quinta-feira, 31 de março de 2016

Educação nos pés


Hoje o meu despertador foi o salto alto da vizinha. Toc-toc-toc, para lá, toc-toc-toc para cá, durante cinco minutos, dez, vinte, meia-hora...  Despertei algo mal humorada.

Agora volto a escutar o mesmo toc-toc-toc. Toc-toc-toc, para lá, toc-toc-toc para cá, um ruído que dura faz uma hora e meia é ocasionalmente acompanhado do arrastar de móveis. Os toc-toc-toc que têm o mesmo som de martelos, desconcentram-me de tal forma que preciso de sucessivas tentativas para terminar de elaborar o raciocínio de uma frase. 

Gostava de poder negar isto, mas não posso. Ao longo do tempo os meus nervos ficaram afetados. Não sou mais a mesma pessoa, que se mantinha tranquila e conseguia ignorar. Aos poucos os abusos dos vizinhos têm tomado parte dos meus males.

A forma como fui educada enquanto estava a crescer vem sempre à mente. Não fazer ruído foi sem dúvida um ensinamento que me passaram. Em especial à noite ou então bem cedo de manhã. Excepções feitas para ocasiões especiais, em horários normais. Afinal, todos conseguem entender barulho de uma festa de aniversário, palmas, parabéns... Mas não é desses ruídos saudáveis e normais que falo.

Não entendo como alguém pode gostar de ter nos pés dois palitos de pau. Assim que entro em casa o que faço é descalçar-me. E venham os chinelos de borracha! Sapatilhas, ténis... o que for. Silencio e conforto. Ainda que não me incomodem, se fizerem  barulho contra o soalho, o instinto é tirar. Quando tenho miúdos em casa, eles podem brincar e fazer o que quiserem, mas tomando atenção ao ruído. É-lhes explicado para não gritar para não incomodar, ou porque já é tarde ou simplesmente, porque estão a fazer barulho. Sei que não é fácil com crianças mas os ensinamentos estão lá. E sabe bem quando uma vira-se para nós e ao nos ouvir falar um pouco mais alto, diz: "Shiu. Fala baixo estás a fazer barulho".

É sinal de que aprendeu :)


13 comentários:

  1. Tão mazinha que 'vomecê' é :)

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    1. ??? Mazinha? Se fosse retribuia com terror durante a madrugada, que passo a maior parte das vezes desperta. Observador, explique-se :)

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  2. Esse é um dos problemas de viver num apartamento. É que por mais educação que tenhamos e façamos de tudo para não chatear os vizinhos, eles não se comportam assim :(

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    1. Pois é Ana, eu estou sempre a tecer elogios à vida num apartamento. Até parece que o destino quer me morder o traseiro por causa disso :)

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  3. Felizmente, neste momento não tenho vizinhos em cima nem em baixo.

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    1. Por breves momentos também vivi nessa felicidade. E claro que, isso permitiu que se fizesse um pouco de ruido sem preocupação. O engraçado é que assim que a situação mudou, o comportamento também. Voltou-se depressa ao que me foi ensinado e é ensinamento que passo também aos meus. Adoro sossego e silêncio. Se não gosto de escutar os meus próprios pés a bater no chão o martelo dos outros incomoda mais ainda. E olhe que para se escutar como se escutam, dentro da casa de onde o som vem aquilo deve ser constrangedor!!

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  4. Em tempos tive uma vizinha que até os chinelos eram de salto alto. De dia ou de noite, era sempre um batuque no tecto. Depois tive outra que quando fazia amor todo o quarteirão sabia. Era de tal forma, que embora morando por cima de mim no lado direito, os vizinhos do lado esquerdo estavam sempre a queixar-se do barulho.
    Agora estão lá uns que não incomodam ninguém.
    Um abraço

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    1. Mas enquanto tiveram de lidar com os barulhentos, chegaram a algum consenso ou simplesmente recorreram a comprimidos para dormir, a tampões nos ouvidos e tiveram de suportar?
      Não é fácil. Sei que não sou perfeita mas no requisito ruído acho que não incomodo os outros, pois fui educada a ter muito presente o quanto é chato incomodar os outros e mesmo produzir ruído.
      Foi quase como se estivesse na tropa ahahaa (exagero).

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  5. Onde eu vivo por vezes costumo ouvir vozes quando estou na casa de banho. Vozes doutras pessoas, doutros lugares, vindas sabe-se lá de onde. Será que eu já estou... a ficar paranóico? :)

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    1. Não, não estás a ficar paranóico nem a tua casa está infestada de fantasmas ou espíritos, rsss!

      O WC é o lugar com maior conectividade com o exterior, devido à coluna de ar. Eu costumava escutar conversas que se passavam na rua! E morava num 6º andar... Também o vizinho do lado não escondia segredos... O que me fez perceber que os meus também podiam estar a ser partilhados e daí, passar a ser mais silenciosa. Passei a fechar a conduta de ar, just in case :)

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  6. Como eu te entendo! A tua descrição parece corresponder à minha vizinha do andar de cima... eu chamo-lhe a "Arrastadeira" porque passava a vida arrastar coisas! E anda quilómetros dentro de casa em cima de tamancas... não pára sossegada! É uma nova-rica, tem dinheiro mas falta-lhe o principal: EDUCAÇÃO!

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    1. Oh Gata, como também entendo essa de andar quilómetros dentro de casa. É isso que mais me impressiona pois por mais que tente entender não consigo perceber o que é que se tem de fazer para estar sempre a andar de um lado para o outro, em passos que nem sempre são passos, parece que dançam ou assim, porque os Toc-toc não cessam, nem sempre são ritmados. Já tentei fazer igual e não consigo, é impossível reproduzir. Não faço ideia o que fazem, fico a imaginar o que tanto têm de fazer durante 3h a andar de um lado para o outro. É que mesmo na cozinha, às tantas uma pessoa fica por um instante parada. Em algum momento senta-se. Parece-me que gostam de correr a maratona em saltos altos dentro de casa.

      Culpo o automóvel também por isso sabes? É que tenho reparado que os vizinhos mais barulhentos não se deslocam em transportes públicos. Logo, quase nunca dão às pernas. Quando chegam a casa... apetece-lhes andar, claro! E de saltos.

      Uma situação que se resolveria rapido, rápido, se fossem como todos os que andam a pé e de transportes! Aí era ver se não gostariam de ténis ou sapatilhas bem confortáveis nos pés e de sentar um pouco, ahahah!

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  7. Eu culpo a confusão entre "liberdade" e "libertinagem"... As pessoas podem - e devem! - viver em liberdade MAS a tua acaba onde a minha começa (e vice versa). As pessoas são muitooo rápidas a falar nos seus direitos mas esquecem os seus deveres... Como diria o Prince: "sign o'the times"!

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