Não sou de dar destaque a datas mas, já que existe uma, quero que entendam a minha compreensão da mesma.
Feveireiro 2016 - Equador
Duas jovens Argentinas queriam conhecer o mundo e começaram por uma viagem para o Equador. Não mais deram notícias. Foram encontradas assassinadas. Nas redes sociais começaram a censurar as duas amigas: Elas não deviam ter ido. Deviam ir só com a presença de um homem. Desacompanhadas fizeram por merecer. Provavelmente queriam andar na borga, insinuarem-se aos homens com os corpos expostos em roupas sedutoras. Foi delas a culpa do que lhes aconteceu - agressão, violação e assassinato por faca.
6 Março 2016 - Índia
Uma jovem de 20 anos pula de uma varanda para escapar a uma violação em grupo. Está no hospital. Um dos três homens que a pretendiam violar era o seu namorado. Na Índia as mulheres são violadas em grupo com frequência, sendo que nem com os namorados estão a salvo. Os homens responsabilizam qualquer mulher pela lascívia que sentem. E reagem com o impulso selvagem de as possuir e descartar de seguida - nem sempre vivas. As violações de mulheres - não só indianas como também turistas - ganhou projecção mundial em 2012, quando um grupo de seis rapazes a viajar num autocarro, espancou brutalmente o namorado de uma rapariga para de seguida a violarem em grupo. A violação incluiu tortura com objectos metálicos inseridos na vagina e intenção de morte. A jovem de 23 anos foi depois atirada para o asfalto e só não lhe passaram com o autocarro por cima porque o namorado, igualmente atirado borda fora, conseguiu puxá-la para fora do alcance dos pneus do veículo. O motorista do autocarro testemunhou o seguinte: "não dei por nada".
A grande maioria dos homens e também algumas mulheres insurgiram-se e gritaram: "Estes rapazes são inocentes"! "Ela é que é a culpada!".
25 Março 1911 - EUA
Em pleno optimismo gerado pela revolução Industrial - que prometia uma melhoria de vida para homens e mulheres, em particular para os Imigrantes chegados aos EUA, um incêndio num prédio de Nova Iorque onde estava em funcionamento uma fábrica de confecções de roupa foi a causa de morte de 125 mulheres e 21 homens*. As operárias costuravam camisas quando as chamas as apanharam no 9º andar. Em pânico e sem alternativas de fuga, foram vistas pelos transeuntes a se alinharem no parapeito exterior do prédio. Mas pior do que ver este cenário de horror foi conhecer-lhe as causas. Muitas destas mulheres, na sua maioria jovens de menos de 25 anos e imigrantes italianas, foram vistas com as chamas a subir pelas saias, com o cabelo a arder enquanto se atiravam do 9º andar, outras procuraram no salto alcançar a escada dos bombeiros, que só chegava até o 6º. Estatelaram-se no chão. O barulho surdo dos seus corpos a ficar gravados na memória de quem assistiu, sem poder fazer nada para as salvar.
A cerimónia fúnebre e os milhares que choraram a tragédia |
Só depois de apagado o fogo se descobriu o verdadeiro alcance da catástrofe e do horror. Algumas mulheres haviam caido no poço do elevador, na tentativa de fuga, outras desceram pela escada do poço que, com o peso, colapsou e atirou-as mais rapido para a morte. Outras foram encontradas carbonizadas debaixo das secretárias mas a maioria dos corpos foram encontrados amontoados uns em cima de outros junto às portas de saída - uma estava fechada à chave por ordem expressa dos patrões - que haviam escapado do incêndio pelo telhado e posteriormente foram inocentados de qualquer responsabilidade.
Ao contrário de quem trabalhava no 8º e 10º andar, as operárias do 9º não foram avisadas do incêndio. Uma das duas saídas de emergência tinha sido trancada para salvaguardar a hipótese de furtos ou pausas. Estas mulheres eram submetidas a um verdadeiro trabalho de escravo. Eram intensamente controladas por capatazes, que cronometravam as suas idas à casa-de-banho, trancavam a porta de saída de emergência para que não pudessem sair e fazer uma pausa e escutavam cada conversa que conseguissem ter umas com as outras - usando para o efeito uma recente invenção que os permitia aproximarem-se sem serem escutados: os sapatos com sola de borracha. Os capatazes/feitores tinham o poder de fazer com que fossem demitidas. À mínima coisa, perdiam o emprego.
A sinalização indica a «saída em caso de incêndio» (foto provável da referida instalação) (subitamente esta imagem fez-se recordar os modernos callcenters) |
Na fábrica existia um cartaz com o dizer: "Se não vieres trabalhar no Domingo, não precisas de vir na Segunda" - isto porque as greves sindicais a protestar por melhores condições de trabalho (ordenados, carga horária e folgas) e de segurança estavam na ordem do dia. As operárias desta fábrica trabalhavam 14 horas diárias, por vezes horas extras, fazendo camisas - e ganhavam à unidade. Mas mesmo a mais rápida e eficiente das costureiras não conseguia mais que um modesto salário de 6 a 10 dólares/semana. Mal sobrava para comer, depois de pagarem o aluguer dos quartos onde moravam. Escravatura moderna, portanto.
O dia Internacional da Mulher já foi comemorado em muitas datas: 28 de Fevereiro, 15 e 25 de Março. A ONU declara o ano de 1975 como o ano da mulher e em 1977 é adoptado pelas Nações Unidas o 8 de Março como o dia internacional da Mulher. Mas como tudo o que... vem de um Homem - sem querer desmerecer nenhum - a data foi escolhida em «homenagem» às vítimas de um acontecimento fictício: um outro incêndio fabril de 1857, que nunca aconteceu.
É ou não importante fazer para que se entenda por este mundo o conceito e direito de igualdade? A mulher não é feminazi nem muito menos feminista - termos estes inventados por alguns homens, que assim os usam como alimento para tentar justificar o injustificável: o seu desprezo, ignorância e idiotice.
Que esta data traga cada vez mais a igualdade a muitas das mulheres por este mundo fora, mulheres que ainda vivem sem saber que são iguais ao seu semelhante Homem e merecedoras de respeito e admiração.
*outras fontes indicam 129 mulheres e 17 homens.
Muito bom o seu post amiga. Vou dizer-lhe uma coisa que sempre pensei e continuo a pensar.
ResponderEliminarEu penso que nós mulheres temos a nossa quota parte de culpa na situação da mulher. Senão vejamos. Os homens não nascem de chocadeiras. Eles nascem e são criados por mulheres.Primeiro enquanto muito pequenos, com as mães ou com as educadoras em cresces. Depois na primária, que no meu tempo era exclusivamente dada por mulheres e que hoje se não é exclusiva será na maioria. Então todos os homens recebem a base da educação nos primeiros dez, onze anos de mulheres. E qualquer psicólogo dirá que esses são os anos que mais vão marcar na educação dos futuros homens e mulheres. E eu pergunto-me: Que raio lhes ensinamos?
Lembro que a minha mãe, muitas vezes dizia. Pede ao teu pai. Pergunta ao teu pai. Deixa estar que o teu pai vai saber.
Eu nunca fiz isso com o meu filho. O que houvesse com ele eu resolvia. E sempre lhe ensinei que a mulher era em direitos e deveres igual ao homem.
Uma vez, ele pediu-me para ir brincar para casa de um amigo. Eu não deixei, e ele foi pedir ao pai. O pai não sabendo que eu tinha negado autorizou. E ele veio todo contente dizer que ia, porque o pai tinha deixado. Mas não foi, que eu não deixei. E o pai quando soube que eu tinha negado, apoiou-me.
Sempre l
E hoje ele é casado tem uma menina de sete anos, é segurança, trabalha dez, doze horas e depois está muitos dias de folga, porque eles não pagam horas extraordinárias. A mulher trabalha toda a semana. E então em casa nos dias de folga.ele não ajuda a mulher. Ele faz tudo. Leva a filha à escola,faz as compras, limpeza, lavagens de roupa ou loiça, vai buscar a filha à escola e adianta o jantar. Ele só não passa a ferro, e mesmo isso quando a mulher foi operada ele fez.
Um abraço e feliz dia da mulher
Obrigada Elvira, pelas suas palavras e pelo seu testemunho. Concordo com o que diz, um dos motivos é mesmo esse. O hábito de dar mais autoridade ao pai está muito enraizado na nossa cultura. Mas isso é como um veneno. Leva décadas a perder o efeito mas em alguns «está sempre lá». Na nossa sociedade podemos educar melhor nossos filhos nesse sentido, mas noutras isso não é possível. Porque mesmo que uma mãe ensine o filho homem que ele é igual, a sociedade inteira e as estruturas inteiras de poder e funcionamento dizem-lhe o contrário.
EliminarNós somos apenas um país um pouco mais evoluido. Mas esse veneno ainda está presente nas nossas raízes mais profundas. E em algumas famílias ele vive à superfície.
Agora, o caminho é mesmo esse. Um a um, passo a passo, filho a filho. E sempre que possível, exigir igualdade nas leis para a coisa «acontecer» mais depressa. A mesma igualdade que procuramos e conquistamos para os gays, para que se pudessem unir em matrimónio e pudessem adoptar crianças. Infelizmente creio que o «veneno» da diferença de género é mais forte que qualquer outro preconceito. Desconfio que muitas outras diferenças serão limadas nas arestas até ficarem iguais mas a igualdade e direitos entre os géneros, essa é um osso duro, desconfio que terá sempre uns «bicos».
Um abração!
A mulher não pode ser, não é um objecto a quem se dedique apenas um dia.
ResponderEliminarA mulher é muito mais que isso. E por isso, merece a minha consideração e estima durante todo o ano, todos os dias.
Beijinho
Gostei muito do post. Já muito foi feito pela igualdade dos sexos mas há ainda muito por fazer e este dia, para mim é para comemorar a luta de muitas mulheres pelos nossos direitos. Beijinho
ResponderEliminarNão chame homens a crápulas que têm essas atitudes.
ResponderEliminarLá porque nasceram com o sexo masculino não significa que sejam homens.