quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Músicos de Rua

 As pessoas gostam de dar moedas a maus cantores de rua. Uma vez passei por uma rapariga a cantar e a tocar guitarra em simultaneo e a voz dela era espetacular! Cantava muito bem e imaginei-a, facilmente, a cantar num estadio com uma multidão eufórica a assistir. Porquê ninguém parou para ouvir nem me intrigou tanto quanto foi avistar que nao tinha nenhum dinheiro dentro da valise instrumental deixada aberta no chão.

A minha vontade quando por ela passei e a escutei foi elogiá-la e deixar uma gratificação de apreço. Mas nesta época em que já não se usa dinheiro, não tinha nada para lhe entregar. Quis muito dizer-lhe o quanto cantava bem. Mas nao consigo deixar de ser tímida e fruto de uma criação citadina que impõe uma certa restrinção públicas de emoções ou interações com estranhos. 

Nunca mais a vi. No seu semblante pareceu-me que também ela estava a pensar que estava a cantar para um bando de gente que nao sabe dar valor a verdadeiro talento. Se aparecesse num programa de TV do estilo idolos, aquelas mesmas pessoas que ali nao a apreciaram estariam a gastar todo o dinheiro poupado em bilhetes de concerto. De graça, não souberam apreciar.

No seu lugar costuma estar uma senhora mais idosa que canta tão mas tão mal e desafinada, fora de tom, que as palavras que pronuncia sao imperceptíveis, saem como um grito miado. Mesmo que a melodia que sai da box eletrica seja muito popular e reconhecida ela a assassina. Custa-me ouvir e sempre me apresso a entrar rapidamente na loja onde ela se encosta para "ganhar a vida". O "recepiente" dela está sempre cheio de moedas. 

Por isso concluo que as pessoas não sabem valorozar talento a menos que lhea seja dito por outro alguém. E se lhes cobrarem muito dinheiro.


 largar teocos dentro dos cantores de.musixa que cantam mal  

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Não gosto de me deparar com desconhecidos a viver na casa

Porque será que este conceito parece ser difícil de se entender? Qual o vosso parecer?


Vivo numa casa partilhada com outras pessoas - como bem sabe quem me acompanha. Somos todos adultos solteiros com algumas décadas de distância desde a adolescência. Naturalmente espero certos comportamentos mais ligados a esta fase da vida. 

Neste preciso momento pode estar uma rapariga no quarto do rapaz cá de cima. Não seria a primeira vez. Ele está ausente a trabalhar, ela espera por ele no quarto. Não dá ares da sua graça - quando uma vez deu,  apanhei-a no corredor, cumprimentei-a, ao que ela limitou-se a escapulir, enquanto usava o recurso mais comum dos estrategas: o telemóvel. Fingir estar "indisponível" ao telemóvel ou a escutar música é um estratagema básico, para  não se dar justificações. Isso e ignorar a presença de quem mora na casa, como se ao desconhecido faltasse a capacidade de audição e visão. 

Este tipo de comportamento deixa-me bastante desconfortável. Estraga-me o dia, impede-me de me sentir bem dentro da própria casa. Isto não é um hostel. Mesmo em hosteis cumprem-se regras básicas de boa educação e convivência social: um "olá, um bom dia". A aparente ausência desta noção é algo que me incomoda. Está um desconhecido visivelmente a viver dentro da casa que pago para morar, de pijama e chinelos, e nada me é dito? Um aviso antecipado seria de bom tom e ia impedir o choque e a surpresa. Isso já é FALHA de quem cá vive o traz pessoas para cá. Mas quem chega não dar um cumprimento a quem vive... é que azeda tudo. É preocupante. Faz-me temer que sejam pessoas que se acham no direito disso e coisa pior. 

 Muito talvez devido às experiências tidas na casa anterior. Onde "visitas" não me olhavam nos olhos, não me cumprimentavam, ignoravam-me, enquanto todos os dias usufruíam bem mais da casa do que eu mesma. Cozinhando todas as refeições, lavando a roupa constantemente, usando o estendal, vendo televisão... E nem um "bom dia".  Eu era tão maltratada ali que até induziam os convidados ocasionais a perpetuar este género de comportamentos. 

Quando se passa por experiências horríveis como as que passei, de nada nos serve se delas não tirarmos uma aprendizagem. Sendo a principal não permitir que se voltem a repetir. 

A RAPARIGA DO ANDAR DE BAIXO: 

A rapariga do andar de baixo, com quem me dava bem, casou. Comunicou-me por mensagem que o tinha feito, com um rapaz que conheceu um mês antes. Tinha casado em Londres, onde ele morava e trabalhava, cinco dias antes. Disse que iam viver uns dias com ela lá e outros com ele cá, até encontrarem uma casa. Tudo bem. - pensei. Só que não foi. 

Nessa mesma noite, ao mesmo tempo que estava a enviar-me mensagens, já o homem estava com ela no quarto. Podia tê-lo mencionado de imediato. "Casei-me e ele está aqui. É só para te avisar". Mas ocultou-o. Deu a entender que eventualmente ele ia aparecer no final da semana. Como recém casada devia estar a enviar mensagens era ao marido, não a mim - foi o que às tantas estranhei. Trocar-mensagens por tanto tempo não fazia bem o género dela. Mas a suspeita maior foi quando, surpresa pelo comunicado, lhe respondi que aquele assunto era demasiado sério para ser falado por mensagem e ia descer lá abaixo para conversarmos, uma vez que tinha escutado a M. a sair. 


Ela logo me enviou mensagens atrás de mensagens a dizer, "Não, por favor!". "Não venhas!" E depois foi um desenrolar de desculpas para me induzir a não lhe bater à porta. A primeira foi escolhida a dedo pelo seu grau de eficácia: afirmou que a M. encontrava-se lá em baixo. Ela sabe que, a ser verdade, eu optaria por continuar a falar por texto. Mas, ingénua, ainda lhe respondi que não, que a tinha escutado a sair de casa. A resposta dela foi rápida: Não, por favor! Mas ela volta. Eu não a quero ver! ". Percebi que existiam dois "por favor" nas suas mensagens e soube de imediato que ia respeitar esse seu pedido. Se me pedia para não ir, não iria. Mas que o impedimento não fosse a presença da M. - pois ela estava ausente. E foi isso que quis explicar-lhe. Porém, percebi que ela não queria por algum motivo e estava a arranjar desculpas. Nunca foi de temer a M. e nesse sentido a mensagem dela soou a falso. Não se encaixava no que dizia e fazia. Porém, achei que devia ser por não desejar ter a felicidade que sentia naquele instante "manchada" pelas posturas desagradáveis da M. Se fosse eu a sentir-me feliz, também não ia querer a M. por perto. Ela SUGA o positivismo e felicidade de qualquer um, deixando fel no seu lugar. 

Porém, antes que pudesse sossegar-lhe, ela arranjou outra desculpa: "Tenho de limpar o meu quarto". Estranhei, porque não me imaginei a falar com ela dentro do seu quarto. Sempre respeitamos o espaço uma da outra e só falávamos na cozinha. Acabei por lhe responder por mensagem de voz, tal era a quantidade de factos que ele trouxe à baila que eu pretendia lhe esclarecer.

Mostrei-me contente por ela, pela sua decisão. Não a condenei, como fazem muitos ocidentais que têm uma cultura onde é mais comum uma união entre pessoas apaixonadas. Ela mal conhecia o homem. Mas está com 38 anos, quer ser mãe e ele pareceu-lhe carinhoso com ela. Como mulçumana, o conceito de união matrimonial por conveniência, com um desconhecido, só porque "parece um bom candidato" não é de todo incomum. E, na minha modesta opinião, também não o foi para muitos dos nossos parentes mais chegados: pais e avós. Até a poucas gerações, pelo menos, ainda era muito comum serem os pais a "arranjar" os respectivos companheiros para os filhos ou então, também estes escolhiam com base em critérios de afinidade, mas não paixão.   

Como criatura educada na "caldeirada" romancista da Disney e Hollywood - a do amor e paixão - para mim, em particular, só faz sentido assim. Com toda a emoção. Mas, se for prática e coerente, sem as hormonas a dar palpites, vejo perfeitamente que outras opções também têm possibilidade de sucesso. Cada qual é fruto do seu elemento e eu já nasci na geração que precisa de sentir o estimulo intelectual a mexer com as hormonas e a acender tudo... Embora seja um sentimento de euforia e êxtase fantástico, pode não ser o mais conveniente.

Adiante. Acontece que o "marido" acabou por ficar a morar aqui nesta casa. Sem nada nos ser comunicado. Ora, como podia ela estar constantemente a perguntar a minha disponibilidade para ir jantar com ela e o marido, numa de nos apresentar e celebrar o casamento - dando a entender que me incluía a mim e ao rapaz cá de casa nesse seu momento feliz, e depois mete o marido cá dentro sem nada comunicar e têm os comportamentos que mencionei acima?

Da primeira vez - logo na tarde seguinte, ainda os desculpei. Afinal, uma omissãozinha... da parte dela. E um comportamento antipático da parte dele - pois avistei-o à entrada da cozinha e perguntei-lhe o nome. Não me respondeu quem era. Passados uns segundos, está ele a abrir a porta da rua com toda a calma do mundo, como se fosse NATURAL um desconhecido estar a trancar uma porta dentro da casa onde moro e sair por outra - volto a perguntar-lhe o nome. Desta vez responde: "Hussain". E fecha a porta. Fico uns instantes ali parada, a tentar imaginar se seria um parente que veio para assistir ao casamento e teve de "abancar" por ali por uma noite ou se era o marido - que ela "esqueceu" de mencionar que estava cá em casa.  

Depois quando a vi, ela começou a rir, disse-me que ele lhe tinha contado que eu lhe havia perguntado o nome. Isso dissipou-me uma hipótese que havia conjecturado para dar a ele o benefício da dúvida: que ela lhe tinha falado da M. Tinha-o avisado de como o melhor é IGNORÁ-LA e nem lhe responder. Ele podia ter achado que eu era ela, isso justificaria aquela postura seca, fria, de ignorar uma pessoa que está a dirigir-se a ti. Quando ela me respondeu que ele lhe tinha contado que tinha sido eu, soube que aquela possibilidade não se encaixava. Ele sabia muito bem que eu era a rapariga com quem a esposa se dava bem. Então não me confundiu com a outra moradora. Ela voltou a perguntar-me quando estava disponível para ir ao seu jantar de casamento e acabei por lhe dizer que, a pesar do marido dela me ter ignorado quando o abordei, que o achei calmo e até me passou uma boa impressão. Ela respondeu-me que ele trabalhava como chef - e aí foi quando lhe acrescentei: Bom, então não deve ser assim tão calmo, sabe parecer mas por dentro pode não estar. Ao que ela confirmou, pois disse ter reparado que, um dia depois do trabalho, parecia irritado. 

Sabia que toda aquela conversa ia ser partilhada com o agora marido e pensei que tudo ia ficar bem. No dia seguinte ou algo assim, estou a sair da cozinha e oiço alguém vir atrás de mim. Quando olho para trás, achando que ia ver o meu colega, vejo um desconhecido, de T-shirt e calções. Deduzo que era o barbudo que avistara antes, com gorro na cabeça e todo vestido de preto. E aguardo um cumprimento. Um cumprimento de uma pessoa que não é suposto estar ali, que acabou de entrar numa divisão onde me encontro. NADA. Total silêncio. Um postura de indiferença, casualidade, normalidade. Tudo muda nesse instante. Ora, se não sabe ser bem educado com uma pessoa a quem a tua esposa está a querer saber quando está disponível para ir ao jantar de casamento - quem és tu afinal? Sinto agora que aquela pessoa se acha no direito de estar ali, demonstra uma postura de usurpador. Subo as escadas, super desconfortável com aquele comportamento, com a presença dele. Ao chegar ao quarto já estou a conjecturar que, dali a um piscar de olhos ele ia estar sem emprego e a morar nesta casa de malas e bagagens, sendo sustentado pela esposa. 

Os olhos piscaram e é o que acontece. Sem nada ter sido comunicado. Sinto-me gradualmente mais desconfortável. Não consigo mais ter uma manhã sozinha em casa. Algo raro de acontecer mas que, agora que a M. sai regularmente de segunda a sexta para ir sabe-se lá onde e fazer o quê - a atmosfera ficou mais leve. Até tinha recomeçado a cozinhar. E surge ele. Sempre aqui, a andar de um lado para o outro, a conversar alto ao telemóvel... e a passar por mim e pelos outros que cá vivem sem cumprimentar. Usando os recursos da casa: a máquina de lavar roupa, o microondas, o chuveiro, a sanita e a usar o wifi que quebra no meu quarto cada vez que é muito usado. Sem sequer dizer um "obrigado". Inconveniente e ingrato. 

Ou sou eu que tenho uma educação desactualizada? 

Já não se é suposto agradecer quem nos acolhe? Já não é preciso dizer os "bons dias"?

HOJE ACONTECEU...

Hoje oiço ruídos estranhos lá em baixo. Sabem, os ruídos têm impressão digital... Soam estranhos aos ouvidos quando emitidos por alguém que não é de casa. A rapariga do andar de baixo, mais o marido, saíram de vez a semana passada. Pela calada. Fui trabalhar e quando voltei, já cá não estavam. Mas não dei por nada, foi o rapaz do andar de cima que me contou. 

Ela saiu e nem se despediu. Não que me surpreenda - porque agora casou e é natural que adopte os comportamentos do esposo. Afinal, só nós, ocidentais, é que verbalizamos muito claramente o nosso descontentamento com a atitude do cônjugue, caso isso se justifique, ainda que o amemos muito. Embora muitos também as desculpem, por terem bom coração e não verem maldade. Ela já estava meio seca comigo. Percebi que estava a ter uma postura semelhante àquela com que trata a M. e achei, nesse instante, que isso era um problema dela. Não ia deixar-me afetar, apenas lamentaria se assim fosse. 

Sempre falámos e bem. Que agora estivesse com "pressa" de se afastar rapidamente e fosse monossilábica, sem sequer me olhar na cara - era uma escolha DELA. A mim conhece-me há 12 meses. A ele, dois. Mas ele é o marido. É com aquela pessoa que ela quer começar uma vida nova para ela, criar família - embora ele já tenha tido uma que gerou filhos. Entendo e apoio a sua decisão. Penso até que está certa: tem de se concentrar nos planos que está a fazer, não nas pessoas desta casa que vai deixar para trás e nunca mais vão fazer parte da sua vida. Contudo, não achei a sua mudança de  comportamento correta. "As acções ficam para quem as pratica". 

Hoje, ao ouvir os barulhos, desço à cozinha. Fico ali até perceber quem os estava a produzir. Claramente alguém estava no quarto vagado pelo casal. Podia ser, novamente, a pessoa da agência que nos aluga a casa, a verificar o estado do quarto e a tirar fotografias. Ou até, podia já ser, um novo inquilino ou alguém que tivesse vindo ver o quarto. Fosse o que fosse, em nenhuma das hipóteses somos avisados. Então fiquei para ver quem seria, convencida que era o marido dela! Pareceu-me escutar uma voz masculina. Passado muito tempo, ela sai do quarto e entra na cozinha, onde estou. Está a três passos de mim. Só lhe percebo o vulto. Entra claramente como se não estivesse ninguém ali dentro. Traz um aspirador e mete-o no lugar. Depois volta ao quarto, sai e vai ao caixote, volta ao quarto... Eu largo o que estava a fazer e subo para o meu. Não precisava de mais confirmação alguma. Se fiquei com a impressão de que ela estava a agir comigo de forma diferente, depois saiu de casa sem se despedir e ao regressar, finge que não me vê, não preciso de confirmar mais nada. Subi ao meu quarto deixando-a para trás e, ao entrar , digo: "Ser-se rude deve ser algo contagioso. Ele é rude, agora ela também é"

E cá está: ao casar-se, mudou logo... Não recrimino porque percebo que quer o foco todo no casamento. No passo que deu. Não tanto por querer ter um parceiro - mas porque na sua religião fica mal uma mulher não ter marido - é uma "largada". E porque quer ser mãe. Ao mesmo tempo, quer ser uma profissional e fazer carreira. Admiro isso e desejo-lhe sorte. Acho que fez bem e foi corajosa. Mas isso não apaga o comportamento que os dois demonstraram depois de se casarem. Ninguém os tratou mal, pelo contrário. Foram acolhidos sem repreensões. Por isso só lhes teria ficado bem serem amistosos. 

O EXEMPLO DA PRIMEIRA CASA:

Na primeira casa onde morei, quando perdi meu emprego, sem ter outro à vista mas já com entrevistas marcadas, fui um mês para Portugal fazer um curso. Nessa altura um amigo de um colega de casa tinha-se mudado para o Reino Unido à procura de emprego. Precisava de encontrar um e de ter um lugar para morar, de ter uma conta bancária... 

Na casa que EU partilhava com outros três morava o I., um homem ruim, autoritário, que era o "dono" daquilo por viver ali há 13 anos, eu, o colega (que trouxe o amigo) de quem I. não gostava nada e uma outra rapariga. I concordou em deixar o rapaz morar ali por uns 15 dias, dormindo no sofá, mas depois queria que saísse. Até mostrou gostar muito dele. Parecia desejar encontrar afinidades artísticas e conquistar a sua simpatia. Ficava horas a conversar com ele se pudesse. Só que a situação não estava fácil. Sem emprego ao final de duas semanas e já com o I a dizer-lhe para sair, estava a pensar desistir, principalmente por não conseguir alugar um quarto. Ninguém o alugava sem antes ter um contrato de emprego. E para ter conta bancária, é preciso um endereço fixo e um contrato de emprego. Além disso, é necessário um número fiscal. "Pescadinha de rabo na boca", com que todos nós nos deparamos ao mudar para o Reino Unido. 

Como ia ausentar-me e estava desempregada, sugeri que ele podia ficar UM MES a viver no meu quarto. Ora ao invés de pagar uma renda noutro lugar, pagava ali, que era barata, ou pagava metade dela ou mesmo nada. Podia ficar DESCANSADO, com quatro semanas para se concentrar em encontrar emprego. A reacção de I a essa eventualidade foi de recusa total. Mesmo simpatizando com o rapaz, o que lhe fez espécie foi eu não ter de pagar renda nesse mês. O que muito me ajudaria a mim e muito ajudaria o rapaz. Mas I., ao escutar isto, preferiu ter o quarto vazio, comigo a pagar por ele, do que deixar o rapaz com quem simpatizava e já morava ali de favor, ficar mais confortável e de mente sossegada. ALUDIU que "alguém" podia denunciar o caso às autoridades, porque não era permitido viver na casa outros que não aqueles cujos nomes surgiam no contrato. Frisou que era ilegal. Desculpou-se que, se alguém fizesse uma denúncia, a senhoria podia ser multada avultadamente e erámos expulsos. 


Lembro-me perfeitamente de lhe ter perguntado diretamente olhando-o nos olhos se ele faria a denúncia. Ele: "Ah... é meu dever. A senhoria... posso ter de o fazer".   

Como ele era mau e ainda por cima, trabalhava - quando queria, claro - em assuntos relacionados com seguros, o que lhe dava conhecimento da legislação e de como fazer as coisas pela calada - deu claramente a entender que se vingaria dessa forma. NINGUÉM alguma vez ia saber ou preocupar-se com o fato do amigo dormir no meu quarto. Mas quando ouviu falar em DINHEIRO - obcecado que era por dinheiro - I mudou logo o discurso. Tornou-se ameaçador. E o rapaz teve de sair para outro lugar e eu fiquei a pagar renda de um quarto desocupado por um mês.

 

DE VOLTA À CASA ATUAL:

Agora imaginem o tanto de SORTE que tiveram todas estas pessoas estranhas com que me deparei ao longo dos anos pelas casas seguintes. Algumas ficando por extensos períodos de tempo. Inclusive, um ano. Este "marido" e outros na casa anterior onde morei, se tivessem partilhado o espaço com um I., jamais poderiam sequer ter cá metido os pés. Quanto mais permanecer por longo tempo e nem sequer trocarem uma palavra com "o dono da casa". Ou dançavam a música dele, ou iam existir repercussões. 

FRESQUINHAS:

Nem de propósito: Estava eu a meio de escrever este post sobre o não ser avisada quando um estranho se muda cá para casa quando, na sequência de continuar a escutar ruídos estranhos no andar de baixo, desço para averiguar se é da máquina de roupa que coloquei a lavar. 

Nisto entra, pela porta das traseiras - sabendo eu que havia acabado de sair - o rapaz do andar de cima. Vem carregando algo nas mãos, tem os olhos semi-serrados, como quem esteve a fumar erva. Coisa que penso que ele pensa que esconde bem de mim - que sou ignorante nestas coisas - mas que aprendia a reconhecer no olhar. É então que me pergunta se vou trabalhar esta noite. Respondo que sim e acrescento: "tens a noite só para ti". "Ah, não é isso. Eu vou trabalhar. Um amigo meu vem cá passar a noite. Ele vai viajar amanhã e dorme cá". 

Gostei que me tivesse comunicado. É só o que espero. Assusto-me cada vez que escuto ruídos que sinto não serem habituais. Sinto ansiedade com a ausência de tranquilidade e silêncio. Não acho normal tantos ruídos de actividade durante horas e horas, especialmente depois da meia-noite. A noite passada foi uma dessas. Desde as 19h até às 3 da manhã, um constante abre-portas, sobe e desce escadas... notava-se que andavam a "aprontar" alguma coisa e não queriam que fosse detectada. Daí o "zanzar" sem parar. Coisas como as constantes idas ao WC fazem-me temer que o número de pessoas dentro da casa é substancialmente maior que o suposto. Mas se souber que UM ESTRANHO é suposto aparecer, sinto-me tranquila. Não devo assustar-me. E se me assustar, vou lembrar-me de que fui avisada de que poderia estar ali alguém. 

Avisei isto ao rapaz logo na primeira vez. Entrei na cozinha e estava uma desconhecida no fogão, a cozinhar. Um carrinho de bebé no meio da sala... e mais ninguém. Ela estava super tranquila, normal, achando aquilo nada de especial. Fiquei a olhar para a cena e por instantes, pensei se teria errado de casa. Não só uma estranha estava dentro de casa, como estava a usar o fogão! A mexer um tacho e comida... e estava uma criança a correr pela casa. Ela passou a ser presença diária, mas nunca com ele cá em casa. Ele ia trabalhar e ela, aborrecida por viver num quarto de hotel, decidiu que era melhor vir para uma casa normal. Era apenas uma conhecida dele. Ele teve pena dela, ela queixou-se que não era muito confortável viver com a criança num quarto de hotel e ele deu-lhe a chave desta casa para que ela entrasse e usasse. 

Sem comunicar NADA aos restantes. Impondo - numa casa que não é só dele, a presença de outras pessoas, uma família.  Este tipo de situação não é agradável. Desculpas esfarrapadas também não caem bem. Comportamentos esquivos, é ainda pior! E sinto cada vez mais esses comportamentos. 

Acho lindo ajudar assim alguém. E seria capaz de fazer o mesmo. Porém, na minha própria casa. Não o faria quando a casa não é só minha e a decisão não pode partir só de mim. Quanto à rapariga, um dia deixou de aparecer. Perguntei-lhe por ela. Respondeu que desapareceu e nunca mais dela ouviu falar. Olhem a ingratidão... ! 

Agora sei que esta noite um estranho virá para dormir no quarto dele. Sei que a história está meio contada. Não creio que ele seja transparente. Acho que esconde sempre algo. Como esta noite, em que escutei alguém "diferente" ir ao WC. Provavelmente uma mulher, a movimentar-se para dar início a um ritual muito comum. Passou cá a noite - se ainda cá não estiver. Natural. Homem, mulher, sexo. 

O que não acho tão bem é o procurar OCULTAR a presença de terceiros da forma como tem vindo a ser feito. Mas menos ainda, abrir a porta da casa para que entrem, dela usem, e nem um "bom dia" recebes em troca. Olhem a lata desta gente!

Infelizmente, acho que o "marido" que a ex-colega de casa arranjou é um oportunista que viu num matrimónio uma forma de ser sustentado por uma mulher e reduzir as despesas. Ela contou-me que lhe comunicou que não ia abandonar o emprego dela, que tinha uma carreira e queria progredir nela. Acho que não percebeu que é EXATAMENTE por isso que ele a escolheu. Ele precisa de alguém que entre com um grande bocado de "cash". Porque ele não vai trazer muito - se algum. 

E nisto, HOJE, vou à caixa do correio e puxo uma carta em nome de... HUSSAIN. 

Ele deu ESTA MORADA como sendo a de residência dele!!!!
A lata.

Esta casa já recebe centenas de correspondência dirigida a pessoas que nunca cá viveram. É uma pandemia. Antes ainda devolvia todas e pedia para pararem de enviá-las. Muitas - se não todas, são cobranças de dívidas. A curta e desagradável passagem desta pessoa por esta casa agora também vai contribuir para isso. Mais um a usar este endereço como cover up... 

E para quê? Porque haveria ele de mudar o endereço para este? Pretendia cá ficar mais tempo e os planos correram mal? Ainda por cima uma carta das finanças. Uma entidade que EXIGE a morada precisa. Espero que a altere para onde quer que seja que se mudaram. 

Ao ver aquele nome impresso juntamente com a morada desta casa... fiquei ainda mais convencida de que se trata de um aproveitador. Escolheu a dedo a "mulher desesperada" por casar e ter filhos. E já está a tentar tirar proveito - para a sua primeira medida enquanto casal envolver as finanças. Era uma carta típica de escalão - que diz em que escalão contributivo uma pessoa se insere. Ele logo tratou de alterar o seu. Porque será? Uma conveniência financeira - só pode. Já diz tudo sobre onde está o seu foco, o seu propósito matrimonial. 

Casou mas não no civil. Só na religião deles porque ela não quis oficializar, por enquanto, a união no cartório. Logo, LEGALMENTE, não são casados. Só na religião deles - que nem sequer exige testemunhas e pode existir um casamento por um sacerdote com os noivos e familiares à distância. 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

O desagradável Parasita

 

Uma colega de casa, muçulmana, decidiu aceitar o convite de casamento de um rapaz que conheceu em Londres, há um mês. Aos 38 anos, desesperada por viver a norma cobrada pela sua cultura e religião e ser mãe, disse-me que casou subitamente com um homem de 48 anos. Ele vive há 20 no Reino Unido. Percebi logo que já devia ter tido filhos com outra mulher. A colega de casa, com quem sempre me dei bem, confirmou que sim. Mas não elaborou e também não quis que o fizesse. Respeitei. 

Não sou de condenar este tipo de uniões. Aqui onde moro o número de casais formados desta maneira é substancial. E como não considero que a forma como fui criada é melhor do que outra qualquer, consigo ver aspectos positivos em ambas as formas de se encontrar parceiro. Em qualquer forma, para ser honesta. Cada qual, a meu ver, tem de fazer conforme o seu coração mandar. 

Não é necessário ter um amor, sentir tudo e mais alguma coisa... É bom. É como eu sou. Mas não é o melhor e não é, necessariamente, sinal de que tudo vai correr bem. Existem casamentos arranjados que, aparentemente, deram certo. E existem muitos casais loucamente apaixonados, que se destroem e magoam. 

Portanto, certezas não se têm. Fiquei um pouco espantada por ela o conhecer apenas à quase dois meses. É um grande risco. Mas aos 38 anos, no lugar dela, talvez fizesse o mesmo. Porque não? Andava mesmo a fantasiar que, se do nada, conhecesse alguém que me fizesse sentir aquelas borboletas no estômago ou se interessasse por mim verdadeiramente ao ponto de conquistar o meu afeto ao me apresentar na vida muito daquilo que anseio que - se isso viesse a acontecer - se calhar ia mergulhar nesse desconhecido. 

Quando reflito nestas coisas acabo sempre por assistir à sua concretização em terceiros. Sempre. Nunca falhou. Parece até que os fios do destino andam cruzados. Alguém os cruzou. Eu desejo - outra realiza.

Acho bem por ela - que vai avançar com a sua vida para a frente. Venha o que vier. Será uma experiência, um aprendizado. 

Contudo, o fato veio a alterar a nossa relação e o ambiente na casa. Tenho-me sentido bastante desconfortável nas últimas três semanas. A pesar de me ter contado nessa mesma noite de 16 de Janeiro, por mensagem de texto, que por enquanto iam viver cada qual no seu canto, uns dias ele cá, outros dias ela lá, em Londres, onde ele trabalhava como chef num restaurante, - apesar disso, nessa mesma noite ela já o tinha enfiado no quarto. Mas nada me disse, enquanto trocava mensagens escritas comigo sobre o marido. Foi por isso que, quando lhe respondi que o assunto era importante demais para ser dito por mensagem e que ia descer para falarmos, ela implorou que não o fizesse. Argumentou que tinha o quarto desarrumado e apelou às "armas grandes", dizendo para não descer porque a M. andava a circular pela casa e não queria encontrar-se com ela... o que achei estranho. Fora do seu carácter, pois disse-me várias vezes que não deixava de fazer o que precisasse pela casa por causa dela e dos seus comportamentos. Achei que não era sincero. Foi uma tentativa de me impedir de descer. Eu tinha escutado a M. sair. Escrevi-lhe que era seguro. MEDO, ela não tinha. Que o tivesse a proclamar agora por texto, não batia certo. Mas como percebi que não desejava falar comigo cara a cara naquele instante, respeitei. E ficamos apenas a trocar mensagens até que a conversa terminou. 

Depois de me comunicar que tinha casado, também disse que havíamos todos de ir jantar algures num restaurante. Eu, ela, o marido e o rapaz que mora no andar de cima. Achei que era uma honra ter sido incluída no núcleo de pessoas com quem quer comemorar a decisão, pelo que não me neguei. Pensei que ia me apresentar o indivíduo e tudo ia ficar bem.

No dia seguinte, pelas 12h, desço à cozinha e assim que passo pela porta do quarto dela, oiço a porta abrir. Achei um pouco estranho, pois ela deveria estar no horário laboral. Porém, achando que, devido às circunstâncias, podia ter ficado por casa, espreitei só um bocadinho para ver se a via vir. Isso e temer que o barulho da porta não fosse o dela, mas o da M, já que não os consigo distinguir. Porta a bater e porta a bater, não se distinguem por sons.  

Quando recuo um passo e olho para o lado, vejo um vulto de capuz, todo de preto, encostado à porta, a enfiar a chave na fechadura e a trancá-la, lentamente. O vulto vê-me. E não diz nada. Aguardo um reconhecimento. Afinal, é um estranho na casa onde EU moro. Se fosse uma situação inversa eu me apresentaria ao habitante da casa com o qual esbarrei. O homem não diz nada. Olha-me nos olhos, vira a cara. Pergunto-me quem seria. A primeira impressão é que era o "marido" mas, se casou, decerto deve ter convidado familiares. Se calhar era um irmão e ficara a dormir ali com ela. Ou um primo... Aproximei-me e perguntei-lhe o nome. Ignora-me e não me responde. Passam muitos segundos estranhos... de silêncio. Começo a dirigir-me de volta para a cozinha mas travo. Algo não está bem. O homem, lentamente, dirige-se para a porta da saída. Volto a perguntar-lhe como é que se chama. 

-"Hussain" - responde monocórdico e a disfarçar aborrecimento, ao mesmo tempo que me fecha a porta na cara. Tudo lentamente. Assim, sem mais nem menos, julguei ter sido apresentada ao marido religioso da rapariga do andar de baixo. Mas será que seria um irmão? Um primo? Pois na minha cabeça, o marido estava em Londres... e viria mais tarde. Não é um comportamento normal de todo - quando um estranho "apanhado" a viver na casa de outro, não se apresenta nem cumprimenta quem o acolhe. 

Por isso deduzi que ele tinha sido alertado para a presença inquisidora da M. e, não sabendo distinguir uma da outra - embora calculasse que a rapariga tivesse feito uma descrição física de ambas, pois somos distintas - deduziu que era a mim que tinha de ignorar. A rapariga do andar de baixo havia-me dito que ignora a M. Não lhe fala, Como já contei aqui. Deve ter instruído o "esposo" a fazer o mesmo, - pensei. 

Não levei a mal. Primeiro contacto, "apanhado" de surpresa... foi uma reacção circunstancial. 
Dias depois vi a colega de casa e logo começamos a falar do seu casamento. Contou-me que o marido contou-lhe que me viu e eu lhe perguntei o nome. Foi aí que soube que ele sabia que eu não era a M. Ainda assim, teve aquela reação de ignorar a moradora da casa. Estranho
Porém, certamente, agora que estava tudo em pratos limpos, que se confirmara a identidade do homem, que ele sabia quem eu era, que ambos estavam casados e que a colega continuava a dizer que queria que jantássemos todos juntos - ele ia ser mais social da próxima vez que nos víssemos. 

A próxima vez não demorou muito. E foi ainda mais desagradável que a primeira

Julgando-me sozinha na casa - visto que a M. finalmente arranjou uma ocupação que a tira fora daqui (Yupi!!!), desci à cozinha para tentar detectar se a subita corrente de ar frio que sinto no meu quarto vinha do fato da janela do corredor onde fica o WC do andar de baixo é deixada aberta. Desço e quando abro a porta que separa a cozinha do WC, e do segundo quarto do andar de baixo (de um rapaz) - oiço o barulho de água a correr. Alguém está no WC. Provavelmente o rapaz do quarto ao lado. 

Como a janela fica no corredor, e está aberta, tão silenciosamente quanto possível, fecho-a, fecho a porta e apresso-me a voltar ao quarto para poder sentir se a súbita corrente de ar persiste. Mas como tudo faz barulho, senti que a minha presença foi sentida por quem estava no WC. Ao escutar a porta do WC a abrir, pensei tratar-se do rapaz do andar de baixo, intrigado, por ouvir uma pessoa entrar e sair naquele pequeno espaço de poucos metros de corredor. Olho para trás para o sossegar e explicar os meus motivos - se razão tivesse. Nisto, de calção cinza, t-shirt preta e chinelos, diante de mim está um homem desconhecido. Um desconhecido que saiu do WC da minha casa, onde se esteve a lavar. 

Decerto que ele ouviu que uma pessoa estava ali. Ainda assim, escolheu sair do WC naquele instante, ao invés de evitar contacto. Sinal que é de se impor. E não fala. Não abre a boca. Desagradou-me que se mantivesse ali, em silêncio, mudo, obviamente em roupa de dormir, a olhar-me como se fosse invisível, a impor a sua provocatória presença. Frio. Indiferente. Está a olhar para uma das pessoas que MORA na casa com legitimidade - coisa que não é o caso dele. E não cumprimenta, não se apresenta, não faz nada - sem ser IGNORAR a pessoa à sua frente.  

Sinto um forte desconforto. Um súbito mau-estar. Aquela não é uma boa pessoa. É um aproveitador. É um indivíduo capaz de tomar as coisas dos outros. Um "espaçado". Subo as escadas após o olhar enquanto aguardava uma reação. Tenho a certeza que os meus pensamentos espelharam-se no meu semblante. Ao entrar no meu quarto - agora com a confirmação visual de que esta pessoa encontrava-se a viver nesta casa sem mais nem menos, peguei no telemóvel para desabafar. E disse: "Já estou mesmo a ver que daqui a uns tempos, ele vai deixar o emprego e mudar-se de malas e bagagens para aqui, a viver de graça, às custas da F., com quem casou para dela tirar proveito. Ela é que o vai sustentar. ". 

Desde o dia 1 de FEVEREIRO que este indivíduo está a dormir todas as noites aqui dentro de casa. Vive cá. O pior nem seria isso. Mesmo sem cumprimentar ou falar com os outros que aqui estão com legitimidade - porque trabalham e pagam a renda para cá morar e usufruir das regalias de lavar louça, roupa, tomar duche quente, ter uma cama para dormir, etc, etc. Mesmo se tivesse para cá se mudado sem ninguém ser consultado - já de si grave, mesmo sem cumprimentar quem cá vive - também grave - Se ao menos estivesse A TRABALHAR, seria diferente.  Homem NÃO SAI DE CASA. NÃO VAI TRABALHAR. Vive fechado no quarto, de pijama, fala alto ao telefone e assiste a programas de entretenimento. E é só o que faz, dia após dia. Um autêntico PARASITA - que é como o chamo. 


Caramba! Três anos a desejar que a M. encontrasse uma ocupação que a tirasse daqui para fora e quando isso acontece, aparece um PARASITA, para se instalar e fazer o mesmo que ela... Não é justo. 


Nem sei que rosto ele tem mas, deduzi que só podia ser o marido. Após ser apanhado a usufruir da casa onde ele não devia morar - desagradou-me que se mantivesse ali, em silêncio, mudo, obviamente em roupa de dormir, a olhar-me como se fosse invisível, a impor a sua presença. Frio. 

Para mim é uma falta de educação tremenda! E demonstra má índole. Demonstra que é uma pessoa capaz de chegar e apropriar-se. E pensei, à medida que subia as escadas para o quarto, que dali a nada ele ia despedir-se do emprego e mudar-se de malas e bagagens para esta casa. Viver a chular a "esposa", com pretextos de procurar emprego nesta cidade mas, infelizmente, não encontrar. Mais um pouco de tempo e ia também começar a vê-lo a usar a cozinha, a ter de me desviar da sua presença física incómoda e imposta até para me servir de algo no frigorífico. 

Desde o dia 1 de Fevereiro que esta pessoa - à qual me refiro como PARASITA, se mudou para esta casa. NADA nos foi comunicado. Foi IMPOSTO. Não tivemos parecer sobre a matéria. Já o apanhei a lavar roupa na máquina duas vezes consecutivas - tarefa cada vez mais difícil de fazer, porque na semana passada quando entrei em casa vindo do emprego, ia para lavar a minha roupa da semana e a máquina estava a trabalhar. Eram 3 da tarde. Pelas 7, ainda estava a funcionar. Lavou 4 máquinas de roupa seguidas. Pensei tratar-se da M. que sempre foi destes abusos. No dia seguinte, sou acordada com ruídos e decido ir lavar a roupa que não consegui no dia anterior. Desço à cozinha e a máquina está a lavar. Como escutei ruidos vindos do quarto do andar de cima, presumi que a roupa era do rapaz. Como já lhe enviei textos escritos antes perguntando se a roupa era dele para poder lavar a minha depois, senti que podia fazê-lo novamente. Ele respondeu que ia já buscá-la. Escrevi que não era necessário, ainda faltavam uns minutos para a máquinar parar ... oito, na realidade. Só queria saber, pois se fosse da M. ia dar problema. Sempre dá. Ela não retira a roupa e não deixa ninguém retirar. 

Sendo dele, sabia que, com o seu consentimento, podia fazê-lo e assim, despachar a minha roupa. O rapaz desce, eu estou na cozinha, a rapariga passa para o WC, deve escutar-nos a falar da roupa que quero por a lavar, a máquina termina, ele tira a roupa, ela sai do WC e passa de volta para o quarto. Quando me levanto para pegar a minha roupa lá em cima e colocar a lavar, vejo a rapariga passar um um pouco de roupa na mão. Viro-me para trás e vejo-a a colocá-la na máquina. Fico surpresa. É que nem deixou passar uns bons segundos! Não esperava isso. Nunca aconteceu antes, a não ser com a M. Ver outros a tomar comportamentos idênticos à M. é algo que venho a querer tapar com a peneira...

Nisto digo-lhe: Vais lavar roupa? É que foi por isso que eu pedi ao rapaz para tirar a dele. Para poder lavar a minha. 

- Ah, queres lavar a tua roupa agora?
-Deixa estar. Saltaste à frente. Lavo depois. É que só consigo lavar domingo ou segunda... Ontem a máquina ficou a lavar quatro horas. Lavaste roupa ontem? - perguntei, achando que ia responder que UMA das máquinas foi dela. É vaga e responde sim... fui eu. Já não lavava a minha roupa à uma semana. Não, à duas semanas - justifica-se. 

Não acreditei nesse intervalo de tempo. Não batia certo com a sua estada na casa. Mas relevei. Não me interessa. O que ficou claro para mim é que, acrescentando uma pessoa extra à casa, que traz todo o guarda-fatos com ele, a lavagem de roupa passa a ser uma coisa diária e longa... 

Menos oportunidades de tratar da minha. Por causa de um emplastro... um parasita. 


, foi quando vi a rapariga do andar de baixo. 

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Comportamentos sociais, regras, etiquetas e ser-se rude

 

Esperava que a farmácia abrisse as portas há quase uma hora. A pesar de já estar com a portão meio aberto, ficou claro que era porque estavam a preparar a abertura. Como a farmácia fica no lado de fora da mesma sala que a clínica médica, onde tinha ido tirar sangue, sentei-me num dos três bancos livres a aguardar as 9h. Como as pernas sempre me pesam e não estava ninguém ali, sentei-me de lado, metendo os joelhos no braço da cadeira e deixando as pernas cair para a segunda, mantendo os sapatos de fora. Um pouco desconfortável para as costas, que sentiam a dureza pontiaguda da parede, mas assim permaneci, por me sentir bem. 

Faltavam 10 minutos para as 9, entram duas pessoas. Um casal. A falar muito, a querer entrar logo na farmácia, a constatar o óbvio (que ainda estavam fechados) a perguntar-se olhando para o relógio se ia demorar muito... Ignoro. Nisto a mulher senta-se abruptamente na cadeira livre e imediatamente diz para o "Marido":

-"Não te queres sentar aqui?" - apontando para a cadeira onde os meus joelhos ainda permaneciam em repouso. Ignoro. Percebi o tom de provocação. Como se a minha posição a incomodasse. Continuo com os olhos colados no telemóvel, entretida com as tarefas do jogo. O esposo responde que não. Espero uns instantes e nisto levanto as pernas e sento-me direita na cadeira, deixando a outra totalmente livre. A mulher, imediatamente, levanta-se e continua a caminhar de um lado para o outro, como se tivesse uma emergência qualquer.  Percebi de imediato que o seu interesse pela cadeira desapareceu assim que a deixei livre. O seu interesse por esperar sentada também. Já não cobiçava a cadeira que meus joelhos parcialmente ocupavam quando lá entrou de sopetão. O que queria agora era entrar o quanto antes na farmácia... andando de um lado para o outro mas sem deixar de se ficar  pela entrada... 

Uma FURA-FILAS.

Algo muito comum aqui no Reino Unido. 

Cinco minutos depois entra um outro casal, idoso, a perguntar se estariam no lugar certo, pois tinha sido ali que lhes marcaram uma vacina (Covid?). Não sabendo onde, foram perguntar dentro da clínica, voltando logo de seguida, porque era na farmácia. Também eles se aproximavam cada vez mais da entrada, como se todos os quatro fossem uma boiada prestes a arrebentar ao sinal da subida do portão. 

Aí eles lançam para o ar algo ao que respondo: "Desde que se respeite a ordem de chegada. Primeiro (apontando para mim), segundo - apontando para o casal mais jovem e terceiros" - apontando para os mais idosos. 

Todos ficaram um pouco espantados, e disfarçaram um bocado. Não estavam à espera que alguém lhes desse uma lição de civismo. Tão habituados que estão a entrar conforme se chegam à frente... 

A mulher que me provocou anteriormente, não gostou e olhou para o marido em género de reprovação. Eu podia estar sentada com os joelhos em cima do braço da cadeira enquanto ali estava sozinha - pode até ser lido como "má educação". Mas achei o comportamento dela pior, rude, indelicado e desnecessário. Prova de que não estava interessada em sentar-se de todo, pois se levantou assim que me endireitei na cadeira. 

O seu foco era entrar e passar-me à frente. Cheguei ali 50 minutos antes dela, prontifiquei-me a aguardar pacificamente, para depois vir aquela manada passar-me à frente? Às nove da manhã? Tão cedo? E já ia assistir a estes comportamentos?

Quis deixar claro que existe uma ordem de chegada para se respeitar. São coisas que não são necessárias dizer, sabem-se. É um código social. Todos em Portugal sabem-no. Usam-no. A maioria, pelo menos. Aqui no Reino Unido, esqueçam. Não existe. Não nesta cidade onde moro há tanto tempo. Até hoje é um tipo de comportamento que me é estranho e desagradável. 

Nisto os portões começam a abrir. Chego-me à frente. A mulher baixa a cabeça e coloca-se do lado de dentro da farmácia. Imito-lhe o comportamento e chego-me à frente dela. Esta olha para o marido, como se eu lhe tivesse passado à frente e fosse indelicada. Não quis saber. Ela ouviu claramente e percebeu a mensagem. Depois de lhe passar à frente, ela diz, em tom sarcástico:
-"Pode ir primeiro". 

-"E vou" - respondi. Sem nunca lhe olhar no rosto. O tempo todo, não prestei atenção ao rosto deles. É algo meu... mas percebi a linguagem corporal e os olhares. Vi-lhes as roupas e as silhuetas. 

Depois de a ter ultrapassado e respondido à letra, ela vira-se para o homem e diz, em tom provocador: "Vens, meu amor?". 

Precisou de colocar ali o "my love" para se sentir maior, melhor. Pude notá-lo perfeitamente. Foi um "My love" forçado. Uma mulher a usar as calças, um tanto manipulativa com os homens e confrontacional com pouco ou nenhum motivo. Assim foi a "pinta" que lhe tirei.  

Nisto uma das farmaceuticas perguntou o que eu precisava - respondi que vinha levantar uma receita. E outra perguntou à mulher o mesmo. A dela foi prontamente entregue. A minha demorou um pouco mais. Talvez uns cinco minutos após a mulher ter saído triunfal. Já a imaginava longe, tal era a pressa em ser a primeira a ser atendida. Até pensei que o seu assunto levasse tempo - o meu era rápido - por isso não queria ficar empatada com o assunto de uma fura-filas e "marquei posição" ao referir que existe uma ordem de chegada para ser respeitada.  

Já com a receita na mão e a próxima dosagem combinada, saí dali e decidi ir ao centro comercial que fica ao lado, também este abria às 9 da manhã. Quando vou para subir nas escadas rolantes, um casal mete-se mesmo à minha frente e, sendo casal, ocupa ambos os lados dos degraus das escadas. Percebo depois, ao olhar para o calçado e pernas de ambos, que são o mesmo casal.



Afinal, estavam com tanta pressa, levavam pelo menos cinco minutos de avanço de mim e ali estavam eles, ainda, literalmente, a "pastar" no Centro Comercial. Já deviam estar longe dali... foram despachados rapidamente. Estarem a entrar ao mesmo tempo que eu naquele centro ao lado da farmácia era incompatível com a impaciência que demonstraram ter minutos antes. São apenas pessoas que não gostam de esperar por nada. E lá estavam eles, a empatar as escadas, mais uma vez se lixando para a etiqueta social de que se deve deixar um lado livre para a circulação de quem vem atrás. Quando chegam ao topo, viram lentamente para a direita, e seguem caminhando lentamente, como quem não tem nada mais que fazer na vida, em direcção a uma qualquer mesa de café, onde provavelmente se foram sentar para matar o tempo. 




quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

É tão bom uns chinelos no pé!

 

O que as pessoas aqui no reino unido escolhem para calçar num.dia em que não tem parado de chover....


Para quem nao conseguir distinguir que calçado se trata, aqui está a fotografia. 

Sim. São chinelos chatos a pé descoberto e dedos à vista, com uma tira felpuda. Excelente escolha, uma vez que se colocou meias...

Mas este tipp de calçado não é usado aqui no Reino Unido somente em dias de chuva. É um tipo muito apreciado para vários eventos. O principal sendo ir fazer compras ao supermercado. Costuma ser acompanhado a rigor com pijama completo e cabelo desgrenhado. Mas nao pensem que sao os locais que atravessaram a rua para ir buscar pao ou leite. Chegam de carro, estacionam.no parque e passeiam pelos corredores a ver os produtos.

Curioso nao é?