segunda-feira, 30 de abril de 2018

Nunca pensei ou nunca digas nunca


A ideia era tão repulsiva que tive a certeza absoluta. A primeira vez que avistei num refeitório escolar o conteúdo de um pequeno almoço ingles, soube que JAMAIS ia incluir FEIJAO no meu pequeno-almoço.

Pois 20 anos se passaram e.... 
Nunca digas nunca. 



sexta-feira, 27 de abril de 2018

Louis Arthur Charles


Louis Arthur Charles

É o nome dado à criança dos príncipes britânicos.


Admirada ficaria se o tivessem chamado de Francisco, Hugh ou algum outro nome que nunca tivesse entrado na família real britânica.

Não entendo a curiosidade em torno do nascimento de uma criança só porque os pais são celebridades. Muito menos entendo a curiosidade e o mistério criado em torno de um nome. Quero dizer: que surpresa é que pode sair dali? Estão limitados aos mesmos nomes: o do pai, do avô, do antepassado famoso... Têm três ou cinco nomes e vão variando entre si.

Para quê curiosidade a respeito disso??


Rotina de hoje



Não queria deixar a impressão de que tudo me corre mal no que respeita a estar numa casa.
Sei que muitos podem concluir que o problema reside mais em mim do que nos outros.
Admito que a minha forma de ser é que está sempre a gerar o mesmo género de problemas. Acabei por perceber isso. Mas é a minha forma de ser passiva, aquela que tolera e quando algo não cai bem, uma, duas, várias vezes, releva, por achar que pode ter sido uma impressão equívocada.

Depois do «curso intensivo» que foram aqueles 20 dias a dividir um espaço com os «millenais infantis» fiquei sensível e alerta. Como um cão muitas vezes espancado que quando abana a cauda de felicidade também se encolhe de medo e receio.

Nesta nova casa as pessoas têm sido diferentes.
Aqueles sinais que captei não foram inventados. Por isso sei que, como sempre nisto que diz respeito a dividir espaços comuns com desconhecidos, as coisas podem rumar para sítios inesperados de um momento para o outro.

Mas tenho a sensação que desta vez - sendo que esta é a primeira - mudei para o melhor lugar que alguma vez se pode encontrar, dadas as circunstâncias. Independentemente dos feitios de cada um, das manias, parece que todos se respeitam e procuram ter consideração pelos outros.

É só o que é necessário.

Temo escrever estas palavras para amanhã mesmo descobrir que tenho de as retirar. É um temor que vem da experiência vivida, do senso comum. Sou a única que tem de se levantar para ir trabalhar de madrugada. O que significa que tenho de adormecer por volta das 18h (idealmente, claro). E será que os restantes estão dispostos a ser contidos no seu convívio?

Quase nunca isso acontece. Seja em que casa for.
Notei que aqui gostam de conversar e rir enquanto se prepara o jantar. Quando acabam de comer vão todos, à vez, tomar um duche na casa de banho, que fica ao lado do quarto onde durmo.

Tudo isto é muito normal, mas coincide com a altura em que o ideal, para mim, é estar sossegada, ter algum silêncio para poder mergulhar no sono.

Sono esse que é muito difícil de obter. 
Sempre fui difícil para dormir mas desde que me mudei, surpreende-me o despertar matinal e a incapacidade de voltar a dormir. Posso adormecer exausta pelas 4 da manhã que antes das 8 estarei acordada e de pé. Uma calamidade, que não me faz sentir energética nem optimista. Não é só pelo barulho que outros possam fazer pela casa, a abrir e fechar portas, etc, etc. É pela luminosidade que entra pelo quarto. Deve ser comum aqui no UK... não existir persianas. Um quarto nunca está totalmente mergulhado no escuro. Existe uma janela ampla e um cortinado pendurado num varão. Só isso. O tecido não é nada de especial, não corta a luz. E como as minhas cortinas são douradas na cor, quando a claridade aparece, é como se um pequeno farol se iluminasse. 



O senhorio não se compadece deste tipo de problema. Perguntei-lhe - já que aparece cá em casa todo o santo dia - se podia tapar as janelas com alguma coisa, caso verificasse que não conseguiria dormir. Por uma questão estética acha que não. Pôs-se também a dizer que o sol nascia de lado e girava para a traseira da casa. Eu sei disso. Mas quando nasce e enquanto se estabelece na sua posição, essa claridade é o suficiente para me impedir de adormecer, caso abra os olhos com algum ruído. E devo abri-los umas 20 vezes. 


Finalmente estou de folga e tenho tentado descansar. Não estou a conseguir os resultados imediatos que pretendia - por dormir poucas horas seguidas. Durante a tarde e após almoçar, é que costumo ficar sonolenta. Acabo de despertar de uma soneca de uma hora, duas. O tempo não me ajuda. Pretendia dar um longo passeio na minha folga. Mas está quase sempre a chover. 

Então hoje aproveitei que estava de pé antes das 8 da manhã, desci à cozinha e fiquei a pensar no que ia comer. Foi quando me deu vontade para começar a limpar a casa. Aqui todas as semanas um de nós tem de limpar uma área da casa. Ainda que só cá esteja a dormir faz três noites, calhava-me o corredor e as escadas do primeiro andar, o hall, a área em comum e o anexo. Em cerca de três horas encarreguei-me de limpar minuciosamente estas zonas. Removi teias de aranha e, atrás da televisão, bolas de pó. Esfreguei o corrimão de madeira com um produto próprio, aproveitando para remover algumas manchas avistadas. Limpei aqueles cantinhos que todos esquecem: por cima e por baixo das placas de madeira, a base em madeira, a prateleira em cima da lareira, a própria lareira, etc, etc. Como estava com a mão na massa, decidi também varrer, aspirar e lavar o chão da cozinha, que estava verdadeiramente imundo e manchado de verde, vermelho e laranja. 


quarta-feira, 25 de abril de 2018

Nova casa, novo quarto, mas não menos chatices


Estou na nova casa. No quarto que me era destinado desde o início, mas que só agora pude ocupar.

Estou a adorar. Neste instante, toda a casa está mergulhada em silêncio.

Estava a precisar muito de sossego. Após três semanas a viver numa casa partilhada com indivíduos barulhentos e desrespeitadores, que falavam alto a qualquer hora do dia e noite, sem parar, como se fossem miúdas adolescentes e parvinhas que a cada três segundos de qualquer conversa têm de dar sonoras risadas. 


Esta foi a minha realidade por três semanas, acrescido da gravidade de não ter liberdade de movimentos ou de usufruto das áreas comuns e dos utensílios da casa. Até o último momento, tiveram de se certificar que me dificultavam a vida. Três minutos antes da máquina de lavar roupa terminar o ciclo de uma hora, ouvi um deles a ir à cozinha. Soube de imediato que isso ia interferir com a única coisa minha que estava a acontecer lá: a lavagem dos meus ténis. 

Continuei a mudar as minhas coisas de sítio e passados uns poucos minutos estranhei que a máquina não tivesse parado. Ela continuava a funcionar. Fui espreitar. Nem me deram tempo - três minutos que faltavam - e já o rapaz estava a lavar a roupa dele na máquina. Os meus ténis? Tirou-os para fora. Sem nada perguntar, sem nada dizer, sem ter qualquer intimidade comigo para se sentir com autoridade para tal. Era urgente lavar a roupa dele? Quando tinha feito o mesmo na véspera? Não me parece. Não podia esperar três minutos? Cinco? Não é de boa educação. Mexer nas coisas dos outros, algo que ainda estava a lavar e tirar logo fora. A pressa dele era tanta que só hoje de manhã foi estender a roupa. Tive a infelicidade de ver a sua alta figura passar pela janela do jardim. E foi assim que soube que a roupa que colocou a lavar depois de remover os meus ténis ficou a "marinar" dentro da máquina a noite toda.

E se alguém tivesse removido a roupa dele assim que o ciclo terminou? Deixando-a espalhada a um canto? Húmida e toda enrolada? Como ia ser a sua reação?

Precisava ele de fazer aquilo naquele minuto? Não me parece. Eu estava de mudança. Dali a poucos minutos não estaria mais a viver naquela casa. O rapaz esteve em casa o dia todo. Só lhe deu vontade de lavar a roupa ao final da tarde, já sem sol, quando EU saí do emprego e fui usar a máquina, claro.

E não foi só esta a sua vontade "exclusiva" durante a minha curta presença. Também não encontrei a esfregona ou o aspirador em qualquer parte da casa. No armário onde deviam estar, não estavam. O aspirador nem me surpreendeu, devido ao facto de ter despertado nessa madrugada às 1.30 com eles a aspirar! Mas quem é que aspira a casa durante a madrugada?? Nem vivendo sozinho num prédio, por consideração aos vizinhos. Quanto mais numa casa partilhada. O pior foi os risos altos e parvos, em catapulta, que se seguiram nos 20 minutos depois. Uma total falta de respeito, que o meu gravador do telemóvel, por muito mau que seja, conseguiu capturar por uns minutos. 

A ausência da esfregona é que me surpreendeu. O balde estava ali, mas a esfregona não. Estava privada de usar qualquer utensílio da casa para proceder à limpeza do quarto. Não foi coincidência. Não existiu um segundo naquela casa em que me apetecesse usar algo e que não tivesse sido sujeita a vigilância ou a posterior cobrança. 

Quiseram dificultar-me a vida mas, millenials que são, desconhecem que antes da invenção de tais utensílios as pessoas conseguiam à mesma limpar e lavar os seus espaços. Uma vassoura, um pano, uns detergentes - e tudo foi feito. Ficou um espaço resplandecente e com cheiro a limpo.

Não acredito que nesta casa não vá encontrar problemas. A rapariga que cedo identifiquei como podendo ser uma cauda deles, não demorou nem um segundo a comprovar que estava certa. Então não é que, enquanto estou a mudar-me, ou seja, a transportar sacos pesados e volumosos, malas, etc, pelas ingremes e pequenas escadas do corredor escuro, acendo a luz do mesmo. Mal viro as costas, a luz está apagada. Continuo a não ver bem os degraus e a precisar subir com volumes de pertences. Então acendi a luz do corredor. Nem tive tempo para chegar ao topo e abrir a porta do futuro quarto: a rapariga sai do dela - que é oposto ao meu - com o dedo directo ao interruptor de luz e apaga-a. Viro-me para trás e pergunto-lhe, quando já se prepara para fechar a porta atrás de si. 
- "A luz incomoda-te?" 
Ela: "Hã, o quê?" 
Eu: "A luz incomoda-te?"
Ela: "Sim, incomoda."
Eu. "É que eu estou a fazer a mudança e preciso da luz ligada porque estou a subir e a descer as escadas".
"Hã, está bem." - responde ela fechando a porta definitivamente.

Nem um "olá", nem uma demonstração de tolerância para com as rotinas naturais de uma casa partilhada. Cedo percebi que esta rapariga tem a mania de querer tudo ao jeito dela. Mas o facto de ter levado apenas TRÊS segundos entre eu ter acendido a luz do corredor para subir as escadas e ela ter saído do quarto dela, onde estava a gargalhar ao som de um programa de televisão qualquer que se conseguia escutar até no andar de baixo, solidificou o tipo de pessoa que é. Depois da experiência na outra casa não dá mais para tapar as evidências e arranjar desculpas: esta rapariga vai ser difícil de lidar. Com a sua intolerância para com os direitos alheios, para com a sua mania de querer tudo ao seu jeito numa casa onde não vive sozinha mas que divide com outros, pela sua forma de agir rude. 

E já mencionei que, àquela hora do final da tarde, só o corredor, por falta de janelas, estava escuro? Os quartos ainda tinham luz. E a presença de luz faz com que uma artificial que passe de fora para dentro não seja incomodativa. A menos que a pessoa queira que seja. 

Que tenha seguido o impulso para si incontrolável de ir desligar QUATRO VEZES uma luz no escuro corredor, uma por cada vez que eu descia as escadas e ia buscar mais pertences, só realça a sua obsessão em impor as suas vontades e a sua intolerância e falta de compreensão com o significado de casa partilhada.

Não pretendo ter chatices nesta casa, pelo contrário. Nem pretendo causá-las! Continuarei a ser como sou: uso, limpo tudo, deixo as coisas como as encontrei. Já não vou lavar a louça que outros deixam no lava louças antes de sairem para os empregos. Que façam isso eles mesmos. Acabou a menina "boazinha"... se eu conseguir essa proeza. Mas vou tentar não me calar sempre. Se vir que algo não está bem, acho que é meu dever falar.

A terrível experiência que tive agora, com aquela situação provisória, só veio a comprovar que a minha forma de ser não é eficaz para evitar conflictos. Eles permanecem, a única diferença é que só eu sou vítima deles e sofro com isso. Ao confrontar esta miúda com o facto dela me estar a apagar a luz - coisa que não faria habitualmente, estou a dar um pequeno passo de bebé em direcção ao direito de ter direitos e os ver respeitados.


  

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Sensibilidade e empatia


Hoje no trabalho tive de lidar com um cliente que me emocionou. Era uma senhora africana que transportava uma criança fisicamente limitada, que terá nascido com problemas cerebrais que lhe afectavam seriamente. Aliás, a sua presença no Reino Unido devia-se somente aos tratamentos médicos que a filha precisava receber. 

Uma menina que não dava para perceber se o era ou não. Imobilizada que estava na sua cadeira de bebé, ainda que já não fosse um. Com distrofia muscular e total incapacidade de comunicar oralmente. 

A senhora chegou e eu era a portadora de más notícias: a viagem que ela tinha programado não era possível de realizar-se, devido ao que muitas vezes acontece: as companhias enganam as pessoas. 

Mas eu sou apenas uma empregada que começou à pouco tempo na função e tenho de seguir instruções. Procurei ajudar a senhora e fui pedir informações sobre o seu caso. Um colega apenas me respondeu: "não causes problemas para ti. Diz-lhe para se dirigir para lá e ela que espere". O que para mim não fazia sentido algum. Alguma vez mandar uma pessoa esperar a chegada do que não vai chegar é fazer o teu trabalho?? A situação muito me incomodou. Junto com pessoas mais responsáveis foi-me dito que não podiam fazer nada e que ela tinha, basicamente, de "desvencilhar-se" sozinha.

Essa falta de humanidade para com alguém que, ainda por cima, já teve as "cartas da vida" tiradas com pouca sorte, desiludiu-me. Fiquei tão incomodada que nem podia mais lidar com a situação. Intencionalmente, afastei-me do local para não ter de me revoltar com a aparente falta de empatia e comecei a desejar que o final do turno chegasse o quanto antes.

Mas será que é normal no Reino Unido as pessoas não quererem envolver-se?


Conduzi a pessoa até uma outra e daí adiante afastei-me. Temia o lamento, o choro, a conversa interminável sobre infortúnios... e eu de mãos atadas. Mas devo dizer que a senhora, junto com o filho jovem e saudável que a acompanhava, tiveram uma postura em tudo diferente. Não se exaltaram, não se surpreenderam, não se exasperaram, não gritaram ou fizeram ameaças. Talvez já soubessem sobre a viagem e fingiram que não? Mas quem faria tal coisa? Enfim... Eu admirei-os porque, talvez fruto das suas lutas pessoais, coisas como estas deixam de ser tão importantes. 

E devo dizer que, diante do infortúnio deles, até a minha própria fome e a ideia de ter o frigorífico vazio sem ter ideia do que lá por, me pareceu pequena. Eu ia seguir a minha vida, passar pelo supermercado, comprar algo para comer e dormir numa cama. E assim, de forma simples, resolvia as minhas necessidades mais imediatas. Eles não.

O meu turno já tinha terminado quando me cruzo com a senhora na área restrita aos funcionários. Vinha acompanhada de alguém que nunca vi antes e de imediato perguntei como estava a situação. A funcionária - claramente de uma hierarquia acima, é que respondeu. Tinham conseguido comprar uma outra viagem para o dia seguinte, mas a pessoa (com a sua filha com necessidades especiais) tinha de ficar a dormir na gare durante a noite. Tinham reunido umas tantas garrafas com água e iam indicar-lhe os locais mais reservados e quietos onde podia alojar-se enquanto aguardava novo transporte.


No regresso já no autocarro, fiquei a pensar na situação. Aquela falta de empatia inicial, a clara falta de vontade em envolverem-se nos problemas dos outros, afinal não era bem assim. Sempre foi feito algo, não deixaram a senhora, o seu filho adolescente e a sua filha deficiente à mercê da sua própria sorte. Alguma ajuda - ainda que pouca, foi facultada. 

Será que eu devia voltar atrás? E dar à senhora algo para comer? Dinheiro? Se pudesse até lhe dava um teto para dormir. E reflecti que já era a segunda vez, em quarenta e oito horas, que esse pensamento me vinha à cabeça. 

Aqui no UK sente-se que não nos podemos envolver muito. Ainda pensei em levar-lhe comida para ter mais do que águas para se aguentar durante a noite. Pensei mesmo regressar ao emprego, após 12 horas de trabalho, só para poder ajudar. Mas quis acreditar que outros ajudariam. Com comida sólida, com o que precisasse. 

Como funcionária no local, ao me envolver pessoalmente, ainda que fora do uniforme, podia comprometer o meu emprego. Aqui não se podem correr riscos. E é considerado um risco tentar ajudar as pessoas dando-lhes, por exemplo, uma peça de fruta. Ou um pouco de sopa. Pensei nas sopas que temos na sala do pessoal, que saem de uma máquina de distribuição automática. Pensei em as oferecer à senhora. Mas depressa lembrei-me: "não porque saem quentes e se ela se queimar ou algo acontecer com a criança, pode processar o estabelecimento e eu posso ser demitida por não ter de interferir onde não sou chamada". Porque aqui no UK pensam muito assim. A vida deles, em muitos sentidos, está condicionada aos receios dos processos nos tribunais. Processo pela falta de um sinal a avisar que o piso está escorredio, ter a comida quente demais, o café a escaldar, cabelos no prato, uma maça que faz mal ao estômago e alegadamente poderá ter sido propositadamente alterada para causar mal estar, etc, etc. Por isso é que tudo é tão "deslavado" - até a empatia. 

Lembrei-me também que, às tantas, a senhora reconheceu entre os trauseuntes, o seu pastor. Que é o lider espiritual. E no regresso no autocarro fiquei a pensar para que servem estes, se ela não poderia ter recorrido ao mesmo para solicitar ajuda. 

No final do dia, realizei uma pequena oração por eles e agradeci a Deus pelas bençãos na vida que me deu.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Centros históricos de Lisboa para habitar?

Peço a vossa atenção para esta informação da CML:


Segui este link por achar fantástico estarem a facilitar a habitação nos centros históricos de Lisboa. São zonas que estão a perder habitantes de bairro a grande velocidade e no seu lugar surgem condomínios para serem vendidos ou alugados a estrangeiros. É muito triste ver uma cidade a morrer desta forma. Com vida emprestada, vida provisória, vida de comércio apenas. Sem famílias com filhos a estudar nas escolas locais. Mas com turistas e estudantes vindos de fora. 


Porém quando li esta descrição a minha felicidade caiu por terra.
A minha interpretação da mesma é que famílias e idosos são despejados das suas casas de toda a vida, para que o ganancioso proprietário possa remodelar e adaptar a mesma ao turismo. A câmara tem estas casas fraquinhas que de outro modo acabariam em ruinas e por uma módica quantia disponibilizam-nas mas apenas a pessoas que já morem no bairro e que façam parte dos infortunados. 

Então não se está na realidade a combater nenhum ciclo de desertificação, não é verdade?
Pelo contrário. Os miseráveis continuam miseráveis e provavelmente terão de pagar mais por isso. E os ricos vão virar milionários. Quanto ao centro histórico, vai perdendo as famílias e transforma-se num misto de escritórios com casas para alugar não a trabalhadores com filhos, mas a estudantes de outras partes do país e do mundo e a pessoas com um bom nível de vida que ali querem ter um espaço para esporadicamente visitar. 

sábado, 14 de abril de 2018

Funcionam como uma matilha de cães


Estou a viver há 10 dias numa terceira casa. A situação é temporária. Estava previsto assim acontecer. Irei regressar à outra noutros 10 dias. 


Mas estou aqui a engolir a seco o que aqui está a acontecer.  
A injustiça incomoda-me. A mentira também. Estou a perder a fé nas pessoas. Daqui a pouco começo a odiar. Ou então a estereotipar. Oh gente que não presta! Mas será que só há disto por todo o lado?



A casa onde estou agora a dormir é partilhada por cinco pessoas. Os restantes já se conhecem há muito tempo. Três em particular são como unha e carne. Oriundos do mesmo país, para tudo "funcionam" em trio. Jantam juntos, sobem para os quartos juntos e são todos cúmplices. Se acham com mais autoridade sobre os restantes.

São também extremamente barulhentos. No primeiro dia em que me mudei tinha de acordar às 3 da manhã e até à meia-noite ficaram debaixo do meu quarto aos gritos, a falar alto, a gargalhar, a bater com as portas dos armários, com os tachos, panelas. E o que é pior: a chamarem uns pelos outros de um andar para o outro. E a gargalhar mesmo à frente à minha porta, a conversar alto.

Dormi apenas 1h, entre eles se deitarem e eu ter de acordar.


Sendo tolerante e nova no espaço, relevei. São jovens e procuro convencer-me que, a pesar de eu ter sido diferente, esta atitude de falta de consideração pelos outros é devido à idade. E que aquilo podia ser uma situação esporádica.

Precisava também de ir à casa de banho e procurei aguentar o máximo que pude. Mas já que eles estavam acordados a gritar e não me deixavam dormir porque não paravam de berrar, abri a porta e entrei rapidamente no WC. Estava a precisar. Mas não consigo estar à vontade. Sinto-me observada. A porta não tem trinco e isso faz-me não conseguir relaxar. Alguém podia abri-la a qualquer momento e apanhar-me desprevenida - tal como tinha acontecido dias antes na outra casa. 


Decidi então sair do WC e usar a pequena no andar de baixo. Que de imediato se tornou a minha predilecta porque é pequena e posso mantê-la fechada com o pé e não ficar no mesmo andar dos quartos, o que implica um uso menos incomodativo para quem está a descansar nas divisórias.

Sou muito atenciosa para com terceiros. Sei disso.

Nisto quando abro a porta, tenho DUAS pessoas à minha frente. "Estás bem?" - perguntam em surpresa. 
Estou. E pedi licença para passar e ir ao WC.

Estava mesmo a ser observada!
Não era só impressão minha, aquelas pessoas estavam à porta do WC e podiam ter entrado. Sabiam que estava ali porque ouviram a porta a bater. E apareceram, hoje sei disto, não por estarem preocupadas comigo. Mas para me darem a entender que fui barulhenta. 

A grande lata!!

Foi a segunda vez que me faziam uma "espera" à saída do WC. E não gostei. Parece que não tenho o direito de ir ao WC sem ser controlada. Depois afastei esses pensamentos da minha mente. Se calhar eles interpretaram que podia estar a sentir-me mal, só porque saí e entrei rapidamente. Era eu que estava a fazer mau juízo deles.

Ainda assim, preferia ir ao WC quando não os soubesse por perto. Porque isto de ir ao WC e ter pessoas à saída a fazer-te uma espera não te faz sentir em "casa". E a sensação de não ter direito de usufruir do espaço como se também fosse meu foi aumentando rapidamente. Assim que entrei, sabem como fui recebida?

Ouvi o meu nome a ser mencionado quatro vezes. E por isso perguntei porque diziam meu nome. Tinham-me ouvido abrir a porta e trazer os restantes dos meus pertences. Sabiam que os ia escutar. E fizeram questão de mencionar o meu nome propositadamente. Claro, perguntei o que era. Veio um rapaz ter comigo e disse: "Entraste cá em casa de manhã? Tiraste uma encomenda minha? É que a Paula disse que viu uma encomenda lá em cima no teu quarto". 

Fiquei a pensar onde tinha vindo parar. Já me estavam a acusar de roubo! Eu só estava a transportar as minhas coisas para a casa e, pela primeira vez, ao invés de as deixar dentro do quarto e fechar a porta, achei que podia deixar um saco onde tinha posto a encomenda que tinha recebido pelo correio horas antes, à porta do mesmo. Afinal, só me faltava transportar uma coisa e daria por concluída a mudança. Não tinha ninguém a circular pela casa nessa altura. Estavam todos nos quartos.

Então que me viessem dizer, até considerar, que eu tinha pego algo que pertence a outra pessoa e posto num saco meu é... feio. Se está no meu saco, é porque é meu! A outra desceu do quarto dela, ao invés de meter-se na sua vida, não, espreitou o saco que tinha acabado de deixar ali. Se fosse outra nem mencionava o conteúdo, sabe muito bem que não se deve espreitar as coisas dos outros. Muito menos levantar um falso testemunho. 

Nesse primeiro dia estava exausta e adormeci de imediato. Mas não por muito tempo, porque eles logo começaram o «arraial» de ruído. Eu a precisar levantar-me às 3 da manhã, e eles a impedir-me de dormir com os seus gritos, barulhos e gargalhadas. 

Aconteceu nesse primeiro dia o mesmo que está a acontecer agora que escrevo: dormi apenas UMA hora. 

Depois trabalhei cinco dias seguidos e os meus turnos são de 12 horas. Significa isto que é basicamente trabalhar e dormir. DORMIR sendo a parte muito importante para aguentar o trabalho. E eles não mo estavam a permitir.

Depois quando me apanhavam pela casa, era sempre com segundas intenções. Dizer-me coisas. A primeira coisa que me perguntaram foi se fui eu que deixei a porta da rua aberta. Outra acusação. E eu sei que não tinha sido.

Não é preciso ser muito inteligente para perceber que eles todos, sendo amigos e já havendo falado entre si, estavam a apontar o dedo na minha direcção. Tal como fizeram com a encomenda.

Na segunda noite estava tão exausta do primeiro dia de trabalho que dormi bem. Lembro-me d acordar com berros bem altos, mas consegui que não me despertassem totalmente e voltei a adormecer. 

Foi a única vez em todas estas noites. Finalmente chegaram os meus dias de folga. E começaram as exigências disfarçadas de pedidos. Estavam a ser falsos, fingindo ingenuidade quando tudo estava combinado entre eles.

Mencionaram que todos davam dinheiro para comprar utensílios para a casa. Mas antes de o mencionar, espetaram um pote com dinheiro no meio da mesa da cozinha. Foi intencional. O pote não estava lá, era mantido noutro local e mudaram-na para que o pudesse ver. Não é um subterfúgio que considere digno. Se queres pedir, fala. Não se usam esses recursos vis. Logo a seguir mencionaram que cada um dava 5 libras para comprar panos da louça, panos de limpeza, detergentes vários, tira gorduras, etc, etc. Muita coisa que eu ia usar apenas numa ocasião. Respondi que fazia sentido se ficasse a viver cá mas já estava a partilhar na outra casa essas coisas e tinha comigo detergentes que me restaram da mudança e pretendia usá-los. 

Com isso excluí-me de "comparticipar" nas despesas que eles muito convenientemente iam necessitar assim que cheguei. Coincidência. Por acaso a cozinha estava cheia de panos, detergentes etc. Mas aparentemente estava na altura de comprar mais. Talvez porque eu havia chegado. Mas isto revela o carácter das pessoas. Assim que uma nova pessoa chega eles começam logo a cobrar dinheiro? Já tive o suficiente disso na outra casa e consegui cheirar à distância uma tentativa de extorsão. 

Logo a seguir foi o calendário de limpezas. Inicialmente o nome da "nova pessoa" estava no final - talvez até mesmo numa semana em que já cá não estaria a viver. Mais uma vez, nada de conversas comigo, nada de perguntas. "Queres? O que achas?" Nada. Ordens. Desci à cozinha onde o calendário é mantido na porta do frigorífico e reparei que tudo tinha sido alterado. Quem era suposto limpar a casa nos próximos dias? EU. Claaaaaaro....

Tudo bem. Procurei saber como faziam, o que era pretendido fazer e perguntei quando ia estar menos gente na casa, para poder limpá-la mais eficazmente. Esmerei-me na limpeza. Como sempre, fui vista a limpar, porque há sempre alguém na casa, há sempre alguém que está no mesmo espaço em comum que tu. 

Limpei a casa na quarta-feira. De noite, todos eles na cozinha como sempre, no falatório. Entro e tento conversar mas sinto que te respondem com aquela secura, desviam o olhar - não estão interessados em te ter ali. Então removi-me do espaço para que se sentissem à vontade para continuar o convívio a que estão acostumados. Na manhã seguinte, estou na cozinha e uma rapariga entra. Depois sai. Nisto surge um assunto urgente que tenho de tratar até ao final da tarde. Já nem me sobram 5 horas para dormir e ter de acordar novamente. Então vou para a cama. Nisto recebo uma mensagem no telemóvel, quase às 21h das noite. Relembro que tinha estado na cozinha com todos eles na noite anterior. E todos os dias vejo pelo menos dois deles. É uma mensagem a "sugerir" que compre sacos para o lixo, já que usei o "deles". E a perguntar se tinha limpo a casa, porque tenho de marcar no calendário. 

Todo o discurso foi desagradável e terem ido ao senhorio PEDIR o meu número de telemóvel para me enviarem uma mensagem destas, QUANDO eu estou em casa é... MALÉVOLO!

Eu ali, a dormir ou a tentar dormir por cima da cabeça deles, e eles a contactar o senhorio. Envolver o senhorio foi tudo menos inocente. Senti malícia no ar. E como estava certa!
Respondi nessa mesma noite. Precisava de dormir, mas não podia deixar para depois. Respondi que ela me viu nessa manhã, na noite anterior e na anterior a essa. Respondi que tinha limpo a casa e que esperava que desse para notar a diferença. E que me tinham visto a fazê-lo. Ia dar-lhe uns sacos para o lixo antes de me ir embora mas como raramente cozinho, raro foi a ocasião que despejei algo no lixo "deles". 

A resposta que obtive foi do piorio: "Se soubesse que tinhas limpo não estava a perguntar. Estava uma mancha de ketchup que não foi limpa. A paula disse-me que estava tudo cheio de pó na casa de banho. Se os outros vem ter comigo fazer queixas tenho de perguntar". 

Opá, o que me dizem disto??
É normal ser assim? Com alguém que só tentou dar-se bem, ser simpático, alguém que mal se conhece, mal entrou numa casa nova? É assim que agiam nestas circunstâncias?

Respondi de volta por mensagem: Não estava a gostar do que me escreviam, da proxima vez ia tirar fotografias do antes e depois e também queria jogar o jogo da polícia da limpeza. Porque eu esmerei-me. Tirem teias de aranha e pó negro com uma simples passagem de pano. Sei muito bem que nenhum deles é um esmero na limpeza. Não está correcto posicionarem-se como se fossem, muito menos acho correto toda a atitude. 

Vou trabalhar e quando chego a casa e abro o frigorífico noto as minhas coisas remexidas. Demoro algum tempo a notar que falta uma embalagem de queixo que havia comprado na véspera. Decido deixar uma nota a dizer que não a via. Mas olhem que procurei bastante. Sete vezes, no total. Procurei a primeira. Depois não convencida, desci à cozinha e procurei uma segunda, terceira, quarta... sete vezes. Removi todo o conteúdo da prateleira, para ter a certeza de que os meus olhos não me enganavam. Pus a mão acima do frigorífico, não fosse ter esquecido por ali. Sou muito cautelosa antes de levantar quaisquer suspeitas sobre o que seja. 

Ao contrário deles com a encomenda e a porta aberta.

Não estava ali nada. Há uma da manhã, depois deles todos se terem deitado e feito a algazarra do costume, despertando-me e impedindo-me de voltar a adormecer, desci à cozinha para preparar sandes para levar para o emprego. Coisa rápida. Procurando não usar NADA deles, sempre limpando tudo, arrumando as coisas. Ainda estou para saber se também isso lhes vai fazer espécie.

Bom, mas nisto reparo que há outra nota junto à minha: O queijo esteve o tempo todo no frigorífico. Para a próxima vez procura com mais atenção (smile).

Não respondi. Optei por ignorar.
Mas sei muito bem que a embalagem não estava nem sequer dentro daquele frigorífico. 

Fizeram aquilo de mal intencionados que são. 
E para colmatar, acrescentaram em letras garrafais, outra nota: "Não bater as portas!!!".

Era uma indirecta para mim. Somente para mim.
Esta gente que bate portas todo o tempo, que não é nenhum modelo de virtude no que respeita a respeitar os outros no departamento de ruído, teve a audácia de transformar a ÚNICA vez que a minha porta bateu, no primeiro dia que cá vim, e perpectuar esse momento como se fosse algo permanente e constante. 

O pior é que percebo claramente que estes 10 dias que me restam vão ser miseráveis. Mais artimanhas irão inventar. Nem sequer vai dar para usar a casa apenas como dormitório. Decerto não me vão facilitar a vida e será um passatempo infernizá-la. 

Funcionam como uma matilha de cães.
Só aceitam os da sua espécie e todos os outros são para destruir.


  


sexta-feira, 13 de abril de 2018

As quatro mulheres de mais idade com quem me cruzei hoje




Hoje atendi uma cliente de uma certa idade. Rosto enrugado, cabelos curtos mas ainda bem preenchidos e totalmente brancos. Vinha acompanhada de uma senhora de cabelos castanhos, com a pele do rosto lisa, excepção para umas tantas rugas de expressão. Falou-me que era o aniversário do que percebi ser uma neta. 


Então perguntei-lhe a idade da neta. Afinal falava de uma filha. Surgiu o número 55. A que a acompanhava- também filha, tinha 60. De seguida ela própria avançou a sua idade: 91 anos. Não aparentava. Porquê? Não só pelo aspecto físico, mas principalmente pelo discurso lúcido, rápido e a sua mobilidade dinâmica. Não caminhava com dificuldade, mas com soltura e ritmo. 

Quando penso em 91 anos, infelizmente associo esse número a já alguma dificuldade de mobilidade, a uma certa lentidão e falhas na memória e, também, uma certa curvatura na coluna vertebral. Garanto-lhes que não estava diante de nada disso. A senhora, inglesa, natural de Londres, perguntou-me de que país eu era originária. Respondi-lhe, o que a fez comentar:

-"Ah, vem de Portugal. Eu sei falar português." 

E não, não estou a traduzir. Respondeu-me em português e foi, também, a primeira vez que alguém a tentar falar a língua de Camões conseguiu fazê-lo de forma a entender-se na perfeição, com domínio e fluidez. Contou-me que morou alguns anos no Brasil na década de 60 e logo se despediu e seguiu caminho. 

Deduzi que aquela não era uma mulher comum. Não só pela genética que brevemente discutimos (aparentar muito menos idade parecia correr nos genes) mas pelo discurso. Perguntei-lhe se era viajada, respondeu que sim. Um sim que soou a contenção. Ser «viajada» talvez fosse uma forma simples que omitia uma experiência mais complexa - disse-me a intuição. Atribuí a sua admirável desenvoltura física e psicológica a essa condição de vida. Quem viaja, enriquece-se. No espírito e na mente. A mente não cai numa rotina imberbe, está a ser estimulada. Notei que era inteligente e culta. Ao dizer-me que morou alguns anos no Brasil deduzi - não sei porquê - que teria sido por motivos políticos, como por exemplo, ter um marido consul. Ela própria deve ter sido uma mulher de carreira e muito instruída, tendo circulado no meio de pessoas influentes e instruídas nas mais diferentes matérias. Notei, no tom empregue ao mencionar que viveu no Brasil, nova contenção. 

Simpatizei com a senhora e aprendi novamente uma velha lição: Na vida tudo é possível

Não há normas. Há estatísticas, generalidades, é certo, mas também há excepções. E estas podem deixar de as ser para se transformarem na norma. O seu português, ainda que aprendido no Brasil, não tinha sotaque nem me pareceu ser conjugado ao estilo brasileiro que hoje conhecemos. O português da década de 60 em terras de vera cruz devia ser bem mais formal do que nos dias de hoje.


As restantes três senhoras marcaram-me menos, mas também me recordo delas no final do dia. Todas com cabelo branco.

A primeira aguardava pelo marido, que tinha ficado para trás devido a uma enorme dificuldade de locomoção. Disse-me que tinha solicitado ajuda para deslocação mas que não lha tinham facultado. Fiquei tão preocupada que fiz questão de verificar que acabaria por a receber. Sem que percebesse a minha presença, confirmei que a ajuda que necessitava ia ser prestada. 

Neste país de scooters para andar no supermercado às compras, para andar na rua, para tudo e mais alguma coisa, por vezes em certas circunstâncias não facultam uma deslocação fácil a idosos com mobilidade reduzida. Nem se preocupam. E aquilo incomodou-me. Para todos os que conseguem andar, uns meros metros podem parecer coisa fácil. Quando avistei o senhor, com os bofes para fora, receei que lhe desse um piripaque no coração ali mesmo. Não foi nada fácil para ele caminhar "alguns metros" e a preocupação da esposa com a sua condição era justificada. 

 A segunda idosa falou um pouco comigo. Aguardava o filho que tinha ido comprar algo e pediu para que ela esperasse por ele num certo local. Mas ela, sabendo onde ele tinha ido, decidiu ir atrás e parou a meio caminho, onde eu estava. Falou um pouco disto e mencionou que o filho tinha ido visitá-la porque dentro de dois dias ia ser submetida a uma intervenção cirúrgica. Desejei-lhe boa sorte. Mas o que me veio à mente foi a possibilidade de dentro de dois dias aquela senhora sorridente e toda a sua energia podia estar destinada a apagar-se. Vida por mais dois dias, o filho tinha vindo visitá-la pela última vez, talvez um pouco contrariado. Um pensamento um tanto mórbido, talvez, mas intuí solidão, algum receio, amor, saudade, felicidade, desejo de ter o filho mais perto e mais presente e pouca paciência na comunicação entre mãe e filho. Continuei a trabalhar e perdi-lhe o rasto, não vi para onde foi nem se o filho, que nunca mais aparecia, surgiu e ficou mais um pouco com a mãe.

A terceira idosa esperava a neta. De início só percebi que esperava alguém e que tinham marcado um encontro por ali. Como não estavam a conseguir entender-se por telemóvel uma com a outra, a senhora pediu-me para explicar por chamada onde ela se encontrava, para a neta a localizar. Foi o que fiz. O sentido de orientação da neta não era dos melhores e acho que o receio de não encontrar a avó atrapalhou-a. Então pedi-lhe que voltasse a contactar a neta e foi então que as duas encontraram-se. Estavam a poucos metros uma da outra, mas cada qual a aguardar em sítios diferentes. Foi a idosa que partiu ao encontro da neta, ao perceber onde esta se encontrava. Uma senhora totalmente lúcida, amável, doce, com facilidade de deslocação. Ainda assim confirmei que se encontravam de facto. Ao me perceber perto, a neta agradeceu com umas vénias e eu regressei ao meu posto contente, por ninguém ter-se perdido e por perceber a felicidade naquele abraço que as duas deram. 


#idadenãotemlimites