POR DETRÁS DA VIDA DE UMA MÚSICA
Quando ouvi esta música que volta e meia passava na rádio, não sabia que o cantor era o Patrick Swayze, um ator que começou nas artes como bailarino, sendo filho de bailarina, e também havia sido jogador de futebol americano no liceu, até uma lesão no joelho terminar com os seus sonhos de se tornar profissional. Fiquei um pouco surpresa, porque não diria que a voz era destreinada, não achei tão mal quanto costuma ser o caso de atores que se põem a cantar. Porque será que ele não gravou mais canções?
O filme ao qual a música pertence chama-se Dirty Dancing. A fama da película tinha chegado muito antes do filme passar na televisão. Assim como todo o delírio juvenil feminino em torno do "garanhão" Swayze. Contudo, quando o vi, não achei nem um nem outro nada de especial.
Swayze conhecia como ator de uma das minhas séries de TV favoritas: Norte e Sul. A sua personagem sulista inesquecível, o sofrimento naquele olhar de alma atormentada era um charme.
Nesta série, depois da guerra americana da sucessão, depois de ter regressado aleijado na perna, mas principalmente, depois de ter perdido o amor de Madelaine, Orry Maine (personagem de Sawyze) isola-se de todos, ficando dependente da bebida e algo violento. É a mãe, a actriz Jean Simmons, intérprete de filmes como o primeiro "Lagoa Azul" e "O Egípcio" que o tenta trazer à razão, pois percebe que o filho vai beber até morrer.
Na vida real, tanto Sawyze quanto Simmons conheciam bem a dependência do álcool.
Ambos haviam sofrido de alcoolismo antes de chegarem a estas personagens. O Orry Maine alcóolatra era assustador. Não tinha nada parecido com o lado romântico da personagem. Ficava igual ao seu antagonista, o terrível Justin, vivido brilhantemente por David Carradine.
Patrick Sawyze além de ser um artista multi-interessado (foi ele que compôs esta música junto com Stacy Widelitz) era também uma alma multi-atormentada. Cheia de "demónios". Volta e meia, a bebida era um deles.
Também era um fumador compulsivo. Mal apagava um cigarro, acendia outro. Nem depois de diagnosticado com cancro no pâncreas parou com os seus vícios, embora também isso tenha procurado ocultar. Para o final, criava cavalos no seu rancho, onde vivia com a mulher pela qual se apaixonou à primeira vista aos 18 anos, na sala de ballet da escola da sua mãe. Nunca tiveram filhos. Dizia que tinha medo de olhar para si próprio e descobrir o que havia lá dentro.
Suspeito que temia ser "sensível" demais, ou melhor, ser gay ou bi, ou mesmo ter uma natureza agressiva e destruidora. Tinha sede por variedade e sede por estabilidade. A sua semelhança de rapaz nascido e criado no Texas com o sulista esclavagista Orry Maine não era tão distante assim.
O ator morreu aos 57 anos, a mesma idade com que o pai havia falecido anos antes. Essa perda que ele achou prematura e foi inesperada, levou-o ao consumo abusivo de bebida. Desconheço se também lidou com drogas mas o mais certo é que sim. Era uma alma inclinada a experimentar de tudo. Na arte e no veneno. \Tudo o que ele fazia, tudo o que o inspirava, ele creditava na esposa. Inclusive esta música, que compôs a pensar nela.
A OUTRA VOZ
A outra intérprete desta canção chama-se Wendy Fraser. Ao escutar a música fiquei a pensar porquê a sua potente voz só é escutada quase para o final. Como que um complemento que, contudo, cai bem. Googlei e a wikipédia contou-me a fascinante história desta compositora. Nascida na Tanzania, havia sido jogadora de hóquei, foi também atleta olímpica em 88 e 1992, e "virou-se" para a composição de temas musicais. Tem preferência por jazz. Lançou uma álbum em 1997 e o que fez desde então, desconheço. Ainda é viva e provavelmente, canta.
O que acho fascinante são as histórias de vida destas pessoas. Não parecem pertencer a uma vida só, mas a de muitas. Suspeito que é suposto todas as vidas serem vividas assim.
Desconhecia essa faceta de cantor do Swayze :o
ResponderEliminarQual faceta p?
EliminarA de cantor, já que ele era mais ator ou a de viciado?
O ter sido bailarino ou jogador de futebol?
São tantas.
Todas as vidas são compostas por fases, mais ou menos marcantes ou intensas conforme nós decidimos ou a vida decide por nós...
ResponderEliminarExiste essa noção de que temos livre arbítrio e de que, derradeiramente, somos nós que escolhemos.
EliminarSabes? Tenho aprendido que esta história de livre arbítrio e escolhas não são bem como apregoam. Claro, temos sempre responsabilidade. A qualquer instante pode-se sempre mandar para o "ar" tudo e tentar tudo do zero. Mas até que ponto a escolha foi somente nossa? I don't know.