A vida é um pouco ao contrário dos filmes. Embora estes mostrem tudo como realmente é. Só que existe um pouco de inversão da realidade. Ou exagero. Vou dar como exemplo as telenovelas brasileiras. Há sempre o núcleo de personagens pobres - que moram na favela. E os ricos, que moram por toda a parte onde há luxo.
Tirando poucas excepções, em termos de carácter, o rico e poderoso quase sempre tem de ser o vilão. Ruim, mau, vingativo, até assassino. O pobre da favela quase sempre em termos de carácter é um santo, cheio de ética e valores. Lá porque é pobre não quer dizer que seja safado, sacana (tudo expressões do brasil). Não! Ele não rouba para comer. Ele trabalha duro. É explorado, é enganado, mas os seus princípios morais ninguém lhos tira! Mantem-se digno.
Nas novelas, a proporção de pobre digno é inversamente equacionada com o que parece ser a realidade. Sim, há pobre que não é ladrão, nem drogado. Mas não são tão poucos como nas novelas. Infelizmente a pobreza traz sim muito mau carácter, por influência do ambiente, se se frequentar os piores. E a riqueza? A riqueza não é toda conquistada pelo roubo de colarinho branco e safadeza. Ou melhor: há quem trabalhe duro e o mais honesto que consegue e daí vem uma fortuna. Há quem se preocupe com os menos afortunados. Há quem tente ajudar e contribua financeiramente para apoiar os que precisam.
Nas novelas, séries, filmes, são as proporções que estão erradas.
Estava a pensar na quantidade de pessoal que conheci de origem pobre (eu não sou rica), pouco culta (também não sou de família muito culta) e que não conseguem sair da pobreza de espírito. Resmungões com a vida, com a mania da perseguição e vitimização, mas o pior defeito é que tem como passatempo andar a infernizar a vida dos outros.
Eu não quero que este tipo de pessoas - que conheci qb, saiam vitoriosas a meu respeito. Não quero que os seus maus-bofes me estraguem a alegria, a felicidade.
Estou sempre a deixar que isso aconteça. E também estou sempre rodeada de mais pessoas de baixo carácter do que de pessoas mais informadas e cultas. Não que em termos de carácter estas não possam também exibir um muito baixo, porque podem. Mas, pronto: sinto falta de falar com pessoas que sabem um pouco mais do que o mediano. Eu própria deixei-me arrastar para o mediano. Porém, quando me aproximo um pouco de uma atmosfera mais propícia a conversas interessantes (não serem todas pautadas por parvoices) sinto mais no meu ambiente.
Conclui que nunca procurei as pessoas com quem sentia mais afinidade.
Isolava-me do que mais me atraía - pessoas, lugares. Rebaixava-me. Diminuía-me. Por vezes o carácter da pessoa é mesmo o da dita "classe" a que dizem pertencer. Com soberba, arrogância, malícia - pertença à dos ricos, medianos ou pobres - as pessoas de baixo carácter povoaram demasiado a minha vida. Está na hora de procurar afinidades.