sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Mergulho do 21º


A morte de uma menina de 5 anos de origem chinesa, vítima de uma queda de um 21º andar enquanto estava em casa sem qualquer supervisão traz novamente à baila o tema dos comportamentos parentais em diferentes culturas. 

A última vez que um assunto destes foi fortemente debatido ocorreu quando Maddie e seus ainda mais jovens irmãos foram deixados sós num hotel enquanto os pais foram jantar fora. Mesmo tendo a possibilidade de contratar os serviços de uma ama/babysitter, que o hotel providenciava, os pais, habituados, fecharam a porta deixando-os sozinhos. TRÊS crianças, entregues a elas mesmas, por algumas horas. Horas essas que se verificaram catastróficas. Maddie desapareceu e ninguém viu ou sabe o que lhe aconteceu até hoje. Excepto quem lhe fez mal.


Em 2014, outra catástrofe: uma menina de 13 anos, portuguesa, morre num incêndio em casa, mas não antes de retirar todos os seus 7 irmãos lá de dentro. Os pais haviam-nos deixados sozinhos e saído de casa durante a madrugada, oficialmente para "comprar tabaco". Mas como eram alcoólatras e toxicodependentes, o mais provável é que tivessem ido arranjar meios para sustentar os vícios. Chegou-se a pensar no que terá levado a menina a regressar às chamas após ter retirado todos os seus irmãos. A hipótese de suicídio foi fortemente falada. 

O problema destas notícias é que a Comunicação Social sabe comunicar as catástrofes, levantar mil cenários hipotéticos mas esquece-se de relatar as conclusões. Pelo que se as há, até hoje não se lembraram de as divulgar. Pelo menos não encontrei nenhuma notícia que indicasse o que causou o incêndio, o que aconteceu a esses pais criminalmente e o que explicaria a atitude da menina de voltar a entrar na casa para se enroscar no cobertor e deitar-se na cama. 

Segundo a lei portuguesa, ocorre a situação passível de crime a quem "colocar em perigo a vida de outra pessoa expondo-a em lugar que a sujeite a uma situação de que ela, só por si, não possa defender-se; ou abandonando-a sem defesa, em razão de idade, deficiência física ou doença, sempre que ao agente coubesse o dever de a guardar, vigiar ou assistir;" .


E foi exatamente isto que aconteceu, no caso de Maddie, da menina chinesa e da menina de 13 anos que retirou os irmãos de um incêndio. Foram deixados sozinhos. Se isso é natural na China e no UK, por cá é totalmente anormal. Ao que tudo indica, os pais de Maddie e os pais da menina Chinesa (que devem estar a sofrer horrores) eram pessoas abastadas, pelo menos. Se não mesmo bem formadas, estudadas. Ninguém mora no 21º andar de um dos prédios mais caros de Lisboa sem ter um forte poder económico. Pelo que não foi por falta de recursos - como aconteceu no caso fatídico português, que não lhes foi possível escolher manter sobre supervisão de um adulto uma criança menor de seis anos de idade.   

Em qualquer dos casos uma pessoa às tantas interroga-se: Terá sido acidente por negligência ou terá sido intencional?
Fica sempre a dúvida.


6 comentários:

  1. Nunca se conhecem as conclusões porque é matéria que já não vende.

    No caso de Maddie concluíu-se, em voz baixa, quem seria(m) o(s) culpado(s).
    Neste caso, uma menina de 5 anos é preterida por um Casino. Culpado(s)? Pensemos bem, pode ser que igualmente em tom baixo, cheguemos a alguma conclusão.

    Negligência ou intenção ... eis a questão.

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    1. Pois... e provavelmente nunca saberemos a resposta.
      Tem de se ver bem todos os cenários. Em princípio a história é que a criança caiu quando deixada sozinha em casa. Os pais estavam no casino, que é um local perfeito como Alibi - está cheio de camaras de vigilância. Mas terá a criança caído por acidente ou terá sido atirada? É um HORROR de pensamento mas temos de admitir que casos destes acontecem, não são inventados. E no caso dos pais serem chineses... Um país comunista que proibe que se tenha mais que um filho e onde as meninas são mortas para que o único filho possa ser homem.

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  2. Há comportamentos que não consigo entender, como é que se deixa um filho menor sozinho? Por muito responsável que seja, há acidentes que podem acontecer e tomar proporções trágicas.

    r: As novas tecnologias vieram ajudar nessa rapidez, mas acabam por também retirar o encanto de certos momentos.

    Obrigada pelo comentário!

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    1. Obrigada pela visita, Andreia!
      As cartas... elas «cozinham» as emoções e avançam ao ritmo da saudade :)

      Uma criança de 5 anos não é autosuficiente para ser deixada em casa sozinha. Com 12, se for bem responsável, pode-se começar a fazer experiências - também não é preciso mantê-las vigiadas por um adulto até completarem 18 anos. Mas crianças? Chiça, se no estrangeiro isso é considerado normal, por cá fazemos as coisas muito diferente.

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  3. Não percebo como os pais podem sair de casa e deixar um filho menor só em casa. Faz-me confusão Criei duas sobrinhas até entrarem para a escola, Criei um filho e tomei conta da filha de um primo. Cuidei da neta desde os 4 meses até entrar na escolinha. Nunca nenhum deles ficou sozinho uns minutos que fossem
    Um abraço e bom fim de semana

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    1. Pois é Elvira, também não entendo. Ainda hoje passei a manhã a tomar conta de uma criança com 3 anos e não dá para a deixar sozinha, tem sempre de estar um olho em cima, caso contrário... Já cuidei de muitas, em casa, no parque, nos restaurantes até a ir para o WC... Uma pessoa tem de estar sempre a ver. Mesmo assim, às vezes, acontece uma distração. Agora deliberadamente, uma criança tão nova, tão dependente? É muita negligência.

      Compreendo que crianças responsáveis a partir dos 12 anos possam, numa situação ou outra, ficar em casa sozinhas (já estico a corda porque eu estava sozinha aos 12) mas proibidas de abrir a porta, de sair, de mexer no fogão, subir a bancos, etc... Não dá para os criar numa redoma mas nos casos relatados estavam longe de serem tão auto-suficientes! Nem usar o telefone e ligar um número, ou pedir ajuda a alguém, um vizinho... É terrível.

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