e aí mesmo já tenho outra pessoa a querer apresentar-me uma questão. Ao perceber isso, a mulher a quem não tinha obrigação nenhuma de conduzir até o local, respondeu à outra, após esta dizer que pretendia colocar-me uma questão.
-"Boa sorte".
Como quem diz que não a ajudei de todo. Ora a lata! Da próxima vez leva com o tipo de atendimento que os meus colegas fazem: seco, repetem o comando e no máximo apontam na direcção a seguir. Há pessoas que não sabem ser gratas ou reconhecer gestos de ajuda que não está na minha obrigação oferecer. Confundem-me com a pessoa que trabalha para certas companhias e por isso julgam que as sei informar sobre procedimentos específicos dessas companhias. Ora, não é por limpar um restaurante que sei dizer como é que na cozinha cozem os ovos!
Hoje, por ter pouco movimento em certas alturas, prestei-me a esses favores. E, pela primeira vez, fui ajudar umas pessoas a fazer uma operação naquelas máquinas automáticas. Nunca tinha usado uma mas, como trabalho nas proximidades, pensam que sei tudo e tenho obrigação de saber.
Ontem um casal teimou comigo que a direcçao que lhes dei não estava certa e exigiam falar com outra pessoa que "soubesse". Ainda por cima tinham cortado a vez a outra pessoa que chegou primeiro com uma pergunta. Respondi-lhes porque era uma resposta direta e podiam seguir caminho. Mas o agradecimento veio em forma de desconfiança e ameaça. O cliente que chegou primeiro foi simpático e nao se chateou. Pedi-lhe desculpas e os outros, já que não estavam satisfeitos com as minhas direcções, ficaram ali recusando-se mexer-se do lugar, porque estavam "cansados de correr de um lado para o outro" e queriam alguém que "soubesse" onde ficava um certo hotel.
Pois respondi-lhes que ia ver. Acabei de atender o cliente e segui pelo caminho que lhes indiquei. Direta ao hotel, apenas a 20 metros de distância. Quando dei por mim vinham atrás, certamente já a perceber o erro cometido. Quando se cruzaram comigo, lá disseram:
-"Ah, é aqui. Lembravamos que era uma zona assim e não a vimos. Obrigado".
Fizeram figuras de ursos, como se costuma dizer.
Gradualmente este tipo de pessoas está a aumentar...
Mas entre elas, resta-me as genuinamente simpáticas e as que irradiam um contentamento genuino cada vez que são ajudadas e sentem que as suas preocupações deixaram de existir.
E essas, são muitas.
E essas, são muitas.
Já me aborreci várias vezes com a minha mulher por causa disso - em vez de perguntar, fica a olhar para o mapa.
ResponderEliminarComo não percebe patavina andamos ali feitos parvos um tempão.
E compensam-na.
ResponderEliminarAbraço