O canal AMC Crime está a passar alguns documentários de histórias de crimes e homicídios que ainda não conhecia. (O que é um feito). Fiquei maravilhada com o último a que assisti. Se puderem, vejam. É o episódio nº5 da série "Text me when you get home" - Avisa Quando Chegares - tradução para português.
Estive em lágrimas grande parte do tempo. A torcer para que o desfecho de uma adolescente de 14 anos que não regressou a casa após a escola fosse diferente do habitual. E foi. Fiquei feliz, em lágrimas mas contente. Aquela menina, agora mulher, é um espanto. Fantástica! Uma pessoa maravilhosa, linda por dentro e deslumbrante por fora.
Vão ver e vão entender.
A HISTÓRIA:
A adolescente não regressou a casa após a escola. A mãe ficou preocupada pois a filha era muito responsável. Em cerca de duas horas, colocou no facebook um apelo: para lhe avisarem se vissem a filha, que não tinha regressado a casa e não respondia a mensagens.
A comunidade viu o post e começou a interessar-se. Chegando a noite, ela foi ter com a polícia. Que não respondeu "ainda é cedo, tem de esperar 48h". Como entendeu que aquele comportamento era atípico da adolescente, decidiu ir investigar. Falaram com quase 50 amigos dela. Conseguiram um nome de um rapaz, por quem a adolescente tinha um fraquinho. Falaram com ele que respondeu que não se comunicavam há meses.
A pista não deu em nada. Aí a mãe, ainda no facebook, leu um comentário que lhe deu esperança: "Vi a Desiré a caminhar na estrada da vala". A polícia foi ao local investigar, mas não encontrou nenhuma pista.
Umas mulheres que acompanhavam o caso no facebook, moravam perto do local. Era de noite e as temperaturas geladas. Mas juntaram-se e ofereceram-se para ir ver o local. Estava totalmente escuro. Negro, preto. Levaram uma lanterna e, por precaução, um canivete, água, snacks. Afinal, eram mulheres sozinhas de noite num local ermo. Quando subitamente, a luz de uma das laternas apanha um movimento que lhes chama a atenção. É uma mão, vinda do chão, e se mexe.
É Désiré!!
As duas aproximam-se da criança, verificam que está gelada, sofre de hipotermia - cobram-lhe o corpo com os seus casacos. Uma telefona para a ambulância, pois desiré está viva mas está mal. Tem o rosto inchado, está a falar mas é um sussurro e incoerente. Queixa-se de dor de cabeça.
A polícia, médicos chegam e no hospital, começam a tratar da sua hipotermia. Uma enfermeira apercebe-se que existe sangramento craneano. Fazem uma tac e... descobrem que ela tem uma bala alojada no cérebro! A adolescente levou um tiro com entrada na nuca.
Claramente, não o fez a si própria.
A investigação continua, com a polícia a tentar descobrir, através dos telemóveis, o que poderá ter acontecido. Foi o rapaz que ela gostava mais o amigo deste. Levaram-na para aquele local, enganaram-na dizendo que tinham perdido um anel e enquanto ela estava a olhar para o chão, de cabeça baixa, tentando achar algo que não existe, deram-lhe um tiro na nuca.
Depois tiraram-lhe o telemóvel e a mochila. Deitaram o telemóvel num rio e ficaram com a mochila e com o dinheiro. Foram comprar álcool e outras coisas mais.
MIRACULOSAMENTE a menina sobreviveu. A probabilidade é de 3%! E não só sobreviveu como conseguiu sobreviver com sequelas reduzidas para quem levou com uma bala no cérebro! Teve de re-aprender tudo: falar, andar, mexer o braço, a perna, tudo. Não é fácil e nunca será. Para sempre, mesmo que queira esquecer, a bala está no seu cérebro, a lembrá-la do sucedido e a fazê-la temer que lhe cause uma morte súbita.
O documentário conta com o depoimento da jovem e surge uma mulher linda, deslumbrante, com um discurso coerente, preciso, adulto. Fiquei apenas triste por ela ainda sentir-se magoada com a "justificação" apontada para levar com uma bala: o rapaz de quem ela gostava e a quem enviava mensagens disse que ela era "irritante". Então o amigo disse para acabarem com ela. Os dois passavam as suas vidas a jogar jogos na playstation, não faziam outra coisa. Os seus cérebros consumiam aquilo e mais nada. Jogos esses, de extrema violência, onde disparar contra pessoas é o habitual.
Eles decidiram não separar a ficção da realidade. Sem emoção, sem motivo.
Sim, porque dizer que ela é "irritante" não é motivo. Espero que Desiré tenha percebido isso desde a altura deste documentário. Tratavam-se de dois jovens sem apatia ao próximo. Infelizmente ela, imatura como todos nós somos aos 14 anos, sentiu atracção pelo "tipo calado e sossegado", sendo que ela era mais ativa. Até mesmos em adultos, muitas vezes, esquecemos esta lição: só muito poucos jovens "calados e quietos" o são mantendo uma natureza pacífica. Muitas vezes, os que têm uma raiva oculta, os que vivem em total escuridão interior, também agem assim. O sol quer sempre incidir sobre a sombra. Achando que deixa todos felizes. Mas alguns vieram das trevas e tudo o que for luz os incomoda.
Desiré é luz. Não foi apagada. Brilha ainda mais agora, que provou a garra que tem em viver, em sobreviver, em ultrapassar as estatísticas e prosperar.
Fiquei a admirar muito esta pessoa. Desejo-lhe tudo de bom. Uma vida longa e próspera, com muitos amigos que decerto tem e um amor digno da pessoa que ela é.
Mas tem sequelas para a vida, está semi-cega e semiparalisada, assim como a vida na corda-bamba, uma vez que a bala permanece no cérebro.
A importância de agir em comunidade. Penso que é isso. Acredito também no poder da reza colectiva. Subitamente a energia de tantas pessoas focou-se nela. A mãe pedia que rezassem muito. Já vi documentários incríveis em que o resultado sempre foi milagroso e sempre envolveu este mesmo ambiente: pessoas com fé, a rezar com fé e a inter ajudarem-se. Uma rapariga com uma doença terminal de pura agonia e paralisante, subitamente "viu um anjo" e curou-se. Noutro caso, uma mãe teve uma premonição agarrou-se à bíblia e pôs-se a rezar pela filha. Esta tinha caído numa ravina e não tinha como se salvar. Diz que sentiu um anjo levantá-la e colocá-la na topo da ravina. Que foi onde subitamente apareceu.
Como não acreditar em milagres quando se a fé for forte e as pessoas estiverem conectadas com esta energia especial, coisas fantásticas realmente acontecem?
Não foi por acaso que as duas mulheres sentiram um impulso de ir procurar pela adolescente. Algo as empurrou para isso. Era de noite e estava frio e a nevar! Mas elas sentiram que TINHAM de ir...
Se tivessem refreado seus ímpetos, hoje estariam a lamentar-se e a imaginar se teria feito a diferença entre a vida e a morte de Desiré.
Teria.
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