Estava em casa de meus pais de noite, toca-lhes o telefone. Alguém da PT quer falar de um serviço qualquer. Já passam das 21h e meus pais já se preparavam para ir descansar. Minha mãe atendeu o telefone com a espuma da pasta de dentes ainda espalhada pelos cantos da boca e simpaticamente disse que não estava interessada em nada. Insistiram. Continuaram a insistir. Finalmente desligou-se o telefone e a tarefa de escovagem dos dentes retomou onde foi interrompida, eu voltei aos meus afazeres de preparação para sair.
Um minuto passou, o telefone toca outra vez. Cada um se aproxima perto do aparelho mas este pára de tocar no momento em que se chega perto. Isso não é irritante? Eu acho que é muito chato, uma pessoa larga o que está a fazer para atender o telefone e este toca poucas vezes e desliga exatamente quando se vai a atender. Mas acho que todos nós sabíamos que só poderia ser novamente a PT, a insistir ou simplesmente, para arreliar, numa atitude de retaliação mesquinha. (quando estão a «treinar» uma nova «manada» de carne fresca para canhão são um implacáveis!)
Cada um de nós retomou a tarefa que tinha em mãos, e o telefone toca outra vez. Desta vez, meu pai é mais rápido. Sua voz masculina volta a informar a voz feminina do outro lado: não estou interessado e agradecia que não voltasse a ligar. A voz feminina insiste. Recebe a mesma resposta. Volta a insistir, recebe a mesma educada e cordial resposta. Meu pai sabe ser implacável, mestre mesmo, ninguém o supera. Pelo que a rapariga teve uma sorte descomunal em apanhar o seu lado tranquilo que informa primeiro que não quer ser incomodado e agradecia que não voltasse a ligar. Quem não se conteve fui eu, ao perceber que ela ia forçar meu pai continuar a repetir aquela resposta, dando-lha pela quarta vez, tal como forçou minha mãe. Não me contive e gritei: estão com problemas de audição?! A voz feminina despediu-se prontamente do outro lado.
Tinha sido um mau dia para irritarem esta "panhonha" aqui. Qualquer outro dia, teriam a educação de sempre. Mas sabem quando uma pessoa realmente já chegou ao limite? Não entendo esta insistência com assédio. Quero que o telefone toque mas porque estou a aguardar um telefonema importante de alguém. Não vendas! Ou porque alguém que conheço quer falar comigo. Uma pessoa a quem dei meu número, não um desconhecido!
O número de casa de meus pais só é conhecido para seis pessoas. Não está em nenhuma lista telefónica, não consiste em nenhum registo ou base de dados. Até minha mãe ter ligado para um programa da SIC para participar automaticamente num concurso....
Acabou-se desde então o anonimato. Acabou-se o sossego. Estão a ser invadidos pelas VENDAS DE AGRESSIVAS. Não deixam as pessoas terminar de escovar os dentes, ver sossegadamente a partida de futebol, a criança ter um sono tranquilo e o doente estar em silêncio...
Analisando isto do ponto de vista SOCIAL, esta vai pelo mau caminho quando, ao invés de ensinar coisas úteis aos jovens, está a formar indivíduos para serem agressivos, insistentes e inconvenientes. Ensinam-lhes a não desistir de importunar uma pessoa até conseguirem o seu propósito. Nem querem saber da pessoa para NADA! O objectivo é impingir, a qualquer um, um produto ou serviço. E esse NUNCA será o caminho pelo qual vão crescer e ganhar clientela. Antigamente, dizia-se que as pessoas que ligavam é que tinham azar de apanhar clientes muito desagradáveis do outro lado da linha. E até podia ser verdade. Mas agora está empatado, se não mesmo superado. Sem usar termos mal educados mas sendo ainda piores ao serem cínicos e sarcásticos, insistentes e manipuladores, são os que ligam que não aceitam receber um "não" e ouvir um "por favor não volte a ligar".
Já vi idosos doentes e com princípios de esclerose a serem "manobrados" por vendedores inescrupulosos que ainda por cima detestam o trabalho que fazem. Nessas "grandes companhias" de serviços de TV, net e telefone então, é o que mais há. Garanto que não é esse o caminho. Nunca foi, nunca será.
E estes jovens de call center, Jesus! São tãããõoo carne para canhão. Não passam de peões num jogo de xadrez. Aproveitam-se-lhes da juventude, da necessidade, da energia e vitalidade. Já vi também. Fazem mais lembrar uns advogadozinhos em início de carreira muito mal formados, nervosinhos e sem escrúpulos a tentar ganhar a maior quantidade possível de dinheiro para o seu patrão, em troca de uma pancadinha no ombro e um magro osso. Submetem-se a este tipo de emprego, porque não sabem ainda melhor, mas julgam que sabem e que aquilo é temporário. São a "mão de obra" esperançosa, crente e entusiasta (como um dia eu também fui), ideal para ser usado e deitado fora. Os que aprendem bem, não ganham nenhum conhecimento que valha a pena ser aprendido. Talvez ganhem uma úlcera e desenvolvam algum problema de saúde e, Deus querendo, de consciência. Aprimoram a capacidade de ser inconvenientes, insistentes e de "fo###" a cabeça das pessoas com suas vendas agressivas. E isso não lhes dá nenhum dom especial. Preferia os tempos em que se dava um cinzel, um martelo e uma pedra e se ensinava a criar um bom bloco perfeito para se construir uma parede. Ao menos isso é conhecimento útil e proveitoso para a humanidade.
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