quinta-feira, 16 de março de 2017

Um pouco blue


Os que sabem que vivo numa casa partilhada onde existem alguns problemas, sabem que por causa do último, procuro mudar de lugar.

Pois bem. Encontrei um, que fui ver ontem ao início da tarde, antes de entrar no emprego.


Barato como muito dificilmente vou encontrar outro, quarto de tamanho médio agradável, casa igual a todas por aqui - tudo velho mas utilizável e só teria 2 colegas de casa. Quem ma mostrou foi o proprietário, que logo me garantiu que é selecto com quem mete a viver nas suas casas e, entusiasticamente, me disse repetidamente que conseguia me ver a viver lá. Disse que tinha a certeza que eu era a pessoa certa. E disse também para lhe dizer se o desejava, porque a primeira pessoa que vê o quarto - eu - tinha prioridade, mesmo que aparecesse outra depois. 

Até gostei disso, pois numa ocasião também fui eu que estava a procurar quem me ocupasse o quarto que ia vagar e obedeci a essa regra: quem chega primeiro e mostra interesse, leva o quarto.

Depois de ter feito o primeiro contacto telefónico com ele, voltou a ligar-me quase de imediato. Horas depois, volta a ligar para perguntar se vou aparecer como combinado. E depois de o ter deixado após a visita, ligou-me e ficou uns 10 minutos a falar comigo, a explicar-me onde ficavam os transportes naquela rua, insistindo em mos mostrar, da mesma forma estranhamente insistente com que primeiramente se apresentou. 


O quarto só ficará vago lá para 10 de Abril. E por isso pensei cá com os meus botões que a «urgência» em dar resposta certamente era menor que o quarto que fui ver na véspera, que estava disponível a qualquer momento. (Embora o morador ainda lá estivesse, com toda a roupa nos armários).


Tive de ir a correr para o emprego e durante essas horas só conseguia pensar na decisão que tinha de tomar. Já a tinha tomado - queria ir para aquele quarto. Mas estava a trabalhar e só de manhã poderia telefonar ao senhor. Afinal, ele disse-me que os primeiros tinham prioridade e eu ia dar-lhe a resposta em menos de 24 horas. 

Durante a noite relembrei uma ligeira impressão que recebi: o homem tinha mudado ligeiramente de comportamento aquando a última despedida. Pareceu mais seco e diesinteressado. Foi só uma ligeira impressão com que fiquei, de tão esfuziante que ele se mostrou de início, daquela forma melosa e cheia de «namoro» - não o estava a ser na despedida, como foi em todas as outras.

Hoje, 10 minutos depois das 8.00am, enviei-lhe mensagem. Para o telemóvel pessoal, que ele fez questão de me dizer que não o dava a qualquer pessoa mas eu devia usá-lo para o contactar. Adormeci eram quase 7am, acordei passado apenas uma hora. Claramente não ando a conseguir dormir nas últimas duas noites. Na mensagem dizia querer viver na sua casa. 

Ele respondeu, também por mensagem:
-"Lamento, dei o quarto ontem à tarde. Mas obrigado por me dizer, boa sorte".


Seco, não? É que se o tivessem visto e escutado, todo amistoso, de uma forma que a nós, portugueses, parece estranha e exagerada. Mas depois pensamos: "é o jeito da pessoa ser". Nem respondi de volta, porque sabia não fazer diferença. Não o relembrei que, poucas horas antes, disse-me que tinha prioridade. Que me queria a vier na sua casa.  Eu respondi-lhe o mais rápido que pude. Trabalhei até às 2am, não ia ligar-lhe nessa altura, não é?

Mas não tem importância. Eu acho que ele decidiu enquanto me dizia adeus. Despedimo-nos às 16h da tarde e ele deve ter dado o quarto a outra pessoa 15 minutos depois.

Agora estou assim, a sentir-me um pouco blue...
Porque foi uma oportunidade que tive em mãos e deixei passar. 
Mas passa. 

Aqui tem de ser vapt-vup! Vês, tens disponível, pega! Aqui não existe palavra. Quem tem o poder, usa-o. Pode dar o dito pelo não dito. Quem tem dinheiro, e acena-o, disponibiliza-o, leva o brinde.

O anúncio não ficou nem 24h activo no site. A procura é muita, a oferta também e uns dão para ser «selectos», principalmente os que vivem na Grã-Bretanha mas têm raízes em culturas muçulmanas.
Querem sempre não fumadores, que não levem pessoas para dentro de casa, que não bebam e não tenham maus hábitos.

Noutro dia ainda foi pior: vi dois anúncios de aluguer de quartos mas só aceitavam candidatos vegetarianos. Lol! Isso é que é impor o seu estilo de vida a outra pessoa.

Quanto às pessoas muito simpáticas, o problema é que elas tanto adoram como deixam de adorar. Num piscar de olhos. Tem uma fachada social agradável, mas são de humores.


Quando vim para cá umas pessoas que já ca moram sempre me disseram que temos de ser mentirosos e fingidos, para conseguir estas simples coisas. Eu não consigo. Sou logo sincera. Não sei fazer "jogos". Que coisa! Acho que faz parte da vida de qualquer adulto independente ter de passar por situações em que é conveniente se dar ares de algo que não é, não pensa ou não concorda. Eu não tenho a mínima máscara! Mas não é só uma questão de máscara per se. É uma capacidade de analisar as situações e adaptar-se a elas de forma a tirar o maior proveito para si mesmo.

Sei lá...
Enfim. Fiquei um pouco triste, mas passa. Um quarto como aquele e àquele preço, jamais. Não se encontra em lado algum. Mas eu queria mais do que um quarto barato. Eu queria sentir-me bem a viver na casa. E só pretendia como condição, que fosse bem localizada. Ele disse que pretendia o mesmo do seu inquilino. Rejeitou a rapariga que chegou depois de mim por esta ter dito que "apenas queria um lugar para dormir". O que o revoltou. 

O quarto onde estou agora é um... palácio. Comparado com o que existe por aí. É o quarto principal de uma casa típica inglesa. É do tamanho da sala de muitas. Tenho um colchão de casal e muito espaço para cada um dos lados. Durante os primeiros meses, achava-o mais do que precisava. Mas depois acostumei-me... E agora aprecio-o. A maioria dos quartos dos anúncios de aluguer mostram cubículos deprimentes, com uma cama e uma cómoda. Têm duas prateleiras minúsculas para a roupa, porque não há espaço para guarda-vestidos. E costumam até ser mais caros! Mesmo os que ficam pior localizados. Este era médio, tinha cómoda e guarda-vestidos. E o preço! Se for a pensar bem, era uma pechincha.  

Espero ter Deus do meu lado da próxima vez, tal como tive desta. 
Eu é que não soube lidar com a situação da melhor maneira.
Esqueço-me que aqui é pega ou deixa-ir.

E mesmo assim, no dia seguinte a menos que o dinheiro entre na conta, nada está garantido.



5 comentários:

  1. Viver e aprender. Para a próxima já sabes: se vires uma boa oportunidade, pesa todos os prós e contras na hora e não deixes nada para depois porque pode ser tarde demais.
    Pensamento positivo porque pode aparecer outra coisa ainda melhor!

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  2. Talvez tenha sido bom não ter ficado com esse quarto, esse senhor parecia muito estranho.
    Espero que apareça um melhor.
    um beijinho
    Gábi

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  3. Interessa que mudes para um local confortável e principalmente onde te sintas bem e segura. Beijinhos*

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  4. As (más) acções ficam com quem as pratica.
    Bfds

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  5. Uii, isto faz-me recordar as minhas muitas procuras de casa. É sempre complicado encontrar um quarto numa casa que se goste, com flatmates com quem se dar bem, etc. De qq forma, devo dizer que isso de não teres ficado com esse quarto parece do melhor. Não confio nada em casas onde é o senhorio a mostrar a casa em vez dos flatmates porque isso significa que vais estar num ambiente em que cada um arrenda o seu quarto e passa a maior parte do tempo no quarto fechado evitando viver em comunidade com os outros flatmates. Esse é um ambiente muito estranho e totalmente desaconselho-o. Tentar encontrar um quarto numa casa onde sejam os flatmates a mostrar o quarto porque será sinal que te querem conhecer e que sejas uma pessoa com quem pretendam comunicar. Boa sorte

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