Tenho reflectido na importância da aparência e do status.
Quando era criança encheram-me que nem um peru de Natal a ser recheado de noções de que o que importa é ter bom carácter e boa índole. Ser bonito, rico, ou ter uma profissão de superioridade nada significavam perante a ausência de generosidade, amizade desprendida, atenciosidade e humildade.
E eu feita uma patinha (aspirante a perú) acreditei. Intrisequei. Assimilei. Me formei com base nestas mensagens, propaganda pura injectada em diversas séries familiares televisivas infantis, como "Uma Casa na Pradaria". A pobreza enobrecida por um carácter humilde, os ricos castigados pela sua avareza.
Ah, tão simples!
Acreditei em todas as mensagens, a minha noção do certo e errado nunca encontrou dificuldades em se definir e a tolerância nunca foi um mistério. Nem o respeito, nem a admiração por tudo o que é e que existe.
Hoje reflicto.
As pequenas coisas me fazem reflectir sobre a veracidade prática e verdadeira destas noções.
Noutro dia fui ao MacDonalds um pouco fora de hora, ansiosa por um snack. Tinha duas raparigas à minha frente a serem atendidas. O empregado serviu a primeira e diz-lhe: "Obrigado e volte sempre". Atende a segunda e diz-lhe "Obrigado e volte sempre". Atende-me a mim, enfia o recibo do hamburguer no saco e continua a conversar com os colegas.
Estive quase para brincar e ironizar "Então e o meu obrigado e volte sempre? Não tenho direito a ele"?
Mas acho que os jovens atrás do balcão nem iam entender. Depois reflecti nas razões que poderiam estar por detrás daquele simples acto diria até que inconsciente. A primeira rapariga era um tanto mais jovem do que eu, atraente. A segunda rapariga num casaco garboso, era um pouco mais jovem do que eu e atraente. E depois estava ali eu. Digamos que não tão jovem e atraente, pelos vistos, também já não.
Sem o perceber, ou percebendo, não sei, aquele rapaz estava a praticar descriminação e a validar que a aparência conta muito na forma como uma pessoa é tratada por quem a rodeia. Depois relembrei num flash tantas situações que vivi. Nos empregos, nos estágios, no quotidiano, como funcionária e como cliente. E lembrei mais recentemente a surpresa que tive ao perceber que as pessoas que me estavam a conhecer se entusiasmaram mais por mim ao descobrirem que de todos levava uma profissão mais aliciante. O que é que aquilo que eu faço importa para a pessoa que sou? Pensei eu. Mais simpatia dirigida a mim por causa disso? Porquê? E se dissesse que era outra coisa menos glamorosa, como iam me tratar?
Agora estou desempregada. É pavoroso o estigma que carrega o desempregado. É praticamente como um leproso era visto durante a época de cristo. Passa a ser um fracassado inútil. Uma pessoa desinteressante, um zero à esquerda, um nada.
Perante isto tenho de me perguntar onde está o certo. Mas certo ou não, parece ser a realidade. Que quase todos seguem, que nem formigas em carreirinha. Uma pessoa mais bem vestida que outra que se candidate a uma função tem preferência diante da outra. Só o aspecto está a ser contabilizado, nada mais. Nunca me importei com o meu aspecto nesse sentido. A minha única preocupação era aparecer bem e confiava em mim mesma, me mostrando tal como sou. De resto nada de truques, falsidades, semi-verdades... todas essas coisas são tão desnecessárias para mim.
No entanto ando a reflectir. Será que com a idade a avançar uma pessoa deve recorrer a alguns subterfúgios? Porquê um "bom dia volte sempre" não é dado tanto a uns como a outros, e mais a jovens atraentes? Pensei em todas as vezes em que me fizeram sentir atraente, em que me disseram atraente, e das vezes em que uma aproximação com base na aparência me incomodou. Agora não sei mais se agi bem ou se agi com demasiada inocência. Começo a pensar que se calhar "um pouco" de aproveitamento por se ter nascido bonito ou atraente, afinal, não tem mal algum. É usar o que Deus deu...
Que digo eu??
Não sei. Devem ser os fumos dos aquecedores...
terça-feira, 24 de dezembro de 2013
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