O que me chocou ouvir

 O que me  chocou ouvir  M. dizer a empregada foi referir-se com nojo ao novo colega de casa.

Quando a M. faz fofoca, ela gesticula muito e  fala muito baixinho, mal se consegue perceber. Audivel so mesmo as risadas pelo meio. 

Mas ouvi ela dizer a empregada:

-"Temos uma nova pessoa na casa. Um rapaz"

E oiço a empregada a dizer de seguida:

- "Oh no! A blacky is it?"

E isto chocou-me. 

A M. decidiu ter esta conversa diante da porta do meu quarto, por a empregada querer ir limpar o WC. So que a m. Ao ouvi-la entrar la em baixo, correu para o banheiro de proposito para o ocupar. Ao se cruzarem a empregada quis saber se podia lavar o chao (que é a unica coisa que faz no que respeita a limpeza) ao que a outra aproveitou para lhe fazer todas estas confidencias nao solicitadas.  As duas so riam entre si enquanto a M. gesticulava e murmurava as suas acusacoes.

Mas fiquei em choque com a constatacao da empregada. Pareceu-me algo Tao racista de se dizer. Dispensável. Nao gostei. Achei que a empregada so estava a ir na conversa dela por habito. Nao quer necessariamente dizer que partilha dessa opiniao. Mas que entre murmurios e gestos a M. tenha revelado nojo em dividir o WC com um rapaz e achar por bem ter de mencionar que ele é negro nao me caiu bem.  

Foi isso.

Sei que ela nao gosta de dividir o WC e ponto final. So o tolera dividir comigo por eu ser mulher mas so se eu nao o usar muito e nao tiver nada meu no interior - como se sucede. Ainda assim torce o nariz e nao ha vez que use o espaco que nao desinfecte tudo com spray.

 

Mantem o balde e a esfregona ao lado do meu quarto para estar sempre a esfregar aquela agua suja no chao. Nao gosto do cheiro nem da presença do balde e esfrefona ali, sem nunca serem removidos. Mas tenho de o tolerar. Ela acha que rapazes deixam sempre tudo urinado. É capaz de ter razão. So nao concordo que julgue antes de conhecer.

Este rapaz ate deixa tudo como encontrou e nao poe nada no meio do caminho dos outros. Ela diz sempre que consegue "sentir o cheiro" deles no WC. E faz caretas de repudio. 

Aproveitei que ela impediu a empregada de limpar o WC do piso superior e usei um estratagema da M: antes que de seguida descesse a cozinha para se por a preparar oa seus infindaveis cozinhados - tirando proveito da presenca da empregada para ser a primeira a usar a divisão depois de "limpa" - desci eu e comecei a cozinhar.

Deixei tudo limpo como encontrei. Foi quando ela desceu e eu vi um copo de papel vazio em cima da bancada. Tinha-o avistado no chao, junto a porta do quarto dela. E para deitar fora e por isso ela o poe no chao do corredor. Para mais tarde o levar para a cozinha onde tambem coloca o lixo no chao.  

Depois da odisseia da maquina de lavar vejo que ela bateu com o copo na mesa com tanta forca que salpicou um pouco de cafe na bancada. Soube entao que a cozinha ia manter aquela sujidade ali. E assim foi.

A M. nunca abandonou a cozinha depois de a usar deixando o espaço melhor do que o encontrou.