domingo, 14 de dezembro de 2008

Descriminação e Oprah

Somos alvo de descriminação de tantas formas num só dia, que a forma natural que temos para não nos incomodar-mos com isso, é nem darmos por elas ou recebe-las como um comentário irónico e inocente. Ultimamente, tenho percebido qual a forma de descriminação que me incomoda e da qual estou a ser vítima. Como disse, incomoda-me e não gosto.
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O que me incomoda mais ainda, é a mediocridade que sobressái desse preconceito. A pobreza de alma e de espírito, de quem procura qualquer coisa para dizer mal ou mandar abaixo outrém. Se eu não o faço, não é difícil não seguir esse viciante caminho de apontar aspectos negativos dos outros com rapidez e julgamento. Pontos positivos, esses as pessoas nunca falam.
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Incomoda-me a mediocridade e a ignorância. A ignorância de não saberem que estão diante de uma virtude, que classificam como defeito.
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No meu caso é simples: comecei a perceber, pela boca de uma "amiga", que me fez comentários e me adjectivou de ser uma pessoa "calma, paradinha", "mais paradinha que eu não existe". Perguntei-lhe porquê disse aquilo, em quê se baseava. Não soube ser precisa. Apenas me disse que o era, perguntei-lhe se se referia há forma de estar ela disse "e não só" e nesta conversa, senti que me rebaixava por esta característica. Logo quem! Mas isso explicarei adiante.
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Levei aquilo a peito por alguns motivos. Primeiro, por estarem a transformar uma característica pessoal, adquirida graças ao meu fundo nobre, que da necessidade de arranjar tranquilidade no meio de uma infância de conflicto e dor, aprendeu a ficar calma e racional ao invés de despejar a ira em cima dos outros. Uma grande virtude, mesmo grande, dadas as circunstâncias.
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Depois porque pegou nesta característica com um tom perjurativo e estendeu-o implicitamente à forma de trabalhar quando, quanto a isso, tenho a certeza absoluta que sou dinâmica e rápida, mais ainda em situações de stress. Oiço-os a gritar e barafustar diante da pressão e eu sou aquela que também a sente mas ao invés de barafustar, faço mais que isso: trabalho e ajudo os outros a trabalhar melhor. Dou tudo de mim e reduzo o tempo que levaria a fazer a tarefa sem lhe retirar qualidade e valor, ajudando nisto os outros através do diálogo e da prestatividade.
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E tudo o que vêm em mim é moleza?
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Levei aquilo a peito sim. Sou uma guerreira, que não precisa de vestir armadura e dar gritos de guerra para se mostrar. Levei a peito ainda por outras razões. Estas ligadas com a saúde, com o organismo. E aqui trago a apresentadora americana Oprah à conversa. Tudo porque li hoje na imprensa algo com que posso me identificar muito bem: as consequências do hipertiroidismo "passando", como diz o artigo, pelo hipotiroidismo. Ou seja: também eu tenho aqueles sintomas de cansaço, apatia, e sou gorda sem conseguir perder peso. Isto dura há mais de 10 anos. Agora imaginem isto e saibam que sou uma pessoa que gosta de estar activa. Que todos os dias caminho para o emprego, numa caminhada de subidas e descidas que totalizam 40 minutos. Inclinações de 45º, ruas que subo cada vez melhor, mas sempre com a limitada energia que a condição do hipertiróidismo e a anemia me atribuem. Ou seja: sou um automóvel com pouca gasolina que chega à mesma ao lugar. Dá para entender?
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Então por tudo isto, considero-me ainda mais heróica. Porque quem me criticou, no caso, é uma pessoa que não anda a pé, só de carro, que é magra, que fez análises a tudo e mais alguma coisa e tem a saúde perfeita, que é muito indecisa e incapaz de tomar uma decisão até no supermercado, sobre se leva ou não leva uma sandes de presunto ou uma sandes de fiambre. Uma pessoa que trabalha diante de um computador utilizando a aplicação com alguma lentidão em alturas em que a pressa urge. O que faz bem é falar ao telefone e planear saídas nocturnas com diversos conhecidos.
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Posso dar o aspecto de ser "paradinha", mas vejam lá se sabem distinguir as diferenças entre o SER e o PARECER. É que a forma como encaro e levo a vida não é nada parada. Se fosse, não me submetia todos os dias a ir a pé para os locais, a viajar de transportes, a adiar consultas médicas para que o trabalho apareça feito a tempo de o passar a outros. E faço tudo com a desvantagem da minha condição física não ser igual à das pessoas 100% saudáveis. Eu posso não exteriorizar uma ferida ou machucado, mas sofro de uma condição física que mexe com as hormonas que estão encarregues de todas as funções do corpo, segundo entendi. Sou "escrava" delas, não as controlo. Elas é que me controlam a mim. E ainda assim, não me submeto e faço por continuar a ter o dinamismo que caracteriza a minha forma de ser. Ainda que não sobressaia, as acções o demonstram. Há mais de 10 anos que estou à mercê desta condição e estou cansada de me sentir cansada. A medicação ajuda, mas não irradica. Se dúvidas existissem, basta ver o meu cabelo cair e cair aos molhos, ao longo dos anos, com uma frequência que denuncia o problema. Esse mal não parece atingir Oprah ainda, que bom para ela. Para uma pessoa sem vaidade mas que agora percebe que tinha um cabelo lindo e farto, a farripa que me resta deixa-me desgostosa. Já não posso perder mais. Se continuar a este ritmo, começará já a aparecer calvice. A roupa que comprei há alguns meses está mais apertada ou então já não serve mais. No entanto, faço mais exercício, alimento-me muito melhor e estou a seguir a medicação.
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É muito redutor, esta redução de tudo aquilo que sou por algo que não posso controlar mas à qual não me entrego e enfrento. É como ser velho e ser descriminado por ter idade, ou ser paralítico e acharem que se é morto cerebral por isso. É um julgamento de fora para dentro, como quase todos são, e uma pura estupidez!

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