terça-feira, 20 de maio de 2014

Desporto ao ar livre


Estive a ler por alto uma reportagem sobre fazer desporto ao ar livre. Dizem que virou moda, uma moda que a crise trouxe e que os muito bem afeiçoados praticam com gosto e despudor.
E eu fico pasma com isto. MODA. E como moda que é, alguns seguem-na por causa disso mesmo: moda. Quando esta regredir novamente aos ginásios, os seguidores de «modas» vão atrás.

Quando era MODA estar em forma frequentando ginásios, nunca me senti atraída por eles. As pessoas diziam-me que tinha de ser assim, que estar em forma era preciso e algumas quase queriam me forçar a frequentar um, apelando às «coisas terríveis» que acontecem à imagem que projectamos quando não se faz desporto. Eu concordava que o exercício faz bem - eu sempre me senti bem ao fazê-lo - mas ia logo dizendo que ginásios não eram lugares para mim. Quando me imaginava a fazer desporto, qualquer que fosse a actividade que me apetecia não era nada que me confinasse a quatro paredes. Eu queria subir montanhas, dar passeios, ir em caminhadas, fazer coisas mas ao ar livre. E desde os 12 anos que sentia vontade de experimentar asa delta e queda livre. Esta minha vontade portanto, não correspondia bem com as que um ginásio disponibiliza e vinha de um outro lugar que não o da preocupação estética. Sim, julgo que era a vaidade que conduzia muitos aos ginásios. Talvez um pouco a saúde, mas muito mais a vaidade, sem dúvida. E eu não tinha disso. Sentia atracção por actividades que me preenchessem também a mente e a alma. E daí nunca me conseguir ver num fechado, escuro, artificial e suado ginásio. Só de entrar, já não gostava do cheiro do ar. Como fazer exercício com vontade, se  não gosto do ar que respiro? Me incomodava, por vezes, ginásios em lugares fechados e escuros, dos que ao entrar os olhos tinham de se ajustar à pouca luz, luz essa que estava a brilhar lá fora. E tinha também aqueles com ar condicionado para fazer circular o ar carregado de suor, o barulho de máquinas, os espaços apertados e cheios de pessoas... Não eram para mim. Eu desejava estar FORA dali.

Nos longos anos em que os ginásios viraram «moda», tentei encontrar pessoal interessado em actividades diferentes e ao ar livre. Coisas simples como passeios. Uma caminhada. Só que as poucas pessoas que conhecia não gostavam muito de praticar. E tem também a família. Essa era castradora, não participava e não me deixava ir sozinha a lugar algum. Por isso hoje, quando frequento blogues em que vejo que pai e filhos, ou tios e cunhados andam juntos a fazer corridas desportivas ou actividades ao ar livre, acho isso tão bonito. A minha família ensinou-me como ter vontade de ir passear, querer visitar museus e actividades mas ficar a ver televisão o dia todo, entendem?

Sempre andei muito a pé. Aos poucos fui percebendo que isso causava estranheza e que as distâncias que percorria não eram consideradas «aceitáveis» para a maioria, que preferia percorrê-las de transportes. Até mesmo na Universidade tive colegas espantados por recusar boleias, mas talvez o espanto seja que para fazer um percurso de 10 minutos a pé alguém quisesse fazer dois de carro... E depois de horas encafuada em salas de aula, eu ansiava por uns minutos de tranquilidade e ar puro. Ainda hoje não vejo nada de estranho nisto. :D

Contudo, a pesar de ser esta a minha natureza inicial, considero-me uma pessoa de práticas sedentárias e pouco dada a esportes. Talvez a educação se tenha sobreposto à natureza, não sei. Contudo sei que nunca será por ser MODA, que vou vestir o melhor conjunto de treino e pavonear-me a passo de corrida na zona chique do Parque das Nações para ser vista e essa atenção satisfazer a minha vaidade. Sei que são talvez cada vez menos (?) aqueles que praticam desporto por este principal motivo. Acredito que muitos o fazem porque gostam de estar em forma. E deixem-me dizer: quando se está bem, a vontade de continuar facilita muito e retira quaisquer inibições mais persistentes. Sente-se a diferença e percebe-se os benefícios. Mas quando não se está em forma a coisa muda um pouco de figura.

Existe sim muita gente a praticar desporto ao ar livre. Eu vejo como subiu em número a quantidade de ciclistas e de corredores que passam aqui na zona. Mas também é fácil perceber que as pessoas que mais precisam dele continuam inibidas de tais práticas à vista de qualquer um. Os que vejo a praticar estão já em boa forma. Têm boa aparência, bom aspecto. Nenhum é assim para o gordinho ou fora de forma...

Quando o sol deu o primeiro ar da sua graça, lá em Abril, não resisti a uma ida ao parque. Este, sempre vivo com a energia de crianças, pais, velhinhos e jovens, já estava cheio de pessoas a praticar corrida e caminhada. Eram muitos, mesmo tendo existido dias de chuva antes daquele de sol. No entanto, um rapaz trajado a rigor com fato de licra completo, luvas etc, estava ali no parque a «fingir» que era pelo desporto. Permaneceu duas horas no mesmo lugar, junto a umas barras para desporto, fazendo somente cinco ou dez agachamentos quando na realidade estava era a observar cada par de rabo feminino enfiado em fatos de treino que ali passasse a fazer jogging ou corrida.

Reparei porque ele simplesmente não saiu dali. Antes do rapaz se abancar naquele lugar, adorei ter visto uma senhora idosa não resistir à barra e pendurar-se nela, como uma criança. Só aquele minuto em que lá esteve deve ter feito maravilhas para o espírito e até para os músculos. A barra sempre foi a minha predileta e a minha vontade era fazer a mesma coisa. O ímpeto de me pendurar numa cada vez que as vejo é um que tem de ser controlado sempre. Desde uma vez com uns 14 anos num parque vazio em que não resisti e minha mãe me deu uma reprimenda dizendo que já não tinha idade, que aquilo era para crianças pequenas e eu lhe causava vergonha. Então o «estigma» ficou, mesmo sabendo que as barras e outros aparelhos não são nem devem ser só para uso de crianças de idade pré-escolar. Sou da opinião que os adultos precisam tão ou mais de libertar seus stresses dessa forma que tão cedo abandonaram mas que seus genes ainda sentem falta.
À pouco menos tempo, num parque infantil, observei que uns velhotes aproveitaram que as crianças tinham abandonado o carrocel e foram dar umas voltas nos cavalinhos. Só aquele pedacinho de divertimento, meio minuto que fosse, deve ter-lhes trazido de volta uma alegria que faz com que os problemas não estejam sempre a martelar na cabeça. Entendem? Não sei, este texto já vai longo mas queria dizer que carroceis e equipamento simples de desporto - como o que se encontrava nos parques de diversões infantis - não deviam ser de uso exclusivo da criançada. Esse dogma social está um pouco errado. Adultos também ADORAM uma cadeira de baloiço... Quem dos que me lêm não gostaria agora de sentar numa e ficar a baloiçar? Também gostam de se exercitar nas barras e de subir obstáculos. E já agora, andar num carrocel :D


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