sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A pior parte desta sexta-feira

Andam todos doidos quando chega a sexta-feira.

O trânsito é de loucos, as pessoas a barafustar, filas de gente por todos os lugares, confusão, impaciência, correrias, atraso dos transportes, buzinadelas, acidentes... ai! Que sexta!

Mas de tudo o que aconteceu hoje, sexta-feira, se calhar o que mais me aborreceu nem foram as partes piores. Vejamos:

1- Hoje tive de correr para conseguir chegar até à paragem da camioneta em 15 minutos, para não a perder. Fiquei ofegante, pés doridos e pernas também. Faz parte. Nem me queixo das subidas mais acentuadas, aquelas que só os carros sobem bem (e a que velocidade, diga-se de passagem!). Estes ignoram o esforço que eu, peão sem passeio, faço para subir e, passam por mim num "zás!". Já está e já vão longe. Mas tudo bem... é assim mesmo. Não foi esta a pior parte desta sexta-feira.

2- Não me aborreceu ter feito este esforço apressado durante 15 minutos, para depois a camioneta chegar 20 minutos atrasada. Não foi isto o pior desta sexta feira.

3- Tanto tempo de espera e corri o risco de não conseguir entrar. Vinha tão cheia, que o motorista só abriu a porta quando vagaram lugares. Felismente consegui entrar e, sentei-me no único lugar livre que não tinha no banco ao lado homens de olhos esbugalhados. Assim que tentei respirar tranquila, percebi que estava numa sauna. A camioneta não tem circulação de ar. Este estava pesado e quente. Todos os vidros estavam embaciados, sendo impossível olhar para fora. Na minha testa começou a formar-se gotas de suor. Mas tudo bem. Foram 25 minutos de viagem, com o agravante do casal que estava ao lado ajudar à consumação de mais oxigênio, ao entregarem-se a cenas amorosas com grande barulho e entusiasmo. Mas não foi isto o pior desta sexta-feira.

4- Nem tão pouco foi o facto que podia ter ido de boleia com um colega e já lá estar, tranquila e serena... não. Ter perdido esta oportunidade não foi o pior desta sexta-feira.

5- Saída daquela sauna, caminhei mais uns minutos até chegar à paragem de autocarro da carris e encontrei-a tão cheia de gente, que contei as cabeças: 30 pessoas. Não, não foi esta a pior parte desta sexta-feira.
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6- Esperei 10 minutos até que apareceu o autocarro. Não, não foi esta a pior parte desta sexta-feira.


7- O autocarro, vá lá uma pessoa espantar-se, vinha... cheio! Tão cheio, que todos temeram não conseguir entrar. Mas lá se conseguiu, e por ordem. Enquanto tentava segurar-me no único varão disponível, o horizontal por cima da cabeça - demasiado alto para uma pessoa da minha estatura conseguir equilibrar-se, a pessoa atrás de mim (uma jovem) barafustou que havia espaço adiante e começou a dizer para abrirem espaço para passar e que concerteza haveriam lugares vagos (pois sim!). Avancei e logo encontrei um lugar que, não sendo lugar, sempre me serve perfeitamente: a trave onde se coloca a bagagem. Além de ir sentada e não sentir tanto os abanões nem ficar tanto com os pés a doer, tem a vantagem de não me colocar no meio da passagem e vulnerável aos empurrões das pessoas que circulam. Sentei-me e fui logo ultrapassada pela jovem adulta que, com algum ciúme, observou que eu havia conseguido sentar-me. "Pois, já está"! - disse ela enquanto avançava por entre as pessoas de pé, rumo à imperceptível traseira do autocarro, irritada, por não estar sentada. Pisou-me, mas não me importei. Custou mais a 2ª e 3ª pisadela, feita por um casal que entrou logo a barafustar e a empurrar as pessoas. Gente bem vestida, mas muito mal educada! Avançou sem se importar em pisar... mas não foi esta, a pior parte desta sexta-feira.


8- Viagem morosa e, finalmente, UMA HORA E 45 MINUTOS depois de ter começado a dirigir-me para casa, subindo apressadamente aquelas estradas cinuosas em 15 minutos, estava a poucos minutos de distância. Só tinha ainda de atravessar mais duas estradas duplas, de algum movimento, mas com semáforos. Atravessei a estrada porque estava livre de trânsito, e é aí que um carro surge rapidamente na curva na rotunda. Já fiz mais de metade do percurso da estrada e acelero o passo mas não desato a correr. Já chega de correr por hoje! O carro também deve desacelerar, mas não o faz. Acho até que acelera. Ao passar por mim, sempre depois de passar pelo peão (os cobardes!) buzinam. BUZINAM! Este condutor cu-tremido, que devia vir a metros de distância, ainda noutra estrada, quando iniciei a minha marcha para atravessar aquela, ainda tem o displante de BUZINAR! Esta foi a pior parte desta sexta-feira!


9- Não foi nada pelo que passei antes. Nem foi a estrada seguinte, comigo no separador entre as passadeiras, parada a ver se o carro que faz a curva no cruzamento vai parar para me dar passagem, ou vai passar por cima de mim se iniciar a marcha sem perceber qual a sua intenção. Não foi o facto deste me ver e avançar sem me dar passagem e logo de seguida enfiar-se numa rua e estacionar, que me aborrece.

O pior desta sexta-feira foi mesmo aquela buzinadela. Acho que algumas pessoas que só sabem se deslocar de carro, são totalmente insensíveis àquelas que não o fazem. São insensíveis com os peões, insensíveis para com quem vai em marcha, insensíveis na sua condução, e mal-educados e cobardolas, por só saberem buzinar depois, quando a pessoa não vai a tempo de reclamar.


São os "cus-tremidos", porque o único movimento que fazem para andar é feito com o rabinho sentado diante do volante.


Já vivi uma situação caricata. Ia a atravessar na passadeira e só avanço quando percebo que o carro que se aproxima me viu e desacelera a marcha, dando-me passagem. É sabifo que ele deve parar totalmente e só então o peão deve iniciar marcha. Mas como se sabe, o condutor aborrece-se por ter de puxar pelo travão, pelo que, o costume é desacelerar e esperar que o peão passe para voltar a "dar gás" no acelerador. Muitas vezes, o peão desata a correr ou avança apressadamente e ainda agradece, facilitando a vida ao condutor, que, assim, não se incomoda pelos 2 segundos de tempo perdido para dar prioridade ao peão. Mas como dizia, avancei pela passadeira, com o carro parado a me dar passagem. Quando ultrapasso esse carro, espreito para ver se mais algum aí vem e, quando avanço, surge derepente um que vinha todo lançado na faixa da direita e, ao ver dois carros parados (porque eu atravessava a passadeira), decide mudar bruscamente de direcção e ultrapassá-los pela esquerda. Recuo os passos que tinha avançado e este faz uma travagem apressada e põe-se a gritar dentro do carro. Calmamente aproximo-me e tento falar com ele. Com calma, expliquei-lhe que estava a atravessar a passadeira e que teria atropelado-me se não tivesse recuado. Mas ele estava zangado, comigo, porque eu recuei, porque eu "apareci" na frente dele. Então perguntei-lhe o que é que ele achava que os outros carros estavam ali parados a fazer? Não fui rude, não gritei, posicionei-me de modo aos outros condutores poderem seguir marcha e acabei por continuar a minha, deixando o outro condutor seguir sem lhe dizer nada.


É este o tipo de condutor que não me agrada. O mal educado, o mal acostumado, o que coloca a vida de outros em perigo e se acha com razão. O que vê os peões como um "incómodo" que lhe atrapalha a vida e que fazem deles alvos fáceis de atropelar.


Quem conduz tem de se mentalizar de uma coisa: o que tem nas mãos é uma arma. Um carro, mal manuseado, mata. E ñão é preciso muito para um desfecho definitivo, trágico e irreparável como este. Querem mesmo correr esse risco por causa de 2 segundos??

2 segundos, ou apenas um. É o que basta para mudar a vida de uma pessoa para sempre. Ou acabar com ela.

Às vezes apetece-me ter no bolso uma bozina portátil, daquelas que se usam nos jogos de futebol. Só para poder responder na mesma moeda àqueles que se escondem cobardemente atrás de uma buzina...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Descriminação e Oprah

Somos alvo de descriminação de tantas formas num só dia, que a forma natural que temos para não nos incomodar-mos com isso, é nem darmos por elas ou recebe-las como um comentário irónico e inocente. Ultimamente, tenho percebido qual a forma de descriminação que me incomoda e da qual estou a ser vítima. Como disse, incomoda-me e não gosto.
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O que me incomoda mais ainda, é a mediocridade que sobressái desse preconceito. A pobreza de alma e de espírito, de quem procura qualquer coisa para dizer mal ou mandar abaixo outrém. Se eu não o faço, não é difícil não seguir esse viciante caminho de apontar aspectos negativos dos outros com rapidez e julgamento. Pontos positivos, esses as pessoas nunca falam.
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Incomoda-me a mediocridade e a ignorância. A ignorância de não saberem que estão diante de uma virtude, que classificam como defeito.
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No meu caso é simples: comecei a perceber, pela boca de uma "amiga", que me fez comentários e me adjectivou de ser uma pessoa "calma, paradinha", "mais paradinha que eu não existe". Perguntei-lhe porquê disse aquilo, em quê se baseava. Não soube ser precisa. Apenas me disse que o era, perguntei-lhe se se referia há forma de estar ela disse "e não só" e nesta conversa, senti que me rebaixava por esta característica. Logo quem! Mas isso explicarei adiante.
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Levei aquilo a peito por alguns motivos. Primeiro, por estarem a transformar uma característica pessoal, adquirida graças ao meu fundo nobre, que da necessidade de arranjar tranquilidade no meio de uma infância de conflicto e dor, aprendeu a ficar calma e racional ao invés de despejar a ira em cima dos outros. Uma grande virtude, mesmo grande, dadas as circunstâncias.
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Depois porque pegou nesta característica com um tom perjurativo e estendeu-o implicitamente à forma de trabalhar quando, quanto a isso, tenho a certeza absoluta que sou dinâmica e rápida, mais ainda em situações de stress. Oiço-os a gritar e barafustar diante da pressão e eu sou aquela que também a sente mas ao invés de barafustar, faço mais que isso: trabalho e ajudo os outros a trabalhar melhor. Dou tudo de mim e reduzo o tempo que levaria a fazer a tarefa sem lhe retirar qualidade e valor, ajudando nisto os outros através do diálogo e da prestatividade.
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E tudo o que vêm em mim é moleza?
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Levei aquilo a peito sim. Sou uma guerreira, que não precisa de vestir armadura e dar gritos de guerra para se mostrar. Levei a peito ainda por outras razões. Estas ligadas com a saúde, com o organismo. E aqui trago a apresentadora americana Oprah à conversa. Tudo porque li hoje na imprensa algo com que posso me identificar muito bem: as consequências do hipertiroidismo "passando", como diz o artigo, pelo hipotiroidismo. Ou seja: também eu tenho aqueles sintomas de cansaço, apatia, e sou gorda sem conseguir perder peso. Isto dura há mais de 10 anos. Agora imaginem isto e saibam que sou uma pessoa que gosta de estar activa. Que todos os dias caminho para o emprego, numa caminhada de subidas e descidas que totalizam 40 minutos. Inclinações de 45º, ruas que subo cada vez melhor, mas sempre com a limitada energia que a condição do hipertiróidismo e a anemia me atribuem. Ou seja: sou um automóvel com pouca gasolina que chega à mesma ao lugar. Dá para entender?
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Então por tudo isto, considero-me ainda mais heróica. Porque quem me criticou, no caso, é uma pessoa que não anda a pé, só de carro, que é magra, que fez análises a tudo e mais alguma coisa e tem a saúde perfeita, que é muito indecisa e incapaz de tomar uma decisão até no supermercado, sobre se leva ou não leva uma sandes de presunto ou uma sandes de fiambre. Uma pessoa que trabalha diante de um computador utilizando a aplicação com alguma lentidão em alturas em que a pressa urge. O que faz bem é falar ao telefone e planear saídas nocturnas com diversos conhecidos.
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Posso dar o aspecto de ser "paradinha", mas vejam lá se sabem distinguir as diferenças entre o SER e o PARECER. É que a forma como encaro e levo a vida não é nada parada. Se fosse, não me submetia todos os dias a ir a pé para os locais, a viajar de transportes, a adiar consultas médicas para que o trabalho apareça feito a tempo de o passar a outros. E faço tudo com a desvantagem da minha condição física não ser igual à das pessoas 100% saudáveis. Eu posso não exteriorizar uma ferida ou machucado, mas sofro de uma condição física que mexe com as hormonas que estão encarregues de todas as funções do corpo, segundo entendi. Sou "escrava" delas, não as controlo. Elas é que me controlam a mim. E ainda assim, não me submeto e faço por continuar a ter o dinamismo que caracteriza a minha forma de ser. Ainda que não sobressaia, as acções o demonstram. Há mais de 10 anos que estou à mercê desta condição e estou cansada de me sentir cansada. A medicação ajuda, mas não irradica. Se dúvidas existissem, basta ver o meu cabelo cair e cair aos molhos, ao longo dos anos, com uma frequência que denuncia o problema. Esse mal não parece atingir Oprah ainda, que bom para ela. Para uma pessoa sem vaidade mas que agora percebe que tinha um cabelo lindo e farto, a farripa que me resta deixa-me desgostosa. Já não posso perder mais. Se continuar a este ritmo, começará já a aparecer calvice. A roupa que comprei há alguns meses está mais apertada ou então já não serve mais. No entanto, faço mais exercício, alimento-me muito melhor e estou a seguir a medicação.
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É muito redutor, esta redução de tudo aquilo que sou por algo que não posso controlar mas à qual não me entrego e enfrento. É como ser velho e ser descriminado por ter idade, ou ser paralítico e acharem que se é morto cerebral por isso. É um julgamento de fora para dentro, como quase todos são, e uma pura estupidez!

sábado, 13 de dezembro de 2008

O Jorge Gabriel devia ter vergonha, e a Bárbara Guimarães também!


Há duas semanas estava decidida a abrir um post sobre esta assunto que adiante vou expôr. O título ia ser: "O Jorge Gabriel devia ter vergonha!" E continuaria com a frase: "em fazer publicidade ao Millennium". Aquele banco, é tudo menos amigo dos seus clientes. Das poucas vezes que lá fui, lidei com um atendimento seco e agressivo. A última vez até perdi a palavra. A agressividade desnecessária, gratuita, a dissimulação da simpatia forçada... que banco HORRÍVEL!!
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Como pode o Jorge Gabriel, que cultiva diante do público uma imagem simpática, promover tal serviço enganoso? Afinal, há uma imagem pública a zelar! Não podem promover um serviço que nada tem a ver com a sua imagem ou a ver com o que estão a querer passar. O dinheiro não deve falar sempre tão mais alto.

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Mas falou, para a Bárbara Guimarães. Que é quem agora dá a cara para a promoção desta instituição bancária. Passa na Tv constantemente o anúncio dela, a cantarolar, num barco. Acho que é um presságio que avisa que, quem se enfiar neste barco, afunda! Não devem tardar os cartazes de outdoor.

Meus parabéns a todos aqueles, se for o caso, se recusaram a promover com a sua imagem este banco. Seja porque razão fôr, não é, de facto, um banco que receba simpatia pública. É a opinião de todos a quem perguntei e as opiniões que registei ao longo de anos, sem estar a fazer por isso.

Não conheço quem goste. Não conheço quem esteja satisfeito. E sinceramente, eu também não. Nunca estive tão segura numa coisa. Não quero conta no Millennium BCP.


Os Bancos são como os chapéus na altura do Vasco Santana: há muitos! E não quero algo feito na China em estilo de contrabando, quando posso comprar o nacional, que é bom!


A generosidade da doação

Noutro dia, á semelhança do que fazem quase todos os portugueses nesta altura do ano, andei a ver montras num grande centro comercial. É então que sou barrada por uma senhora antes mesmo de sair do interior de uma loja. Aborda-me, quase como que me cerca. Quer algo de mim. Escuto-a sem ser indelicada, mas quando dou a conhecer a minha falta de disponibilidade para ali ficar, ela insiste. Explica-me que está a angariar contributos para duas associações de ajuda a pessoas e crianças necessitadas e que me basta comprar uns lápis de cor ou uns cadernos de desenhos para contribuir. Volto a dizer-lhe que naquele momento não dá. Quero ir embora, sem lhe virar as costas, mas ela não dá a conversa por interrompida e insiste. Acabo por lhe confessar coisas da minha vida que não tinha nada que saber. Entre explicar-lhe que considero esta a pior altura do ano para solicitar contributos monetários, até lhe dizer que sou abordada várias vezes por dia por pessoas com a mesma intenção, até lhe confessar que não tenho dinheiro para disponibilizar a ninguém, nem mesmo os 5 euros que ela tão insistentemente afirmou não ser nada. É que, para muitas pessoas, 5 euros é muito. E é isso que não entendem.
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O processo de doações organizado pelas entidades, está muito burocratizado e incorrecto, para prejuízo de quem necessita de ajuda. Se antes pediam qualquer contribuição, carregando uma caixinha pendurada ao pescoço, com uma ranhura para a entrada de moedas ou notas, hoje já não é assim. Fazem como o MacDonalds: têm um produto de plástico qualquer, sem interesse ou valor, contribuindo para o aumento de produtos inúteis destinados ao lixo, e pedem uma quantia FIXA de contribuição. A GENEROSIDADE alhei tem, agora, de responder a uma TABELA.
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Mesmo que quisesse deixar ali 0.50 cêntimos, para ajudar, não podia. Tinha que disponibilizar o valor por eles afixado, imposto e representado pela presença daqueles artigos inúteis. Mas esse valor, meus caros, é ELEVADO para mim. E concerteza, é também este o caso de muitos. Sei que alguns dizem ou pensam que 5 euros «não é nada». Como disse a senhora, é tão «pouco», que já não dão para comprar leite e pão. Pois é. Pode não dar. E o problema é mesmo esse. A moeda desvalorizou, mas os salários não aumentaram. Pelo que, esses 5 euros podem não fazer diferença a alguns (sortudos...) mas a outros, representa uma ou duas refeições que deixam de fazer, ou um outro bilhete de transporte que não compra e vai a pé, ou mais um acréscimo a uma dívida...
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As instituições entraram no mercado capitalista. Associam-se a grandes grupos económicos para, na compra de Cds que não interessam a ninguém, vender. E só se pensa em lucro. Estes grupos económicos, são os primeiros a ganhar (e bem). Em troca de um cd da "Leopoldina" ou da "Hipopotama" ou outro animal qualquer, o valor que é dado não reverte a 100% para a instituição. Há a comissão, à unidade, para a entidade que cede o espaço, para a entidade que faz o cd, para a entidade que distribuí o cd... e isto é outro aspecto que não me agrada. Andar a enriquecer AINDA MAIS os que já são ricos. E estes, desculpem mas é assim que penso, APROVEITAM-SE da NECESSIDADE dos carentes/doentes par LUCRAR em cima disso. Que generosidade!
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Para quê vou eu comprar um cd por 3 euros? Prefiro dar os 3 euros directamente a quem deles precise. Será que me faço entender?
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É claro que, tem o lado da comodidade e da invisibilidade. Comprar um cd num supermercado, não te dá trabalho, não te obriga a deslocar a nenhum lugar, e aumenta a percentagem de pessoas que fazem donativos, visto que, muitas vezes, o dia-a-dia, a rotina, não nos faz ir bater á porta de instituições de caridade com facilidade. Sim, são estas que têm de vir nos abordar. Mas CALMA!...
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Ou tenham atenção ao escalão-tipo de pessoa que querem abordar. Concerteza, grande parte daqueles que podem dar 5 ou mais euros sem grandes preocupações, rapidamente esticam o braço para alcançar num expositor um cd. E de grão a grão, enche assim a galinha o papo. Mas também se aplica o mesmo conceito à doação tradicional. Que o digam aqueles que pedem no metro. Invisuais (ou não), crianças que tocam um instrumento musical ou não, que entram de carruagem em carruagem a solicitar ajuda monetária e, em apenas uma hora, amealham várias moedinhas que, de carruagem em carruagem, só fazem é barulho ao cair.
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Sou uma pessoa generosa. Pelo menos assim me considero. Não faço tudo o que posso pelos outros (ninguém faz), mas também não faço parte dos muitos que aí andam que só pensam em si mesmos. Já fiquei com fome para que outras pessoas pudessem comer. Já dei a uma idosa na rua, a última nota que guardava no bolso e estava desempregada e sem dinheiro. Não que isto me faça sentir especial, mas cá está: vejo a carência, é palpável, sei (ou penso que sei) que, pelo menos naquele dia, aquela pessoa tem como comer alguma coisa ou comprar um medicamento. Posso ser enganada - acho até que já fui, num caso de uma pessoa que me veio bater à porta com uma história muito triste envolvendo um filho e há qual dei todo o dinheiro que consegui colocar de lado para comprar os presentes de natal. Provavelmente, serviram para comprar droga. Ou talvez não. É um risco que se corre neste tipo de doação. Mas é um risco como outro qualquer.
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Nesse dia em que fui ao centro comercial, as abordagens para contribuir com dinheiro para alguma coisa não cessaram de surgir. Caminho depressa, porque sempre tenho pressa para chegar rapidamente a algum lugar, e faço-o a pé ou de transportes. Mesmo assim, ainda conseguem abordar-me. Logo que saí desse centro comercial, uma rapariga coloca-me nas mãos um almanaque, preparando-se de seguida para me cobrar o valor do custo. Devolvo-lhe o papel e continuo a caminhada. Aí o telemóvel, que está há um mês sem dinheiro, dá aviso que recebi uma mensagem. Vou ver: é a empresa de telemóvel a solicitar um SMS para doar dinheiro há UNICEF. Chego ao local de trabalho, e tenho mais uma meia dúzia de outras instituições e associações a solicitar donativos para algo: crianças com paralesia cerebral, ajuda de mãe, mulheres com cancro da mamã, jovens grávidas adolescentes etc...
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E penso: será que toda esta MASSIFIDADE e exagero, aliada há abordagem por vezes invasiva para conduzir o indivíduo à doação, não vai ser um tiro que faz ricochete?
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Isto é como tudo: quando é demais, deixa de ser ver. Torna-se invisível. E um dia, quando se falar de todos estes males que afligem tanta gente, não se pensa mais nas pessoas, nem na dor e no sofrimento. Só no incómodo que é ser sempreabordado com pedidos de donativos em valores fixos de dinheiro, para tudo e mais alguma coisa. De facto, se formos a dar a todos, não nos sobraria muito para aguentar um mês... nem uns dias.
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Gosto de dar. Mas ao meu ritmo, sem assédio ou pressão. Gosto de dar o que tenho, talvez até um pouco do que não tenho mas não faz mal... gosto de dar novo uso ás coisas, gosto de reciclar, gosto de dar de mim a quem precisa. Existem muitas formas de dar.