quarta-feira, 1 de julho de 2009

Recibos verdes e injustiça

Estou a viver um período de decepção laboral.
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Cumpro um horário de 8 horas, com várias horas extra não renumeradas.
É comum fazer almoços de 30 minutos, ao invés da hora que me é de direito.
Ás vezes nem sequer almoço, e mastigo uma sandes enquanto trabalho.
Não tiro um segundo para descansar.
Trago trabalho para fazer em casa ao fim-de-semana e não só.
Estou sempre sobrecarregada de coisas para fazer, fazendo-as bem.
Nunca faltei a um dia de trabalho.
Adiei qualquer necessidade médica para não faltar ao trabalho.
Tudo isto, a recibos-verdes.
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O dia-a-dia:

Desde o despertar para me arranjar para ir trabalhar e o sair do trabalho e chegar a casa, passam-se 13 horas do meu dia. Se subtrair das restante 11 as 8 horas que é suposto reservar para o sono, são 21 horas. Restam-me apenas 3 para fazer algo que não seja trabalho. Mas, no geral, o cansaço não me dá muitas alternativas.
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O ritmo a que trabalho é intenso. Realmente, não páro um segundo. Não faço lanches a meio da tarde, nem pausas para o café nem nada realmente, que me retire da compulsividade para o trabalho. Isto é exaustivo. Quando finalmente as tarefas cessam e o corpo tenta relaxar, a exaustão faz-se notar. Ainda que queira sair para me divertir, o corpo não deixa. E não é de espantar.
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Acabo por não conviver muito com os outros. Viro um "bixinho" do trabalho. Não sou uma criatura explosiva, pelo que, tenho de aguentar muita coisa errada e lidar com a revolta alheia, sem recorrer ao mesmo veículo de escape. Não grito, não deixo trabalho para fazer, estou sempre a verificar se tudo está bem, não passo trabalho incompleto aos outros, e, muitas vezes, acabo a resolver os problemas que cabe a outros. Sei que sou muito produtiva mas, em suma, o que sou é ser idiota.
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Faço tudo isto, e não tenho nada meu. Acabo por dormir apenas uma média de 5 horas por dia, para poder ter mais "tempo livre" para fazer outras coisas. Ou seja: enquanto outros "roubam" este tempo ao trabalho, eu tiro-o das horas do sono. Tanta dedicação, e são os outros que recebem melhores salários, deslocam-se de automóvel para o trabalho, vivem em casas próprias. O meu salário não me permite, sequer, ser independente da guarida de terceiros. O meu salário, corresponde a METADE daquele que é recebido pelos restantes colegas. Repito, passo recibos-verdes.
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Não vou ao médico e estou a adiar uns tratamentos caros no dentista.

Quando penso nisto, fico revoltada. Comigo, com a falta de gratidão, com a injustiça, com o aproveitamento, com tudo!
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Ao final de um mísero ano nestas condições, o que é que penso? Que não me é dado o devido valor. Começo a achar também que tenho agido mal, em ser como sou. Devia dar menos de mim à entidade patronal e fazer mais alarido sobre as responsabilidades que carrego nas costas e o quanto sou magnânima por resolvê-las. É que, cada vez mais, vejo que o que conta é a aparência. É o alarve que se faz ao redor da coisa.
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Sou humilde e isso nunca me levou longe. Se for a olhar para cada um dos meus colegas, cujas faltas também começo a perceber, sei apontar distintamente o que cada um diz de si mesmo que os faz parecer ter mais valor do que, se calhar, têm. Ou seja: fazem eles bem, ao estarem constantemente a relembrar o local de trabalho sobre as suas qualificações e habilidades.
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Por acaso sou a única com licenciatura ali dentro. Mas isso não conta nada, se não souber tocar o meu trombone, puxar a brasa à minha sardinha e por aí adiante...

Sou também uma de 2 pessoas que passa recibos verdes. Mas existem diferenças. Eu cumpro um horário integral, a outra pessoa não. É uma «recibo verde» verdadeiro.

Eu tenho cerca de 85% do trabalho a meu cargo, a outra pessoa tem 15%.

Eu tenho um salário que corresponde a menos de metade do salário da outra pessoa.

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E o que me dói neste instante, é não ter um salário perto da quantia dos restantes e não ter o meu trabalho reconhecido pela entidade patronal, que se recusa a me integrar como funcionária contratada para não pagar à Segurança Social.
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Digam-me lá se vale a pena continuar a trabalhar assim, nestas condições, para sobreviver com 200 euros?

Bem, tenho de terminar este texto para ir trabalhar.... já são 7.20 da manhã... tenho de me despachar.
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:(