Descobri que o novo inquilino também não é muito apreciado pelos restantes.
Falei com a rapariga do andar de baixo e perguntei-lhe o que ela achava da opinião da M. Disse-me para não me deixar influenciar pela opinião da M. a meu respeito (que sou muito boazinha) porque é feio ficar a julgar alguém se a pessoa não te fez nada de mal. E confidenciou-me que não gosta dele.
Quis saber porquê.
Ontem de noite antes de ir trabalhar, ouvi os dois a conversar por muito tempo na cozinha. Até desci para verificar o que se passava e vi que os dois estavam ambos na cavaqueira, sentados a comer, cada qual o seu prato. Geralmente a rapariga (vou dar-lhe agora o nome de K) prepara a comida e enfia-se no quarto. Não fica pela cozinha connosco, embora seja sempre simpática e afável.
Aquela aparente sintonia em que a escutei gargalhar mais que uma vez, deixou-me um tanto tristonha. Pois gostava que ela já tivesse esse comportamento connosco. Ao mesmo tempo fiquei feliz, porque pelo menos ela não estava a ser radical como a M.
Entendi que aquele convívio tão incomum por parte dela era por uma questão tão simples quanto serem ambos ingleses. Fica diferente e deve dar vontade de ter uma conversa com alguém que percebe cada palavra que usas do teu vocabulário e tem raízes assentes na mesma cultura social e up-bringing.
Por isso não contava que a opinião dela já tivesse estabelecida.
Ele fe-la lembrar demasiado o ex namorado, com quem manteve um relacionamento em que ela se sentia diminuída e com pouca autoestima. Contou-me que ele estava bêbado, conversou muito e fez uns comentários que ela não gostou. Inclusive, disse que ia bater-lhe à porta para irem beber uns copos. A típica cultura social de pubbing.
Acho que ele quis ser demasiado simpático muito depressa. E isso muitas vezes não cai bem. Não demonstrar ser capaz de limpar atrás de si pelos padrões da casa, praticamente o condenou. Não é desorganizado, nem deixa coisas sujas. Pelo menos por enquanto. A não ser que a taça que está por lavar na cozinha seja dele. Mas foi por ter lavado o prato e não ter recolhido os restos que ficaram presos no gargalo, que a M. o "sentenciou" de vez como indesejável. Tirou uma fotografia e está a munir-se de provas para apresentar "queixa" à agencia.
Se eu apresentar as minhas, será que ela também é considerada indesejável e é expulsa?
Por outro lado, eu estou a aprender. E tanto aprendo com um quantos com outros. Com a M. tenho aprendido que tenho de expressar mais o que penso e o que sinto. E uma coisa que me tem vindo a transtornar, é os ruídos que fazem no WC.
Já aqui disse: este é ao lado do meu quarto. Mais precisamente o duche fica na cabeceira da cama. E a grossura da parede de pladur é... de uma mão?
Não importa os centímetros. A realidade é que tem sido muito difícil descansar porque cada vez que fecho os olhos para o fazer alguém lá entra e oiço o estrondo da porta a ser fechada ao empurrão, seguida do trinco. Depois seguem-se outros ruídos mas o da porta... é aquele "gatilho" que me desperta. E foi o que aconteceu hoje, duas horas depois de ter adormecido.
Não é justo para mim mas também não é culpa de ninguém. Se eu não comunicar que me incomoda, os outros não tem como saber e não têm porquê alterar o seu comportamento. Por isso, aprendi com a M., decidi falar com todos.
Ao longo do dia, à medida que os fui vendo e iamos conversando, quando achei oportuno mencionei isso. Primeiro aos dois do andar de baixo. Aos do andar de cima - a M. e o novo inquilino, tive de aguardar. O novo inquilino - talvez por instinto ou por nos ter escutado a falar dele, não deu ar da sua graça o dia todo. Só o vi de manhã, quando cheguei e ele se preparava para sair. Penso ter sido ele que regressou duas horas depois - porque assim mo disse que ia fazer, e bateu com a porta do WC. Dez minutos depois, aquela porta volta a bater. E assim não dá.
Surpreendeu-me quando a cama vibrou e a cabeceira tremeu. Tenho pendurado no candeeiro por cima uma gracinha com um sino, e este estava a abanar.
Não é culpa de ninguém. A casa não é das melhores em termos de acústica. Mas tenho de falar que me incomoda, aliás, priva-me do descanso que necessito para ir trabalhar.
Encontrei a M. na rua, quando ia ao supermercado. Ao regressar, eu, ela e o rapaz que já cá estava, ficamos um pouco na cozinha na conversa. Foi quando lhe disse sobre os barulhos do WC.
Ela não reagiu mal mas não esperava que reagisse na defesa. Parece que não se pode dizer-lhe nada, que ela assume que é um ataque pessoal. Lá concordou que, se me incomoda, tenho de falar. Afinal, é o princípio que ela defende. (Mas não praticou ainda com o novo inquilino). A reacção dela foi dizer: "Não sou eu!".
Quando regressei de portugal não encontrei um utensílio de cozinha e perguntei se o tinha visto. A reacção dela foi como se a tivesse a acusar:
-"Não, não vi o teu .... Não sei do teu... e não mexi no teu..."
Acho que consegui suavizar a coisa mas notei que fazer uma pergunta à M. sobre o paradeiro de algo ou como alguma coisa mudou de um estado para o outro (inteiro para partido, por exemplo), pode alterá-la.
Mesmo que não diga nada, sente-se na sua energia, no comportamento. Por dentro, nunca se sabe ao certo o que a M. está a pensar. Só sabemos que quando quer, ri e está bem disposta. Mas não é sempre.
Entretanto ela já usou o WC e pela primeira vez desde que me mudei para cá, foi de um silêncio exemplar. Ela pode dizer que não é ela mas, quando era só ela que o usava, a minha vida não foi facilitada. O entra e sai repetitivo, fecha-abre imediato, barulhos de coisas a cair faziam o ruído de grandes estrondos... e não esquecer como deixou o espaço sujo e não pareceu dar conta disso.
Chega uma nova pessoa, e é tudo o que ela vê.
Ou melhor: tudo o que volta a ver.
Outra coisa que ela fez na noite anterior, foi um grande, mas grande mesmo, barulho pela cozinha. Eram já quase 21h. Pressenti que o fazia para chamar a atenção. Sabem, como as crianças fazem? Barulho para alguém aparecer e lhes dar a atenção que querem?
Assim senti que era como a M. estava a se comportar. Por isso não desci. E o ruido continuou, continuou, pareciam garrafas a bater umas nas outras, tachos, portas...
O rapaz do andar de baixo mordeu o isco. Não sei o que falaram, mas sei que demorou tempo. E imagino o resto. A M. não estava contente, e por isso caminhava pesado e fez o barulho todo.
Na manhã seguinte deixou a porta do seu armário semi-aberta, de modo a mostrar que estava cheio de coisas. Por seu lado, o armário onde se guarda a louça para cozinhar, os tachos, panelas, tampas, frigideiras, travessas etc, estava bem mais vazio.
Hoje pude confirmar: ela removeu algumas coisas de lá. Talvez lhe pertencessem e não quer mais disponibilizá-las ali. Agora não sei. Ela tem o hábito de cozinhar grandes quantidades. Mas não consome nada de imediato. Guarda tudo no frigorífico, geralmente ainda no próprio contentor usado para ir ao lume. Então um dos tachos está há quase 5 dias na sua prateleira. Na terça-feira, a K. dispensou metade do espaço da sua prateleira no frigorífico para o novo inquilino o ocupar. Achei muito atencioso e querido da sua parte. Pois de todos na casa, ela e o rapaz são os que menos espaço ocupam. Sendo que o frigorífico só tem quatro prateleiras e somos cinco, alguém sai prejudicado.
A M. é egoísta nisto também. Ela ocupa o seu espaço e assim que vê espaço livre noutro lugar, sempre consegue lá enfiar algo seu. É isso que não gosto e é por essa razão que estou a tentar "boicotar" as suas tentativas ainda não reveladas de ficar ainda com mais espaço nos armários da cozinha.
Isto são longas histórias "dó-mesticas" ahah.
Por agora fico por aqui.
No espaço que a K. disponibilizou para o novo inquilino está, desde terça feira, uma taça grande cheia de arroz branco. Ocupa praticamente tudo. A quem pertencerá? Há M. pois claro. Despudorada, insensível.
Contudo, à chegada do novo inquilino, escreveu-me mensagens a dizer que ele vai precisar de espaço de armários na cozinha. Quando o rapaz pediu foi no WC e não quer saber dos armários, diz que não tem nada para colocar lá ou no congelador. Ainda assim, para mim, o espaço dele fica reservado para ele.
O problema é que a M. está a ver se consegue armazenar mais coisinhas dela por aí. Quando cheguei ela "roubou" o armário que me tinha sido destinado por ser o maior. Jurou que precisava e eu não insisti, por ela já estar há mais tempo (duas semanas) na casa e por achar que mais haveria para tomar. Só que não havia, tive de inventar um espaço. Então disse: "quando ele (JA) sair, então eu fico com o armário dele".
Vai que fiz isso. Só que ao invés de ficar com tudo, ocupei metade. Deixei o resto para o rapaz, que também o quis. Ao reparar que ele deixou uma prateleira vazia, optei por estudar como os meus taparwares iam ficar ali distribuidos. Mas fi-lo mais porque subitamente senti que aquele espaço vazio tinha de ser ocupado. Caso contrário a M. ia enfiar coisas ali e depois nunca mais as ia tirar, jurando a pés juntos que precisa e não tem onde as por.
É a pessoa que tem tudo "mais" na casa. O quarto "mais" espaçoso, "mais" espaço no frigorífico (ocupa todas as prateleiras laterais até que eu ocupei uma para mim e reservei outra para o próximo que necessitasse) e está sempre a enfiar coisas dela nas prateleiras dos outros colegas. Tendo espaço suficiente na sua.
Acho que é insensível da parte dela e egoísta. Não é porque a pessoa tem espaço naquele momento que não vai precisar dele assim que regressar de uma ida às compras, por exemplo.
Desconfio que a M. está mal humorada, assim como estava no dia em que deixou papel higiénico na bancada, porque já vinha com a ideia de ocupar mais espaço nos armários. E eu impedi. Oficialmente, o espaço é meu para ocupar. Partilho-o sim, mas com aqueles que têm menos espaço que ela. Apanhou logo cedo o armário maior e ainda assim inveja o alheio.
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