sábado, 25 de abril de 2009

Desejo que pesa e angustia

Vou registar aqui, para a eternidade.
Hoje faleceu uma pessoa da família.
E com ela, vai a última oportunidade de um desejo.
Desejo fácil de concretizar mas que por ser (ainda) inusitado, ficou silenciado.
Ainda o desejo.
Ainda ia a tempo.
Mas ninguém ia compreender.
O que fazer?

É pesado o fardo de andar à frente do tempo...

Aguentaste a tua existência, resta-nos a todos ter a mesma coragem.
Paz.

sábado, 11 de abril de 2009

A importância da formação

O respeito pelo ensino do nível da educação superior nunca esteve tão em baixo. A maioria das pessoas fazem pouco deste nível de formação. Dizem que não presta, não tem serventia e que não se aprende nada, entre outras coisas.
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Considero estas noções perigosas. A quem estamos a ajudar, ao agir assim? Que contributo e melhorias tais ideias trazem à sociedade? Nenhumas.
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Foi no ambiente de trabalho que tomei consciência da importância da aprendizagem a nível superior. Ainda na véspera, uma colega me dizia que uma licenciatura "não servia para nada" e que preferia tirar cursos de algumas semanas ou meses. Como se o nível de conhecimento adquirido tivesse a mesma profundidade!
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Tenho a percepção de que, algumas pessoas que fazem estas críticas, fazem-no com alguma dor de cotovelo. Na generalidade, são pessoas acostumadas a apanhar atalhos. Os muitos anos de investimento pessoal que o ensino superior acarreta, não combinam com pessoas assim.
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Para quem o status é muito importante, a falta deste nível de formação no seu CV é-lhes penosa, pelo que preferem desacreditá-lo. Mentem a si mesmos para, quando têm os seus filhos na idade certa, fazer questão de vê-los a obter uma licenciatura. É o tal do "status" a falar mais alto e, de alguma forma, a hipótese de tê-lo para si através do sacrifício dos filhos.
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Mas o que me levou a vir escrever foi a percepção do quanto mentes sem a formação adequada prejudicam o trabalho. Esta semana que passou percebi que a empresa onde trabalho está realmente com a corda no pescoço. Se não se agir atempadamente, vai afundar rapidamente. Perante este facto, o que vi foi uma vontade imensa de apontar dedos de acusação em direcções ridículas e a fazer comentários "non-sense". Percebi que ninguém estava em sintonia comigo: arregaçar as mangas e começar logo a mudar a situação.
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Fiquei muito triste, como se pode imaginar. Quando se perde a fé, o que resta? Ainda mais revoltante é saber que os sinais de alerta são constantemente ativados. É só bandeiras vermelhas a ser acenadas debaixo das vistas de todos. Ao invés de trabalharem com mais afinco, ficam mais relapsos.
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Foi então que percebi que estava a lidar com pessoas que não sabiam no que consiste o cargo que ocupam. Nem pena ou dó senti por um indivíduo que ali estava preocupado em apontar o dedo a alguém, com um argumento de cáca de passarinho. Mas fez-me compreender que ele não tinha a mínima noção do que consiste a sua função e de qual era o mercado em que está inserido. Toda aquela inércia estava a dar-me alergia. Foi então que se deu a segunda revelação: eu sei mais sobre isso que ele. E porquê? Porquê para mim estava tão claro o caminho a seguir?
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É porque recebi formação nesse sentido. Foi por ter andado na universidade e ter uma licenciatura. Aprendi marketing, publicidade, gestão... e por mais que estes conhecimentos estejam adormecidos, a verdade é que o conhecimento quando adquirido, já prepara uma pessoa para outro tipo de abertura e postura no mercado de trabalho.
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Se todos arregaçarem as mangas e trabalharem árduamente, podemos salvar a empresa e os nossos postos de trabalho. Mas depois do que assisti, fiquei preocupada. Acabei por falar com o patrão, sem me mostrar receosa, apenas com vontade de trabalhar e definir as coisas. Foi aí que pareceu que o tecto tinha acabado por desabar por complecto em cima da minha cabeça. Ele nada entende do assunto.
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Não que eu já não soubesse isso. Eu sabia. Ele é um "espertinho", que em adolescente era preguiçoso para o trabalho e queria ganhar muito dinheiro com um negócio próprio. De lá para cá, não estudou, não tirou cursos de gestão ou liderança, nada. Mas esperava que as bandeiras vermelhas e um pouco de bom senso fossem suficientes para o ver mais assertivo. Em vez disso, pôs-se a fazer uma lista das tarefas que fiz. A elas acrescentou mais algumas e deu um prazo ridículo para as concluir. Percebi então que não há esperança.
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É bom que comece a procurar outro trabalho. Este não deve durar muito, porque o patrão vai afundá-lo com rapidez. E as pessoas com que se rodeou estão a lavar as suas mãos e a deixar o barco afundar.
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Trabalhar com pessoas que não têm noção de como funciona o meio onde trabalham é desmotivador. Aparece por lá alguém que entende um pouco mais do assunto, pode e quer ajudar, e acaba por se sentir impotente, diante da mediocridade e falta de capacidade para aceitar ajuda. E não falo de mim, que sou substimada e não me importo, mas de "sangue novo" que acabou por entrar na firma com o propósito de a salvar e depara-se com muros a serem colocados à sua frente. Assim não vai dar.

domingo, 5 de abril de 2009

Tristeza mesquinha

Não gosto de atitudes mesquinhas e cada vez vejo mais disto à minha volta. Vejo pessoas a tentar poupar os 0.50 cêntimos do café e não é deixando de o beber. É a passar os dias a pedir a terceiros que o paguem!
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Uma colega que passa a vida a queixar-se de falta de dinheiro é tão somítica, que assim que chega ao trabalho pede bolachas aos outros. Dia vai, dia vem e está sempre a comer o lanche dos outros, nunca trás nada. Na hora do almoço, também consegue fazer o mesmo exercício. O costume é trazer comida de casa e fazer a refeição na empresa ou ir comer ao café. Muitas vezes ela come um pouco da refeição que os outros trazem de casa e fica almoçada ou então pede o prato mais económico e acaba por comer também o bife as batatas fritas a salada e as sobremesas que os outros deixam de lado. Alimenta-se com os restos alheios!
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Noutro dia vi que ficou muito contrariada por ter de ir até o café no seu carro. Os outros colegas já tinham partido e ela ficou furiosa, mas disfarçou, porque ia gastar gasolina. Ainda por cima, no local onde nos disseram que os outros iam estar não estava ninguém e tivemos de ir a outro lugar. Ela ficou possessa mas transferiu a sua raiva para a situação no emprego. Bebeu um café e pediu a outra pessoa para lho pagar. Justificou que tinha pago o pequeno-almoço a uma amiga e que por isso queria que lhe pagassem o café. Duvido que não tivesse 50 cêntimos com ela! Mas é tão forreta, tão ardilosa, que se comporta sempre desta maneira. No dia seguinte não deixou a situação repetir-se e saiu da cadeira sem dizer nada, dirigiu-se para o estacionamento e introduziu-se de imediato na boleia de alguém.
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Quando comecei a trabalhar na empresa, de vez em quando ela dava-me uma pequena boleia até a paragem do autocarro. Nunca lhe pedi de propósito que o fizesse, mas cheguei a lhe perguntar se saia a horas certas e se sim, se podia deixar-me perto da paragem. A subida é ingreme e leva uns 20 minutos a percorrer. Uma vez até perdi o transporte porque ela disse que sim e depois não cumpriu. De início era ela própria, de forma espontânea, a oferecer-me boleia ou a lembrar-me constantemente de perguntar a quem estava de saida se ia para os meus lados. Mas como eu não gosto de incomodar ninguém, só mesmo nos dias de forte chuva é que perguntava se alguém me dava boleia até o cimo da rua. Nunca pedi a ninguém que se desviasse do seu percurso para me deixar em qualquer lugar. Não gosto mesmo de incomodar os outros, por mínimo que o incómodo seja.
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Estas ofertas de boleia quase diárias, duraram um mês, mês e meio. Há hora de almoço ela vinha convidar-me para ir com ela ao supermercado, para não ir sozinha. Nem sempre me apetecia, até porque queria era apanhar ar e não enfiar-me num supermercado. Mas acompanhava-a para que não fosse sozinha. Depois comecei a ir mais vezes a pé, por gosto e por preferência. Gostava de andar e sentir o ar no rosto! Quem anda de carro mal apanha ar, a menos que abra a janela!
Passado um tempo, ela só me fazia perguntas sobre a compra de um carro e contava-me a história da amiga a quem dava boleia e que depois comprou uma enorme casa e um mercedes. Insentivava-me a comprar um insistindo que eram baratos, que devia comprar, que só me fazia bem, etc. Volta e meia, todos os dias repetia esse discurso constantemente. Foi então que finalmente entendi o que pretendia. Não estava nada preocupada comigo. O que ela queria era que eu comprasse um carro para passar a andar de boleia comigo. Para ser eu a levar o carro para o café e não ter de ser ela a gastar a gasolina. Para me cravar viagens mais longas, que decerto arranjaria de propósito para não as fazer à sua custa. É o que ela faz no dia-a-dia. É uma crava!
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Fico triste porque queria uma amiga, mas já percebi que não tem interesse em dar a sua amizade nem eu sou capaz de ficar amiga de uma pessoa que é capaz de me explorar até ao osso, se eu deixar (e eu deixo). É com tristeza que a vejo continuar a vida a cravar os outros. Queixa-se sempre da falta de dinheiro e ganha o dobro do meu salário. Diz que o dinheiro mal dá para chegar ao fim do mês mas passa a vida a dormir na casa de amigas, a comer na casa de amigas, a ter as amigas a fazer-lhe favores. Ás vezes passa 3 dias seguidos sem ir a casa e quando regressa é só para a muda de roupa. Ainda assim, nesses meses, diz que não tem dinheiro. O destino pregou-lhe uma partida. Deu-lhe uma despesa inesperada. Aí ela descaiu-se: «tinha conseguido economizar uma boa quantia o mês passado e agora tenho esta despesa» - disse. Então não andava na penúria. Faz-se!
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Quem não chora não mama, não é mesmo?

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Desculpas e agradecimentos

Ser criança não é fácil. Estamos a crescer e os traumas podem chegar de todo o lado. Tive os meus, que não foram poucos. Talvez por excesso de sensibilidade tive mais do que podia suportar. Mas excepcional como sou, sempre fui capaz de suportar tanto! Então, tive doses letais para a maioria dos mortais e morri, sem ter morrido de verdade.

Fui assassinada. Sabiam? Pois decerto que não...
Todos os dias sofria ataques de mais que um lado. Dias, semanas e meses em que nem um segundo se passava, sem estar a ser vítima de ferimentos. Anos se passaram. E mais anos se passaram. Chorei todos os dias de todos eles. E passaram ainda mais uns tantos e mais outros tantos a passar... sendo assassinada.

Mas um ou dois momentos nesse período lembro com gosto. Porque são aquilo a que chamamos de "esperança". De tudo o que passei, do comportamento estóico que sempre me foi natural, mesmo perante o assassinato da capacidade de defesa ou da ausência da capacidade de ataque, por duas vezes, houve pessoas que se redimiram.

Numa delas foi um «obrigado», que não ficou esquecido quando o meu carácter de menina de 10 anos decidiu não delatar um colega. Levei com a fúria da professora, que me prometeu punições e cumpriu-as, fazendo de tudo para me prejudicar, tendo acabado por transformar uma menina de 10 anos que tirava notas de cinco valores, numa menina que passou para o ano seguinte com 3 e perdeu também a vontade de mostrar o seu potêncial, de tão maltratada que foi por esta pessoa que hoje sei que merecia que apresentasse queixa. Uma semana depois do sucedido (uma autêntica caça ás bruxas, uma inquisição), com todos a observar em silêncio a implicância da professora que não era muito eficaz numa aluna atenta e com gosto pela matéria, um rapaz tocou-me no ombro e disse:
-"Obrigado por não teres dito que fui eu".

No ano seguinte, uma das 7 raparigas que no ano anterior decidira fazer um círculo em torno de mim para me maltratar e acusar das coisas mais feias e absurdas - situação onde, mais uma vez, o meu carácter se mostrou estóico, disse-me que tinha uma coisa importante a me dizer já fazia muito tempo e que queria dizer já. Ela disse:
- "Desculpa o que te fiz o ano passado. Sei que era tudo mentira e estou muito arrependida do que te fiz".

Ai! Se ao menos fosse sempre assim. Se hoje em dia existissem mais "obrigados" e "desculpas".

Tempos modernos


Bate leve, levemente,

Como quem chama por mim.


Será chuva? Será gente?


- É chuva.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Queimadura emocional


Gostava que o sofrimento fosse algo que pudesse ser medido com um toque. Gostava que bastasse encostar um dedo numa pessoa, para que o sofrimento desta fosse revelado. Como quem toca numa superfície de temperatura extrema e sofre uma queimadura.

Se isso fosse possível, existiria mais compaixão entre as pessoas. Mais entendimento, compreensão. Se isso existisse...

Gostava de ser tocada. Gostava de poder tocar. Gostava que fosse possível pedir permissão com a mente e com a mente obter a resposta e então, com coragem, tocar em alguém. Ai, se isto existisse!...