quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Uma mudança que não aconteceu e a (previsível) reacção da M dois dias depois

 Tinha acabado de sair daquele quarto ainda a segurar a fita métrica na mão quando me aparece há frente um homem desconhecido.

-"Ola. Eu vim morar para esta casa."

E assim se resolveram as minhas duvidas a respeito de me mudar para o quarto que ainda estava vago.

Foi o armário.  Aquele armario dentro da parede que me seduziu. Isso e a tranquilidade serena que senti ao la entrar. Dar mais 150 libras mensalmente por ele e que me fez hesitar.

Porem, nesse dia 12 era o que ia fazer. Colocando uma contra proposta de menos 50 libras, ja que todos na casa estão a pagar esse valor a menos pelos seus quartos, todos eles maiores que aquele.

Sempre escolhi um quarto com base no sentimento que me causa ao entrar. E aquele surpreendeu-me. 

O que ocupo agora e o mais espaçoso de todos os singles que já ocupei. Mas não funciona tao bem em termos de arrumação. Maior não significa melhor aproveitamento do espaço. Isso e um equívoco que muitos cometem. Depois invejam-me por conseguir enfiar mais coisas num espaço menor, sem conpreenderem que isso se deve à minha capacidade de aproveitamento de espaços aliada aquele que este já fornece. É o que me da vantagem sobre os demais. 

De todos os quartos que vi quando procurava mudar de casa, aquele que ocupo agora é o maior e mais harmonioso. Mas logo lhe detectei problemas de armazenamento. O guarda-vestidos e das dimensoes de um armario de vassouras. Tem a largura de uma tabua de engomar e a profundidade exata para se pendurar um casaco e fechar a porta. 

Pormenores destes contam. Compensa ter uma cómoda com três gavetas. Mas é um volume enganador de armazenamento extra. Só complementa a falta de espaço do guarda-vestidos ao invés de acrescentar-lhe valor.

Este tipo de questões não são mais do que um bom desafio feito a minha medida. Venci todos os espacos pequenos que tive de ocupar, fazendo-os parecer maiores. As dimensoes desses quartos repudiavam todos a quem os mostrei e, sinceramente, essa reacção fazia-me confusão. Nunca entendi bem porque todos só apreciarem quartos com camas de casal. Sem espaço para outra coisa senão passar de um lado para o outro da cama. 

O problema que me incapacita de aproveitar bem o espaco que tenho agora nem e este - sem duvida o mais desafiante que tive ate hoje. A questão e que o quarto é muito quente no verão. Em Julho e Agosto a temperatura que se fez sentir "expulsou-me" constantemente do quarto. Quando dava por mim, estava lá em baixo. Onde instintivamente me sentia melhor.

Agora que a estação mudou e esta de chuva, o quarto tornou-se "habitável". Agora fico mais tempo dentro dele do que fora dele. Tem uma janela que abre toda para fora, o que e uma vantagem sobre todas as outras na casa e uma raridade no reino unido. 

Mas no verão, e preciso manter a porta e janela aberta para provocar uma corrente de ar, so para se conseguir respirar. Sei que não vou gostar de passar por isso novamente, caso ainda me mantenha na casa para o ano que vem. Sim, porque depois da péssima experiência na casa anterior, não sinto que vá me apegar muito mais às coisas. Há sempre outros espaços, outros lugares para se ser feliz.

Esta seria a primeira vez que fazia intensão de mudar de quarto ficando na mesma casa. Anteontem a  rapariga do andar de baixo pediu-me para lho mostrar (deixaram a porta aberta) e ficou muito animada, dizendo que era mais espaçoso que o dela, que a diferença de dinheiro era "pouca" e, já que o quarto estava aberto, ia passar a usá-lo para fazer as suas coisas ali (ela é actriz mas trabalha como modelo e por vezes tem de fazer sessões de fotografia e video).

Eu, que já usava o quarto para, por vezes, ficar no sossego por uns instantes, para estudar como estar ali dentro me fazia sentir, perante a possibilidade de o perder percebi que queria mesmo tentar ficar com o ele. A pesar dos meus receios iniciais por ficar ao lado das escadas e debaixo da cozinha, é o mais silencioso da casa. E eu prezo muito isso. Nenhum outro tem essa característica. Os colegas pensam que têm os melhores quartos, mas a meu ver, o melhor e único habitável, é o meu e o que estava vago. O resto, pela exposição ao ruído, nem considero.

Nessa segunda-feira o primeiro ministro Boris Johnson ia, naquela tarde, ditar o seu parecer sobre um possível lockdown. A minha colega disse-me que era possível que ninguém pudesse mudar de casa, o que ia significar que ficariamos com o quarto vazio e a casa somente para quatro pessoas. Se assim fosse, ia mesmo usar a contra-proposta para conseguir o quarto ao mesmo preço que os outros pagam pelos deles. Acho que a agência ia preferir ganhar mais dinheiro, sabendo que não ia alugar mais quarto algum. 

Mas apareceu este rapaz - que logo disse que era o patrão que lhe pagava as contas. Este mostrou-lhe a foto no site, ele achou que o quarto era de uma dimensão agradável, viu a fotografia da cozinha, achou limpa e arrumada, e disse sim.

Ainda nesse dia tinha "atirado a moeda ao ar" para tentar perceber se o meu encanto pelo quarto valeria a pena a despesa extra, estando a situação do emprego a ficar cada vez mais precária e tendo eu uma renda tão baixa no quarto actual. A moeda disse "não mudes" mas eu ia arriscar. O destino decidiu por mim. 
 

Desde essa tarde de segunda-feira, mal dei pelo novo inquilino. Estranhei ter-se enfiado quase de imediato no quarto sem parecer necessitar de arrumar pertences seja onde for. Suspeito que nem colocou lençois ou qualquer coberta na cama antes de se deitar nela. 

Ao chegar tomou de imediato um duche e enfiou-se logo no quarto. Nem lhe vi malas ou pertences. Só desceu para saber a password da internet e voltou a fechar-se lá. A M. deu pelo desaparecimento de uma das toalhas que mantém no WC - hábito dela que nunca apreciei - e veio ter comigo a perguntar se a tinha escondido.

A hipótese mais obvia, para mim, foi pensar que o novo rapaz a tinha usado, já que tinha tomado um duche. Ela, eu e ele falámos um pouco no corredor quando ela foi espreitar o WC depois dele tomar banho. Ela disse-lhe o seguinte: 
-"Há uma casa de banho lá em baixo que é maior que esta. Podes usá-la". "Esta é pequena e já é para nós as duas".

Ao que eu respondi que eu não tomo banho na de cima, mas na debaixo. E ainda lhe digo que, por mim, pode usar as duas. Eu é que, para o duche, uso apenas a de baixo.

A M. depois chamou-me à cozinha e disse que eu não a apoiei. Porque ela não quer que ele use o WC de cima. Porque é "um homem". Hoje já me veio dizer que ele não puxou o autoclismo e que deixou urina por todo o lado.

O mesmo que dizia do JA!

Eu não vou ter muita paciência para a maldicência e má vontade da M. para com o novo inquilino. Agora conheço-a melhor. Sei que está tudo na cabeça dela. Voltou a dizer-me que se for simpática como eu sou, que as pessoas fazem o que querem. Não posso dizer que não tem razão, porque o passado me diz que tem, e não é pouca. Mas chiça... temos de estar sempre em pé de guerra insatisfeitos com cada nova pessoa que aparecer logo de caras?

Ela diz que não precisa de ver mais nada, que já percebeu tudo. Não gosta dele e não o quer cá em casa. Vou ter de escutar esta lenga-lenga cada vez que ela se cruzar comigo. 

Devo dizer que ele ter usado uma toalha que não era dele para se secar, também achei de mau tom. Tinha acabado de chegar e deve ter confundido uma house share com um hotel. Os hotéis têm pessoas que limpam a tua sujeira, te fazem a cama, te metem toalhas no WC... 

Foi a primeira coisa que lhe disse quando ele contou como veio cá parar: "O meu patrão é que pagas as contas, ele mostrou-me uma fotografia do quarto, achei que tinha boas dimensões e depois quando vi a fotografia da cozinha arrumada e limpa, disse que sim". Ao que lhe respondi: Mas está limpa porque nós limpamos depois de sujarmos. Porque a senhora da limpeza não limpa nada (facto). Ele respondeu que não podia dizer que era uma pessoa muito limpa, porque não era verdade. Eu gostei dessa sinceridade. Considero-me uma pessoa muito arrumada, principalmente quando envolve áreas comuns, mas não me acho boa em limpezas. Apenas limpo. 

Fiquei dois dias sem ver um e outro. A M. apanhou-me agora na cozinha e repetiu aquilo que eu já esperava. O mesmo discurso que usou para o JA, está agora a usar para o novo rapaz. E não gostei dela querer empurrá-lo para o WC do andar de baixo. Primeiro porque eu tinha acabado de informar todos (e pedir) se podia usá-la. A de cima nunca foi boa para mim. A M. partiu uma peça muito importante da torneira da água quente. Todos os banhos no piso de cima são feitos com água com má pressão, ou muito quente, ou gelada. Não dá. 

Fui experimentar o duche do piso inferior e foi como se tivesse descoberto o céu...

Não vou querer partilhar isso com quatro pessoas só porque a M. não gosta de gajos a usar o mesmo WC que ela. Como disse, agora já a conheço melhor. E sei que ela não é a pessoa limpa que diz ser. Deixou aquele WC terrivelmente sujo e não quis saber. 

É até bom que o divida com um gajo, porque assim faz o que fez esta manhã quando o foi usar depois dele: desinfecta tudo. Dá-lhe a limpeza que se recusou dar enquanto o partilhou só comigo.


O quarto, depois de dois gajos lá dentro, se voltar a ficar disponível, vai estar num estado mais... lamentável. Ele nem deve ter limpo o chão - que ficou sujo, ou a cómoda, que o pintor que cá veio arranjar a parede, deixou empoeirada de branco.

Os outros colegas estao satisfeitos com os quartos que tem, convencidos que têm o melhor. Eu acho-os todos altamente inconvenientes para estar. Ora pela localizacao- perto de onde sempre se escuta barulhos- ora pela amplitude grande mas sem aproveitamento de espaço. Paga-se por mais, mas recebe-se menos.

O quarto que vagou e o melhor em todos esses aspectos. Nao e perfeito, mas e o melhor da casa. A nova rapariga percebeu isso quando lho mostrei e temi que ela quisesse ficar com ele. Todos sabem que eu estava a pensar nisso. Mas neste tipo de coisa nao ha lealdade. Tanto assim e que a M. depois de ver o quarto ocupado, disse-me que era pena, porque se calhar tinha um amigo para o ocupar. A M. não tem uma ideia original nem que a vaca tussa. Fui eu que mencionei que ter perguntado a agencia quanto pediam pelo quarto não queria necessariamente dizer que o queria para mim, podia ser para um amigo. Ao que ela quis logo saber que amigo era esse. Ficou com caraminholas na cabeca. Não se pode dizer nada do que se deseja à M. ela emula tudo. Agora entendo que até o desejar ir para Londres e não se calar com isso, não passou de uma emulação à realidade do rapaz que saiu cá de casa quando para cá me mudei. 

Ja ocultei da M. a aquisição de uma certa coisa por ja saber que de seguida ia escutar: "eu tambem estava a pensar em comprar um. Eu preciso para..."

Foi assim com tudo na casa. Quando optei por improvisar uma sapateira ao invés de adquirir um movel proprio, fui ver se esta ficaria bem no corredor. A M. claro, mal me escutou a abrir a porta do quarto saiu do dela para espreitar. Ao ver o que tinha na mao, como e que ela reagiu?

"eu tambem estava a pensar em comprar um. Eu preciso para..."

ARGH.

Se pensou e quis, porque não o fez? Teve mais tempo que eu. Reage assim com tudo o que trago para casa: o cesto de duche que ela comecou a usar para armazenar as suas coisas sem me pedir permissao, o cabide que perguntei se ela se importava que o colocasse la... as prateleiras que pedi a agencia se podia colocar na parede. Para tudo escutei dela o comentario: "eu também preciso disso e estava mesmo a pensar que preciso...".

Ela emula doenças e desejos. Mas peca por nunca manifestar essas impressões antes que outra pessoa o faça.

Ela também se queixa muito do emprego que tem. Eu quis contar tudo aqui, mas fui adiando. Também não queria que me viessem dizer que sou eu que estou errada, que estou a implicar, a comparar com a Gordzilla.... Somos mais na casa. De momento ela reduziu os dias de trabalho. Hoje devia ter ido trabalhar. Mas não foi. Cá para mim ela desistiu ou foi demitida. Não imaginam o que ela contava da patroa. Fê-la um monstro manipulador e psicopata - palavras dela. Com o tempo comecei a perceber que a mulher podia ter tudo isso mas que também existia um outro lado da história. 

Quando me mudei para esta casa a M. tinha começado a trabalhar naquela semana. E eu já comecei a ouvir as suas histórias de como não suportava a patroa. Ninguém que fica 3 meses em casa a receber, quando regressa ao emprego, tem logo stresses elevadíssimos. Agora anda por casa - o que não é muito agradável porque ela faz o tipo que gosta de criticar o que os outros fazem, a forma como deixam as coisas... enfim. Não é muito simpático. Não é má, mas é um tanto egoísta. 

Até há momentos eu estava na sala, sentada no sofá. Ela aparece e começa a rondar. De imediato tenho a sensação que está a ver se eu saio dali. Abre a porta da cozinha e deixa o ar muito frio entrar. Não me incomodo, a pesar dela ter vestido o casaco e eu estar de manga curta. 

O que pensei: "Está em casa. Quer que os outros não estejam. Está há espera que eu saia para abrir a porta a alguém". 

E o que acontece assim que subo ao quarto?
Exatamente isso.

A M. é previsível. E egoísta. Critica nos outros atitudes quando exibe suas mais criticáveis. Não é bonito, numa casa partilhada, ficar "à espera" que alguém saia para trazer alguém para dentro. Não é bonito andar a perguntar "não vais trabalhar hoje?" - para saber a que horas pode meter uma pessoa cá dentro. 

De todos que cá moram, ninguém abusa desta maneira. Uma vez a rapariga do andar de baixo trouxe a sobrinha de dois aninhos e foi direta para o quarto. Nem sequer ouvi a miúda. Nem a vi sair, nem nada. Mas não levei a mal. A M. fez logo uma careta. Só ela pode trazer gajos cá para casa? Só ela pode convidar amigos? Sim, porque também se enfurece quando o rapaz traz amigos. Diz que fazem barulho. 

E ela? Que estava agora a falar alto no único lugar que temos para partilhar na casa? 
E trá-los para aqui para os alimentar ou caraças... 

Tá sempre a dar-lhes comida. A questão é que só temos um espaço em comum. Se ela o ocupar e fazer o que fez agora, ouviu-me descer as escadas, veio à porta, meteu a mão e disse que a ia fechar para "não fazer barulho"... uma pessoa sente que, na realidade, está a ser escorraçada. Não pode usufruir da casa em que vive porque alguém que desistiu de trabalhar e quer ficar por casa sem fazer nenhum, está mais preocupada em ter uma vida amorosa e nem é capaz de dizer: "olha, um amigo vem aí". Fica a rondar a casa, a ver se cada qual está enfiado no quarto ou a trabalhar, para tomar conta do espaço em comum: a cozinha/sala.

Acho... egoista. Cá está. É sempre o conforto dela que está em primeiro lugar. E falam alto que se farta. Consigo escutar com a porta fechada - a minha e a da cozinha. Não teria mal algum, não fosse ela fazer um escândalo cada vez que escuta a voz  de outras pessoas. 

Só espero que não ponha o gajo a cá morar. Se acha que os que pagam têm de sair porque ela não gosta de partilhar o WC com eles, não tem direito de impor um gajo nesta casa. E o mesmo que vi cá na segunda-feira, antes de ter saído para trabalhar. Ontem, terça, não sei se cá esteve porque dormi a tarde e noite inteira. Mas aposto que esteve. Já está demasiado confortável na cozinha. Daqui a nada vai usar o WC, tomar um duche... este gajo "já pode".  Já não receia o contágio por Covid nem nada. 

Gosto da M. mas estas coisinhas começam a tirar-me do sério.


4 comentários:

  1. Bom, não me parece que a M seja boa companhia para ninguém. Eu não tinha paciência.
    Abraço e saúde

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    1. Começo a tê-la afectada. Mas não há de ser nada.
      Tudo bem consigo Elvira?
      Como vai a saga da sua vista?
      Saúde, muita saúde.

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  2. Arrendámos um T1 duplex para a Catarina no centro de Londres.
    1000 libras por mês com tudo incluído.
    E assim ela e o namorado estão à vontade e seguros.

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    1. Olá Pedro. São 1000 libras para os dois morarem ou para cada um? Parece-me um excelente preço para o que descreve, mas não conheço os valores praticados na área.

      Decerto que vai correr tudo bem para os dois. Têm tudo para que isso aconteça: jovens, com objectivos e um bom teto para dividir somente entre os dois. Se a Catarina tiver um daqueles momentos menos bons, terá sempre abraços e miminhos :)

      Que lhes corra tudo pelo melhor, decerto é assim que vai acontecer. O Pedro pelo menos fez de tudo para que assim seja. E que tenham um bom começo de vida a dois!

      Um abraço.

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