Hoje colei o dispensor de sabonete líquido ao lavatório.
Passadas duas horas, oiço a M. a fazer um grande estardalhaço com a embalagem. E rio-me. Lá foi ela tirar novamente o dispensor dali. Por pura maldade. Não esperava era encontrá-lo fixado! Puxou, puxou, desprendeu, mas desistiu. Ahahah. Ri e achei divertido. Com essa ela não esperava!
Fui de imediato confirmar as minhas suspeitas. Encontrei o dispensor descolado quase na totalidade mas ainda no lugar onde é suposto estar e, de forma muito desajeitada, forçada, a M. impôs o dispensor dela entre a torneira e a minha embalagem.
Se não fosse isto seria outra coisa porque não se trata do que é. Trata-se de quem é. A quem pertence. Ou quem decidiu.
Tenho que partilhar aqui que isto de "dois dispensores" também é coisa NOVA. Criada pela "M". Até aqui só tem existido UM DISPENSOR. Que ela escolhe, compra e decide onde deve ficar. E SÓ PODE FICAR onde ela decide. Se alguém muda de lugar, ela enfurece-se. Aliás, qualquer coisa de outra pessoa naquele espaço a faz "passar-se" dos carretos. Como Narcisista que é, a única coisa que "está bem" são as coisas dela, como ela decide as ter. E se o armário do WC está CHEIO de embalagens vazias (contei oito), está tudo bem. Porque são todas DELA.
Ela usa sabonete líquido tão depressa que em menos de uma semana acabam. Depois não os deita fora. Não. É mais uma embalagem vazia - ou quase vazia, a juntar-se a outras.
O último dispensor que comprou, usou quase até ao fim. Não o deitou fora. Colocou-o no parapeito da janela meio aberto e aguado, deixou-o cair, o líquido vazou para o parapeito, deixou tudo vermelho com consistência de gosma mas limpar é que não.
Deixei que passasse tempo. Geralmente ela é que DECIDE que sabonete líquido vai colocar. Passou mais de uma semana, depois duas. Então percebi que desta vez, ela não quis colocar nenhum. Talvez para "castigo". Já que diz "não usar" esta WC - o que é mentira, porque ainda há dias encontrei a sanita com vestígios de cocó e o fundo com sangue. Para quem "não usa" acordou-me três vezes a noite passada, entre a 1 da manhã e as 2 horas. A bater portas e a ir sucessivamente ao WC. Sempre que lá vai, de alguma forma estraga alguma coisa: ou não limpa a merda que deixa na sanita, ou deixa cair sangue menstrual, ou deita o papel higiénico usado no chão.
Coisas que a minha ingénua pessoa, de início, pensava serem casuais, fruto de uma mente descuidada, que não recebeu uma educação apropriada. Mas hoje, já sem qualquer névoa de bondade a filtar meus olhos, sei que é consciente e intencional.
Assim que viu que eu havia colocado um dispensor de sabonete no WC, fez-lhe espécie. Tirou-o do lavatório umas tantas vezes, para o deixar em cima do parapeito. Só passado uns dias é que "lembrou-se" daquele que negligênciou e estava ainda detarrachado e tombado quase a cair pela janela.
Foi buscá-lo, fechou-o e desde então, quer substituir aquele que lá coloquei pelo seu. Que não está a usar. Pois continua com a mesma quantidade minúscula de líquido. Remove o que lá pus, deixando-o no cimo da janela e o dela aparece no lavatório onde antes estava o meu.
Há uns tempos, fingindo desconhecimento de causa, ela encorralou-me no corredor depois de eu sair do WC para me dizer: "Não sei se és tu ou é ele, não quero que tirem o meu sabonete do lugar, é para ficar ali.". Ao que lhe respondi: "Estou mais preocupada com a merda deixada dentro na sanita".
- "Merda?" - diz ela, fingindo inocência.
-"Sim. Merda. Dentro da sanita e também no assento. Salpicos de merda"
Sabia muito bem que tinha sido ela, logo pela manhã, porque é bastante sonora. E o rapaz - o único que também poderia ter usado a sanita, tinha-se ausentado por uns dias. Ela percebeu que o dedo só podia apontar numa direcção. Abordou-me para apontar-me o dedo, mas virou-se o feitiço contra o feitiçeiro.
Coloquei o dispensor ali para todos usarem-no. Ela inclusive. Não me incomoda. Para quê um conjunto de sabonetes líquidos num WC minúsculo? Já havia vivido com uma pessoa com um comportamento semelhante na casa anterior: embalagens vazias por todo o lado, não tocava nas coisas que eu comprava para a casa, como esponjas da louça, detergente da louça, e ia comprar ao seu gosto, impondo o uso simultaneo e instruindo os "amigos" para não usarem os que comprei. Por essa experiência percebi que é melhor deixar a pessoa tomar as decisões. Porque contraliá-la vai deixá-la enfurecida e vai retaliar.
Aposto que o sabonete líquido não vai sobreviver muito mais tempo lá. Vai "saltar" para o parapeito da janela ainda esta noite. Tal como a jarra saltitante....
A ideia de fazer isto surgiu do nada mas acho que, inconscientemente, tirei inspiração de uma memória humorística de uma partida de carnaval de meu pai. Ele colou numa tampa de esgoto algumas moedas de escudo e depois ficámos à janela a observar o comportamento das pessoas. Algumas tentavam muito puxar a moeda, sem conseguir. Outras tentavam com uma chave. Aos poucos alguém foi conseguindo e as moedas desapareceram. Algo nessa memória me faz sentir um tanto feliz. Uma brincadeira inocente tanto como eu.
PS: Fui ao WC e percebi que um fio de cola ia do lavatório até o parapeito da janela. Isso só seria possível se a dispensor, depois de colado, tivesse sido colocado ali. Ficou claro para mim que foi isso mesmo que aconteceu. Depois de o fazer, a M. deve ter percebido que o seu gesto ia ficar comprometido e não quis ser identificada ao acto. Voltou a colocar o dispensador e enfiou o dela entre os dois. Resta saber o que vai inventar de seguida. Seja o que for, será dentro das linhas da inversão de papéis.
Bom dia
ResponderEliminarTalvez a M. tenha aprendido algo com a brincadeira que até lhe deu algum gozo.
JR