sábado, 28 de dezembro de 2019

A inflacção já começou!


Numa comprinha de última hora, fui à Claire's, uma loja de acessórios de bijutaria. Achei os preços praticados UM ROUBO. Tudo muito caro! Entrei em outras dentro do mesmo género e concluí que em Portugal cobram três vezes mais do que seria de esperar por este específico tipo de bem. Afinal, a loja não vende peças de joalharia! Em nenhuma parte há um pendente que seja, feito com um liga de prata, ou uma pedra semi-preciosa. Mas os preços... estão tão próximos! Tudo ali é feito com o mais reles plástico ou metal que existe. É BIJUTARIA!!!! 

Achei o valor praticado inflacionado. Mas sujeitei-me. Contudo, a pior constatação ainda estava por vir. 




Quando chego à caixa para pagar, a funcionária passa o meu produto na caixa registadora e diz: "Vou oferecer-lhe uma máscara para o rosto". Não quero nenhuma máscara para o rosto e quase lhe disse: "Deixe estar, não quero". Mas antes de processar bem, ela já havia pego numa que estava mesmo ali, e passado o código de barras no scanner. Primeira constatação: se é GRÁTIS, porque é que teve de passar no scanner?

Mas deixei passar. Queria ir embora, precisava despachar-me. Só quando chego a casa e presto atenção, é que verifico o "truque" dela. Acho mesmo que é prática recorrente na Claire's. O valor que o código de barras do produto indicou é inferior em mais de 2 euros ao da etiqueta de preço. Ainda um ROUBO, um exagero para o tipo de produto ali apresentado, mas mais próximo de um valor realista. 


Acabei por PAGAR pela máscara de rosto (a meu ver também inflaccionada) porque a funcionária quis cobrar um valor mais próximo do indicado no autocolante, ao invés do valor exposto pelo sistema como verdadeiro. E deve ter sido instruída para fazê-lo com as máscaras para o rosto, chamando o gesto de "oferta".


Oferta uma pinóia!
Complemento para o roubo, isso sim!



quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Poema sobre o Natal pelo parecer de Gedeão



Dia de Natal


Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.


É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor anuncia o melhor dos detergentes.


De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?)
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente acotovela, se multiplica em gestos esfuziante,
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica
.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
E como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra – louvado seja o Senhor! – o que nunca tinha pensado comprar.


Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino abre um olhinho na noite incerta
para ver se a aurora já está desperta.
De manhãzinha salta da cama,
corre à cozinha em pijama.


Ah!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus, o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam que caíam crivados de balas.


Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.


António Gedeão, (1906-1997), in 'Antologia Poética'

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Lista de Presentes


Quando era adolescente por vezes escrevia no diário o que recebi pelo Natal. Mas o que a mim mais me entusiasma nesta quadra não é o que recebo, mas o que ofereço. Precisamente o lado que parece que incomoda muitos. Se for a tomar como exemplo desconhecidos que encontro na azáfema das compras e os lamúrios que falam.

É no dar que sinto mais prazer. Gosto de lembrar-me do que a pessoa possa gostar e alegro-me com as reacções, sejam de surpresa, espanto, aversão, riso ou demais.

Não me perguntem quanto já gastei em presentes, não sei especificar. O dinheiro simplesmente sai da carteira, do banco... e vai se juntar aos muitos de muitos outros numa caixa registadora qualquer.


Lista de oferendas:

1) Caixas com biscoitos
2) Conjunto de utensílios para o banho
3) Porta-chaves cómicos e com tripla funcionalidade
4) Blusa
5) Calendários personalizados
6) Queijos com licor
7) Livros
8) Brincos e outra bijuteria (em prata, mas pronto...)
9) Jogo de luzes em movimento
10) Livro "primeiro ano do bebé"
11) Kit de genealogia
12) Caixa com 24 bombons Mon-cherie
13) Perfume (raro de encontrar e muito desejado por quem o vou oferecer)

E julgo estar aqui tudo.


VOCÊS...
Qual vos agrada mais? Já sei, os queijinhos com licor!
Pois, também a mim, eheheh.

FELIZ NATAL E BOAS FESTAS! 





Poupem o vosso dinheiro se pensarem em investir nisto...


Não gastem o vosso dinheiro em tratamentos estéticos dispendiosos.

Este é o meu conselho.


Para quem possa estar a pensar nisso, aqui fica a conclusão da minha experiência fruto da passagem por um consultório médico de uma renomeada médica esteticista.

Entrei para fazer uma avaliação geral (gratuita) e querendo saber como funciona uma técnica específica. Mas as minhas questões tinham de ser respondidas  em consulta. Que tem um custo de 100€ e que foi prontamente disponibilizada, em menos de meia-hora, mesmo com a agenda super intensa da doutora. 


Três mil euros depois e com a promessa que uma máquina que estimula o colagénio na pele ia remover e atenuar rugas pelo menos por dois anos, submeti-me a um procedimento doloroso executado por etapas e seguido à risca. No final, não notei qualquer diferença no aspecto, nem eu, nem ninguém! Nem sequer em fotografias de antes/depois. Diferenças, só na carteira. De resto, continuam a "chatear-me" por ter um ar cansado, exausto, sofrido. As rugas continuam no sítio de onde as desejei deixar de ver. 

A todo o lugar a que fui, prometem resultados que duram anos. Mas depois percebo que é uma sorte se durar um! E quem gasta uma fortuna para remover uma ruguinha que volta dali a um piscar de olhos??

Então aqui fica o meu conselho: Fiquem-se pela aplicação de bons cremes. Produz os mesmos resultados e fica por uma fracção do preço cobrado nos centros estéticos de renome.




Em breve, talvez vos diga o que fazer quando recorrerem a médicos cirurgiões. («Só» preciso avançar com 8.000€. Aquela ladra bem podia devolver os 3000€ por publicidade enganosa). Me aguardem! Ahahah ;) 



domingo, 22 de dezembro de 2019

Coleccionar sabonetes


Não sei o que me deu. Nos últimos meses andei a comprar sabonetes. E não é para usar. É para guardar. Por isso acho que dei para ser colecionadora de sabonetes.


Os aromas são tão bons, acabei por comprá-los em "packs", colecções ditas limitadas. Já perceberam que por altura do Natal saem imensos lançamentos limitados de toda a espécie de produtos? No que respeita a produtos de higiene e perfumaria, creio mesmo que vale a pena comprá-los assim. Durante os restantes meses do ano, o valor unitário de cada embalagem por vezes aproxima-se ao total do Kit.

Perfumes, sei que vale a pena comprar em coffret
Custa 25€ aquele que mais gosto, e traz, além da água de colónia, um gel duche. Porém, este ano não encontrei o aroma que gosto a ser disponibilizado e como já adquiri o coffret da Aveda deixei o outro passar. 

Ainda assim, deu-me para os sabonetes.
(E tudo isto sabem de onde vem, não sabem??)

Ainda me falta esta colecção


Acho que podia ser pior.
Ao mesmo tempo, saber que 40 euros foram para sabonete... ui!
Tenho de colocar um freio nestes gastos.


É mesmo difícil presentear alguém?

Não sei porquê as pessoas acham complicado oferecer algo a outra. Durante todos estes anos de quadras natalícias, ficaria satisfeita com um elástico para o cabelo, uma mola, luvas, meias ou... uma barra de sabonete.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Tu és quem quero este Natal


O Natal anterior passei-o sozinha na casa. Senti mais a solidão e a necessidade de ter pessoas à volta. Não foi mau, porque liguei-me ao vivo no chat e acabei por ver todos, falar-lhes e acompanhar a abertura dos presentes através do computador. Quando senti-me cansada da gritaria ou esfomeada, só tive de afastar-me e desligar o computador. 

Por ter tido um natal solitário, este ano pensei no oposto. Mas a Mariah Carrey é que acertou. O que  preciso não são presentes, nem gente, nem confusão. O que queria mesmo era uma pessoa por companhia. Não ia precisar de mais nada. All I wanted for Christmas was me with you. 

domingo, 15 de dezembro de 2019

Decorações de Natal


Uma coisa que aprecio no meu pai, é o seu gosto para decorar a casa para o Natal. 

Entrar na casa de família durante a quadra é encontrá-la com apontamentos natalícios por toda a parte. Mas não é todos os anos decorada por igual - embora as decorações possam ser as mesmas. Há sempre diferenças. Ora as luzes são diferentes, ora os "penduricalhos" são colocados noutros lugares e coisas podem ficar de fora. Este ano não existem autocolantes colados nos vidros de janelas ou portas, a árvore mudou de sítio, tem decorações diferentes, em vez de musgo colocou-se relva artificial e o presépio foi construído com as peças maiores. O presépio nunca sai igual, é sempre diferente, ainda que as figuras centrais tenham de ser as mesmas.

Acabo por gostar mais da quadra por o espírito festivo ficar assim tão impregnado pela casa. Até a floreira vertical, teve direito a chapeu vermelho ahah! E no topo? Um vaso vermelho, com cactos e azevinho de verdade.

Absorvo estas coisas com um discreto deleite.
Sei que, um dia, alguém vai ter de decorar a casa para o Natal e ele não vai cá estar. Sei que, se fosse outra pessoa a decorar, seria mais discreta, dando apontamentos mais suaves. Ele não é exageradoooo como se vê nos filmes, mas também não é comedido. E é nesta altura do ano que aceita que outros queiram também dar o seu toque na decoração.

E lá fui eu lembrar-me que tinha comprado sem ter usado, cortinas natalícias. Sim... mas não de tecido. Cortinas daquelas feitas de figuras recortadas. E vai que fui buscá-las e a ideia de as pendurar foi logo aceite. Quer dizer, com a habitual reprovação imediata de minha mãe, que precisa de ser convencida.

Meu pai acabou por adorar e sei que, para o ano, é bem capaz de ficar entusiasmado com a ideia de voltar a colocar as cortinas. Cada vez que passamos do corredor para a sala, não se percebe de tão integradas que ficaram no espaço, mas as cortinas estão ali, como que a anunciar a entrada para o bom do Natal. Depois da quadra, tudo volta ao normal. É bom, muito bom, ter alguém que se entusiasma, está sempre pronto e com ideias para, ano após ano, decorar a casa para o Natal! 


sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Sair à rua sem guarda-chuva sabendo que se encontram pelo caminho


No Reino Unido está sempre a chover, mas é raro precisar de guarda-chuva. 

Se não puder transportar uma mala, não me incomoda sair sem um. Até porque tenho sempre alternativas. E essas passam pela FACILIDADE com que se encontra chapéus para a chuva descartados.

E foi assim que encontrei este aqui:


Numa noite de chuva mais «molhada», caminhava pela rua quando avistei o primeiro descartado: um guarda-chuva preto, de varetas tortas, atirado para a lama. Esse deixei-o ficar onde estava. Mais uns metros e lá estava este: lançado no meio das ervas, aberto e virado para o ar. Pareceu-me a proteção ideal para chegar a casa. Só hesitei um milésimo de segundo, peguei nele e comecei a usá-lo.

Dá para ver na fotografia qual o problema: falta-lhe parte do cabo.
Tirando isso, o tecido é resistente e as varetas também. 

Não sei porque é que as pessoas não se incomodam com esta poluição de guarda-chuvas. E o único problema que têm, é sempre nas varetas. Um monte de metal atirado constantemente para onde calha. Sem ter onde ser reciclado. Ontem também voltei a encontrar um outro descartado, cor-de-rosa, fechado e empurrado com força em cima de um denso arbusto. Tinha uma vareta torta. (Serviu para ir ao banco e ao supermercado, onde o deixei).

E assim, polui-se a cidade sem se reflectir que é o mesmo que atirar lixo para o chão. 

Ou não é??

Chegando a casa à meia-noite, optei por deixar este chapéu azul e branco listado «abandonado» no canteiro à beira do passeio. Tal como o encontrei. Podia ser que alguém mais precisasse num momento de aflição. Ficou ali, aberto, virado, até o dia seguinte.

Depois fui às compras, estava a chover, e decidi agarrar o mesmo chapéu descartado.

Aconteceu uma coisa engraçada: estava quase a sair do supermercado com as compras e decido voltar atrás para procurar por um outro produto. Nisto uma funcionária vê-me, vai buscar algo e entrega-me o guarda-chuva, dizendo-me que percebeu que o esqueci mas não lhe apeteceu correr atrás de mim. Fiquei surpresa, porque tinha-me esquecido dele de verdade!  


O chapéu serviu-me em mais algumas ocasiões, transportei-o sempre na bolsa exterior da mochila, nunca tive de me preocupar que mo roubassem porque estava partido, era mais leve por isso mesmo e podia usá-lo como arma de defesa. Segurava-o na mão ao atravessar ruelas escuras ou o parque, sabendo que a sua ponta esfacelada podia surpreender um atacante. 

Despedi-me dele ontem, quando o usei pela última vez para caminhar até a paragem de autocarro. A transportar duas malas, rumo a Portugal, achei que serviu o seu propósito e era altura de seguir o seu desconhecido rumo. Pode ser que outra pessoa o utilize por dois ou três meses, como foi o meu caso. Ou talvez seja reaproveitado, reciclado. O que não quero é que vá parar aos oceanos, para matar uma baleia qualquer. 

Tenho orgulho em agir assim e aproveitar coisas que deviam ser descartadas de uma forma mais consciente e amiga do ambiente.  









quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Continuando as leituras


Caminhava para o emprego numa tarde de chuva quando dois veículos passaram em velocidade sobre um lençol de água que me deixou duplamente encharcada!

Tal como nos filmes, mas não tem tanta piada assim.

Estava a pingar. Deixei a alcatifa do escritorio molhada. Precisava secar-me. Providencialmente os lavabos daquele lugar sao fantásticos e tem secador para as mãos dos modernos mas também dos antigos. E assim sendo....




quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A ingenuidade como chapada na cara



A presença do novo inquilino já me serviu de aprendizagem. 
Não sabia que convidar alguém do género oposto a entrar na tua casa significa que vão ter sexo. Nos filmes, sempre foi assim, eu sei! Mas só depois de um dinner date.  


Pois vos digo que nem isso é preciso mais. Um encontro, um jantar... já não se usam. Basta trocar um olá e nesse acordo mútuo e mudo de palavras diretas entre dois estranhos, sai sexo.  

Agora compreendo porquê o gajo foi embora. Não apanhei nenhum sinal destes modernos que me estava a enviar. Coitado... ficou ali à espera e... nada. 

Quem manda se meter com uma jumenta como eu? Ahah.

Ainda sou do tempo.... um tempo que não existe mais.

Mesmo com rodeios, ainda se usavam palavras claras de interesse. Hoje diz-se tudo menos essas palavras. O sentido da pergunta "onde vais quando acabar o teu turno?" é "anda ter sexo".  Ele bem que me perguntou "onde vais agora? Eu levo-te a casa". 

O simples facto de alguém do sexo oposto abordar-te é de imediato interpretado como interesse sexual. Tudo tem duplo sentido. E eu, na minha santinha ingenuidade... Longe de imaginar tais coisas, pelo menos dirigidas a mim e vindo de alguém como ele. 

Não há dúvidas: Sou mesmo feita de outro molde.
Cai do cavalo, este continuou a galope e eu fiquei a pé. 
Sim, vou pendurar as chuteiras e ficar tranquila.



terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Decorações Natalícias


Ela disse "não".

Não quis que colocasse um azevinho em gel na porta do seu quarto. 
Perguntei-lhe por ter colocado um na porta do novo inquilino. Foi ele que disse para pôr. E eu gostei disso. Estava a decorar a porta do corredor com esses autocolantes que tinha desde o ano passado por estrear, quando ele o sugeriu. Pensei em colocar em todas as portas dos quartos, porque fica bem e descentraliza. Só não o fiz por saber que ela ia detestar. Capaz até de arrancar o seu fora.


Por isso esperei para lhe perguntar. E disse.... "não". 

Ah, o enorme espírito natalício, o desprendimento, a alegria típica da quadra... chegam ali e encontram um muro velho e decrépito. 

Ela decorou a sala toda faz dias. Sozinha, ao gosto dela. E tudo idêntico ao ano anterior. Presumo inclusive, que idêntico a todos os anos desde que cá mora. Nenhum toque de diferença ou laivo de originalidade. Não... livrai-nos! Montou a árvore de Natal no mesmo sítio, da mesma maneira, com as mesmas decorações. A diferença? Este ano montou-a sozinha. Os dois rapazes italianos saíram sem ajudar - creio eu pelos sons que escutei. 

Lembro-vos que, o ano passado, mostrei interesse em participar e até perguntei se precisava de decorações de Natal e ela respondeu que não, pois tinha tudo. Semanas antes encontrei-a no supermercado a segurar decorações natalícias que depois vi penduradas na árvore, que ela montou junto com outros dois italianos, estando eu em casa e nem teve a amabilidade de me convidar a participar. 


Um enorme espírito natalício, o dela!! 

Até vêm lágrimas ao olhos, como é tão benemérita e boa, esta alma caridosa, que trabalha com adolescentes com necessidades especiais. Só pode ser alguém com um fundo muito bom, não é mesmo??


A jarra saltitante - assim a apelidei o ano passado por estar sempre a ser tirada do lugar, voltou a "desaparecer" do cimo da lareira. Foi colocada em cima de uma mesinha volátil, frágil, baixa, que sofre empurrões a cada passagem. Ali a jarra ia acabar por cair e despedaçar-se. Quase que eu própria a deitei ao chão só por aproximar-me. Por isso peguei nela, voltei a colocá-la no centro da lareira e dirigindo-me à mais-velha, que estava estatelada no sofá da sala, disse-lhe:
-"Não faz mal se ficar aqui ao centro, pois não? Ali vai acabar por cair e partir-se".


Ela não tossiu nem mugiu. Ignorou-me. Nem sequer desviou o olhar do jogo no telemóvel. De seguida o inquilino mais-recente que estava no piso superior falou-lhe e ela recuperou a sua audição. Milagre!! Deve ser da aproximação do Natal. E ainda há quem não creia em Jesus...


segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Dó mingo


Passei o Domingo em choro e a recordar o percurso de vida. Deve ser catártico, volta e meia, entro nesta. Depois... passa. Até a próxima «crise». Não quero mais tristezas na minha vida. Mas creio que para se irem embora de vez, é preciso relembrá-las assim, em certos momentos.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019


E aqui está ele: o presente de Natal para mim mesma.

Veio com um brinde dentro da caixa, em cima da embalagem de champôo. Um bicho. Pequeno, preto que, quando tentei discernir o que se tratava, pulou. Não voou, saltou. Espero que não seja piolho ou pulga! Era só o que faltava... contaminação.


Lembrei-me de ir espreitar se o produto chega selado, para impossibilitar tentativas de contaminação ou adulteração. Como dá para ver pela foto, não é o caso. Tenho a certeza que passa por muitas mãos até chegar ao comprador final, essa garantia devia fazer parte da política de qualidade da marca. 

Não é o género de produto que me passasse pela cabeça comprar para mim. Mas há uns anos, deparei-me com o creme para as mãos shampure da Aveda, coloquei um pouco e o aroma... é delicioso! A sensação também.

Trata-se da embalagem pequena de 40 ml ao centro da fotografia. Não se encontra à venda em nenhuma ocasião, excepção feita nesta altura de Natal, somente integrado neste coffret. Então comprei tudo - shampôo, amaciador e o gel duche de 50ml. por causa de um só produto: o creme para as mãos.

Se valeu a pena? Irei descobrir. O aroma liberto assim que se tira a tampa à caixa é maravilhoso, tranquilizante, como diz o rótulo. As reviews para o shampôo de 250 ml variam conforme o utilizador. Não tenho grandes expectativas mas não importa realmente. O que queria era o creme para as mãos (e nem sou muito de aplicar) e acabei por obter outros produtos shampure! 

Conhecem?

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Leituras adiadas por causas maiores


Ainda não retomei o hábito da leitura de livros.
Andava a ler um seguido de outro desde o início deste ano. Numa média, suponho, de um por mês. Parei, quando se deu o desastre do "Titanic". Não conseguia. Não tinha ânimo, não tinha como me concentrar. As letras juntavam-se e formavam palavras, que o meu cérebro lia, página após página, sem nada interiorizar, por estar mergulhado em sofrimento e buscas por entendimento. 

Quase quatro meses... sem ler livros.
Tentei. Tenho uns quatro iniciados.
Só um, recentemente, pareceu-me bom o suficiente para me devolver a vontade de ler mais.
Mas ainda não lhe toquei.
É preciso disponibilidade para ler livros. Não só de tempo, mas de tranquilidade interior.

Quando esta foi violentamente atacada, não houve nada a fazer. Provavelmente aparentava estar bem. Lembro-me de conversar ao telefone sem nada dar a entender, de ser cortejada sem nada dar a entender, de até falar como se estivesse bem.

Mas chorava. E por dentro, desesperava. Até a vontade de comer desapareceu.  
Lembro-me de ter um pacote de bolachas cracker no quarto e forçar-me a ingerir ao menos aquilo, por uma noção ténue de necessidade. Ia trabalhar sem nada no estômago e voltava sem nada no estômago. Foi assim por cerca de uma semana, até que forcei um hamburguer a descer pela boca.

Foi mesmo mau.
(Não merecia).

domingo, 1 de dezembro de 2019

A minha natureza sobrepondo-se




Não sei se fiz bem, apenas fui genuina e natural. Por isso mesmo é que estou na dúvida e recrimino-me por ser assim. É que, tratando-se da mais-velha, se me manter assim estou numa enrascada.


Ontem de noite desci à cozinha para beber água. Temos um jarro que a filtra. Vejo-o quase vazio e como estou com muita sede, despejo umas gotas para a garrafa que trouxe comigo. Vejo que a água está quente e por isso despejo-a. E volto a encher com água fresca. É aqui que a mais-velha (receando que a julgasse desmazelada por o ter encontrado vazio) diz:
-"Ah, eu ia esvaziar o jarro e trocar o filtro".  


Esta sua intervenção, como se estivesse a falar com uma pessoa a quem quer bem, despoletou uma pequena conversa que, aos de fora, soa normal. A conversa foi só sobre a água, o tempo, perguntou se estava bem porque parecia pálida, falou-se do supermercado, do frio etc. Mostrei-me interessada em saber como se procede à troca do filtro e limpeza do jarro. Já o havia feito antes, quando o comecei a usar, por volta de Março do ano passado. Por esta altura, as poucas palavras mais demoradas que lhe dispensei já pareciam estar a incomodá-la. Como se, para a vontade dela, a conversa já devesse ter terminado, como se não quisesse falar mais.

Quem não soubesse o que ali está, enganar-se-ia. Mas eu, genuinamente incapaz de mostrar fel por alguém, falei-lhe como se não soubesse que, toda aquela simpatia, provavelmente foi antecedida por um enorme "descascar" na minha pessoa que foi tão bem sucedido em influenciar terceiros, que a fez agir com maior falsidade.

Só vi o novo inquilino uma vez mais, ontem de madrugada, quando me preparava para sair para o emprego e ele tinha acabado de entrar. Ao me ver na cozinha, ia eu a sair já enluvada, de gorro, capuz e cachecol rumo à noite de -1º, quis saber se ia "you're going out?" - que significa sair para me divertir. A sério?? Aquela hora com aquele frio?
-"vou trabalhar" - respondi-lhe.

Desejei-lhe um bom dia e só o voltei a ver, de relance, à hora de almoço, preparava-se ele para sair. 

Não consigo deixar de sentir que ele está demasiado centrado no me ter ou não em casa. Tal como o outro. Não posso esquecer que escutei a mais-velha dizer-lhe que eu "estava em casa o dia inteiro" e que o que saiu "disse que eu estava em casa o dia todo". 

Deu a entender que eu era um inconveniente, uma imposição, que eu não lhes dava espaço. Quando a realidade sempre foi oposta!!! Isto é de uma difamação infame, porque retrata-me exatamente o oposto que sou! Eu sou trabalhadora, esforçada, faço horas extra se mas disponibilizarem, vou trabalhar nas folgas se me chamarem... Sempre fui assim. E esta parvalhona anda a espalhar a todos os conhecidos que eu sou... como eles.

Sim, porque o que saiu, era o maior preguiçoso de todos. A maioria deles escolhe a profissão que têm pela quantidade de dias de folga que têm. Pelo facto de poderem ficar em standby (em casa) podendo ser ou não chamados para o trabalho - e ganham à mesma salário. O outro rapaz esteve DUAS SEMANAS em casa e foi trabalhar pela primeira vez, no dia em que o novo chegou. Teve - disse-me ele, 5 dias em standby, antecedido por 2 de folga por estar com tosse, antecedidos por outros 3 ou 4 de standby, antecedidos por um fim-de-semana de folga... 

A rapariga que cá esteve, supostamente detentora de um emprego das 9 às 5, segunda a sexta, ficava em casa amiúde. Era vê-la a faltar com uma desculpa qualquer, vários dias por semana. Ficava em casa agarrada ao telemóvel, pela cozinha, sentada no sofá... toda confortável e a queixar-se que não queria ir para o emprego. Mas na altura de falar dos benefícios e de se descrever como funcionária, foi "exemplar" e até lhe deviam "dias de férias". Isso me deixava atónita. Uma miúda que quase nunca punha os pés no laboratório onde devia trabalhar - e isto certamente não é profissão para se faltar - ainda tinha férias a tirar! E porquê? Porque cada vez que faltava, usava como pretexto uma desculpa de saúde. E esses dias em que ficou em casa por se sentir sem vontade de ir trabalhar, não são contabilizados. No currículo em papel não transparece esta preguiça, a constante falta a dias de trabalho por sempre encontrar um pretexto de saúde. Ela tinha uma "condição rara" mas que não a limitava ou impedia de ir para a farra ou ir trabalhar para sustentar a boa vida que almejava. E usava-a para tirar benefícios e privilegiar a sua preguiça. Usava o que podia.Também estava inscrita na universidade a tirar um curso sem data para terminar e à distância e também isso usava para se baldar áquela que é a prática mais árdua de uma vida adulta responsável: Trabalho!

Que seja EU a que fica com a fama é... revoltante.
As poucas pessoas que me conheceram na outra casa e nos empregos que tive, todas me apontavam o excesso de trabalho como algo em que devia reflectir, pois não fazia bem, etc. Mas eu, não tendo outras coisas com que me ocupar e não podendo usufruir da casa onde pago para morar de forma livre, até me custa quando não tenho trabalho, quando mo cancelam, etc. Quero é trabalhar!

Porém, este verão de facto entendi que eles estão certos. Trabalhar tanto, ganhar uma miséria e no final, se tiver direito a reforma, esta não vai espelhar o que eu fui. Outros, como a tal jovem rapariga que nunca ia ao laboratório, serão aqueles que se pintam de árduos trabalhadores e terão as boas reformas. Não gente como eu. Por isso mesmo, devia aproveitar melhor a vida enquanto ainda me resta alguma energia e saúde. Esperar pelo "final" para o fazer não é correcto. Ter passado pela "paixonite" fez-me entender isso. Que as minhas prioridades deviam ser outras.

Mas sem amigos íntimos, sem amores, longe da família e a viver numa casa com pessoas como estas, quero é trabalhar! Mesmo por uma ninharia. Ao menos não estou aqui rodeada de gente intriguista, maliciosa e muito de meter o nariz na vida dos outros. Que tenha passado o Verão a equilibrar-me entre dois empregos, tendo conseguido estender o diário por duas horas extras além das 8 que me eram pedidas, e juntando a este o outro que mantenho há um ano, que me dá 4h por dia... Sair às 6 da manhã e regressar às 23h.... 

E estou o dia todo em casa?!?!?!!!!

Pintarem-me assim a um rapaz que acabou de chegar já a perguntar sobre a minha rotina de empregabilidade é uma atitude de meter nojo.

E é tudo ELA.
Com quem eu ainda troco palavras genuínas!