Recentemente contaram-me que, aquando a minha estada em Portugal, fui reconhecida por uma pessoa dos tempos da adolescência. Uma pessoa que... não me lembro sequer de conhecer. Nunca! Mas, pelos vistos, mais de 20 anos depois, ela me conheceu. Ou melhor: reconheceu porque, garanto-vos, não estou parecida com o que fui aos 15 anos.
O que me surpreende é como EU, que não me considero nada, que me sinto derrotada em tantos sentidos, possa ter marcado alguém de qualquer forma, ao ponto de se entusiasmarem ao me voltarem a ver passadas décadas. Não foi a primeira vez que isto me aconteceu, nem a segunda, nem a terceira e temo não ser a última. Mas sempre me incomoda, ao invés de me deixar contente ou envaidecida. É algo que não sei se dá para explicar mas consigo entender. Fico surpreendida, constrangida, embaraçada, preocupada e até um pouco alarmada.
Este e outros detalhes levam-me à reflexão de hoje. Que por ora, vou adiar.
Antes quero explicar a motivação por detrás de um recente post que escrevi sobre a inveja. O que me motivou foi um vislumbre de um olhar dirigido a mim. Não durou mais que um segundo. Mas foi o suficiente para me atingir o coração.
Uma rapariga desses tempos, que vinha sempre às minhas festas de aniversário encher o buxo de comida e com a qual nunca tive razões de queixa de qualquer espécie, vim a descobrir há uns 10 anos, que não simpatiza comigo. E desde esses tempos! Descobri-o por a sentir a passar por mim fingindo que não me conhece de lado algum. Começou a frequentar o meu bairro, mas ao cruzar-se comigo, era como se não me conhecesse de outros carnavais.
Reparei que cumprimentava outras pessoas desse tempo, até fazendo questão de ser especialmente muito simpática. Falando-lhes com a voz doce e o jeito aparentemente meigo que sempre exalou naturalmente. Embora desconfie hoje que essas características físicas eram mais ferramentas de utilidade e manipulação. Numa ocasião foi interpelada por uma pessoa mais velha que me acompanhava. Cumprimentou-a com dois beijos, sorriu e manteve uma entusiástica conversa com essa pessoa, ignorando-me. Nem um olhar me dirigiu!
Eu estava lado a lado com a mais velha, abri a boca para dizer "olá" e inclinei-me para a cumprimentar, quando me notei ignorada e não obtive qualquer reacção à minha presença. Foi um acto intencional. Malicioso. O que me mais me entristeceu nem foi este seu comportamento - senti pena que o tivesse, não que mo dirigisse. O que me cortou o coração foi a falta de atitude da pessoa que ia comigo.
Cega por uma admiração inexplicável pela outra, nada fez para me defender de uma situação insultuosa e indigna. Continuou entusiasticamente a conversa, só sorrisinhos amarelos e cheia de rapapés, enquanto eu estava ali parada que nem uma estátua. Daquelas que ninguém vê. Fui insultada e vítima de uma tremenda falta de educação. Que quem me acompanhava não tivesse mandado a outra às urtigas, ou reagisse obrigando-a a reconhecer a minha presença e me cumprimentar - isso é que me atingiu o coração de uma forma cortante. Depois que se separaram, deu continuidade aos elogios copiosos, ainda embevecida pela ilusão das recordações alimentadas pelo ainda real jeito meigo e doce da outra se apresentar.
Fez-me entender o poder que o poder das aparências tem. (As conveniências sociais. O status...)
Pensando bem, quem inveja os outros, inveja tanta vez sem motivo. Essa miúda magoou-me uma primeira e única vez quando eu andava lá pelos meus 10 anos. Foi criado um boato a meu respeito e um dia, durante brincadeiras entre os miúdos do bairro, escutei-a a espalhá-lo... com malícia na voz. Inclinou-se para a frente para ser melhor escutada por outra rapariga, meteu a mão à frente da boca, olhou para mim para perceber se não a iria escutar e com o olhar brilhante escutei-a dizer: "É esta aqui que (blá-blá-blá). Bem feita! Nunca gostei dela!".
Não dei muita importância à afirmação... achei apenas que, ao contrário do que julgava, ela não era mais inteligente que os outros, era igual. Gostava de um mexerico e espalhava-os com a mesma maldade e boa vontade. Embora quando convivíamos ela me parecesse por vezes desinteressada e distante, os adultos garantiam que era um doce de menina, muito bem educada, simpática (muito mais que eu), inteligente, muito doce e atenciosa. Só que um pouco tímida, "de poucas falas". (Calculista). E qualquer má impressão minha era defeito meu. Os nossos pais se falavam, frequentávamos a casa uma da outra com certa regularidade, ela aparecia nas minhas festas de aniversário... E em todas essas ocasiões ela não gostava de mim?
Aquela criatura bonita, com voz doce como a de um anjo, com um rosto a condizer, um jeito tímido e carinhoso de ser? - Como tantos adultos evidenciavam? Não... ela não seria FALSA.
Segundo as aparências e os relatos de terceiros, que valem o que valem, ela vive bem porque casou com um rapaz com dinheiro - como era o seu sonho, tem uma prole considerável de filhos, continua esbelta e bonita - como sempre foi e, com certeza, como o dinheiro ajuda a se manter. Não entendo esta inveja.
Acho que o meu instinto, que ignorei preferindo acreditar no que diziam os mais velhos, estava certo. E é essa uma das lições que estou sempre a re-viver. O meu instinto dá o alerta sempre, mas eu ignoro as coisas feias que me sopra ao ouvido.
Até hoje, o que me envenena a alma são estas pequenas coisas...
A reflexão de hoje. fica para outro dia.
A inveja é um sentimento feio, mau e desnecessário. Muitas vezes pensamos: mas aquela pessoa tem mais do que eu, é mais bonita, mais inteligente, mais rica e ainda tem inveja de mim? Porquê???
ResponderEliminarÉ que apesar de todos esses atributos, há coisas que o dinheiro não compra como a honestidade, dignidade e respeito. Esses não estão à venda e se a pessoa não os tem, nada feito.
isso também já aconteceu comigo. A pessoa ao meu lado com uma admiração ridícula por aquela pessoa, ignora-nos e nem se dá conta do que está a fazer. Somos postas de parte porque a outra é mais importante. Isso é que magoa mais do que a inveja de uma "estranha".
Mais uma vez, um texto que poderia ter sido escrito por mim lol.
Obrigada Ana, pelo teu comentário.
EliminarDe alguma forma alivia saber que este tipo de coisa não acontece só comigo. E agrada-me que também tu possas dizer o mesmo.
É a vantagens dos blogues... Partilham-se experiências que, por vezes, nos unificam pela percepção de que não vivemos situações tão únicas e particulares quanto pensamos.
Um forte abraço e saúde! :)
Saúde e abraços para ti também :)
EliminarPelo que li essa pessoa de que falas vive de status e aparências, essas pessoas acabam por não ser felizes porque não estão a viver por elas próprias. Eu sei que magoa mas o melhor mesmo é tentarmos não dar importância e seguir em frente. Nunca deixar que esse tipo de coisas e de pessoas nos impeça de continuar a dar passos em frente! Beijinhos*
ResponderEliminarA falsidade das pessoas é terrível.
ResponderEliminarE deixa marcas.
Boa semana