terça-feira, 9 de março de 2010

Quem vê caras... tem de ver algo mais!

Quando andava na universidade fiz um trabalho sobre vítimas de agressões e mencionei que, num determinado ano, um homem foi vítima de violação. Este dado foi recolhido da imprensa, que, por sua vez, mencionou que a sua fonte foi a APAV. A reacção de quem o leu, inclusive a da docente, foi de espanto e um tanto de descrédito.

Não sei porquê o menciono aqui... Talvez porque vim falar de vítimas, nomeadamente, das escolhidas pelo "violador de Telheiras". Acabei por ler artigos escritos online sobre o assunto e este é um tópico que se espalha em tantas direcções...
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A primeira vez que tive "contacto" com esta história foi quando vi o retrato robot no jornal, há não mais de duas semanas. Já tarde... tudo o resto, passou-me ao lado: o relato dos seus actos, a denúncia das vítimas... Mirei aquela imagem minúscula demoradamente. Quis procurar naquele desenho a ameaça que normalmente se sente no olhar. Algo muitas vezes possível de identificar quando vemos imagens reais, uma fotografia ou um trecho de vídeo, e já sabemos estar a olhar para os olhos de um assassino e violador.


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Não encontrei nada ameaçador. E isso deixou-me alerta. Tratando-se de um desenho, talvez o que procurava não fosse possível achar mas, agora que este agressor foi positivamente identificado e a sua fotografia divulgada, sei que, tal como no desenho, a sua aparência não transmite nada de preocupante.


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Talvez por isso tenho verificado que algumas pessoas procuram entender o que pode levar tal indivíduo a agir como agiu. Algumas até, parecem "defendê-lo" ao se preocuparem com o destino da figura na cadeia. E tudo isto porque, sejamos francos, este criminoso TEM boa aparência. Aparentemente tem também muitos e bons amigos e, até o momento da sua apreenção, era visto pelos colegas com bons olhos. Nada, no perfil deste criminoso, suscitaria maiores preocupações se, algures nesta descrição, algo fosse menos "perfeito". Uma aparência mais estranha talvez, um relato duvidoso a respeito da sua personalidade, uma indumentária duvidosa... nada disto está presente.
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O que se sabe é que, este homem, de 30 anos, confessou ter violado ao menos 40 jovens raparigas, muitas, senão todas, menores de 18 anos. Isto diz-me que se trata de um indivíduo que sente necessidade de dar a conhecer a terceiros os seus feitos. Claramente, trata-se de uma pessoa com tendência compulsiva para este crime. Cometeu 40 e continuará a cometer violações até o resto da vida. Digo isto após reflectir sobre o assunto porque, de início, também fiz "parte" daqueles que se preocuparam com o contributo da cadeia na formação deste seu lado da dupla personalidade.
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A regeneração é algo em que queremos acreditar mas, na realidade, não é algo muito realista. As estatísticas não mentem. Os violadores saem da cadeia para a liberdade e retomam os seus crimes. Os assassinos também. Esta é uma verdade. Se a cadeia os deve regenerar, é outra questão. O papel primordial é proteger a sociedade, isolando o indivíduo e deixando as restantes pessoas sentirem-se mais seguras. É uma necessidade válida e justa.
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A regeneração também é muito utilizada pelos criminosos mais inteligentes, como ferramenta para enganar a sociedade. Alguns convencem os melhores peritos, apenas para perpectuar os seus crimes por mais anos, quase sem serem detectados. Quer dizer... só ouvimos falar daqueles que são porque, aqueles que não são, esses, nunca sabemos. A cadeia faculta cursos de formação aos reclusos, cujo direito e validade não discuto. Porém, não acredito na total regeneração de um indivíduo que, por exemplo, consegue erguer uma faca e repetidamente ferir mortalmente outro ser humano. Não acredito que um pedófilo alguma vez perca a vontade de ter relações sexuais com uma criança. Talvez acredite que, para toda a vida, tenham de viver sobre controlo. Mas de quem, bem... mais de si próprios que de terceiros. Só que, sozinhos, não chegam lá. É como pedir a uma mãe a cujo filho foi cometido males terríveis ou mesmo tirado a vida, para deixar de viver com o trauma... este não desaparece. O impulso criminoso também não.
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Não sei qual é a linha que separa as nossas boas acções das más, mas fico contente por não padecer dessa perturbação. Graças a Deus, a maioria de nós não desata a cometer crimes sem mais nem menos... mas seja qual for essa linha, o indivíduo que a atravessou uma vez, atravessa duas e três. Não tem como ser diferente, porque já cometeu esse acto de diferença. É uma pessoa diferente. Deve ser tratado como tal. É uma ameaça à integridade e à vida das outras pessoas. Deve-se ter em conta.

Com isto quero reforçar que uma pessoa tem de estar sempre atenta. Talvez aqueles que rodeavam este violador, às tantas, suspeitassem de algo... é o que sempre pensamos. Mas não podemos pensar assim, porque assim muitas vezes não é. O importante é estar sempre e na medida do possível, alerta. Ficar atento a tudo o que nos foi ensinado há muitos anos, quando, em crianças, os adultos nos disseram como agir perante a abordagem de desconhecidos. O "seguro morreu de velho" e "quem vê caras não vê corações". Duas expressões populares que carregam total veracidade nas suas palavras...

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