domingo, 4 de setembro de 2022

Domingo no Museu - 01

 Aproveitando a estada em Portugal, juntei a vontade de cultura com a entrada gratuita em museus, aos Domingos pela manha. E fui ao do azulejo.


Fui numa de ver e nem fotografar. Mas, às tantas, nao se resiste em "apanhar" uma imagem. 

Nao resisti a esta, de um cao segurando uma vela. Fiquei a pensar no que simbolizava e quem tera gostado tanto do animal que o quis preservar em imagem pintada em azulejo.

Tem coisas muito bonitas. Mas tambem me decepcionou a falta de correlaçao. Nao existe quase nada a explicar a Origem das peças. De onde vieram? A quem pertenceram? O que retratam? Quem as encomendou? De que paredes foram extraidas? Por vezes nem tinha legenda a explicar o simbolismo. 


Paineis de azulejo: existe uma legenda para o da esquerda mas nenhum para o da direita. Contexto historico: depois do terramoto de 1755 recorreu-se a colocacao de imagens de santos nas fachadas das casas em clemencia de proteccao.

Foi um dos pouquissimos contextos socioculturais que encontrei disponibilizado numa legenda. A maioria das imagens so menciona o tipo de material usado, as cores, a tecnica.  Neste sentido achei o espaço decepcionante. Sem descricao da cena retratada e outras informaçoes que considero relevantes. Faltando este contexto nao se consegue "enquadrar" tao bem os povos e sentir a "viagem no tempo".

Um aspecto positivo: instalei a app do museu no smartphone e obtive uma audio discriçao dos espaços. Nao é detalhada nos objectos. Centra-se nas tecnicas de azulejaria. Para quem nao conheçe nenhuma, acaba sendo uma informaçao visualmente dificil.  Mas é um contributo audio agradavel gravado numa boa voz. Tem para escolher portugues-ingles.

 Gostei muito da sala do coro Alto. Assim que entrei nesse espaço senti familiaridade, bem estar e serenidade. 

Todo o espaço esta coberto do teto ao chao com adornos em talha dourada, pinturas, e bancos de fileira dupla onde as freiras se juntavam para as rezas. (Informacao disponibilizada na app).

E tanta a informacao visual que, de inicio, escapa ao olhar o pormenor preservado por detras de cada vitrine de vidro. Sao reliquias santas. Ou seja: partes de ossadas tidas como pertencentes a pessoas santas.

Fotografia de reliquia santa, provavelmente um coracao no reliquario e obviamente ossos dos braços nos suportes desenhados com maos.


Quis saber a quem pertenciam. Afinal, numa igreja com a historia desta, decerto existem registos sobre os santos em exposicao. Mas se essa informacao existe e nao se perdeu, nao esta a ser disponibilizada pelos curadores do museu. 

Voltei a sentir que faltava isso. É preciso homenagear, reconhecer os autores, a origem e de quem foram quelas ossadas, assim como fazemos com as pessoas enterradas nos cemiterios.

Somente a visao de uma caveira humana  alertou os visitantes para o que estava armazenado ali. Muitos nao a viam ate alguem - como eu, parar para observar. A sua visao os visitantes estrangeiros teciam um unico comentario monosilabico, do genero "macabro".

Nao acho. Achei ate muito querido. Aqueles restos foram venerados e contemplados com absoluta devocao. As freiras que por ali passaram almejavam conseguir ser tao santas quanto aqueles a quem aqueles restos um dia pertenceram.

Era um objectivo, uma meta de toda uma vida. Fazer o bem, ajudar o proximo. Servir os principios do Senhor em toda a gloria. 

É tambem um simbolo de outros tempos e de um costume ja extinto. Hoje veneramos idolos de barro: artistas pop ou de cinema. Antigamente veneravam pessoas pias. 

Muda o alvo, nao a natureza humana.


O museu estava cheio. Cheguei perto da hora de abertura e sai duas horas depois. A fila estava entao com o triplo do tamanho. Nos visitantes só ouvi falar outras linguas: ingles, espanhol, italiano, outro dialecto mais nordico que nao reconheci e frances.

Visitas de portugueses so mesmo ja no patio a saida. Duas senhoras nos seus 80, portuguesas, tambem de saida. 

Nao e de surpreender que os trabalhadores do museu abordem todos ja no dialecto ingles. De boca fechada ninguem me imaginou portuguesa. Foi ao a abrir para comunicar que observei um tanto de surpresa.

Se os locais nao visitam museus - pelo menos aos Domingos, entao nao vejo mal algum que os turistas o façam. Os museus precisam de receitas. Os precos de admissao sao baixos quando comparados a muitos museus pelo mundo. Daí os turistas nao resistirem em aproveitar. Eles sabem que o acesso a este tipo de cultura costuma ser dispendiosa. Por preços baixos pode ir o pai, a mae, os tres filhos e ainda consideram barato.

Neste, crianças até 12 anos nao pagam. E sabiam que tem entrada livre a ex-combatentes ou suas viuvas?

Achei maravilhoso. Pelos vistos devido a um decreto lei datado de 2020. (?)

 


De caro só as souvenirs. Os valores cobrados foram criados a pensar nas bolsas dos  estrangeiros que tem maior poder de compra. Com valores de triplicar, somente alguem de passagem, a querer levar para casa um bom simbolo da estada em Portugal, pode decidir dispensar uns 50 euros por algo que valeria, noutro contexto, uns 12. 

Mas vale a pena visitar. Mesmo com toda aquela multidao! 😊















1 comentário:

  1. já ando para visitar à algum tempo mas sempre que vou a Lisboa acabo por fazer outras coisas...um dia destes vou

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