quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Los Castratti - parte1 (de muitas)


Tinha uns 13 anos de idade quando fui naquela que seria a última vez, fazer uma visitar à minha professora primária na sua sala de aula. Uma menina sentada nos bancos da frente mexeu-se e foi quando a minha ex-professora virou-se e a berrar num tom que conhecia tão bem e mandou-a ficar quieta no seu lugar, sem se mexer, durante uma hora, ameaçando-a também com algo. 

Percebi logo ali que aquela seria a última vez que iria visitá-la. A minha vontade era baixar-me junto da menina e falar-lhe com bons modos. E censurar a minha ex professora.

Imagem retirada da net

Hoje recordo este episódio porque evoca muitas implicações. Até hoje «sofro» as consequências da educação rígida e disciplinaria que recebi. Tanto na escola, como em casa. Ensinou-me, basicamente, a baixar as orelhas. A ser submissa e a permitir receber maus tratos. Eu aguento tudo. Sou muito forte. Nem se imagina a quantidade de pressão que suporto sem ceder. Aguento por décadas. E por isso mesmo, na prática tornei-me fraca. Acho que a disciplina "rígida" que «mais tarde quando cresceres vais agradecer-nos» não me ensinou efectivamente mais nada. 



4 comentários:

  1. Engraçado...a educação rigida...a mim tornou-me em alguém que dificilmente "baixa a orelha!" Sempre revoltada, sempre pronta a contrariar, a argumentar, mesmo que isso implicasse sova pela certa!
    ...Só há pouco tempo ouvi algo que se aproximou muito de um pedido de desculpa do meu pai...Às minhas filhas procuro passar a antítese de tudo o que me fizeram a mim...por isso aos meus pais "agradeço" terem-me ensinado tudo o que não quero ensinar às minhas filhas:)

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    1. É engraçado sim, porque vem a levantar a questão que todos somos diferentes e podemos reagir de forma diferente. E talvez a educação rígida que tiveste tenha sido diferente da minha em algum sentido que te tornou diferente, assim como somos pessoas diferentes.Também procurava argumentar mesmo que implicasse sova mas não dá para argumentar com quem não escuta, distorce e está fechado ao diálogo, só permitindo o monólogo. Quem está determinado em levar a sua avante e tem poder para isso. Fui uma criança capaz de desarmar um adulto com a lógica e sentido do que dizia mas não continuei assim. Não sou revoltada. Quebrei, fiquei passiva e conformada.

      Não sei se te "cortaram as asas", como eu vejo que as minhas eram cortadas. Não sei se te davam "apelidos carinhosos", festas e beijinhos... se tinhas uma pessoa que te compreendesse ou algum escape e liberdade... Enfim, aprofundar estas diferenças é o que é interessante. Tudo já passou, mas continuará a ser o início que ditou a continuação da nossa vida. Quando escrevi este post lembrei-me de ti, Suricate, e da forma como pareces educar as tuas filhas e imaginei-te a «marchar» até à escola para mostrares a tua indignação para com os métodos na altura já controversos da professora dura e implacável que tinha. Eu compreendo a disciplina, sou naturalmente uma disciplinadora, sou exigente, mas não tão severa, propensa a injustiças e a marcar pela negativa. E também "agradeço" o que vivi porque sei (sempre soube) o que não se deve fazer :D

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    2. A minha mãe cortou-me a asa de acreditar em mim, a frieza distante com que me educou fez-me acreditar que não gostava de mim e se não gostava a culpa era minha. Nunca recebi mimo da minha mãe. Na escola os mimos leia-se porradinha da velha vinha dos colegas, eu era o bombo da festa. Isso reforçou o não gostar de mim. A professora era rigida, mas eu gostava dela, era das poucas pessoas que me ouvia com atenção, aprendi muito com ela não me importava dos bolos com a régua por ser pespineta e irrequieta, isso à beira do chinelo, cinto, ou da mão do meu pai, não era nada.... O meu pai cortou-me a asa do sonho ao não me deixar seguir o sonho de ser jornalista. Mas o que mais e durante mais tempo me castrou foi a educação religiosa a que me obrigaram, que fez com que eu vivesse numa bolha fora do mundo real...
      Cresci:) e descobri que estava nas minhas mãos fazer.me de novo:) deitei mãos à obra:) hoje não me arrependo de ser quem, nem como sou com qualidades e defeitos. Tenho uma aptência desgraçada para defender quem vejo ser maltratado, desprezado, humilhado ou ofendido... marcho logo:)...uiiii já vou longe....vou-me despedir por hoje, deculpa o testamento! Vou buscar as minhas meninas:) ...a minha vida:) jinhooooooosssss

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    3. Oh suricate, não vais nada longe :) Faz bem partilhar e que bom para ti que te deixaste simplesmente ser o que és. É tão simples e simultaneamente tão complicado dar esse simples passo. Tb acredito que a vida da gente vale mais com descendência. Era a minha vontade mas não deu. Também tive cinto, chinelo e lambada até longa idade. Mas considero isso irrisório diante dos maus tratos psicológicos e verbais. Meus pais contudo tinham um "sonho", que era o de me ver formada. Isso me daria um bom emprego (ahaha) e tudo ficaria bem. Namorar e viver na realidade, era só depois de terminar os estudos, até lá nada de saídas, nada de festas, nada de nada. "O estudo está em primeiro lugar" - diziam. Entre momentos mais bons, outros menos bons, a vida continuou. O tempo que precisei para "sarar" foi-se alongando, visto que não me afastei do que me fazia mal. Minha mãe foi mais impiedosa, o seu azedume e agressividade eram constantes, desde o acordar ao adormecer. E quando se chateava com ou algo não lhe corria bem, gritava comigo. Eu era a culpada por ela não ter a vida que desejava. E como não sou filha única, posso contar-te que ela foi diferente com o filho que pariu a seguir. Até hoje o é. Muitas vezes senti-me eu a mãe e ela a filha. Porque eu é que escutei os seus traumas de infância e seus problemas conjugais e até hoje ela não tem paciência para escutar desabafos meus. Contudo, gosto de meus pais, tenho a certeza que se me tivessem deixado seguir o meu rumo hoje seriamos todos mais felizes e melhor na vida, porque os caminhos que eu queria seguir costumam ser bastante bem remunerados e eu sempre fui de pensar primeiro nos outros e depois em mim. (Estou a tentar mudar). Se tivesse sido rebelde teria sido mais feliz e se tivesse conseguido gostar mais de mim e menos deles, também. Acho que essa sensibilidade para defender o ofendido e humilhado partilho contudo. Embora se calhar não tão impulsivamente ou de forma notória, já que a descrição regra os meus actos de solidariedade. E agora quem vai longe sou eu!.... Adoro testamentos, "testamenta" o quanto te apetecer. Mima qb as tuas mini-suricates, o tempo passa depressa e o certo é aproveitar cada momento. :) Jinhooosss.

      PS: não sei o que fazes profissionalmente mas aprendi que a vida torce toda mas sempre oferece alternativas. Hoje tens o teu blogue e aí podes escrever e alcançar o público, melhor, um público que te procura, e assim exerces o que seria a tua veia jornalística. <3

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