Como sabem, pedi à empresa à qual me candidatei que me enviasse um comprovativo de frequência a uma entrevista. Disse-o no post anterior, onde também especifiquei que aqui no UK, durante o processo de candidatura, as empresas são todas muito simpáticas.
Em Portugal um candidato envia 100 curriculos para tudo o que é empresa e se conseguir uma resposta que seja, já é um milagre. Podem-se passar meses e nunca se ouve um "não" nem um "sim".
Por isso este lado britânico do "politicamente correto" agrada(va)-me.
Até descobrir que é tudo sobre eles.
O que lhes importa é o feedback que vão receber depois.
Daí todos os "salamaleques". Os britânicos possuem uma indescritível forma de se mostrarem acolhedores mas que se sente plástica. Adquirida num livro de instruções e que dura apenas o tempo restritamente necessário.
Recebi no email um novo contacto dessa empresa. Boa! - pensei. Afinal sempre deram resposta ao meu contacto sobre um comprovativo de frequência. Mas ao abrir o corpo de email, dos três links que facultaram, nenhum ia dar a coisa alguma. Todos os três eram sobre o mesmo: um inquérito de satisfação. Um minucioso inquérito que visa avaliar todo o processo selectivo - inquérito esse que já havia preenchido aquando o email de recusa - pois veio anexado ao mesmo.
"NÓS SOMOS NÚMEROS" - disse um indivíduo na TV.
Sinto que, por mais que queiramos lutar contra esta afirmação, ela é cada vez mais verdadeira. Não podemos ser gente. Ter emoções nossas. Tudo tem de ser aprendido e aplicado. Somos números porque obter e manter um emprego vai depender dos números de rentabilidade. São os números que cronometram o tempo que demoras a cumprir a tua tarefa, a quantidade de pessoas que consegues servir no menor número de tempo possível e da forma mais profissional e sem erro. Erros são logo apontados e te lembram logo que podem levar ao término por justa causa. Acertos não recebem igual atenção. Podes salvar o dia, a situação, não te será pedido para te reunires com os superiores para eles te dizerem o quanto estão satisfeitos com a tua performance. Mas se errares, essa reunião está garantida e vão falar de tudo o que erraste, querendo saber porquê e fazendo-te sentir a pior das criaturas.
A diferença entre o passado e o presente não é rigorosamente nenhuma.
É tudo números.
Estatísticas que dão currículo.
ResponderEliminarÉ assim em toda a parte, não é só no Reino Unido.
Bem sei que assim é, Pedro.
EliminarE imagino que em lugares como Hong-Kong, Macau e oriente isso é ainda mais verdadeiro. As pessoas são números faz ainda mais tempo.
Mas entristece-me. Está tão solidificado aquela crítica que o Charles Chaplin fazia no seu filme Tempos Modernos. Já naquele tempo, ou trabalhavas como máquina, ou eras corrido.
Até os empregadores colocam eles mesmos targets e querem que os seus números possam apresentar determinados resultados para "impressionar" o mercado.
Faz-me confusão que te tratem bem porque a simpatia é um requisito para a sua performance e imagem e depois pregam um questionário para saber se foram simpáticos e como podem melhorar.
Até mesmo quando te candidatas a um emprego, recebes um questionário? Já estou acostumada a receber um depois de cada viagem de avião, mas se todos passarem a fazer isso... Prefiro que façam como no aeroporto de Lisboa: tem três smilling faces e tu pressionas aquele que corresponder ao teu estado de espírito. Feliz, médio ou descontente AHAHAH