terça-feira, 8 de março de 2011

Assédio Moral

Tenho estado permanentemente preocupada com a minha situação laboral. Na realidade, sou trabalhadora por conta doutrém, que, legalmente, trabalha por conta própria. Ou seja: Passo recibos verdes à entidade empregadora.



Com isto, esta livra-se de pagar mais impostos, quem paga a segurança social SOU EU - os tais 160€ mensais, não tenho DIREITO a coisa alguma, NÃO recebo 13º MÊS, não tenho SUBSÍDIO DE FÉRIAS, não tenho FÉRIAS... e estou a trabalhar tal como qualquer contratado da empresa!



O que me tem atormentado o espírito ultimamente é a plena consciência do quanto sou MORALMENTE ASSEDIADA no trabalho. No primeiro ano e meio, o assédio de um colega que, tal como eu, é independente, prendeu-me demasiado a atenção para que pudesse compreender as diferenças de trato do patrão também como assédio moral. Claro que as detectei de imediato, mas interpretei cada uma delas como "falta de reconhecimento" pela minha dedicação ao trabalho e algumas outras situações desculpei-as como tendo origem em preocupações pessoais e ao stress.



Agora, que faz quase TRÊS anos que estou naquela empresa, dou comigo a perceber que continuo a ser moralmente assediada de várias formas possíveis e que, estas, já estavam presentes desde o início, eu é que "as desculpei" com outras justificações ou tolerei-as por achar que, com o tempo, iam dissipar. Mais que não fosse, porque o merecido reconhecimento profissional acabaria por se evidenciar e o meu próprio mérito acabaria por assim o impor.



Estava enganada. Que tenho mérito, isso, a meu ver, é indiscutível. Mas tenho 100% de dúvidas quanto à entidade empregadora - o patrão - saber reconhecer isso.



Dou exemplos... ai! São tantos que até me custa se tiver de elaborar uma lista tentando referir todos! Vou começar por... pela presença na empresa. Como trabalhadora independente, a presença no local de trabalho não é imposta como a um contratado. Mas a minha foi-me sempre imposta pelo patrão. Eu precisei ir ao dentista tratar de uma cárie e só três meses depois de desejar fazê-lo, é que consegui um dia útil da semana para me deslocar ao médico. Essa, não esqueço!



Nesse tempo, a cárie fez os seus estragos e, se calhar, a desvitalização e a consequente despesa que esse tratamento acarreta, teria sido evitada, caso tivesse procurado ajuda há mais tempo. Ainda assim, fosse qual fosse a consulta médica a que precisava ir, conciliava-a num horário que me permitisse utilizar o resto do dia para deslocar-me ao local de trabalho - que fica bem longe e me obriga, todos os dias, a quase duas horas de deslocação para ir, e outras duas para voltar. Além disto, quando chego, aguarda-me uma caminhada de 15 minutos por um caminho que nem pavimentado com um passeio era. Quando chovia, chegava sempre enxarcada de cima a baixo, não importava os cuidados que tinha para o evitar. Os meus pés... sempre molhados! Por vezes, quando chegava à empresa, pedia emprestado um dos aquecedores para os secar, mais às meias e a botas. Sou a única ali a trabalhar que não tem carro. Se não chegasse às 9 horas, era chamada à atenção. Como tenho de voltar a subir a rua quando saio da empresa, tenho de sair, no mínimo, até 5 minutos antes das 18.00h para conseguir chegar a tempo de apanhar o transporte. Mesmo em dias de muita chuva, acham que alguém se preocupou? Até me ocupavam os últimos preciosos minutos, fazendo com que tivesse de correr esse percurso para não perder o transporte que passa de hora em hora.



E sempre, sempre, ao me ver sair, o "patrão" suspirava. Vamos a ver: eu cumpro horário de trabalho (mas não tenho quaisquer obrigações - é até, ilegal), saio a 5 minutos para as 18.00h (Ui, chamem a polícia!). No inverno, sair às 18.00 horas significa que já está escuro que nem bréu e tenho de subir ruas íngremes à beira de uma movimentada estrada e fazê-lo a correr, porque já vou com atraso. E ele suspira? Com que legitimidade??



Fê-lo muitas vezes e comecei a assossiar, até porque, algumas vezes, olhava para o relógio e grunhia um som. Uma vez tive de lhe dizer, numa conversa, que isso não se faz. Pois, numa ocasião, cheguei às 10.00 horas da manhã ao trabalho. Isto aconteceu há poucos meses. Em Outubro, provavelmente. Ele já nem me pagava o que tinhamos acordado, eu já estava a trabalhar na empresa há dois anos, com uma diferença salarial brutal em relacção à minha colega, cuja presença não era cobrada e o nosso acordo estipulava que eu não tinha que aparecer todos os dias, muito menos sempre às 9.00 horas... e ele, quando nem sequer tem ali alguém por perto, ao me ver caminhar em direcção à empresa, olha para o relógio e diz-me as horas e os minutos que são, abanando com a cabeça e usando um tom recriminatório. Foi a gota de água e não deu para deixar passar em branco. Muito calmamente, voltei para trás e disse-lhe: "São 10 horas e 8 minutos são... e daí?".



Ora a lata! O descaramento! No final de dois anos, em que fiz inumeros sacrifícios pessoais em prol da empresa, em que cedi a todos os seus pedidos para ficar mais tempo a trabalhar - trabalho esse que terminava às 3 da manhã, e eu, de pé desde as 7h da manhã... É muita lata quando me tem ali todos os dias, sempre pontual! Mas há mais! Eu trabalho durante a hora do almoço. Faço, portanto, 9 horas diárias de trabalho. Em deslocações levo sensivelmente 4 horas, o que faz com que sobrem 11. Se dormir 8, coisa que é mais comum acontecer pela metade... sobram apenas 3 para fazer todo o resto. E o resto que é preciso fazer é lida da casa... :(



Mas há mais! A coisa só mudou em Janeiro de 2010 mas, os seus próprios funcionários - coisa que eu não sou - aqueles em que ele realmente podia exigir o cumprimento de horário, tinham faltas gigantescas! Uma chegava sistematicamente ao meio dia! Muitas vezes, precisava sair às 16.00 h, e lá ia ela. A hora de almoço eram, na verdade, duas ou três..! Sem exagero. E, da boca dele... silêncio! Caldinho perante esta realidade! A diferença de trato era escandalosamente brutal! E tudo porque, o imbecil (neste caso é mesmo o termo apropriado) acha que eu sou dispensável à empresa e a outra não é - por isso permite que uns fazem o que lhes apetece e de outros, que já fazem muito, exige mais ainda.



Neste aspecto, é um pobre imbecil...



Quase sempre fui a primeira a entrar na empresa. E por ser a primeira a sair, apenas disfasada de 5 minutos dos restantes.. este tratamento? Ah! E há mais um detalhe importantíssimo neste meu horário... o não fazer pausa para o almoço. Trabalho, perfazendo 9 horas diárias! Além disso, muitas vezes trouxe trabalho comigo para continuar em casa, e para fazer nos fins-de-semana. Feriados, trabalhei-os todos! Ele dizia que precisava de nós, senão não havia dinheiro para ordenados no final do mês... e que depois tirávamos o dia. Mas o dia nunca era tirado, e o feriado também não. Nada de férias, trabalhar nos feriados, horas extraordinárias, trabalho feito em casa, trabalho no fim-de-semana... Ele sabe disto, nunca me agradeceu o facto. Se um dia se mostrou compreensivo, foi por detectar que se excedeu e que está na altura de me passar um pouco de "banha da cobra" para me amolecer.



O acumular destas situações está a ter um efeito em mim que ultrapassa o mal estar emocional, e já se faz sentir no físico. Essas consequências estão a preocupar-me. Terei de viver com elas o restante da minha vida e, o causador, jamais, sequer, se reconhece como tal. A vida continua e eu... fico com as mazelas!



Há! Outra história que acabei de me lembrar: uma vez, fiquei mal do estômago durante umas semanas, mas fui sempre trabalhar. Sentia-me mal, ficava branca que nem cal, e tinha de ir constantemente ao WC... mas trabalhava. Mais para o avançar da coisa, tinha de ir trabalhar em jejum, para não vomitar com o movimento da camioneta, e continuar o dia inteiro sem comer nada - porque despejava tudo para fora. Até que um dia, todos me disseram para ir para casa (menos o "patrão"), porque estava mal á demasiado tempo. Lá fui. Chegada a casa, recebo um telefonema do "patrão" que me diz que fui embora para casa e agora estavam a precisar de um trabalho pronto, que precisava ficar pronto com urgência dali a duas horas! Coisa que ele decidiu no espaço de tempo em que me ausentei, porque até então... não haviam urgências.



É muito cruél! O que me valeu -se é esta a interpretação correcta que devo fazer à coisa - é que sou uma pessoa dedicada e precavida. Tinha trazido o trabalho comigo. Fi-lo entre contorções de dores e idas ao WC e enviei-o por email. Prazo cumprido, mesmo quando "inventado" em cima do joelho.



Noutra ocasião, muito mais para trás no tempo, os colegas fizeram uma espécie de "chantagem emocional" quando o patrão lhes pediu para irem trabalhar ao sábado. Começaram a dizer que só iam se "todos fossem", incluindo eu. Eu, que sou quem tem mais dificuldades em se deslocar e a que vive mais longe, fui trabalhar nesse sábado, para fazer um trabalho que podia muito bem ser feito em casa. O meu trabalho é escrever, logo, posso fazê-lo em qualquer computador. O deles é outro, necessitam das ferramentas que só a empresa disponibiliza. Eles tinham de lá estar, eu não. O que acontece? Chega ao meio-dia, vão-se todos embora. Eu fico ali sozinha na empresa. Afinal, onde havia a urgência?? Para quê aquela deslocação? Fui eu gastar o meu dinheiro na compra do passe - que podia durar mais uns dias se o tivesse comprado na 2ª feira, tive eu um prejuízo enorme, e aqueles que mais chantagem emocional fizeram, "piraram-se" antes do almoço? A lata! E nenhum foi capaz de dizer: "queres boleia"?



Era sábado - existem menos transportes públicos. Lá fui eu subir a rua a correr, porque achava ir já fora do horário. Não estava a sentir-me lá grande coisa. Andava exausta, precisava descansar e estava ali. Tinha desperdiçado o sábado numa deslocação desnecessária e ridícula. Fiquei economicamente prejudicada e, pelos vistos, a minha saúde estava também nas últimas. Estava mesmo a sentir-me mal. Os meus colegas muitas vezes me diziam que, se precisasse, devia apanhar um taxi e depois apresentar a conta ao "patrão", pois se me desloquei até ali em carácter laboral, esse era um direito meu. Quando cheguei à paragem, descobri que o transporte só ia aparecer dali a 2 horas! Estava sozinha, sem ter para onde ir, só queria chegar a casa para me deitar... duas horas bem podiam ser 5 dias! Eu não ia aguentar! Nisto, pára um taxi à minha frente. Nunca tinha visto um taxi naquelas bandas, e já ali andava há mais de um ano. Entrei nele sem pestanejar. Tive de ir levantar dinheiro, pois não tinha comigo nada. Fiz o trajecto até casa e, mal cheguei, entrei em colapso. Tanto que, até esqueci de pedir o recibo ao motorista - coisa de que falei mesmo antes de sair da viatura. Estava mesmo mal, pior do que pensava. Passei o Domingo a recuperar. E, na segunda-feira, apresentei a situação ao "patrão", deixando de fora a parte de me sentir mal. Ele ficou espantado por lhe pedir que pagasse o taxi. Achava que não tinha de o fazer. Até lhe fiz ver que, noutras situações, eu arquei com as despesas - situações em que precisei deslocar-me a trabalho e paguei do próprio bolso despesas que, de outro modo, não as teria feito. Isso, ele não se importa nada que aconteça... tinha uma colega que lhe cobrava cada centavo e ele pagava prontamente perante as suas queixas, sem barafustar. Era impossível não saber que eu teria o mesmo direito. Mas como fiquei calada, ele quieto ficou. Nunca veio ter comigo para me pagar os bilhetes de comboio... nada. No final do mês, até se "esquecia" de pagar parte do ordenado, ou, como aconteceu uma vez e eu achei desprezivel, arredondou uma quantia que acabava em 59.76€ para 59€! Ficando com os 76 cêntimos para si! Quer dizer: explora-me até a medula, não me paga um bilhete, faz-me ter despesas extras, (uma vez, por pedir que fosse trabalhar uns feriados, aumentei as despesas em 30€) e acha que não me deve o taxi? Como defendeu essa ideia, disse-me que acordava em pagar metade, porque a mais não se sentia na obrigação. Disse-o, mas não o fez. Eu não esqueci. Fiquei a ver se ele cumpria o prometido. Certamente não se esqueceu. O que fez foi ver se eu deixava a coisa andar. Deixei... vendo assim, acho que sou uma burra.



Tudo isto - que ainda é pouco no contexto do todo, está a perturbar a minha saúde. Coincidência ou não, desde que fui para lá trabalhar, a minha fisionomia alterou-se. Agora ando deprimida, por causa deste assédio, mas também porque começo a relaccionar os meus problemas de saúde com a sua existência. Dedico-me demasiado ao trabalho, e não ser reconhecida nem valorizada por tudo o que fiz e continuo a fazer, é doloroso. Angustia e causa um peso no coração e na alma. Tantas tantas vezes, as coisas só aconteceram porque eu estive lá para as fazer. E, no final do mês, ao invés de um reconhecimento, recebia a conversa "estamos mal, não há dinheiro, a crise...".



Uma vez disse-lhe que não me custa nada sair de um emprego. E não custa mesmo. Contudo, não tenho outro para onde ir e, para ser sincera, só o faria se gostasse do que ia fazer. Trabalhar sem prazer não é coisa que consiga fazer. E é por essa razão que tenho ficado pela empresa - por gostar do que faço. Não por não ser melhor do que aquilo ou por não ter outro lugar para ir. Também não procurei muito... gostava do que fazia, aquilo ocupava todo o meu tempo útil e mesmo o livre, e, ainda por cima, não era reconhecida pelo meu excelente trabalho! É... irresistível :(((((



Hoje, feriado de Carnaval, estou em casa, a trabalhar. Tal como passei o fim-de-semana. E para quê? Que benefícios retiro para mim? Ainda aguardo receber metade do ordenado do mês de Fevereiro. Ordenado esse que já foi reduzido em quase 200€, sem que eu tivesse muito que dizer a esse respeito.



Foi por esta altura, o ano passado, que, perante uma demonstração de ingratidão enorme, tive de apresentar ao "patrão" os números: quase 400 horas de trabalho num mês com uns 16 dias úteis! Cumprindo tarefas dantescas que, arrisco dizer, o comum dos mortais se recusaria a fazer ou o conseguiria cumprir com sucesso. Existem muitos a falhar por ali, e sou eu que costumo juntar todos os fragmentos e fazer a "colcha" sem deixar as marcas dos retalhos...



Sei que, literalmente, quase me matei a trabalhar para a empresa... Horas e horas seguidas de trabalho contínuo, exaustivo... para quê? O meu ordenado e condições laborais só fizeram foi piorar! Nunca vou receber o devido valor. Isso é tão infame que devia ser legalmente reconhecida e recompensada por isso. Sei que "safei" a empresa inumeras vezes. Existem prazos para se cumprir que, se foram cumpridos, à minha dedicação e empenho se deveu. Isso é tão evidente, que dispenso sempre os louros. Começo a perceber que, dentro de uma empresa, não se pode esperar que seja o trabalho a falar por nós. Temos de ser nós a dizer que fazemos um bom trabalho. Aí, os outros acreditam. Principalmente, se fores um mentiroso! É nesses que as pessoas acreditam mais! Agora, se fores do tipo silencioso, que trabalha na "surdina" e faz tudo acontecer, sem denunciar o esforço ou o tamanho da empreitada... esquece!



De momento, estou a realizar quatro ou cinco trabalhos em simultâneo. Essa é outra das minhas características. "Saltar" de um tema para outro, mantendo-os a todos na minha cabeça. Ainda não esqueci de um detalhe, de um contacto que tenha ficado de realizar, ainda não falhei com uma resposta que tivesse de dar a alguém... ainda. Estou cansada e, muito sinceramente, mereço melhor. E mereço me tratar melhor.