quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O cumprimento cordial

Estava a passar na rua. Viro-me e reparo numa senhora de uma certa idade que caminha na minha direcção. Olho para o seu rosto e depois desvio o olhar. A senhora já vinha a olhar para mim e continuou a olhar para mim. Mas sinto que quando desviei o olhar, esta ficou decepcionada. 

De seguida cruzei-me com outra pessoa. Nenhum de nós se olhou. E depois com outra. Também não me dirigiu qualquer olhar.

Mas a questão é que eu sinto-me estranha quando não sai da minha boca um "bom dia" dado a um desconhecido de uma certa idade que nos olha na rua de uma maneira que não sei bem especificar, mas que é em si uma espécie de cumprimento, de convite ao cumprimento, uma postura diferente de estar. Uma postura calorosa. E o meu olhar de reconhecimento rápido é o meu cumprimento, o meu tímido cumprimento que depressa se desvia porque da boca não sai o "bom dia" que a mente está a produzir. 



Esta geração de que falo foi educada a dar os "bons dias" a toda a pessoa com quem se cruzasse na rua. Os senhores até levavam a mão à aba do chapéu. Deve-lhes custar e ser estranho a ausência deste costume na sociedade actual. Mas o estranho sou eu. Que sou de outra geração, a geração que cumprimenta quando interage, quando conhece, mas que não cumprimenta desconhecidos sem uma causa específica. Pode parecer estranho, pode até ser interpretado como um comportamento de «maluco». 


No entanto fico estranha por não verbalizar um "bom dia" a uma estranha destas na rua. Isto já me aconteceu mais vezes. Numa ocasião cruzei-me com um casal de idosos que, de braço interlaçado, caminhavam na minha direcção com uma postura e um ritmo que pareciam dessassociados deste tempo e era. Eles avistaram-me rápido e não tiraram o olhar de mim. Eu continuei no meu passo apressado e quando me cruzei com eles, ao invés dos "bons dias", olhei rapidamente e desviei o olhar. É a minha forma de cumprimentar. Mas creio que não alegra este género de pessoas desconhecidas. Acho que as entristece. 

Oh sim! Deve existir uns tantos por aí... Sobreviventes de outros tempos e costumes. Que vagueiam por estas ruas e se cruzam com uma imensidão de gente e se perguntam o que se passa e se sentem estranhos e desajustados. Têm-se uns ao outro - aqueles que ainda vivem em casal, e pouco mais. Tudo o que aprenderam e que era o seu mundo está tão diferente! Se calhar dariam tudo para ter alguém a lhes olhar no rosto por mais de um segundo e perder um instante a dizer "bom dia" e um sorriso. 

Eu quero fazer isso. Mas estranho porque é estranho e não sou capaz. Talvez perca um dia esta timidez e quebre com uma educação que é a minha, que é cosmopolita e igual a tantas outras pessoas que sabem que não dá para cumprimentar todos os estranhos com que nos cruzamos na rua... Mas nem todos os estranhos são iguais. Alguns dão-me mesmo vontade de dizer um grande e sorridente BOM DIA.

2 comentários:

  1. Por acaso se passam por mim e me falam, eu falo. Se chego a paragens e está lá alguém, também falo... Passo a vida a falar às pessoas lol

    Claro depende da situação.

    Olha acho que me expliquei mal ou então há um equívico qualquer, mas eu não estou neste local a estagiar à 1 ano. Fiz 3 meses e graças a Deus que me vou embora.

    Beijocas

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  2. Olá Cláudia.
    Ainda bem que me equivoquei! Um ano pareceu-me uma exploração e tanto. Não permitas que te explorem.

    Sou tímida mas gosto de falar com as pessoas e considero-me uma pessoa com educação mas cada geração teve a sua. Se me falarem respondo sem problema algum. Por vezes sou eu que falo. Mas não ao me cruzar com um estranho. Se este deixar cair algo e eu ajudar, por exemplo, aí falo. Mas assim cruzar por cruzar não. A questão é que algumas pessoas dão-me a sensação que iam gostar de ouvir um bom dia depois de passarem por mim. Mas também não o dizem. Existe apenas uma postura e uma forma de olhar que em si é diferente dos olhares desta geração. É um olhar menos indiferente e caloroso.

    Jocas

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