terça-feira, 27 de outubro de 2015

A portuguesa que inventou a cola para cirurgias internas


Vi a notícia ontem, no telejornal das 8h da RTP, apresentado pelo João Adelino Faria.

Uma portuguesa integrada numa equipa de investigação lá nos «estrangeiros» conseguiu produzir uma «cola» que poderá ser usada no interior do corpo humano aquando actos cirúrgicos.


Grande feito, sem dúvida. Mais uma que se junta a um mancial de portugueses emigrados que alcançam grandes feitos fora de Portugal. É que só pode ser assim, não é? Já repararam que, para uma pessoa originária deste país, o sucesso e a realização pessoal só está ao seu alcance se saltar daqui para fora??

Diz a mesma portuguesa que sem dúvida que os portugueses saem a perder por serem um povo pessimista. Ao que o repórter pergunta-lhe se não pode inventar um adesivo que torne as pessoas menos pessimistas. 

E esta investigadora médica de origem portuguesa responde que um adesivo não ia resultar, porque o pessimismo é algo que se «combate» na infância, com a educação que os pais dão aos filhos. 


Ora aqui está! Em uma notícia apenas, uma grande análise da sociedade portuguesa e a constatação de que ainda ficaremos pior.

Somos um povo morto. Acreditem. 
Uma vez ouvi o Hermano Saraiva no seu programa sobre história, dizer que, em tempos de crise, a emigração é má para portugal, porque significava que «os melhores» iam embora. Aqueles que tomavam a iniciativa, que iam à luta, que não se resignavam, eram os que saiam. E o que é que ficava? Os velhos, os doentes e os conformados.

Portugal já viveu grandes vagas de emigração, já perdeu «os seus melhores». E é por isso que 500 anos após os descobrimentos, nem temos concepção da bravura e resistência que caracterizou um povo que descobriu novas terras, navegou torturosos mares e contactou novos povos. Bem que podiam dizer que foram os ETs os responsáveis por esses feitos. Não tivessem sobrevivido relatos e documentos disso mesmo, e provavelmente seria como no caso das pirâmides do Egipto, ou a sociedade Maia: foram os ETs! 


A jovem investigadora portuguesa tem razão. Para se ser alguém, é preciso não se cultivar na sociedade e nas escolas esta "bactéria" do pessimismo. É preciso dotar as nossas crianças de ferramentas e incentivá-las a seguir as suas aptidões, incutindo-lhes optimismo e confiança em si mesmas.


O que acabei de descrever NÃO É o que se passa em Portugal.

Em Portugal faz-se o INVERSO.

Temos crianças capazes e transformamo-as em seres que duvidam das suas capacidades e que temem arriscar.Vejo-o todos os dias, percebo-o nitidamente, atravessando as gerações. É preciso não limitar os sonhos, as capacidades de um indivíduo em desenvolvimento. Cortar-lhes a esperança com palavras, atitudes e exemplos derrotistas, antes que se possa por à prova. Um dia fui assim, uma criança cheia de energia e capacidades, à procura do seu lugar e com ânsia de fazer e experimentar. Senti-me forçada a fazer o que os outros desejavam, forçada a ficar estagnada quando tudo o que precisava era não parar de andar. Após anos e anos disto, senti-me a ceder e quebrar, como um ramo de árvore que cede a uma rajada de vento de um tufão ou ciclone que nunca páram de o atingir. 

Para se ser alguém neste País, para se ser aquilo que se é e realmente se ter boas oportunidades, o melhor é sair dele. E os exemplos disso se multiplicam no noticiário. A sorte de um indivíduo natural de Portugal começa logo à nascença, com o padrão que a família vai usar na sua criação: um padrão pessimista, derrotista e depressivo? Que é o que mais há por aí? Ou um de incentivo, força, luta e optimismo? Tão escasso? 

O que é preciso é deixar crescer. Tudo na vida precisa crescer. Infelizmente, esse crescimento nunca poderá ser aqui, neste país. Aqui só se morre. 


15 comentários:

  1. Agora dei por mim a ler um artigo de jornal.

    Obrigado por trazeres estes conteúdos mesclados com pertinente opinião pessoal.

    Bjinhos !

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  2. A única coisa que tenho para dizer é que vou partilhar este post no meu blog, está tão WOW que tenho que partilhá-lo e...não mandas :DDD

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  3. Os portugueses que estão fora dão, na sua grande maioria, boa imagem do País.
    Assim esse exemplo fosse seguido por outras pessoas presumivelmente com maiores responsabilidades.
    Estou a seguir o blogue desde Macau

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    1. Obrigada Pedro, pelas sábias palavras diretas de Macau! Este país tão belo, tão único, tão cheio de potencial, com um povo tão capaz e que já foi tanto... Está morto. Enquanto quem nos governa não souber manobrar o leme, seremos para sempre uma jangada à deriva, com uma tripulação doente e enfraquecida, que apenas sobrevive e é atirada aos tubarões.

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    2. Infelizmente a barca não tem apanhado mesmo bons ventos :(

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  4. É isso mesmo! Quantas vezes lá no meu cantinho me ouviste dizer que vivemos num caixão? É isso mesmo: Aqui só se morre! É por essas e por outras que desde cedo comecei a dizer às miúdas que o futuro é lá fora...o problema é que isso é muito giro de se dizer, mas é preciso ter sustento financeiro para suportar as despesas quando chegar a altura delas irem...seja o que Deus quiser.

    jinhoooooosssssss

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    1. As finanças é que nos lixam... Mas as tuas filhas, volto a repetir, têm a sorte de terem uma mãe visionária que não se resigna.

      Deixa-as voar que decerto elas encontrarão mais meios e o seu próprio poso. jinhooos.

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  5. Não percebo como é que alguém com uma visão tão negativa de Portugal, não emigrou para a Antártida e se dedicou à criação de pinguins de aviário.
    Cada país tem as portuguesinhas que merece...

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    1. Nunca deixo um comentário em anónimo, pelo que isso já me diz o que preciso de saber de si. Mas dou-lhe a resposta que como admite, não tem capacidade para entender: A «visão negativa» ou melhor, esta noção da REALIDADE, SURGIU da experiência. E dos dois olhos que tenho na cara, que servem para ver outras realidades também. Foi PORTUGAL que me ensinou. Por muitos anos mantive a fé, esperança, energia e vitalidade - que pensei - erradamente, poderem vingar aqui. Neste meu chão que amo e do qual sou orgulhosamente «portuguesinha». Mas aqui, volto a repetir, só se morre.

      Antes a Antártida.

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    2. Um banho gelado fazia bem a muita gente...quando não há nada de útil a acrescentar, aos menos refrescavam-se as ideias e não se perdia tempo, nem se fazia perder.

      jinhooooooosssssss

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  6. Adorei o texto :) de facto, a emigração vai levando os inconformistas, os que querem lutar. Mas também há gente boa que fica, só que, ao que parece, também não convém termos gente que faça "muito barulho", então vamos silenciando as pessoas... não as matamos, mas cortamos-lhe as asas, que vem quase a ser o mesmo. Com as crianças, ainda somos muito de punir, ainda somos muito de humilhar. É preciso mudarmos mentalidades e não nos conformarmos com aquilo que nos tornámos. Nós somos tão bons como qualquer outro cidadão do Mundo; nós descobrimos meio Mundo! Caramba, ainda temos de ter alguma desta bravura cá dentro!...

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    1. Estudante, adorei as suas palavras. Faltava mencionar isso. Vão-se os inconformistas e ficam os velhos, doentes, conformados mas também muitos esperançosos, dispostos a tentar aqui. Só que, como diz e bem, aqui essa disposição não vinga. Não querem pessoas que pensem, arrisquem, ousem, questionem e façam "barulho". Qualquer um que tente, pode levar anos, mas acaba «silenciado» por uma opressão que não é mais óbvia nem carrega siglas como PIDE. Uma opressão que não tem uma figura máxima num governante. É algo que vai-se enraizando, entranhando e contamina lá na raíz. Existe sim, bravura cá dentro... Mas sem sol, água, luz - que Portugal tem que sobeja no clima mas não na sociedade - nada sobrevive por muito tempo. Para ver as sementes dar fruto, é preciso acabar com as sombras e os contaminantes. Aí sim, o que está "cá dentro" pode brotar aqui. Por agora, só fora.

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