Depois daquele impacto emocional sofrido em 2019, senti que tinha duas opções: desistir da vida ou fazer algo por mim. Por mais que me custasse, mais uma vez e como me é característico, escolhi a opção mais difícil: fazer algo por mim.
Sempre dei prioridade aos outros. Não foi uma novidade mas foi um reforço da realidade. Enquanto estava ali, sentada na relva pronta a desistir de respirar, crente de que a vida não tem propósito e nela não estou a fazer nada, pesquisei números de telefone e liguei para... uma esteticista. Marquei logo consulta. Senti que tinha de me amar, fazer coisas por mim. Sempre tive vontade de me aventurar nestas coisas e, naquele instante, foi o que SENTI que queria fazer: melhorar-me por fora, em sinal de que me amo. Chamava-me muito à atenção as olheiras. As pessoas comentavam sempre que tinha um ar cansado. Diziam-mo tanto que começou a incomodar-me. Procedi então a marcar uma consulta com um especialista, a fim de determinar o que existe disponível para eliminar as olheiras e recuperar um olhar menos abalado. Por dentro podia ter os meus momentos de depressão e dúvidas, mas que, por fora, nunca ninguém o imaginasse! Queria que minhas dores continuassem minhas, escondidas num rosto sem marcas de infelicidade.
Mesmo estando a viver fora de Portugal, encontrei uma clínica médica esteticista que me pareceu segura e credível e marquei consulta. Viajei para Portugal e paguei o que tive a pagar. Sabia que seriam valores elevados, mas o meu espírito estava crente de que o dinheiro não valia nada, nada de nada... era só dinheiro. Não me incomodaria gastar todas as poupanças mantidas na conta corrente. Acho até que, estipulei que, se aquele dinheiro - cerca de 6.000, desaparecesse, era só dinheiro. Tudo, naquela altura, era supérfluo, sem valor. Principalmente dinheiro. Porém, claro, pretendia qualidade de serviço e não ser alvo de nenhuma extorsão ou tratamentos inúteis.
Para o tratamento ao rosto fui a uma clínica de estética algures ali para os lados do Corte Inglés (agora já sabem eheh).
ENTRADA:
Ao entrar, nota-se a peculiaridade decorativa do candelabro (mais detalhes, vão logo perceber onde é). Elogiei às funcionárias ao balcão esse detalhe, enquanto facultava os meus dados pessoais e, provavelmente, procedia ao pagamento imediato do valor da consulta: 100 euros. E procedi para a sala de espera - uma sala normal como todas as outras, até bem simples, com cadeiras de plástico e uma fonte de água. Já lá estavam duas mulheres a conversar. Aguardavam consulta tal como eu e estavam expectantes sobre o que esperar. Percebi de imediato que se tratava de PRIMEIRA VEZ que lá iam. Foi, logo ali, um sinal vermelho que surgiu no meu consciente. Lembro-me perfeitamente de estar a pensar que não estava ali NINGUÉM que parecesse já ter estado outras vezes. Surgiu depois outra senhora e, pela postura, pelo sorriso, pelo deslumbramento - também era a primeira vez.
Uma clínica de estética que não tem clientes que retornam não é positivo. Achei muito estranho que, tal como eu, todas ali eramos "marinheiros de primeira viagem".
Vou tentar não me alongar nos detalhes. Fui chamada à consulta e atendida pela médica, que tem assistentes também mas que inicialmente te quer ouvir. Este detalhe é importante porque, tirando este primeiro contacto, seria muito mais difícil conseguir a atenção da médica daí adiante. Inclusive, quando tive uma dúvida e precisava a esclarecer com a médica - foi-me dito que para isso era preciso marcar uma nova consulta pelo valor de 100 euros, pois ela era muito ocupada.
Tirando a primeira vez, todos os procedimentos eram feitos pelas assistentes e não pela médica- excepto os tratamentos que requerem a licença médica. Porém, devo explicar que me deixavam até mais que uma hora deitada numa maca a aguardar a disponibilidade da médica - que atendia outras pessoas na hora que havia marcado o tratamento com ela. Pareceu-me que NUMEROS era a prioridade. Cada NOVA pessoa que fosse lá bater à porta, recebia tratamento VIP pela própria. Depois de se comprometer aos tratamentos, aquela disponibilidade da médica deixava de existir. Era quase tudo feito por assistentes. Mas assistentes "especiais". Principalmente uma senhora de mais idade, que era muito, mas muito agressiva na postura e na forma de falar. Fazer uma pergunta sobre o tratamento ou um comentário sobre o estado - era quase como se tivesses a ofender ou a por em causa algo. A resposta que te davam era de rispidez, por vezes em forma interrogativa ou exclamativa, como se não pudesses questionar nada. Tinhas de ficar calada, aceitar o que te dizem, não questionar - porque só assim não demonstravam aquela rispidez.
Achei a postura outra "bandeira vermelha". Isso e ser deixada numa sala a meio de um tratamento, à espera, espera, espera... A desculpa era sempre que a médica era uma grande profissional, tinha muitos clientes que só ela podia acudir, era muito premiada, em Portugal não lhe davam o devido valor mas que no estrangeiro tinha tido muito reconhecimento, etc, etc. Sempre a puxarem a brasa à sua sardinha - outra "red flag".
Nessa primeira consulta expliquei-lhe o que me incomodava - as olheiras e ela respondeu logo que aquilo tinha solução simples. Deu-me logo um plano de tratamento. Lembro-me de ter perguntado algo ou comentado algo a respeito do que pretendia após ela ter explicado uns detalhes e ela ter ficado descontente, exibindo um pouco da agressividade - daquela forma passiva-agressiva - que mencionei ter detectado mais à frente, mas assistentes.
Não tenho dúvidas que estão a trabalhar sobre pressão, têm muito em que pensar, muito na cabeça, muito trabalho... dei desconto por causa de ser uma pessoa capaz de entender tudo isto e mais alguma coisa. Podia ter esta postura, como sempre tive a vida toda, mas detectei estes comportamentos que, sem dúvida, são sinais negativos.
(tenho de ir trabalhar - esperem pelas partes seguintes)
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