sábado, 14 de março de 2015

A Tirania do Facebook (e o like)



Eu não sei quanto a vocês, mas ao lidar com gente mais nova (nos 20...), tenho percebido que a linguagem com que se expressam no Facebook é diferente. 

Ou melhor: a interpretação, a conotação e a intenção por detrás de cada gesto é, francamente, muitas vezes agressivo e o que é pior: sem necessidade. Sarcasmo, ironia, má língua... e descriminação. Tudo corre por ali, com naturalidade, sem pudor ou culpa.

No facebook faço parte de uma coisa que até há bem pouco tempo nem sabia que existia: um grupo «secreto». Ser secreto significa apenas que os restantes utilizadores não o vêm, mas de resto funciona como uma página normal. A primeira coisa que vi acontecer, que me surpreendeu e moralmente reprovei, foi a criação de um outro grupo, para se proceder à inclusão de novos elementos não tão «desejados», criado supostamente para parecer ser o "primeiro", 

Na vida real, fora do online, não se podem excluir pessoas assim, com esta facilidade. Essas más práticas, contudo, já podem ser praticadas no mundo virtual.  

Claro que logo me ocorreu que de seguida iriam criar um terceiro grupo. Para serem ainda mais mordazes e deixar de fora as pessoas que entretanto já haviam aceite no primeiro e pretendiam excluir. Foi o que fizeram, O que se diz por lá, só posso imaginar pelo pouco que deixaram antever no original... Coisa boa não é. Destila-se veneno como quem faz férias nas Bahamas. (mas os maus são os outros). Fazem-se julgamentos precipitados, ditam-se sentenças, influencia-se as opiniões alheias com tanta má vontade.

O FACEBOOK é, só por este exemplo, uma ferramenta social que permite com excesso de facilitismo a descriminação e o bulling. 

E tem ainda uma ferramenta adicional para isso: o botão LIKE.

Meter likes (gosto) em comentários depreciativos revela muito sobre a forma de pensar das pessoas. Pode, inclusive, revelar o que elas pensam realmente de ti e que não transparece no convívio diário.

Verifico neste curto espaço de tempo em que tenho interagido com um grupo de pessoas mais novas que a linguagem que utilizam é geralmente agressiva. Depressa respondem a comentários do género: "Isto está a ser uma seca". Deste pequeno desabafo podem desenvolver vários assuntos e aí deixar acima de 20 respostas.

Mas se a seguir alguém colocar: "O bolo não é para cozer aos 180º?". A pergunta fica sem resposta. Por tempos e tempos, até que uma alma simpática decida "quebrar" a estranheza. Se decidir... A maioria leu a pergunta. O facebook é «cruel» a esse ponto: avisa-nos quantas e quais as pessoas que leram a mensagem. Por isso sabes quem viu e ignorou. E quem não viu e, por isso, nem ignorou nem deixou de ignorar. 


Verifiquei também que ao colocar informação pertinente, poucos são os que se dão ao trabalho de expressar que a viram. Exemplo: "Deixo aqui o programa que foi transmitido, para que todos possam trabalhar através destes dados". Comentários? Quase nada. Só mesmo um ou outro das melhores alminhas que por ali andarem. Mas se de seguida aparecer alguém e postar: "Isto aqui é muita fixe e eu sou a maior!". As reações não tardam a surgir e são do género: "Linda!!! Maravilhosa! (corações e outros simbolozitos), Amute mto! K krida!! Kriduxa! És a maior! lol!" - e por aí fora.

É o tipo de comentário que que não acrescenta nada a coisa alguma. Num post sobre nada... (será isto reflexo de se ter amadurecido no tempo dos reallity shows?).

Mas o que mais espécie me faz é a facilidade com que passam julgamentos e dão cabo da imagem de outra pessoa, de forma gratuita, desejadamente permanente e irredutível. Basta que sejam apenas dois... Esses dois vão mostrando a sua insatisfação com determinada pessoa, e continuam na deles... Acabará por aparecer um terceiro, meio convencido... e se algo acontece que possa ser distorcido, dá para perceber para que lado uma pessoa se inclina só pelo facto de colocar o «like».


Fiquei surpresa quando um comentário humoristico que fiz, que não era dirigido a ninguém, foi «atacado». Do que para mim veio do nada, uma coisa inocente foi atacada com ironia agressiva e sarcasmo. Vai que... começam a "chover" likes. Nessas reações agressivas. O facto me transtornou e quase que cedi ao impulso de comentar também agressivamente. 

"Não ando a distribuir carapuças pelo que se as enfiaram foi porque assim o desejaram". 

Mas optei por não responder nada. Pessoalmente (note-se a diferença), quando encontrei uma das pessoas e até foi ela que se lembrou da questão, acabei por lhe dizer o que senti. Não me deu resposta, mas disse que estava "tudo bem". O que é isso do tudo bem? Eu não fiquei bem... aliás, fiquei mal. Muito mal. E aposto que ainda hoje estou a ser alvo desse "tudo bem".

Subitamente entendi que existia um grupo cada vez maior de pessoas que iam gostar de me dificultar a vida... Que deviam ter interessantes conversas de má-língua pelas minhas costas. Sim, porque se as têm sobre outros à minha frente (agora nem tanto, adivinhem lá porquê), também as terão sobre mim. Ainda mais após este episódio que, para mim, foi gratuito e desnecessário.

O que é que se passa com as pessoas que já não recorrem a uma abordagem a pedir esclarecimentos e partem logo para a agressão? 

Não se incomodam em ser injustas. Isso não as afeta. Não pedem desculpas, isso não é necessário...

Que raio de moralidade é esta, cada vez mais vigente?


É o facebook. É este meio e outros como ele, é a COMUNICAÇÃO VIRTUAL.

Na comunicação virtual sai com muita facilidade tudo o que é frustração, raiva, maldade, má língua... Este fenómeno pode ler-se ao se ler alguns comentários em sites de notícias... Abrem-se grupos secretos nos quais acaba-se por falar mal de uns tantos, e depois é preciso abrir outro grupo secreto para continuar a falar mal desses tantos mais outros tantos que entretanto «transitaram» do grupo de possíveis desejáveis para indesejáveis.

Aprende-se sempre muito ao contactar outras pessoas. E tenho aprendido muito com os "mais novos". Nem todos os muito jovens agem como descrevi, felizmente. Existem uns tantos que ficam de fora na demonstração de tais comportamentos - e ainda bem. Mas são poucos e pouco expressivos. 

Provavelmente tem sido sempre assim. E será que isso significa que se contribui para que tudo fique ainda pior?




3 comentários:

  1. Por essas e muitas outras, cada vez gosto menos de pessoas e mais de animais.

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  2. Eu ia dizer que todas as gerações tem as suas especificidades e é verdade!Mas há especificidades com as quais não me identifico*

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  3. temos que saber aproveitar o que é bom das redes sociais sem ir na onda...

    ó menina
    http://callparaasparedes.blogs.sapo.pt/

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