Imobilizada. À espera.
Dentes serrados. Sentada no chao a olhar para o vazio, imobilizada. Incapaz de dar continuidade a qualquer tarefa. Nao va a mensagem aparecer.
Volto a pegar no telemovel. Nada.
Olho novamente para o vazio.
Sinto a gaveta que abri momentos antes ali, sei que a abri com o proposito de a arrumar. Mas nao consigo. Pego no telemovel e volto a verificar se recebi uma nova mensagem de email. NADA.
Oro. Peço para que possa vir a ser uma pessoa melhor, peço para nao seguir maus caminhos, para nao desenvolver irritabilidade e peço para que o emprego continue estavel e constante.
É dele que estou à espera.
Da mensagem de email a disponibilizar turnos de trabalho para o dia de hoje.
Esta semana tem sido todos os dias assim. É extenuante. Nao durmo. As poucas horas em que o faco e com o telemovel ao lado. Para nao perder a mensagem que disponibiliza emprego para esse dia.
Na quarta-feira apos veeificar o email a cada minuto, fui ao WC e deixei o TM no quarto. Quando voltei tinha uma mensagem de turno. E nao fui rapida o suficiente para a apanhar.
Tens cinco a dez minutos para responder caso queiras trabalhar. Se nao o fizeres com rapidez, aqueles que o fazem levam o turno.
Tenho trabalhado todos os dias mas ultimamente tem sido nestas circunstâncias. E isso deixa-me extenuada. Desenvolve a minha ansiedade e imobiliza-me.
Nao saio de casa para fazer qualquer recado. Nao cuido da minha alimentacao, nao vejo TV, nso faço arrumações... nada. Nao sem ter a confirmação de trabalho para esse dia. Qualquer tarefa pode ser a causa de um momento de distraccao que me vai custar aquilo que me faz feliz.
Sem trabalho nao sou nada. Triste mas verdadeiro. Sem trabalho temo o que possa vir a acontecer comigo. Ganhei trauma por aqueles quase tres anos de desemprego em Portugal. Fui ao fundo dos fundos dos mais fundos dos poços.
E é essa escuridao depressiva que sinto próxima de mim cada vez que nao sei se vou ou não trabalhar. Comeco a perguntar-me porquê, se algo pode estar errado, se alguem esta a tentar prejudicar-me. Temo-me a mim mesma. E rezo para relativizar tudo. Para nao me deixar levar pelos receios escuros daquela escuridao do fundo do poço.
Todo o meu valor e identidade, para mim, esta no sentir-me feliz ao trabalhar. Nao tenho outra fonte de felicidade pela vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Partilhe as suas experiências e sinta-se aliviado!