sexta-feira, 10 de julho de 2015

A praga das celebridades


Lembram-se dos concursos televisivos como o 1,2,3? A filha da Cornélia? A Roda da Sorte? Ou do Arco-Íris, só para crianças?

Lembram-se dos Jogos sem Fronteiras?


Eram todos programas televisivos de sorte, que permitiam ao zé povinho ganhar algum prémio e ter uns momentos de diversão. E quem ficava em casa também se divertia com as peripécias do vizinho, do cunhado ou do perfeito desconhecido que era lá da "terrinha".





Agora o que temos nós na televisão?
Já la vou. Antes vou falar de um artigo que me veio parar às mãos, intitulado: "Escrever num blog dá dinheiro". Viro a página e encontro os exemplos que os jornalistas da revista escolheram: Cristina Ferreira, Leonor Poeiras, Kátia Aveiro, Jéssica Athaide, Pedro Teixeira, Vanessa Martins...e deixei de ler.

Por acaso são estes exemplos de pessoas que ganharam projecção com o blogue? Claro que não! São pessoas famosas que já têm seguidores que perceberam que no universo bloguista estava um nicho de mercado imperdível. Foram apenas e somente oportunistas. Reconheceram o potencial do meio que vive na internet  não só pelo lado da facturação através da publicidade paga, mas também pelo da divulgação da sua imagem, que a muitos serve para se manter «vivo» no mundo das celebridades - ao invés de esquecido. Optimo para a vaidade e excelente como marketing pessoal!

Regressemos à televisão e aos concursos televisivos. O que temos hoje? 

Hoje dividem-se em DOIS. Os que são feitos para dar ainda mais protagonismo e ofertas de rendimento extra aos já famosos (que praga de gafanhotos!) e os que são destinados às pessoas comuns, como foram antes os concursos acima mencionados.

Mas ao analisar as CONDIÇÕES de cada um, percebe-se que, se uma pessoa comum desejar participar num programa de talentos ou um concurso de sorte, já não lhe basta enviar um cupão e aguardar ser selecionado.

Comecemos por este exemplo: o talent show musical. Seja para cantar ou para dançar, o que não faltam são programas feitos para as já celebridades brilharem ainda mais. É uma lavagem ao ego de atores, cantores, apresentadores, aspirantes a mais-alguma-coisa debaixo dos holofotes, futebolistas em fim de carreira, sei lá... Tudo o que já provou dessas luzes potentes, dada a oportunidade parece atraído por elas como traças para a luz elétrica. Só que depois não se fulminam e morrem. Continuam a aparecer e a procriar...

Mas existem programas como os Ídolos e Factor X que são destinados a «gente comum». Mas que gente comum é essa e como é escolhida? A verdade é que, se não existir uma história de coitadinho por detrás, ninguém tem chance de entrar. Hoje, o verdadeiro ingresso não é mais o sorteio mas sim a desgraça pessoal. O que antes se deixava em casa, que era do foro íntimo, hoje é «bilhete de ingresso» com direito a divulgação nas páginas de revistas cor-de-rosa como antigamente o povoavam as páginas do jornal "Crime" os rostos de desconhecidos. Ou é isto, ou tem de se aceitar ser ridicularizado. Queres participar? Não és filho ou afilhado de um famoso? És uma pessoa comum? 

Então é bom que não prestes para poderes ser vaiado e verbalmente agredido ou então o teu pai tem de ser um ex-presidiário viciado em drogas, ou a tua mãe uma sobrevivente de cancro com problemas financeiros, ou o raio que te parta! Já se aperceberam disto? 

Alguma vez notaram um concorrente que tenha uma história de vida normal, banal? Não. Porque esses ficam de fora.


Então o que se concluí? Para o «zé povinho» continuar a ter direito de participar em programas televisivos, tem de se humilhar, rebaixar ou se  expôr, tirando proveito de ser miserável, ou pertencer a uma minoria descriminada, etc. 

O resto dos programas de talentos são todos engolidos pelas celebridades. E estas, se receberem um niquinho de nada das críticas que a pessoa comum recebe em programas similares, sentem-se insurgidos e dizem que "não há direito". Foi a televisão que ENSINOU o público a ser cínico, sarcástico e a gostar de falar mal e mandar abaixo.

Mas existem programas da sorte - dizem vocês. Como por exemplo o famoso Preço Certo. Querem programa mais do «povo» do que esse? E ganham prémios, são pessoas simples e não têm de se humilhar nem partilhar as suas histórias trágicas para participar. Errado. Aparenta existir um neste oásis de erros e humilhações, mas não é tanto assim. Para participar, estas pessoas comuns meteram na cabeça que não estão ali para GANHAR algo... sem ter de OFERECER algo de volta! 

E então vemos aquele desfile de oferendas: garrafas de vinho para o apresentador, um pernil, bonés, t-shirts, bandeiretas, pratos, livros, estatuetas, doces, etc, etc, etc... 

Mas eu compreendo estas pessoas - gostam de mostrar o que têm de melhor lá na terrinha. É a antiga hospitalidade de quem é «convidado» à casa de alguém e leva uma lembrança. Claro que, há quem aproveite - nomeadamente os políticos locais. Que fazem sempre por meter no programa de televisão um bocado de brasa para a sua sardinha. Os próprios concorrentes, quando na entrevista inicial, por vezes também puxam um pouco «a brasa» às suas histórias de coitadinhos... Porque sofreram uma cirurgia e foram declarados impróprios para trabalhar, ou sei lá o quê... Procuram se desculpar com a saúde, por sentirem algum embaraço por nada fazerem. Na sua maioria, são pessoas de uma geração em que isso não era bem visto. Outros estão sempre a justificar o facto de estarem reformados com a frase: "Já trabalhei muito". 

Mas ao menos existe mais autenticidade nas pessoas maduras do que nos jovens imberbes que foram ensinados pelos media que a postura que devem ter na vida para conquistar algo é, primeiro que tudo, ter uma história de coitadinho para se destacar. 

Por vezes penso que história de «coitadinha» tenho eu que possa me servir de alavanca para, através da simpatia, tirar benefícios. É que não tenho uma vida cheia de alegrias para contar, pelo contrário. Mas seria incapaz - não me vejo mesmo, a aproveitar seja o que for desta história pessoal que é a intimidade de cada um de nós para tirar proveito para a fama e dinheiro. 


2 comentários:

  1. Com tantos canais, em muito a televisão só com dois era melhor...

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    1. Bons tempos esses!
      Na verdade, programas sem ritmo como este acima, já não fazem muito sentido na nossa grelha televisiva. O consumo de tudo tornou-se tão rápido que a forma como as coisas chegam até nós também tem de ser.

      Basta tomar como exemplo os programas de talent show estrangeiros quando adaptados para portugal. Por alguma razão vejo bem um americano, não consigo ver um português. E reparei que é porque falta aos nosso a dinâmica dos outros, em termos de organização e realização. Os nossos "júris" falam demais e divagam demais. Os americanos é tudo ali cortadinho, direto ao ponto, sem gorduras! :D

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