Ora aqui está o nome "científico" para situações que já vivi no passado e que, como desabafei num post anterior (muito comentado, obrigada aos que se preocuparam e procuraram ajudar) e continuo, de uma certa forma, a ser vítima.
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A reportagem passou na RTP1. Foi curta, podia ter sido mais desenvolvida, mas exemplificou bem um acto que não é muito visível na sociedade. Embora quase todos já tenham passado por situações parecidas. É como, desculpem a comparação, mas é um tabu tão forte quanto a pedofilia foi antes do caso Casa Pia. Ou seja: as pessoas remetem-se ao silêncio, isolam-se, passam por situações desesperantes, todos fingem não ver, ninguém estende a mão, calam-se e, PASSIVAMENTE, deixam acontecer...
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Assistir à reportagem fez-me lembrar algumas situações que vivi. Esta só "pecou" por não insidir melhor num facto: centrou-se bastante no assédio moral do patrão, mas pouco mencionou quando este tem origem nos colegas. Porque há colegas que fazem isto, e não são poucos. Muitos até querem mesmo te ver despedida ou que te demitas, para depois poder achincalhar mais ainda a tua integridade, mas com as tuas costas ainda mais distantes.
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Apetece-me contar algumas coisas... tirá-las do peito. Mas não muito, para não vos aborrecer com detalhes longos e dores que são minhas... No presente, posso dizer que não posso nem devo alguma vez deixar de ter na consciência o tipo de pessoa com que estou a lidar no trabalho. Esteve uns dias ausente e notou-se de imediato uma paz e serenidade no ambiente. Nesse período de tempo, percebi, com espanto, que outras pessoas também não o têm lá em grande conta. Mas agem todos com a maior das simpatias. Em suma: quem o menos achincalha ali dentro até sou eu! E razões para o fazer não me faltam... ele procura virar contra mim outras pessoas, faz de propósito certas atitudes para colocar uma distância entre mim e os outros. Descrimina-me, etc e tal... voltou com um tom frio e a denunciar que não estava disposto a dar tréguas. Pois venha a luta... tou por tudo! Já começou até... ele e a "namorada" que mantém ali dentro cometeram um erro daqueles óbvios e percebi que o filho da p*** andou a falar com outra colega, insinuando que o erro só podia ter sido cometido por mim. Eu, que resolvo os problemas que outros criam! Faz sempre isto. Uma vez fiquei mesmo espantada: uma pessoa estava a insistir que nós tinhamos uma coisa que lhe pertencia e que num papel isso vinha escrito. Pois a primeira coisa que ele diz, mesmo tendo os factos contra essa possíbilidade, é que certamente eu errei a escrever os dados e por isso é que não se encontrava a coisa! Mesmo a pessoa tendo afirmado repetidamente que, no papel que tinha perdido, tudo vinha bem escrito. Parecia querer ignorar essa informação de propósito, para me acusar, porque ele, não erra nunca... Noutra ocasião, fez o mesmo e, mais uma vez, eu, que guardo uma cópia de todos os papéis que entrego aos colegas, consegui localizar a coisa em questão e, por A + B, tinha feito o meu trabalho excepcionalmente bem. Mas alguma vez o esfreguei na cara dele? NUNCA!
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Há pessoas que não sabem estar gratas por um gesto de altruísmo destes. Nem sei se existem pessoas assim ainda. Que saibam reconhecer que alguém as ajuda, quando podia as ter comprometido. Eu faço isso todos os dias, no trabalho, com colegas que, sinceramente, não se preocupam com a qualidade e eficiência daquilo que apresentam. Vinha a pensar nisso e noutras coisas hoje de manhã. O filme da minha vida mais ou menos que "passou" na minha cabeça em todo o percurso que faço para o trabalho. Com direito a lágrimas e tudo, mas com muito entendimento... em miúda, mesmo muito nova, tive um gesto de grande altruísmo e coragem: suportei a fúria de uma professora tirana que, frustrada, decidiu castigar-me por recusar-me a delatar (dar o nome) de um colega que copiou num teste e deu as respostas a todos. Ela fez-me tantas! E eu mantive-me calada, a suportar tudo, sem lhe responder, sem ter reacções que demonstrassem que a sua mesquinhice e malvadez me irritavam. Porque não irritavam. Acho que as pessoas mostram-se menores com este tipo de comportamento. "Poluem-se". No máximo, o seu comportamento recebia de mim um lamento triste ou indiferença. Mas ao menos, nesse tempo, o colega que chegou a tremer nas pernas e a suar frio, com medo de ouvir o seu nome a ser mencionado, soube fazer o seguinte: tocou-me no ombro, virei-me para trás e ele disse-me:
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-"Obrigado. Obrigado por não teres dito que fui eu".
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Que diferença para os dias de hoje! Todos os colegas na sala perceberam que a professora perseguia-me. Atirava-me com questões para ver se eu errava a respondê-las. Mas como criança que adorava aprender, nem me lembro de alguma vez não saber a matéria. Ela bem que tentava, inventava, insultava... até que mudou de estratégia. Eu levantava o braço para falar e, mesmo quando o meu era o único, ela não me autorizava. Remeteu-me para o ostracismo. Sempre que põde, diminuiu os valores dos meus testes, normalmente, sempre "Muito Bons". Num dia em que me atrasei porque a minha mochila caiu numa poça de lama, ela decidiu fazer um teste surpresa e quando me viu a bater à porta a pedir para entrar na sala, recusou-se a abrir. Deixou-me do lado de fora e, entre uma frecha, muito secamente, reprimiu-me por chegar atrasada, ameaçou-me, procurou intimidar-me... Disse-me que seria avaliada na mesma e que teria ZERO valores. Ela ia cumprir as "regras" e só ia abrir a porta quando a campainha tocasse para o intervalo. Só então ia poder fazer o teste de 2h, apenas em uma. Assim o fiz, acertei nas questões de forma completa, mas, com menos tempo, não respondi às últimas duas. Ela recolheu o teste no som da campainha, e começou pelo meu. Tive apenas "Satisfaz Mais". Na correção percebi que até tinha respondido como ela pretendia que se respondesse, mas ela foi especialmente rigorosa na correcção do meu teste. Segundo ela, ainda me fez um favor, ao deixar-me fazer o teste à segunda hora e foi "generosa" na correcção... mesmo tendo descontado uns tantos valores por ter chegado atrasada... generosa! Uma "simpatia", esta professora. E começou aqui a minha primeira experiência do denominado ASSÉDIO MORAL! Que coincidência eu ter passado a manhã a relembrar e a resolver estes assuntos na minha mente, para, de noite, ver esta reportagem sobre o tema...
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Portanto, pouco me podem fazer que eu não tenha vivido já... é como se tivesse aguentado o equivalente a um "mestrado" nestas coisas. E se nunca quebrei, não quebro nunca! Mas não é fácil. Eu fui ao fundo do poço e lá fiquei os melhores anos da minha vida mas é na própria pessoa que sou, que encontro forma de não afundar. Não consigo odiar nenhuma destas pessoas que tanto mal me fizeram. Doi-me, é certo, quando entendo o quanto me prejudicaram. Aquela professora em muito contribuiu para o decréscimo do meu interesse pelas boas notas, pela participação na sala de aula e muitas outras coisas no futuro ficaram comprometidas por ela ter sido o que foi. E assim se passa com todos. Mas eu resisto porque, todos nós, somos resistentes. Somos, SOBREVIVENTES, como uma vez ouvi alguém dizer e achei que é isso mesmo.
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Doze anos depois, estagiava numa produtora audiovisual. Logo no primeiro dia ocorreu uma situação que revelou o que ali ia encontrar. Mas, guerreira, decidi não levar o caso a sério e, simplesmente, trabalhar sem dar importância a conflictos! Sentia tanto gosto e prazer com o que fazia, como sempre! A dona da produtora, era tal e qual o que alguém na reportagem disse: tinha um tanto de psicopata. O seu hobbie era "brincar" com as estagiárias. Eu sendo como sou, daquelas que percebe a indirecta mas não reage, oh! Como sou o tipo que este tipo de gente prefere!!!
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Passei por situações humilhantes ali, caso eu fosse uma pessoa que me deixasse sentir humilhada. A intenção era essa mas não conseguiam. Exemplos do que me fizeram? Bem, para além dos maus tratos verbais, agressões, frases que afirmavam que não prestava, que era atrasada mental, deficiente, risos de gozo etc, davam-me trabalhos de "merda", que nada tinham a ver com as minhas funções. E mesmo assim, insinuavam que nem esses fazia bem. Não me afectou... pensei eu! Claro que afectou. E prejudicou-me. Não no momento, mas deixou o veneno ali. Quando o turno de trabalho terminava e ia para casa, "revia" as situações e tinha insónias de noite. Não dormia nada! Fiquei doente... De seguida consegui outro estágio num canal de televisão. Uma grande oportunidade, mas não soube centrar-me nela. Ainda tinha problemas a resolver no outro lado, pois continuavam o ASSÉDIO demorando mais tempo do que o estágio em si para devolver um papel de avaliação, que consistia em colocar cruzinhas num questionário! Eu própria sabotei esta nova oportunidade. É um dos efeitos nocivos de ser uma SOBREVIVENTE de ASSÉDIO MORAL. Muitas vezes, se a coisa parece boa demais é porque não é verdade... se não te tratam mal, é porque algo não está bem... e, sem perceber, decides não permitir que te tratem de igual forma, acabando, por isso, a dar origem a más interpretações. Nesta ocasião, literalmente, cedi o lugar que sabia poder ser meu a outra colega. E não me senti mal por isso. Até hoje, nunca tinha contado isto... ela nunca percebeu, creio, mas as minhas acções conduziram a este desfecho e eu sabia-o desde o inicio. Ela nem suspeitava. Não consegui controlar-me. Empurrava-a para lá, sabendo que só ali ia ficar alguém... Mas não consegui parar. A auto-sabotagem é o principal problema das vítimas de agressões verbais, ostracismo e violências morais. É como ser um estranho numa terra estranha e não falar a mesma língua. Não há nada de errado mas tudo é diferente. E nunca aprendeste ou foste ensinado a viver dentro dessa realidade. É nova, "assusta", não é "normal"...
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Até hoje guardo uns papeizinhos que, talvez pareçam inocentes, mas sei que não o são. Numa ocasião, chamaram-me para fazer uma coisa "muito importante". Queriam saber se estava apta para isso. Se me achava capaz. E riam-se, faziam troça. "Uma missão de muita responsabilidade" - afirmavam. E perguntaram se eu sabia fazer compras. Se sabia o que era uma mercearia e era capaz de diferenciar uma carcaça de um pão saloio. Queriam se certificar que entendia mesmo a diferença e mandaram-me lá ir, comprar fruta e pacotes de leite dos "piquenos", mais uma bifana "especial". Mas no último minuto mudaram de ideias e acharam que, se calhar não tinha capacidade para memorizar estes três pedidos. Era melhor escreverem num papel para não me esquecer. No total gozo, anotaram o pedido. Guardei esse papel. Parece inocente... até parece uma brincadeira de bom humor a palavra "piqueno"... escrita por uma conceituada apresentadora de televisão, tida também como uma pessoa benemérita que até tem um familiar com uma deficiência e vem a público dizer que não se deve gozar com as pessoas... pois! Engana-me, que eu gosto :)! Memória curta...
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Quando achar este papel que, volta e meia, aparece sei lá onde, pois não deito fora mas também não o guardo religiosamente num lugar fixo, até seria boa ideia passá-lo no scanner e deixá-lo aqui. Aí poderia ir para o lixo, quem sabe... só quero que a coisa não desapareça, pelo simbolismo que tem.
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