sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Os medos


Quando somos jovens não há muito que nos preocupe. Pensamos que os nossos problemas são incontornáveis, complicados e decerto pesam como se fossem do tamanho de asteróides maiores que a Terra. 
Mas depois cresce-se um pouco mais e os problemas deixam de ser papões. Os que tínhamos parecem brincadeiras de crianças e os novos parecem estraçalhar por dentro. 

Ah, risquem isso.
Só quero reflectir no seguinte:

Quando era adolescente não tinha qualquer medo da morte. Teorizava que iria ter, mais à frente, quando envelhecesse, medo do sofrimento. Medo de mal poder andar, medo de ficar paralizada, de depender de outros para viver. E ainda tenho esse receio a respeito do sofrimento físico, orgânico.

Mas agora tenho outro. Receio o envelhecimento. Algo que não me preocupava nada de nada. Porque achava que ia chegar numa idade apropriada, lá para os 60. Mas comecei a perceber (e a tentar negar) que o pezinho já ela colocou na entrada da porta. Agora vai introduzir-se aos poucos e entrar de vez. Do meu ponto de vista, chegou precocemente. Acho injusto, acho impossível, «não pode»... e tal.... Como posso estar a entrar no envelhecimento se ainda nem vivi os meus 20? Os meus 30? E tudo o que ainda não aconteceu?

"Tens tempo! Tens muito tempo!" - palavras que me foram repetidas exaustivamente cada vez que sonhava e me encontrava a explodir de energia e vontade para realizar coisas o quanto antes. A juventude tem isto de belo. Esta vontade quase imortal de se sentir capaz, de ir destemidamente à luta. Faço parte da geração que ficou a estudar até tarde e adiou as suas vontades por "Tens tempo. És jovem. Tens muita vida pela frente".

Devia ter escutado o meu instinto e nada mais que ele. Se tivesse, hoje seria uma pessoa realizada como se tivesse vivido cinco vidas numa só. Assim, sou uma pessoa que vivo uma vida que não sabe nem a meia...

Bom, mas tanto blá, blá, blá para dizer que hoje encontrei uma senhora idosa, toda curvada pela idade, com grande dificuldade em se fazer entender pois não pronunciava uma palavra perceptível. E ela tentou falar comigo. E eu tentei escutar. Falou do pai, da mãe, da irmã, isso eu percebi. Mas estranhei. "Quero o meu pai" não é algo que se espera que uma mulher idosa dos seus 80 anos diga numa conversa. Mas ela falava sim, da sua família. Não a que provavelmente tem agora, mas de toda a que perdeu. Ela estava com medo. Medo de morrer.


3 comentários:

  1. Acho que o que me assusta não é a morte em si, pois essa é inevitável. É mais a forma como poderei morrer. Espero que seja de forma pacífica

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  2. A mim assusta-me o envelhecimento... O perder as capacidades... Isso assusta mesmo :(

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  3. Toca a seguir os teus instintos então (os bons, hã?)! Uma pequena mudança de cada vez e bola para a frente! A mim não me preocupa o envelhecimento, pelo menos o meu.

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