domingo, 17 de julho de 2016

A Tracy e a todos nós


Por vezes espreito aqui as estatísticas do blogue.
Então não é que tenho como origem de tráfego outros blogues, alguns que visitei faz muito tempo? Os que visitei recentemente, um já tem o acesso restrito só a leitores convidados, puf! E depois tenho aquele  - o persistente. Aquele que está sempre lá, por vezes até como a fonte de entrada com mais acessos. O curioso é que não vejo quem possa cá vir tanta vez a partir dali. Nem porque motivo. O dono não deixa comentários, pelo que se for um visitante, então que raio de visitante obcecado é esse, que surge só para bisbilhotar, não para interagir?

Mas o que quero realçar são as entradas por antigos blogues nunca mais visitados. Reconheci-os pelos nomes, lembrei-me que já os havia visitado algures no tempo e fui espreitá-los. Infelizmente, ambos já estão inactivos há bastante tempo. Quase desde o tempo em que lá fui pela última vez comentar. Então assim sendo, como podem estes ser uma "fonte de entrada"?

Um deles em particular deixou-me a achar «coisas». A autora relatava, por meias-palavras e todas optimistas, a sua «luta» com uma doença «séria». E depois, subitamente, «desaparece» da blogosfera.

E é então que sentes uma impressão estranha, uma espécie de «empurrão» de receio solene...
Será que o motivo pelo qual deixou de continuar o blogue é o facto de não mais cá estar para o fazer? Então e aquele optimismo todo? As boas notícias do médico? Como pode? - pensa-se.

as mais recentes palavras de busca que cá trouxeram pessoas

Há uns tempos tive para cá vir fazer um post mais profundo do que este, sobre este mesmo tema. No facebook tenho aquelas amigas estrangeiras, das quais já falei aqui. São, basicamente, pessoas que não conheço em carne e osso mas com as quais interagi devido a um jogo. A Tracy, é uma delas. Uma vez escreveu no mural (num daqueles desabafos que falei aqui achar emotivos) que "desejava ter para onde ir, um lugar só dela". Tudo porque a filha e o genro implicavam com as horas que ela passava ao computador. Disse ela que a única alegria e distracção que tinha dos seus problemas era estar ali a jogar e interagir com as pessoas. E não poucas vezes deixava escrito: "Going for a break. But I will be back". (Vou fazer uma pausa, mas volto logo). Pausas que fazia, algo forçada, porque outra pessoa queria usar o computador.

A Tracy estava a travar «aquela» luta com «aquela» doença. Uma vez contou-me, numa mensagem privada em que me agradecia um gesto relacionado ao jogo, que esquecia os seus problemas quando jogava. Tinha andado a sentir-se muito em baixo, mas que já se sentia melhor. E quando ela entrou por esse assunto eu senti um silêncio solene. O que ela escreveu bateu» mais intensamente e senti que ela estava a disfarçar um receio com um falso optimismo. Na realidade, senti que a transição estava próxima.  

Noutra ocasião mais tarde, ela deixou uma mensagem bem optimista no mural. Estava a sentir-se bem e planeava voltar mais vezes.


Foi a sua última mensagem. Mas só o fui confirmar faz pouco tempo. Não o quis fazer antes. Percebi que não fez mais publicações do jogo, mas como ela tinha períodos de alguma duração sem lá ir, talvez aquele fosse mais um.... Mas não. Aquela mensagem optimista que garantia que voltava, foi, como pressenti, as «melhoras antes da morte». 



Tracy podia ter falecido. Mas, por alguma razão, por uma espécie de necessidade, não quis ir certificar-me se a ausência era real e permanente ou apenas perceptiva e temporária. Fui deixando o tempo passar. E um belo dia, como quem deixa passar um luto, decidi ir visitar o mural da Tracy. Foi então que confirmei o seu falecimento.


No acto descobri outras coisas, todas elas de uma energia que tomei como positiva.


A primeira é que, ninguém lhe apagou a conta de facebook. As publicações continuaram com alguma regularidade desde novembro, quando faleceu, até hoje. Uma pessoa escreveu: "amiga, porque nunca mais deste notícias?" Mas tirando essa, as pessoas até que prestam uma sincera homenagem. Enterneceu-me em particular, ver que, naquela que seria a data do seu aniversário de nascimento, as pessoas foram lá deixar os seus parabéns e eternas saudades. 

Para quem se sentia sozinha, abandonada, por vezes incompreendida, até que tinha amizades que se fizeram sentir a título póstumo.

Como acredito que a morte traz à pessoa uma transição para outra «dimensão» não carnal, onde tudo passa a ser sentido com uma percepção diferente e muito do que nos martiriza aqui não tem mais qualquer importância, acredito na serenidade e felicidade póstuma. Julgo por isso possível que, em certas ocasiões e de alguma forma, onde quer que a pessoa esteja, lhe é possível sentir o afecto que lhe dedicam quando já não está de corpo presente.

E pronto. É isto.
A partida das pessoas que conhecemos pelo mundo virtual...
Também é sentida. 
Saibam disto.



1 comentário:

  1. Com certeza que sim. É perfeitamente possível conhecermos alguém sem mesmo o termos efectivamente conhecido, é quase como a diferença entre ver e o olhar. Há coisas que as palavras não descrevem nem coisas que se explicam - sentem-se. Este é um dos belos exemplos disso.

    Quanto à morte, há quem diga que é apenas um "até já", ou melhor, um "até logo". Um logo que nós desejamos que seja bem prolongado. Certa vez, lá na terra do meu pai, durante um funeral, um tipo que não sabemos bem se estava a brincar (embora sem malícia) ou a falar a sério, disse qualquer coisa assim do género: "Que Deus o (falecido) tenha muitos anos sem nós". E, bom, a morte é uma coisa tão certa como é a própria vida...

    Que a tua amiga Tracy descanse em paz.

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