sexta-feira, 9 de março de 2012

o comércio JUSTO e a CHINA

Há 15 anos comprei numa chique loja de decoração um sofá insuflável. Azul, feito de plástico transparente muito resistente, era um objecto de grande utilidade e com a sua graça. Quando me sentei nele descobri um elevado nível de conforto. Estava muito contente com a minha aquisição. Até ter visto uma coisa verdadeiramente chocante.


O que vi foi a impressão empoeirada de uma sola de um ténis, situada no interior do braço de descanso do sofá. Uma impressão perfeita e pequena como a de um pé infantil, que estava claramente a denunciar uma realidade: CRIANÇAS tinham estado em cima daquele material. Fiquei com o olhar fixado naquela perfeita impressão. Como podia agora sentar-me confortavelmente e relaxar naquele sofá, quando suspeitava que a sua origem de fabrico consistia na exploração de crianças, no TRABALHO INFANTIL?


Comecei a pensar na loja onde o comprei. Não era uma loja dos 300, a grande novidade da altura, cheia de variados artigos a preços acessíveis. Não. A loja onde encontrei o sofá era uma loja «pomposa».


Assim que se pisa a entrada os olhares dos lojistas fixam-se em ti e no passo a seguir um deles chega-se de imediato e pergunta se nos pode auxiliar com alguma questão. Era um tipo de loja na qual não nos conseguimos sentir totalmente à vontade, porque cada movimento é seguido por olhares e qualquer paragem mais demorada a olhar um artigo origina da parte dos lojistas o típico comentário que visa justificar o preço cobrado através da qualidade dos seus produtos. É um ambiente desconfortável, entendem? Como pode uma loja assim comercializar artigos de proveniência duvidosa? E ainda por cima cobrar valores elevados e maximizar o lucro em cima do trabalho infantil??


A verdade sobre a sociedade comercial na qual vivemos é tudo menos bonita. Se formos a olhar para a origem de tudo o que está há nossa volta e tivéssemos de prescindir das coisas que exploram terceiros, provavelmente não teríamos NADA para vestir, calçar, andar, usar, brincar ou comer. A simples canela que se encontra a preços baratos por todo o mundo é fruto de exploração. O cacau consumido pela maioria das marcas de chocolate também provém de EXPLORAÇÃO INFANTIL.


Quando os pais aqui em Portugal, na França, na América, em Espanha, na Suíça ou em qualquer outro país civilizado compram aquela barra de chocolate para os seus filhos não têm consciência que foi uma criança tal e qual a sua que colheu o Cacau das árvores…


Os anos passaram desde que aquela impressão empoeirada de um pequeno ténis infantil tornou-me cúmplice de um acto de escravidão.


Os anos passaram mas a exploração infantil ou o trabalho de escravo não parece ter sofrido grandes revezes. Continua tudo muito «mascarado», oculto em burocracias e em políticas. A China é o país mais famoso por EXPLORAR o seu povo e documentários feitos com câmaras ocultas retiram quaisquer dúvidas de que este é um povo escravizado. No entanto, cá está a política, os acordos com a China, a abertura do nosso mercado comercial para os produtos chineses e agora a compra da nossa dívida…


Estas decisões têm um preço e começamos agora a sentir os problemas sociais e económicos que derivaram dessa abertura do mercado português para os produtos de fraca qualidade e preço acessível chineses. Uns apontam as famosas lojas dos 300 como a origem do problema mas, se calhar, as lojas mais finórias também não resistem à tentação das margens de lucro elevadas, acabando por se associarem ao comércio de exploração.


Sempre que puder, vou optar pelo COMERCIO JUSTO. Começar por consumir o produto nacional é a primeira coisa a se fazer, a mais sensata a mais fácil. Mas como nada é transparente e a exploração parece ser um fenómeno global, fica difícil escapar à cumplicidade involuntária.


Há dias entrei numa conhecida loja de roupa e comprei um muito necessitado casaco. No acto de pagamento, pedi para que removessem o preço. A rapariga atrás do balcão pega na tesoura e, além do preço, corta também a etiqueta. Quando cheguei a casa fui inspeccionar o casaco à procura de uma qualquer etiqueta, mas nada encontrei, a não ser uns fios brancos resultantes da tesourada. Será normal cortarem a etiqueta de um casaco? Qual a origem? Que instruções de lavagem são as recomendáveis? Quem fez este casaco??


É importante tomar consciência sobre as empresas que realmente praticam o comércio justo e, como consumidores, não colaborar com as que fecham os olhos à exploração e aos direitos humanos. Hoje, na RTP2 ás 23.30, vai passar um documentário que merece uma espreitadela. Vejam.