Gostava do tempo em que andava na escola e tinha ginástica. Ia-se para o ginásio, fazer exercício. Era rotina, fazia parte da aprendizagem como qualquer outra disciplina do curriculo escolar. Muitas vezes as pessoas não sabem apreciar o que têm e fazem queixas e perdem tempo em lamentos quando deviam usufruir e calar. Às tantas muitas que no passado faziam corpo mole, inventando desculpas para se esquivarem ao esforço físico, hoje pagam balúrdios em ginásios para se manterem em forma nas máquinas.
Já a máquinas não acho nenhuma piada. Eu gosto de exercício mas diferente. Gosto daquele que praticava na escola. Ginástica de verdade ou diferentes desportos. Infelizmente ginástica na escola pública foi coisa com dias contados (Ah grande 25 de Abril, que logo nos trouxeste tanto mas depressa o capitalismo levou embora...) Imaginem o que era andar na escola de graça, ter aulas de ginástica de graça... isto é uma bênção. Que muitos colegas diziam odiar, os parvos. Não eram capazes de imaginar o que é não ter sequer direito à instrução e ao livre pensamento. Mas adiante:
Quando andava na escola, isto entre os meus 11 a 15 anos, a actividade desportiva iniciava-se com exercícios de aquecimento e, basicamente, uma corrida. Fazia-se um qualquer desporto com bola - quase sempre basquet, outras menos volei e menos ainda futebol. Mas o que eu sinto mais saudades é da ginástica pura e simples. Sinto saudades de saltar o "cavalo". Recordo com um sorriso os saltos em altura com pirueta, em que se tinha de ir a correr, pisar numa prancha e no ar dar uma cambalhota e cair no colchão. De preferência de pé, claro. O que isto amedrontava alguns! Agradeço ter aprendido o pino e quase ter conseguido saber fazer a espargata. Gostava de saltar à corda - algo tão simples e contudo faz um bem danado. E fazer a roda? Eu ficava ali a fazê-las seguidas, de uma ponta à outra do pavilhão desportivo, numa de ver quem se cansava primeiro e parava. E depois tinham aquelas brincadeiras de menina, como o jogo de elástico, da macaca, dos países, da apanha, do mata ou o saltar à corda aos pares - tudo exercício de destreza com um grau de complexidade que se desejava mais elevado a cada etapa ultrapassada, até se conseguir completar todas sem falhar.
Hoje são memórias do que um dia aconteceu. Não são coisas que consiga reproduzir, nem tão pouco recordo de como fazer metade delas. Sim, saltei muito à corda e claro que o sei fazer. Mas com corda dupla, será que ainda me lembro? Será que era capaz de elevar aquela pernoca lá para as alturas e aos pulinhos fazer o jogo do elástico?
Que pena!!! Espero que alguém com excelente memória ou arquivo visual destes jogos tenha registado como estes se jogavam. Não sei se hoje em dia alguém ainda se lembra dos vários níveis do jogo do elástico. Eu já nem recordo de metade do nome da brincadeiras! Existia uma em que desenhava-se no chão, a giz, e depois ia-se atirando uma pedrinha e conforme a quadrícula onde esta caía, tinha-se de pular numa certa ordem. Se fosse simples não seria difícil de terminar e lembro que podia ser, pelo que era mesmo interessante existir um compêndio destas brincadeiras que divertiam os da minha geração.
Infelizmente com as escolas públicas a cessar a actividade física por falta de "fundos" e necessidade de cortar nas despesas, depressa a ginástica deixou de fazer parte da rotina semanal. Nos filmes americanos não se passa assim. Eles têm artes plásticas, pintura, música, desportos diversos - incluindo natação e, a minha favorita e sonhada arte dramática. Sempre achei que fazia uma falta descomunal no plano de ensino básico. Nós tugas, tinhamos música até aos 12 anos e ainda assim já em risco de acabar. Tinhamos desenho ou algo do género e a ginástica. Mais NADA. Muito diferente da diversidade e seriedade das disciplinas mais práticas ou artísticas que se viam nos filmes americanos. E ao invés de alguns gostarem ainda reclamavam:
-"Ah, não me apetece nada ter aulas de música/ginástica/desenho... que seca! Para quê quero eu aprender a tocar/fazer cambalhotas/desenhar? Não quero ser músico/ginasta/desenhista!" - coisas parvas assim.
Subitamente estava aqui e recordei um momento, anos mais tarde, em que entrei num pavilhão de ginástica vazio, com algum material no interior e me veio uma vontade de aproveitar! Mas tinham-se passados anos. ANOS sem uma única actividade física, sem exercício físico, sem praticamente nada a não ser andar muito a pé e ocasionalmente correr. Eu e outros ali numa de diversão, a tentar recordar tempos passados na escola. Começamos por fazer a roda. Saiu uma coisa meio torta e desengonçada mas sim, ainda era possível ao corpo fazer aquele movimento. Só que era pouco gracioso! O pino também se fazia mas mais uma vez, como numa dominei bem o equilíbrio aquilo durou pouco... O que achei piada foi ver o cavalo de madeira à frente e achar que conseguia pulá-lo. Se não conseguisse também não seria nenhuma catástrofe. Fazia mais de 12 anos que não via um há frente. Então corro, pulo e consigo passar o cavalo! Hoje acho que ia sentir que não teria essa genica. Engraçado também foi perceber que de todos ali até era eu que conseguia fazer mais coisas. Mesmo tendo parado à mais tempo e pelo que percebi, também fui a que andou em escolas em que o exercício físico foi "removido" do horário escolar mais cedo. Porém parece que aprendi "melhor", porque executava sem medo e com mais rigor. Afinal, a aprendizagem é feita de repetição e a repetição traz o melhoramento. Ninguém nasce ensinado.
No ensino básico todas estas actividades criativas, artísticas e desportivas deviam estar disponíveis para todas as crianças. De forma a que todo o pontencial possa ser estudado, exercido e praticado, para que se possa sentir se existe alguma afinidade ou não com as actividades.
Ah, e falta mencionar a EDUCAÇÃO SEXUAL - já no meu tempo de banco de escola debatida «se» devia existir ou «se» não devia existir. Nos filmes americanos existe. Ao ponto de chegar ao extremo de um dos exercícios juntar os colegas como se fossem casais e facultar-lhe um boneco que chora e precisa que lhe mudem a fralda... durante um mês! Por cá não se sai do falso debate - pois o tema está mais do que enfiado numa gaveta cheia de teias de aranha. Pessoalmente não vejo qualquer não benefício na educação e no esclarecimento. Ninguém nasce ensinado, não é mesmo? Não é por se falar do assunto que os adolescentes vão a correr praticar para ver como é. Acho que começam cedo demais a praticar e pelos motivos errados... Pelo que às tantas convém mesmo falar abertamente do assunto.