sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Falta de empatia


As aranhas voltaram a fazer-me das suas.
Há dois dias avistei, pelo canto do olho, algo a mexer e quando pus os olhos em cima da carpete, lá estava ela, grande, cheia de pernas! A atravessar o quarto em direcção à cama.



Consegui esborrachá-la mas a malandra ainda lutou pela sobrevivência e, com menos uma perna, tentou fugir. Implorei para que fosse um golpe de misericórdia pois, a pesar de tudo, não me agrada matá-las e, a ter de fazê-lo, não quero que seja demorado.

Hoje por volta das três da manhã, a cena voltou a repetir-se. No mesmo local, o mesmo tipo e tamanho de aranha!

Já não gostei. É uma frequência demasiado grande e não acredito muito em coincidências. Comecei a pensar que certamente existe uma razão para elas aparecerem mais vezes. E claro que atribuo essa possibilidade a alguns hábitos que se praticam na casa. 

Aqui deixam-se as janelas abertas durante a noite. E as luzes do corredor, que iluminam essas janelas, também acesas. As portas dos cómodos em comum não são fechadas, pelo que qualquer inseto ou praga no exterior tem uma espécie de "farol" a guiá-lo para o interior.

Quando o colega esteve de férias, por casualidade de uma grande ventania, começou-se a fechar as portas e, ocasionalmente, as janelas. E não é que tudo melhorou?

Não apareceram mais insectos ou aracnídeos, pelo menos no piso de cima. 
No piso de baixo, por dificuldade em chegar às pequenas janelas superiores que o colega abriu sabe-se lá como, acaba-se por as deixar abertas 24h por dia. Mas essas portas - a da cozinha e a da sala, ocasionalmente são fechadas.

Por exemplo, quando a penúltima colega fez da mesa e cadeira da sala um estendal de roupa durante quatro semanas, começou a fechar a porta para deixar mais "oculto" toda a desarrumação. 


Acontece que, em ambas as ocasiões, quando elas me apareceram dentro do quarto, tinha acabado de ir ao WC onde também vi outras de tamanho considerável mas menores, e as esborrachei. Desde que cá estou a morar tenho visto sempre aranhas nesta casa. Por vezes ignoro-as, a maioria das vezes, tento escorraçá-las ou eliminá-las. Depende. Mas quando dentro do meu quarto e de noite, enormes que são, não consigo simplesmente "ignorar". Pois se adormeço sei lá o que elas decidem fazer... 
De dia vejo-as, estou ativa, se uma se aproximar provavelmente dou conta. Mas de noite quero é entrar no sono... Não quero preocupar-me com o ter uma ou duas a rastejar-me pelas pernas acima ou a passear no meu rosto e cabelo.

Aliás, o primeiro «contacto em primeiro grau» que tive com uma aranha nesta casa, foi precisamente durante a noite, luz apagada, computador aceso. Mexia na cabeça quando dei conta, graças à luz do aparelho, tinha uma pequena aranha pendurada no cabelo. Esta acabou por cair em cima do portátil e enfiar-se dentro do teclado. Aí é que não dormi em condições, pois a sabia viva, capaz de escapar do seu esconderijo de volta para o meu corpo ou então procriar centenas de outras aranhas dentro do aparelho eletrónico!

Aqui nesta casa, quando partilho as minhas preocupações com as aranhas - o que até agora só fiz realmente duas vezes num espaço pouco maior que três meses, brincaram com a situação. 

E foi assim que ainda há instantes, numa rara ocasião em que vi a penúltima colega a aspirar o quarto dela que fica ao lado do meu - quarto esse no qual ela mantem a luz do teto acesa durante toda a noite, até amanhecer e deixa a janela aberta -  pedi-lhe que "aspirasse" a aranha esborrachada durante a madrugada. Pois eu já não tive coragem de abrir a porta do quarto e sair para o corredor, onde poderia encontrar mais aranhas. Nem a apanhar com papel higiénico e atirá-la na sanita, pois é onde poderia encontrar mais aranhas. Mas acima desses motivos, não saí do quarto por causa dos outros que estavam nos seus. Não quis incomodar ninguém. Caso visse outras aranhas e estivesse sozinha em casa, tudo bem. Podia fazer barulho na tentativa de "caça" às mesmas e até dar uns «gritinhos» mais altos. Mas havendo outras pessoas em casa, procuro ser atenciosa. 

O que fiz, estando assustada com a experiência e já amedrontada que se volte a repetir esta noite, foi escrever um email a todos os colegas dizendo o que aconteceu, re-admitindo que tinha um pouco de fobia a insectos durante a noite e que por esse motivo, ao escurecer ia passar a fechar as janelas das casas-de-banho.

Não esperava grande feedback mas quando pedi à penúltima para «sugar» com o aspirador a aranha, ela fez pouco caso. 
-"Ah, a aranha" - disse um pouco em tom de desdém já a dar-me a entender que tinha lido o email escrito fazia umas quatro horas antes. Depois acrescentou: 
- "Eu nunca encontrei uma aranha no meu quarto".

Pois claro que não. Naquele quarto em que só hoje vi a cor da carpete, onde mantém tudo apilhado, ela dificilmente encontra o sapato que dá com o outro sapato. Alguma vez ia reparar numa aranha? Nela os bichos podiam fazer habitat...

Mas subitamente senti-me triste. Pela falta de empatia.

A solidão que nos faz sentir errados e excluídos

Percebi o quanto é grave. Seja pelo medo de aranhas ou por outra coisa qualquer. Eu procuro não cair nessas mesmas armadilhas... mas fiquei a pensar que o Karma é lixado. Se eu tenho esta «fobia» a insectos durante a noite, certamente que outros terão outras paranóias. Não é porque não têm esta que estão imunes. Por isso não deviam fazer troça ou pouco caso de quem as tem. Porque mais tarde ou mais cedo, também eles serão confrontados com alguma espécie de "fobia". Todos temos alguma coisa... 

A colega com quem mais falava deixou a casa ontem. Já cá está outro. Quando ela leu o meu email sobre os insectos, contou-me que se riu com a resposta do colega masculino (que me aconselhou a apanhar as aranhas e a libertá-las no jardim das traseiras). E contou-me que tinha um amigo que não podia ver aranhas, que se visse uma fugia e não aparecia mais. Na altura aquelas palavras caíram-me bem mas hoje percebi que, com essa história, ela tratou-me com normalidade e até me fez sentir uma pessoa acima da média, pois eu não desato a correr das aranhas. Por muito que me custe, tento lidar com elas sem ir chamar terceiros. Mesmo não gostando.

Até conheci esse seu amigo com medo de aranhas, pois ele passou cá uma noite. 

A aranha foi a principal inspiração para o monstro ficcional
no filme Alien

O problema é que as pessoas cosmopolitas deixaram de temer estes insectos e rastejantes, preferindo ignorar e o seu poder como parasitas. Depositam demasiada fé na medicina e confiam demais na inofensividade dos referidos. Como não vivem no Brasil, ou em África, onde simlpes mosquitos continuam a ser a principal causa de propagação de doenças que causam muitas fatalidades, gozam e menosprezam o poder assassino que todos têm. 

Por estas bandas pode até ser raro um insecto causar grande devastação. Mas não é impossível. Uma simples googlada na net e já se percebe que uma aranha pode causar alergias de pele, problemas de saúde, pode até alojar-se no ouvido humano sendo que o hospedeiro só tem como sintoma uma dor de cabeça... enfim. Eu não quero dar a mínima hipótese de me tornar hospedeiro de nada. Esquecem que os insectos e os parasitas SÃO aqueles que vão aparecer para te devorar no segundo em que virares cadáver. Os insectos podem ser minúsculos, mas não são brincadeira...



2 comentários:

  1. Nunca vi uma dessas aranhas grandes e pretas mas se visse desatava a fugir... ou se não tivesse ninguém em casa, armava-me em valente e tentava dar umas vassouradas nelas. As aranhas tal como as baratas, propagam-se de uma forma impressionante e quando vemos alguma temos de dar cabo dela.

    Quando uma pessoa vive só, ganha coragem que nunca tinha tido antes porque sabe que não pode contar com ninguém para salva-la e aprende a enfrentar os medos (das baratas, aranhas e companhia).
    Bom fim de semana
    Kiss

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    Respostas
    1. Ana, a barata É o bicho.
      Essa eu não aguento!
      Aparentemente não existem por aqui (ou assim espero).

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