quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Com a corda no pescoço


Quando uma pessoa anda à procura de emprego em sites próprios na internet, dá vontade de pendurar uma corda num lugar bem alto, dar um laço na ponta e aí permanecer pendurada pelo pescoço.

Os sites aludem-nos com possibilidades que parecem ilimitadas: "A crise está no fim, Portugal está a recuperar" - dizem. "Mais de 500 vagas". "Mais de 100". Uma pessoa enche-se de esperança e faz o que eles pedem: Introduz os seus dados pessoais e regista-se em mais um site, para então lhe ser possível abrir o link dos apetitosos anúncios. 

E para quê? Para verificar que as mais de "500 vagas" e todos os nomes de empresas de prestígio que usam como chamariz não estão a contratar coisa alguma. Têm duas ou três vagas para cargos específicos - gestores e especialistas em marketing. E contratam na Holanda, no UK, na Cochichina... onde for, mas nem sempre em Portugal. 

Ora, isto é gozar com as pessoas. Pior: é desumano. 
Perdeu-se o sentido do que é isso de ter respeito e dignidade por quem procura emprego. Não sei o que sites de emprego ganham por simplesmente existir, mas deve ser algo muito torpe para cada vez haverem mais. Não param de crescer. Sempre com «ofertas» maravilhosas, repletas de vagas às centenas... Mas depois? Não tem nada. 

Outra coisa muito prejudicial que só agora percebi é o facto de ser cada vez mais comum NÃO MAIS se anunciar por FUNÇÃO. Quem procura encontra "Empresa XX tem 100 vagas por preencher", "Grupo Y tem 500 vagas" e uma pessoa enche-se de esperança mas nem sabe que raio de oferta é, para assim perceber se tem cacife para se candidatar ou não.

Não dizem porque já não interessa. As pessoas são números, são peças suplentes, não interessa então anunciar as funções, basta dizer o nome da empresa e deixar que os peixinhos todos, as raias, os tubarões, os lagostins, as sardinhas e o lixo todo vá lá parar. 

O que querem é quantidade. Querem DADOS. Alimentam-se de CVS virtuais cheios de dados, cheios de nºs de telemóvel. 

Após umas horas a navegar por estes mares mortos, a vontade que tive foi mesmo ir buscar um corda e enforcar-me. Quando se sabe que não há futuro, fica difícil aguentar o presente.

Ei, mas não vos quero deprimir. Nem me deprimir. Procuro alegrar-me com coisas simples e deixar estes momentos de total descrédito passar... Mas a verdade é dura e é para ser dita, tal como ela é. 

Tenho feito alguns prints de OFERTAS DE EMPREGO e não me apetece tecer comentários. Ficam aqui uns, quem os vir que os comente se quiser porque eu, sinceramente, nem palavras me apetecem pronunciar. 

  


Se ao menos existisse um Centro de Emprego em Portugal!

Aquele que se intitula assim não o é. Não passa de uma anedota a alimentar miragens.
Bem que podia ser destituído.

Venderam tanta coisa de Portugal, porque não o auto-denominado IEFP?
Porque ninguém compraria algo que não existe! 


Curioso revisitar: post 2008 - O dia do Diploma

9 comentários:

  1. Mestrado, com média superior a 14 valores, para trabalhar nos Correios???
    Ou será gerir os Correios??
    Está tudo doido!

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    1. Pois é Pedro. A minha interpretação é esta:

      «Queremos um jovem cheia de energia e pouca experiência de vida, que não esteja cansado da vida laboral por praticamente a desconhecer. Tem de ter uma licenciatura de 3 anos seguida de mestrado-relâmpago e ainda experiência noutra empresa pelo menos seis meses, para que possamos ter referências e algumas garantias de que sabe por em prática os anos em que pagou para estudar. Em troca recebe um «trainne» de ano e meio - assim disfarça-se com um estrangeirismo um reles estágio onde pretendemos que dês tudo e não esperes muito em troca, já que te vamos explorar. Não mencionamos o salário, as funções ou as condições porque não és digno de o saber e queremos pagar-te o mínimo possível e mudar de ideias a qualquer momento».

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    2. Penso exatamente o mesmo, Portuguesinha! Infelizmente, como não tenho uma rede de contactos (que percebi demasiado tarde ser essencial à procura de emprego) todos os dias visito esses sites, e a experiência é horrível. Felizmente já sei identificar os esquemas (geralmente quando a oferta é muito boa há uma marosca qualquer), mas depois há coisas como o exemplo que usas dos CTT em que se vê claramente que querem uma pessoa pouco experiente para poderem explorar à vontade. Acho ainda idiota que NUNCA sejam mencionadas as condições ou o salário, ao contrário do que acontece nos sites semelhantes do UK, por exemplo. Tenho um mestrado concluído com classificação de 18 valores e um ano de desemprego. Durante esse ano consegui apenas duas entrevistas de emprego, ambas para cargos de alguma responsabilidade em que me queriam pagar o mínimo legal por lei. É inadmissível.

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    3. Boa sorte Nádia.
      Não é fácil para mim que já estou em idade «avançada» nem é fácil para os que estão a sair hoje das universidades.

      CUNHAS são tudo. Até para trabalhar num café os donos preferem alguém indicado por «boca». Também só entendi isso tarde demais. Talvez um dia um governante chegue e coloque a empregabilidade neste país nos eixos mas até lá muitas gerações vão sofrer e ser privadas dos sonhos mais básicos: trabalho, remuneração, casa - família.

      Há muitos anos antes da virada para o novo século, lembro de fica interessada num debate na radio onde alguém avisava que as decisões do governo iam ter graves consequências no mercado de trabalho no futuro. Que os estágios não eram coisa boa, que o que o governo estava a fazer era a adiar a entrada dos jovens no mercado de trabalho por na realidade este não ter espaço para eles. E que tudo isto ia arrebentar.
      .
      Arrebentou.

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    4. Eu não acho que sejam essencialmente cunhas, mas contactos. Se alguém me indica para ir a uma entrevista e eu fico com o emprego o mérito continua a ser meu, porque aquela pessoa só me garantiu a entrevista. De qualquer forma, e apesar de ser um procedimento legítimo, não teria feito nada de maneira diferente se soubesse que é assim que o mundo funciona. Fiz o curso que queria na área para a qual tenho talento, estudei por prazer e aproveitei cada minuto, e não fingi ser amiga de ninguém tende em vista as tais redes de contactos. Não sei mesmo como é que me vou safar desta, mas valeu a pena.

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    5. Não disse ou penso o contrário. Posso dizer-lhe que, uma cunha é também uma grande responsabilidade. Cunha ou contacto para mim vai dar ao mesmo hoje em dia... Quem conheço que tenha ficado empregado ultimamente foi por indicação de outrém. Claro que isso só garante a porta aberta e a experimentação. O resto é trabalho. Ainda assim nos dias que correm já é um grande empurrão. Não sei qual o seu curso, espero que consiga! Mas se não for na área, que encontre outra que acabe por descobrir que também gosta. Essas voltas do destino são, por vezes, o que a vida reserva...
      Abç e obg!

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  2. Verdadeiramente arrepiante.
    Um abraço e boa sorte, que bem precisa.

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  3. Tenho sentido na pele, por intermédio da minha filha, essa provocação de algumas entidades. A estupidez instalou-se e, num ápice, estendeu a mão ao desumanismo como que dizendo 'juntos conseguimos'.
    Serão os empresários autistas ou sofrem de demência galopante?

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    1. Portugal é iletrado nesse sentido, caro Observador. Chega a doer perceber o quanto é pouco funcional e até mesmo NADA profissional a metodologia.

      Faz 12 anos estava em Londres à procura de emprego. Dirigi-me a um dos muitos centros, falei com uma pessoa que me explicou o processo mas das outras vezes nem há espera: e só ir até uma das muitas máquinas que têm as ofertas de emprego bem organizadas por áreas e fazer um PRINT GRATUITO de cada qual. Pode-se candidatar também. Era uma espécie de máquina multibanco mas para empregos. Prática e por cá não há nada disso. Vi uma vez uma máquina de consulta de ofertas de emprego no IEFP, que passou apenas a ter um papel A4 colado com fita adesiva e a palavra AVARIADO.

      Mas nem era isto que lhe queria dizer. A principal diferença é mesmo o RESPEITO e a ÉTICA que observei lá e que aqui é inexistente. As ofertas não se limitam a dizer o que querem. Aqui é só isso em que se focam. Uma oferta de emprego legítima sabe que é uma troca de serviços, por isso, diz o que pretende em pormenor e lista em pormenor o que oferece. RARO é a oferta de emprego lá que não indique tudo isto. O salário auferido é sempre mencionado, usualmente o valor ao ano. A lista de características da empresa e do perfil da pessoa para ocupar um cargo é profissional, não é inexistente ou dolorosamente dolorosa como o que se verifica por cá. Passadas quase 2 décadas, ainda não se vislumbra por aqui NADA desta eficiência. Ficamos parados no tempo, sem progredir. E pior, regredimos.

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