segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Impostos - não dá para saber se somos roubados

 

No reino Unido cada vez que se recebe o ordenado fazem-se os respectivos descontos de "IRS". 20% sobre o recebido é desviado para o Estado. Para se ter uma ideia, o site das finanças avisa-me que, no ano fiscal anterior, por cada libra ganha, 14 centimos foi para o estado. 

Aqui também existem o equivalente a "escalões". No meu caso, não se "paga imposto" nos primeiros 12.570 de rendimento. Tudo acima desse valor é taxado a 20%.


Acontece que... eles taxam os 12.570 também. Não existe ordenado que não venha com desconto. Por exemplo: o mês passado recebi algo como 900 libras. O Estado recebeu perto de 300. Deixando-me com 600. 


Então, quis eu saber, porque é que ainda fazem acertos no final? Se tudo é pago na hora? Aqui não se preenchem papéis nem se guardam recibos. Isso é uma coisa boa. Não se preenchem documentos de rendimentos, porque estes são apresentados pelas entidades patronais às finanças. Daí eles fazem os seus cálculos. 

É um sistema CHEIO DE FALHAS. Onde tu ficas muito vulnerável e pouco podes contestar. 

Estava a estranhar não receber a carta das finanças. Em oito anos a trabalhar, sempre a recebi na primavera ou início do verão. E sempre, mas sempre, eles tinham de me DEVOLVER uma quantia. Essas quantias oscilaram entre as 80 e 150 libras.

Vai que telefono para eles para saber o que se passa. Sou informada que ainda não tinham enviado nada para mim mas que eu tinha um "pequeno débito". 

WTH??

Débito? Eu DEVO-LHES impostos??
Em oito anos NUNCA que tal aconteceu. 

Lembrei-me da minha mãe e da sua surpresa este ano, em descobrir que não tinha nada a receber. TODA A VIDA os descontos feitos foram superiores aos devidos. E assim ela contava que continuasse. E pela primeira vez em décadas de vida, isso não aconteceu. 

Vai que o mesmo acontece comigo, no outro lado do oceano. 

Algo não me parece bem. Não entendo COMO posso estar em "dívida", se pago tudo a 20% logo à cabeça. Esperava era ter o retorno de, pelo menos, esses 20% sobre os 12570. 

Não entendo este sistema mas sei uma coisa: não foi criado para nos ajudar nem facilitar a vida. Como é que sei se não me estão a roubar? Por acaso tenho como saber se a entidade patronal facultou os valores corretos? Terá exagerado? Sim, porque cada vez que vou ao site das finanças aparece-me um rendimento anual bem mais elevado do que aquele que me parece ser o real. Um dia irei somar o valor de TODOS os recibos (aqui paga-se à semana é uma tarefa dantesca) e comparar com o valor reportado. Acho que fiz isso uma vez e não coincidiu. Mas como tinha múltiplos empregadores ficava mais difícil situar-me. Agora que só tenho um, deve ser mais fácil. 

Mas o sistema... o Sistema não está feito para ti. Está feito CONTRA ti. Eles podem querer tirar de mim as 60 libras que dizem que lhes devo - de mim e de outros tantos milhões - para depois um político qualquer pagar viagens milionárias de lazer às amantes... 

No meu segundo ano aqui trabalhei - e descontei durante tres meses e quando contatei as finanças para perguntar porquê não constava no meu registo esse meu emprego - responderam-me que nunca tinham recebido NADA da entidade empregadora. E o dinheiro que supostamente foi retirado para pagar impostos? Se nunca foi entregue - onde foi parar? Porque no meu bolso não estava. Ficou no bolso da entidade empregadora. 

Eu achei isto CRIMINOSO e pensei: agora é que eles estão feitos! Ninguém brinca com as finanças... as finanças vão atrás deles. 

Não foram. Eu é que tive de fazer TUDO - imprimir recibos de vencimento, contrato de trabalho e enviar os comprovativos para as finanças. Depois esperei. Desesperei. E voltei a contactá-los. Só para os escutar novamente a dizer-me para imprimir os recibos de vencimento e enviar-lhes. Ora, se já o tinha feito! Mas fiz outra vez... 

E eles? NADA. 
Até hoje - volvidos seis anos, as "finanças" nunca me deram retorno a este respeito nem mexeram uma palha. Não querem saber. Dá muito trabalho "mexerem-se". Deixam os gatunos e os safadões sairem impunes com esquemas destes. E o lesado é o lado menor: o trabalhador. Porque esse valor que não foi declarado não vai contar para a minha reforma. Estão a roubar-me o presente e o futuro. 

Também diz um trabalho de um dia apenas - e descontaram-me os "impostos". Depois ainda me pediram para voltar. Recusei, claro. Logo à partida aceitei apenas por um dia - para os ajudar, pois disseram-me precisar de uma pessoa e não tinham ninguém. Lembro-me que era dia de aniversário e eu tinha saído de um turno de 12h e ia entrar noutro de tempo indeterminado.... mas foram 9 horas. 

Por isso pagaram-me uns trocos insignificantes, o equivalente a menos de 4 horas de trabalho. 

Informação é muito importante. Estar bem informado aumenta as nossas chances de não sermos enganados. Espertos são algumas pessoas que conheço, que trabalham "cash in hands" e não declaram os rendimentos. É o malandro a enganar outro malandro. 

Não entendo como posso estar em dívida com as "finanças" se os descontos são automáticos. Alguém me explica? Quero mesmo aprender tudo... para não ser enganada. 






terça-feira, 10 de setembro de 2024

É nas pequenas coisas que se conhecem as pessoas

 

O motorista de autocarro sentou-se ao meu lado na paragem onde me encontrava sozinha. Vinha com o telemóvel a emitir, em simultâneo, ruídos de sons, vozes e música com risadas no final. Deduzi serem vídeos de tic-tocs, pois a parafernália sonora era repetida em loop.

Encontrava-me numa chamada a aguardar atendimento fazia já 40 minutos, com o telemóvel em audio externo, pois se não for desse modo, não escuto nada. Os ruídos do telemóvel do homem eram tão altos que abafavam por completo o som de música clássica de péssima qualidade dos serviços de atendimento da EasyJet que vinha a escutar segurando o telemóvel perto dos meus ouvidos, enquanto que, com a outra mão manejava enfiar um pouco de comida na boca. Obviamente, não me encontrava ali por lazer. Qualquer um que assim encontrasse, eu deduziria estar na linha de espera de uma chamada importante. 

O bom senso manda que a pessoa que chega, percebendo a situação, tente minimizar que a sua presença atrapalhe. Mas o telemóvel do homem superava em muito o meu no requisito audio. Praticamente não conseguia escutar NADA. Quando a música clássica parava, receava que foi por terem atendido e receava não escutar me chamarem porque, de fato, não dava para escutar. Os sons de TIC-TOC vindos do telemóvel do motorista abafavam e obliteravam o meu. Só mesmo encostando o telemóvel ao ouvido podia ter percepção.


Quase que tive para lhe pedir para que baixasse um pouco o som. Mas acho que, depois de se sentar, até o aumentou. E continuou assim. 

ATÉ QUE....

Até que uns 12 minutos depois apareceu uma terceira pessoa na paragem. Uma mulher, de mala de viagem na mão, bem vestida, com aparência elegante, pareceu perdida, seguindo indicações pelo telemóvel. 

Assim que ela apareceu, o homem baixou o som do telemóvel. E olhou para a mulher: Primeiro avaliou-a pelo rosto. Depois desceu rapidamente os olhos para baixo e voltou a subi-los, demorando apenas fracções de segundos a olhar para específicas zonas da fisionomia feminina. 
 
 Por aquela postura, soube tanto daquela pessoa! Um indivíduo que chega e faz questão de não ter um gesto de cordialidade e respeito básico contudo, altera de imediato o comportamento para o oposto quando vê uma fêmea que lhe agrada da cabeça aos pés... Ah, tão básico... !!

Tudo o que foi preciso para ele agir com consideração foi a presença de uma mulher bem vestida. 
Sinceramente... 

Homens conseguem ser tão básicos que até dá dó. 
Quando são básicos assim, rejubilo de satisfação com as "Rebeccas*" da vida. Elas fazem todo o sentido para mim. Deviam existir muitas, muitas Rebeccas. Porque há homens que merecem aprender uma boa lição. 

Se eu fosse mau carácter. vilã, teria todo o gosto em brincar com um idiota destes. 

Até nem teria qualquer piada ou seria um grande desafio - de tão básico que ele demonstrou ser. 



* Rebecca D'Winter - personagem do livro Rebecca. 



domingo, 1 de setembro de 2024

Mais um Domingo, mais 10h de trabalho

 

"Luvas de Serial Killer" - grita o homem alto, de calça branca e t-shirt azul, que parecia tão certinho. Tão subitamente agarrou na minha mão enluvada que nem ouvi o que disse. Tive de pedir para repetir. 

Estava sentada a aguardar o meu pedido de take-away de frango com batatas fritas... e ele estava em pé, tinha acabado de fazer o pedido dele. 

"Luvas de Serial Killer" - diz. 

Percebo então que decidiu fazer uma graçola a respeito do fato de me ver com luvas de borracha. Mas... o Covid foi assim há tanto tempo que as pessoas ainda se surpreendem por ver mãos enluvadas com luvas de borracha azuis? 

Se tivesse colocado uma máscara no nariz teria me acusado de ser uma assaltante de bancos, ao invés de uma assassina em série. 

-"Não." - respondo-lhe. "Luvas de 10 horas de trabalho". 


O telemóvel dele tocou nesse instante e o seu interesse eclipsou-se tão rápido como se manifestou. Curioso a ASSOCIAÇÃO mental do homem. 

Há bem pouco tempo pensei em mim nesses termos. Estava a refletir na vida, nas injustiças a mim cometidas e a forma como reajo ou reagi a tanta maledicência, malícia, inveja, maldade. E concluí que, numa próxima encarnação, para equilibrar a balança só poderei vir a ser alguém com reduzidos escrúpulos, capaz de matar pessoas por nenhum motivo especial e sem remorso. Quando um tanto em monotonia, procurar excitação no ato de criar confusão e ceifar vidas.  Isto porque, nesta reflexão sobre o equilíbrio das coisas, devido ao que vivi e vivo nesta vida, na próxima só podia encarnar o meu oposto. Porque seria o equilibrar de um desequilíbrio.

Suspeito que o objectivo das vidas que por cá passam está traçado assim.  Não para viver sempre o seu oposto mas... para a aprendizagem. O que não se aprendeu à primeira é exasperado à segunda.

Já em casa refleti na expressão popular que diz: "é preciso um para reconhecer o outro....". 

Será que o homem era do lado do mal? Ou será um apreciados do Dexter? (série de TV que NUNCA vi, by the way... )