domingo, 1 de fevereiro de 2009

Quem é o povo Português?



Afinal, como definimos o povo Português?
Como se define um povo?

.Ao ver a reportagem da Tvi sobre o Rendimento de Inserção Social, encontrei-me com a identidade do povo português.

Somos aquilo tudo que vi. Acredito que a maior característica do meu povo é a humildade. Segue-se a ela, uma grande entrega para o trabalho. Mas se isto são, são dúvida, qualidades, também atrapalham.
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Geralmente, a humildade nas pessoas não as faz ambiciosas. È a principal diferença entre o Zezinho do bairro que gosta de jogar à bola na rua e o Cristiano Ronaldo. Somos um povo que sonha com mais conforto, não se importa de dar no duro a trabalhar, mas que foi educado a sufocar desejos e ficar pelos sonhos. Não somos muito ambiciosos, somos grandes sonhadores.

Mas isto tem a sua razão de ser. Se as gerações que se seguem conseguissem eliminar esta tendência tipicamente portuguesa para a repressão do indivíduo, seriamos também, um pouco mais felizes.
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Neste país que inventou o Fado, fui criada a pensar que a ambição é um terrível defeito. Sempre que manifestei vontades de empreendorismo, fui bombardeada com fatalismos e negativismo. Projectaram na minha direcção todos os cenários negativos e rebaixaram sempre as minhas capacidades. Não me senti apoiada, vivi a ser insultada, humilhada, maltratada e nunca depositaram fé em mim - não sabiam como. Fácil mesmo, assimilado pelos genes, está o negativismo, o «deixa estar, nem vale a pena tentar, tu não consegues» - que tanto me irritou e me castrou a vida, mudando-a para sempre.

Esta é outra característica deste povo que inventou o Fado: somos um tanto negativos, vemos um cenário sempre negro e não entendemos que, essa visão, nos atrapalha a vida. Depois temos a dualidade trazida pelo sonho. Como sonhadores, temos o nosso quê de optimismo. Um optimismo muitas vezes baseado apenas na fé. Aí somos crentes. Crentes no que não é palpável. Crentes no Fado, no sonho... e esta nossa fé dá um pouco de cor ao negativismo que também carregamos.
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Da Padeira de Aljubarrota e da descoberta de novos mundos, passámos a ser um povo muito mais passivo. Mas não é o que domina os nossos genes. Quer dizer: existe a passividade para umas coisas, não existia para outras. As mudanças socio-económicas e o excesso repentino de tudo (bens, serviços, informação) trouxe-nos uma passividade perigosa, quase de lobotomia, diante dos mais variados factores.
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Sempre fomos um povo de acção social. Mulheres guerreiras, que afugentam as ameaças ou com a pá do pão, ou com a enxada. Existia a união popular. Ficámos mais individualistas e, como já diz o ditado: dividir para conquistar.
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Portugal está a ser conquistado pelo capitalismo e estamos a virar cordeiros com um cérebro homogeneizado, graças à política vigente e a muitas acções da democracia.
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Negamos o sangue que nos corre nas veias, quando permanecemos passivos diante de um acontecimento em que é preciso agir. A passividade faz parte deste povo humilde, mas não diante da injustiça ou do perigo.
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O povo português resigna-se muito. Fica passivo diante das dificuldades da vida, aceita-as rapidamente e combate-as com trabalho. É passivo quando tem pouco, mas tem o suficiente. Está sempre pronto para agarrar na enxada. Gosta de trabalhar e dar duro, trabalho árduo e físico. No seu sangue está a acção. Somos muito mais portugueses, quando socorremos alguém, quando lutamos por uma causa, quando nos associamos temporariamente a outras.
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Infelismente, nas grandes cidades pelo menos, cada vez o fazemos menos. Nem conhecemos os nossos vizinhos, nem o desejamos, tal é a vontade de passar umas horas em puro sossego após um dia de trabalho cansantivo no escritório. As conversas são um tanto idiotas, o convivio restringe-se cada vez mais ao ambiente profissional, tudo é muito superficial, as relações amorosas iniciam-se com jogos de desinteresse fingido, e os vizinhos, quando damos por eles, é porque nos estão a invadir o espaço e retiram-nos o tão almejado silêncio que nos restitui a tranquilidade roubada no dia-a-dia.

.Quando se trabalhava no campo, de sol a sol, a trabalho era árduo e fisicamente desgastante, mas compensava muito mais em termos emocionais. Existia convívio saudável, união, um autêntico «grupo» entre as pessoas. Estabeleciam-se laços de amizade para toda a vida. Compadecia-se das dores alheias, praticava-se a entre-ajuda, etc. A mudança do campo para a cidade trouxe o afastamento entre os indivíduos e, por essa razão, nunca seremos verdadeiramente felizes. Está no nosso sangue, a vontade de ter amigos. Mas lá está também o fado: que nos remete para a solidão.
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Está no sangue, não se pode negar. Gerações e gerações de pais a gerar filhos, que por sua vez geram os seus filhos, de um povo que cresceu humildemente, sem muitos recursos, grande parte dele analfabeto mas com grande esperteza e sempre pronto para trabalhar, fosse no que fosse, fosse como fosse.
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Temos um tanto de brio, mas somos humildes. Somos honestos e prontos para o trabalho. A vida é para trabalhar. E se pararmos, resignamos-nos, sofremos, e o peso genético de gerações e gerações que nos incutiram milénios de energias negativas, de castração, invade os melhores dos corações e nos torna mais passivos, retirando-nos a capacidade de enxergar o nosso valor, a nossa capacidade para o trabalho e nos remete para a baixa auto-estima que é herança de longa data deste povo.

. E é por possuirmos as qualidades que já referi, que ficamos assim. Um «acomodado» do rendimento de inserção social ou de outro tipo qualquer, só precisa de uma mão amiga que seja persistente, para que assim se faça a «limpeza» da auto-estima, que durante anos lhe foi envenenada e cujas circunstâncias voltaram a minar. Um «acomodado» nem sempre o é por preguiça, mas por pura sensibilidade e falta de auto-confiança. Se lhe restituirem o que perdeu, equivale a renascer para a vida..

O português não vê com bons olhos a preguiça. Mas também não consegue muitas vezes distinguir o verdadeiro preguiçoso do indivíduo mais batalhador. É que a dita ambição, muitas vezes mascara tudo e a sociedade evoluiu para vermos as máscaras em primeiro lugar.

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