Ao longo dos anos, adquiri um defeito pelo qual não tenho particular simpatia.
Quando alguém está a falar comigo, ou pretende fazê-lo, por vezes falo não por cima dela mas, talvez antes que esta consiga terminar o raciocínio estou a tentar adivinhá-lo.
Ora, nem todos apreciam isso.
Eu também não.
Sei muito bem quando, porquê e quem me empurrou para este tipo de comportamento social. Porque não costumava ser assim, fiquei assim. E depois de se adquirirem certos comportamentos, é muito difícil perdê-los. Pelos menos os «maus» eheheh.
O que me conduziu ao defeito:
Quando era criança e queria falar, mandavam-me calar. As minhas ideias e raciocínios ficavam em "espera", engarrafados, uns atrás dos outros, a querer sair e sem ter para onde. Acabando por morrer sem terem sido expressados. Algumas vezes a imposição vinha com toques de vilania, porque as ideias eram imediatamente descartadas e rotuladas de zero valor, sem sequer terem sido expressas.
Até mesmo a escola contribuiu um pouco para isto. Quando levantava o braço para falar e me era concedida a vez, se o fizesse muitas vezes e os outros fossem mais reservados, a professora mandava-me baixar o braço e pedia que outra pessoa intervisse. Compreensível. Mas rapidamente entendi que, mesmo numa sala onde ninguém levantava o braço, o meu não era bem vindo se fosse o único. Passei a esperar ou então nem sequer o erguia. Enquanto a professora prescrutava a sala em busca da resposta certa entre os alunos mais tímidos (eu sempre fui muito tímida mas gostava de estar nas aulas), esta pesava-me na ponta da língua e eu a engolia para não ser a "míuda na sala" que gosta de participar e «tira a vez» aos outros.
Também tive uma professora cruel que ignorava as minhas tentativas de participação, zangada por eu ter mostrado integridade numa situação anterior e determinada em sabotar-me. Quando erguia o braço e este era o único ali pedindo atenção, ela dizia "alguém? ninguém?" ignorando o meu que estava erguido. Todos percebiam este e outros comportamentos agressivos dela para comigo e foram até colegas na sala que vieram me falar que a professora era cruel e devia fazer queixa dela.
Infelizmente não fiz.
Também tive uma professora cruel que ignorava as minhas tentativas de participação, zangada por eu ter mostrado integridade numa situação anterior e determinada em sabotar-me. Quando erguia o braço e este era o único ali pedindo atenção, ela dizia "alguém? ninguém?" ignorando o meu que estava erguido. Todos percebiam este e outros comportamentos agressivos dela para comigo e foram até colegas na sala que vieram me falar que a professora era cruel e devia fazer queixa dela.
Infelizmente não fiz.
Mas a razão maior para este meu actual comportamento/defeito é outra. Vem da família. No seio familiar todos falavam por cima uns dos outros. E poucos sabiam escutar. Às tantas, para me fazer ouvir, comecei a fazer o mesmo. Até mesmo para terminar um raciocínio, por vezes era forçada a "passar" por cima de quem mo interrompia. Acabei por ABSORVER o defeito que me era forçado.
Esse é o principal motivo mas existe outro, que também contribui para que este defeito dificilmente seja erradicado. E o considero mais perigoso que todos os outros, porque está por toda a sociedade e passa despercebido, mas influencia todos, diariamente. É o ritmo de vida que levamos.
Um ritmo acelerado, imposto pelo contributo das tecnologias. Uma conversa, nos "antigamentes", era tida com tempo. Um «compadre» falava com outro, oferecia uma bebida, uns aperitivos, ou então caminhavam do emprego até casa mantendo uma conversa. E se a conversa ainda tivesse pernas para andar quando o destino já fosse atingido, dava-se tempo para que fosse finalizada.
Hoje em dia isso não acontece. Tudo é muito rápido.
Não se perde tempo em conversas. Ora porque se está a enviar uma mensagem pelo telemóvel ao namorado, ora porque tem de se correr para o autocarro que está quase a passar, ora porque, já no autocarro, está a chegar-se ao destino.
O que isto impõe na forma como sociabilizamos é uma alteração na forma de conversar. Tudo tem de ser rápido. Manter uma conversa tranquila, sem pressas, é cada vez mais raro. Porque as conversas são mantidas nos curtos intervalos em que as pessoas têm tempo para sociabilizar.
Ora nos 15 minutos de intervalo na sala de refeitório (onde muitas vezes ocupa-se o tempo com as tecnologias, enviando mensagens ou escutando música), ora nos cinco minutos que leva a caminhar da empresa até à paragem de autocarro.
Se tens um raciocínio o que acontece?
Ou és versátil nas "novas tecnologias" e aprendes a abreviar conversas como se abreviam palavras por texto escrito, ou começas a falar depressa para poder contar uma história até o final, antes que "o tempo acabe".
Ou és versátil nas "novas tecnologias" e aprendes a abreviar conversas como se abreviam palavras por texto escrito, ou começas a falar depressa para poder contar uma história até o final, antes que "o tempo acabe".
E pronto. É isto.
Achei importante fazer um post sobre algo incorrecto de minha parte.
Porque afinal, os defeitos não estão sempre nos outros, nós também os temos.
E este é um meu.
Não me orgulho dele.
Noutra nota similar, um outro "defeito" é, por vezes, o lado "negativista" dominar mais o dia. Este é uma característica grave, porque, se deixar, pode me conduzir a caminhos depressivos.
Ontem estava com receio do que podia ser a "conversa" que a superiora queria ter comigo. Razões para temer um contacto com ela não faltavam- como especifiquei. Mas rezei ao meu anjo da guarda para que me protegesse e me mantivesse longe de problemas. Não sei se por essa razão ou não, quando cheguei ao emprego, não escutei as habituais reprimendas por isto ou aquilo (caligrafia pouco legível, mais panfletos, cartaz pais para dentro e para a esquerda, nota emendada, etc, etc). Recebi um prémio por ter ficado entre os primeiros três lugares numa competição de vendas que nem sabia que estava a decorrer. Ah, afinal não sou tão má assim no meu trabalho - pensei.
Já hoje, por não estar à espera, provavelmente é quando vai "cair" em cima algo desagradável.
Mas como comentou e muito bem o Pedro Coimbra, do blogue Devaneios a Oriente, há dias bons e maus. Temos de os viver todos. Posso sempre recorrer à fé e às energias positivas para afastar as contrárias.
Quem acredita?
Quem acredita?
Curiosamente, também detesto esse tique que algumas pessoas têm. Vá, mas tu reconheces.
ResponderEliminarFalar por cima dos outros pode ser mau quando o "alvo" for uma pessoa tímida. É que assim, a pessoa já não é de falar muito e acaba por achar que o pouco que é dito não tem valor e acaba por retrair-se cada vez mais. Não é um habito dos piores que existe e pode ser facilmente corrigido se tiveres mais paciência.
ResponderEliminarO meu, é certo e sabido que é a preguiça e pelos vistos é cronico ahahah
A fé e o pensamento positivo podem ajudar sim. Pelo menos sempre é melhor que pensar negativo porque isso é que não ajuda em nada.
O engraçado em mim é que também sou o oposto. Por vezes escuto tudo e pouco opino. Mas numa situação normal, quando a pessoa faz pausa o termina de falar aquela frase (mas talvez venha com outra) eu estou a complementar ou a adivinhar o que se segue.
EliminarPreciso de pensamento positivo e fé neste momento. Recebi uma notícia pouco entusiasmante. Nada grave, mas algo que incomoda, desgasta.
O interessante nisto é que também posso ter pressentido esta energia chegar. Tendo em conta os sinais...
pessimistas que me ocorrem em certas alturas.
Premonição ou apenas pessimismo?
Pensar positivo deve ajudar muito. À medida que vou envelhecendo tento enveredar por essa via mais vezes.
Abraços