segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Uns são o sustento invisível, outros a ostentação

Toda a gente que me conhece beneficia de me ter conhecido. 
Depois de mim sentem-se mais felizes, melhores na vida. Ganham rumos, perspetivas. 

Sou uma espécie de trampolim e porta. Muito útil. Dou confiança, faço as pessoas acreditarem no seu potencial, injecto autoconfiança. Dou aquilo que não tenho e que não recebi. Acredito no que digo às pessoas. 

Depois... Não sou mais necessária.

Cumpri a minha "missão". É hora de avançar e deixar para trás o que não mais acrescenta. Um carro não anda sem combustível mas, uma vez de barriga cheia, não pensa duas vezes em abandonar a fonte e seguir seu rumo. Percorre grandes percursos, chega mais longe... e quando precisar novamente de energia, encontra outros fornecedores. 

Agora reflitam se não é isto que acontece com as melhores das pessoas?

Acho que a vida é assim. É isto. Uns anulam-se e são dados, para que outros possam se descobrir e terem sucesso.


sábado, 24 de agosto de 2024

Japão e sua cultura mental

 

Não conheço o Japão mas é uma cultura que gostaria de presenciar no local desde que me conheço como gente, aos 11 anos de idade. 


Estava a ver no National Geographic um programa que conheço para lá de duas décadas: Mayday e Seconds to Disaster. Dois dos episódios desta semana foram sobre acidentes 
no Japão. Um de aviação e outro ferroviário. 

Dá para perceber que o Japão tem muita coisa para ser admirada. Até louvada. Mas o preço que as pessoas têm de pagar por isso também pode ser elevado. Uma exigência e cobrança constante, uma pressão que acompanha cada indivíduo a cada instante que respira, onde a sociedade e as empresas esperam perfeição exímia sempre, sem tolerância para erros por menores que sejam e imprevisibilidades. 

Não admira que no Japão a taxa de suicídio é muito elevada. Esta parte da sua cultura em que a perfeição tem de ser exibida, ou a pessoa perde o seu valor e mérito está muito enraizada. O kamikaze ou o Harakiri - provavelmente as palavras mais populares entre o reduzido conhecimento linguístico de um ocidental prova isso mesmo: o suicídio faz parte desse lado japonês de encarar a falha nas responsabilidades e mostrar ter honra. 

Não deixa de ser triste que, naqueles sentimentos de solidão, confusão, tristeza, negatividade, depressão... que todos nós temos, lá, no país do "sol vermelho" entre o sentir e o reagir ao extremo de por termo à própria vida, por vezes só se passem uns breves minutos. Ainda mais lamentável quando são as CRIANÇAS a população onde os actos de suicídio tem vindo a aumentar. Crianças em idade escolar, já a sentir os horrores da pressão, ainda a aprender a assimilar o que as rodeia e a lidar com as hormonas... é o grupo etário que mais precisa de orientação para descobrir como bem lidar com as contrariedades.

Dá vontade de ir lá dizer: escutem: todos nós passamos pelo mesmo. A vida é assim. Aguenta. Aguenta... que passa. Vais voltar a sorrir. Vais ver

Mas vamos aos acidentes:  

Fotografia real do avião acidentado aquando avistado em terra tendo problemas

O primeiro acidente remota ao ano 1985. No dia 12 de agosto o voo 123 da Japan Airlines (JAL) saiu de Toquio rumo a Osaka e ficou uns aterrorizantes 32 minutos no ar, em dificuldades. Sem os sistemas hidraulicos a responder, os pilotos fizeram um trabalho exemplar para manter a aeronave e os passageiros vivos, após duas explosões se fazerem sentir, 32 minutos antes. Mas nenhuma das suas técnicas e perícias pode evitar o acidente. O boing 747 foi perdendo altitude e chocou de frente contra uma montanha. 520 fatalidades. SURPREENDENTEMENTE, existiram QUATRO sobreviventes.


Aqui abro a minha boca e deixo cair o queixo de espanto. Jamais, em momento algum, poderia acreditar que alguém pudesse remotamente sobreviver àquilo. Devem ter sido projectadas do avião porque... quem ia dentro... nada era reconhecível. A nave ficou em montinhos de estilhaços. Que alguém tenha sobrevivido é... impossível. Milagroso. 

Tando o "Mayday" como o "segundos fatais" documentaram este acidente. Cada qual fornece um dado extra que foi omitido pelo outro, por isso vale a pena ver ambos. Para meu espanto, descobri no segundo que, após o acidente, existiam mais sobreviventes. Mas o tempo que levou os socorristas a chegar ao local foi-lhes fatal. Se não tivesse existido uma hipótese de terem chegado mais depressa ao local do ocorrido - tinha-se de aceitar esse destino. Mas a realidade é que um helicóptero americano ia para descer na zona dos destroços e nesse instante recebeu ordens para regressar à base. Até hoje ninguém assumiu ter dado essa ordem mas, a realidade é que autoridades japonesas proibiram o helicoptero "estrangeiro" de aterrar. E com isso, perdeu-se a oportunidade de salvar mais vidas. Alguns passageiros faleceram depois da embate, após muitas horas até chegar socorro.

Outra coisa que descobri no "segundos fatais" é que o gerente de manutenção cometeu suicídio. Não foi o único e suspeito terem existido mais em decorrência da tragédia. Procurando confirmar a veracidade dos fatos, uma pesquisa online revelou que em 1987 um dos três investigadores que deu o avião como seguro para voar após uma reparação na cauda feita em 1978 - que acabou sendo a causa do acidente - também se suicidou após regressar de um dos interrogatórios de averiguação de responsabilidades. Susumu Tajima tinha 57 então anos. Estando envolvido na reparação bem amadora feita no avião - diria que talvez tivesse responsabilidade sim. Embora eu ache o suicídio extremo, colocando-me na posição de alguém responsável por tantas fatalidades, ficaria muito abalada e me sentindo culpada. Mas teria de aceitar - me esforçar para isso. E tentar tirar algo de positivo de uma tragédia irreparável. 

O voo 123 da JAL foi acidente com o maior número de vítimas na história de acidentes envolvendo apenas uma aeronave. 

Foi também muito precioso para a segurança aeroportuária. Deste acidente implementaram-se medidas de segurança para que acidentes como este jamais se tornasse a repetir. 

Faz muito tempo que concluí que, coisas horríveis acontecem neste mundo, para que possamos aprender com elas. Se não fosse pelo mal, não existia o bem. Pode parecer indesejável mas, tudo tem dois lados e o equilíbrio só se alcança assim. Sem o mal, as pessoas esquecem rápido. Esquecem como ser cordiais, como deixar de olhar para o próprio umbigo, como deixar de ser tão ambiciosas para proveito próprio e aprendem a se melhorar como indivíduos. Nem todos reagimos igual nem ao mesmo tempo mas sim. Somos todos "fabricados" da mesma forma e, ainda que muito aceleradamente ou lentamente, o comodismo, o conforto, a boa vida faz-nos mais egoístas e menos generosos. Tem sido a maldade no mundo, a tragédia, que mais facilmente nos une. 

Não me vou extender tanto no segundo caso mas o acidente com um comboio teve causa nessa cultura "tradicional" japonesa. O condutor, um jovem de 23 anos, já tinha sido repreendido por uma falha. A companhia tinha (e ainda tem) um programa de "reabilitação" onde, quem comete uma falha, é imediatamente enviado. São dias ou meses de pura tortura psicológica. Ofensas e humilhações. Mas a companhia chama isso de "re-educação". Um dos funcionários que prestou depoimento, na faixa dos 40, contou que, por ter chegado 2 minutos atrasado a uma reunião, foi enviado para ser "reabilitado". Disse que quase desistiu, sofreu forte tortura psicológica. Entre algumas outras coisas, além de gritos e ordens, era forçado a escrever relatórios por horas, relatórios de "arrependimento" e a executar tarefas menores, como limpar cocó de pombo dos carris, com uma escova de mão. 

O condutor do comboio, jovem, que já tinha sido repreendido, durante a condução tinha já cometido um erro: passou um sinal vermelho. Cheio de medo da consequência, ele ficou nervoso e, em excesso de velocidade, parou abruptamente numa estação, tendo parado com 4 carruagens à frente. Certamente seria severamente punido por isso. Acabou por recuar o comboio para que as carruagens da frente pudessem liberar os passageiros e com isso perdeu quase dois minutos do seu horário. Para compensar, acelerou. No país onde és severamente punido por chegar 60 segundos com atraso - e onde todas as ligações têm apenas segundos de tempo para ser executadas - causando prejuízos avultados - a pontualidade torna-se um fardo pesado demais. Assustador e de temer - se implicar castigos psicológicos e físicos. 

Ele acelerou e, numa curva, acidentou-se. As primeiras quatro carruagens descarrilaram. A da frente enfiou-se numa garagem de um edifício, a segunda ficou esmagada em forma de "L" contra os alicerces, a terceira ficou revirada e a quarta saiu dos carris. 

Tudo isto porque... o Japão é um local especial. Diferente. Que tem tanta coisa admirável mas que esconde, por detrás de toda a sua eficácia, uma cultura ditadora de exigência extrema à qual o suicídio pode facilmente ser a opção tomada - e aceite pela população em geral. 


sábado, 17 de agosto de 2024

Pés, para que vos quero?

 

Trabalho duro, fìsico, traz as suas consequências corporais.

Meus pés precisam de milagres. É dia sim, dia nâo. Cada dia uma mazela diferente. 

Sei que nasci para ser princesa porque sou sensìvel como as princesas dos contos de fadas.

Pés sensíveis, a precisar dos melhores especialistas e um bom artesão sapateiro para criar obras de arte moldadas aos meus pés. 













quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Conseguem destinguir um arbusto do outro?

Estes dois arbustos ficam no pátio de casa. 
Um deles é um loureiro. O outro não.

Conseguem destinguir um do outro?


Não fazia ideia de que tinha um loureiro em casa. Até que um dia passa na rua um senhor de alguma idade e, apoiado na sua bengala a olhar, pergunta-me se pode levar umas ramadas porque se trata de um loureiro e é "muito bom para fazer sopas".

Autorizo e fico a pensar: um loureiro??


Já faz para três anos e tenho sentido saudades desse senhor que, tempos depois, voltou a repetir a façanha. Pessoa de uma geração antiga, que sabe apreciar o que a natureza provide. Que pede sem se temer passar por uma vergonha, com naturalidade e cortesia.

Esperei pela sua passagem novamente. A que seria a sua terceira passagem. Porque queria muito lhe dizer que podia se servir à vontade, não tinha mais de pedir. Podia tirar o que quisesse as vezes que precisasse.

Só que essa terceira vez nunca chegou. E eu fiquei a sentir-me triste. 

Porque se o senhor idoso, de bengala, que passava pela rua com frequencia o deixou de fazer, só pode significar uma coisa. E não é boa.

Nunca mais regressou. Faz dois anos e, de alguma forma, ainda espero, um dia, o voltar a ver passar e pedir ramadas de loureiro.


Queria deixá-lo à vontade para se servir. O arbusto é enorme. Depois de podado então, os ramos espalhados pelo chão são tantos que daria para abastecer uma casa por um ou dois anos! 

Isto se todos forem como eu. Que usa uma ou três folhas de louro apenas para deixar algum sabor e tempero num caldo ou marinada. 

Escusado dizer que nunca mais me forneci de folha de louro noutro lugar que não... fresquinho, do meu loureiro. 😊