Como o nome neste blogue diz, sou de Lisboa. Sou uma “Alfacinha
de Portugal”. Mas quando tive de complementar os estudos no ensino superior,
fui parar a outra localidade. Foi preciso chegar ao último dia de muitos anos
de curso para descobrir o seguinte:
Colega: “Ah, tu até és uma
pessoa simples e simpática. Eu pensei que eras um tanto arrogante.”
Eu: “Ah? Porquê?”
Colega: “Ah, por nada. Foi uma
impressão que tive. Não fiques chateada”.
Eu: “Não me chateio. Mas de onde tiraste essa ideia?”
Colega: “Porque na primeira vez que nos conhecemos disseste que eras
de LISBOA de uma maneira… olha que não fui só eu a pensar assim. Muitos acharam
o mesmo.” “Mas afinal não és nada disso” -
diz ela, acrescentando ainda que outras pessoas a quem tinha em alta
conta afinal desiludiram e provaram não serem boas pessoas.
Depois de matutar neste diálogo, percebi que ao longo de
todos aqueles anos houve pessoas com quem me relacionei que mantinham uma “muralha”
erguida, uma postura impenetrável. Aqueles que não se riam, que não mostravam
interesse em me conhecer melhor ou que se mostravam extremamente desagradados
por me dar com outras de quem já gostavam… Estas pessoas decidiram logo ali: «não
gosto desta miúda» e ficou assim. Não
por mim, mas por eu ser de Lisboa. A capital, a grande cidade, o lugar das
oportunidades… e estava ali. "A fazer o quê?" - perguntaram alguns em verdadeiro espanto. Ser de
Lisboa passou a ser um fardo, ainda que não o entendesse totalmente, alturas
existiram em que senti alguma hostilidade, que não pensei dirigida a mim em
particular, mas pelos vistos era. Depois deste diálogo as coisas ficaram mais
claras. Como peças de um puzzle que finalmente se encaixam. Todas as vezes que
ouvi “Em Lisboa há de tudo, aqui não há
nada”, lá vinha um olhar penetrante como uma navalha. “Tu tens sorte porque és
de Lisboa”, "Fui poucas vezes a Lisboa, é um tanto confuso e tem muita gente mas gostava de morar lá".
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Eu nunca me vi diferente de nenhum deles. Podia ser dali ou do estrangeiro, para mim era tudo igual. A naturalidade ou as posses materiais não são, para mim, motivo de descriminação. Que maluquice! Esse
preconceito vinha deles, de alguns deles, que, no fundo, dão razão àquela expressão: “quem desdenha quer comprar”. Soube depois que muitos desses que tanto
mal falaram e tanto cobiçaram, mudaram-se para Lisboa assim que puderam. E sem
olhar para trás! Querem lá saber das raízes… Contudo, duvido que não continuem portadores
do vírus da «mentalidade tacanha», que tanto lhes pautou o comportamento e a
razão. Eu julgava que a ideia que um provinciano faz de alguém da capital era um
mito, deitado abaixo, ainda mais entre estudantes universitários à beira da
viragem do século. Mas senti na pele que não. Havia mesmo quem acreditasse, sem
sequer ouvir uma palavra da minha boca ou me conhecer, que era arrogante e que
tinha a mania, porque era natural de Lisboa. Mais tarde vim a descobrir que a reputação
dos oriundos daquela região também não é das melhores… Mas na altura isto não
era sequer uma coisa que me passasse pelo pensamento. Tenho sérias dúvidas que
pessoas assim mudem. O preconceito carregam-no dentro de si, o sentimento de
inferioridade e exclusão também. Façam o que fizerem, será sempre
meio-autêntico, meio-falso, porque o que lhes interessa é o status e a
aparência. Custe o que custar.