segunda-feira, 4 de março de 2019

Aprender a ser MALEVOLA Ahahahah!


Há uma coisa que nunca aprendi: ser malévola.
Saber manipular as situações e ser oportunista.
Mas gostava de aprender.

Acho que um pouco de know how nestas artes ia trazer algo de bom.
É que por vezes, a minha ingenuidade espanta-me.
Já não tenho idade para ser tão idiota.
E dou por mim a ser.



Dito isto, hoje vejo a rapariga-amiga a passar pela sala, banho tomado, toalha na cabeça, enquanto eu estou a comer uma sopa que aqueci no microondas. Passadas umas horas, a casa está toda pestilenta com o cheiro forte de cozinhados. É quando volto à cozinha. Quero preparar algo para comer enquanto todos já a usaram e a tenho disponível, não ando a alimentar-me bem. Sei que todos saíram, porque só cá estava a rapariga "emprestada" e o rapaz. Que foi trabalhar. Desci e deparei-me com duas italianas na cozinha. Duplicam-se. Estavam a lavar a louça que usaram para comer. DUAS. Não uma... duas. A mesma que cá esteve ontem. 

Mas será que dormiu cá?

Não pude mais avançar com os meus planos, pois precisava de usar a torneira e tive de esperar que elas terminassem. Isto tudo sempre com elas a falar entre si, em italiano e eu ali, a remexer na minha gaveta de congelados, à procura de algo nutritivo que fosse rápido de fazer. Eu é que parecia ser a sobresselente. Está SOL na cozinha. O tempo está horrível e o sol aparece pouco. Apeteceu-me ficar por ali. Olhei para a sala, espreitei a televisão. Continuava acesa com a imagem pausada no menu com os picks de vários episódios de uma série. Ponderei se podia usar a TV. E depois percebi...  para todos os efeitos... esta é a casa onde moro. Supostamente TODOS os meus colegas estão ausentes. E nem assim tenho a TV disponível? 

Foi quando reparei que uma estava com o comando na mão, bem sentada no sofá em frente ao televisor. Ficou claro que iam ficar ali a ver episódios da tal série. 

Sem ser pelo sol, nem me apetecia muito ficar. Mas aquela «apropriação» do espaço, o não poder estar sozinha em casa quando todos estão fora, esta hóspede que traz outra para se entreter, que encontro pela casa sempre a comer, em horários em que tantos estão nos seus empregos... subitamente tudo isto pareceu-me de mau tom. 

Fazem-me sentir má pessoa. E eu sei que não sou. Gosto de ajudar o próximo. Teria gosto em as integrar. Mas não consigo digerir estas novas formas de sociabilizar. Chegam e não são sequer apresentadas, não se apresentam, não puxam conversa com quem cá mora e não conhecem, nem sequer perguntam onde meter um prato, um copo... enquanto usam os utensílios da casa. Usufruem do espaço na boa, batem com as portas ao ponto de ser irritante, dão gargalhadas atrás de gargalhadas. Nada de cerimónias. 

Bem sei que a casa é toda italiana e que as duas, sendo italianas, devem ter deduzido que iam ficar na casa de italianos. Como eles mesmos tanta vez o disseram: "Esta é uma casa de italianos". Mas eu existo... também estou aqui. Caramba!  

O que fiz de seguida não devia ter feito. Digo que não devia, porque acho que foi um indicativo. De telemóvel em riste, fui aos interruptores verificar se as lâmpadas da sala se mantinham avariadas. É que, tirando as do teto, as das paredes subitamente deixaram de ligar. Isto já faz algum tempo. 

Nós temos um senhorio que, felizmente, gosta de ser avisado quando algo nao está bem. Mas ninguém lhe disse nada. Talvez para não o ter por perto. Agora que a vida dele ficou mais ocupada, a verdade é que deixou de aparecer quase diariamente, como fazia.

E com isso, notou-se que certos hábitos que mantínhamos por causa da sua vigilância, decaíram. Como por exemplo, o de desligar a tomada do televisor. É um requisito dele: ele não quer o aparelho em stand-by. Quê-lo sempre desligado. A porta do chuveiro também se soltou e está mal encaixada. Aos poucos, a casa começa a acumular avarias e isso nunca é bom.

Depois fiz aquilo que queria fazer desde que notei o problema na electricidade: avisei o senhorio da avaria, para que ele pudesse verificar o que se passa. Não sabendo quando ia aparecer. Ele tem os seus compromissos e já não está a morar perto. Só o alertei.

Como eu gostaria que ele apanhasse estas situações em flagrante! Como é que ele ia agir, caso visse duas estranhas dentro da sua casa, a lavar a louça, à vontade e de pantufas?? COMO é que ele ia agir se as visse sentadinhas no sofá a ver televisão? Sozinhas, desacompanhadas de quem cá mora?

E é por isto que eu digo que devia aprender a ser MALÉVOLA.
Um pouco de tudo na dose certa não faz mal a ninguém...

Podia ter planeado isto. Tentado atrair o senhorio para o flagrante. Duvido muito que ele esteja a par da situação da "hóspede". 

Ele acabou por aparecer dali a minutos. Mas nessa altura, as duas até parece que foram alertadas. Subitamente enfiaram-se no quarto e, ao contrário do comportamento dos outros dias, ficaram em silêncio. Nada de horas de risadas e portas a abrir e fechar. Que aliás, é o som que escuto delas agora. Depois de sossegadas lá devem ter percebido que já podem estar à vontade.

Sou uma idiota.
A frase acima de facto confirmou-me isso.

Mas nunca se sabe se um dia conseguirei ser malévola.
É preciso ser-se idiota para se entender os benefícios na dose certa de certas atitudes tidas como menos adequadas. É que de atitudes e comportamentos bons entendo eu. E a frase acima está correta. Pessoas muito boazinhas são idiotas. 

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Actualização:
De noite uma colega deixou uma mensagem no chat a dizer que alguém estava a usar a sua gaveta de congelados e ela precisava do espaço. Por isso ia deixar embalagens de carnes, feijão verde, batatas para fritar e batatas para assar na bancada. Não sabia de quem eram. Como nas primeiras semanas ela não usou a sua gaveta e eu precisava de espaço, pedi-lhe se uma comida que tinha podia permanecer ali e ela consentiu. Não quis que pensasse que desde então não as tirei como prometido e continuei a colocar lá mantimentos. Pelo que respondi-lhe que não tinha lá mais nada.

Só tive tempo de escrever isso e logo escutei vozes femininas jovens a dialogar com a dela. Só então ocorreu-me que pode ter sido a "hóspede" a meter as coisas lá. Ao ouvir a comoção, lembrei-me de colocar a possibilidade no chat. E escrevi: Pode ter sido a nova rapariga. Talvez o rapaz tenha espaço livre na sua gaveta. (para as coisas não ficarem na bancada a estragar). Espaço de congelador é o que menos há na casa. Sempre foi do que me queixei. É pouco para os que cá estão, está tudo cheio. E vem para cá viver de favor uma miúda (ou duas, já nem sei) e... compra congelados para os ir consumindo quando lhe apetecer? Mas quanto tempo pretende cá ficar? Um mês??

Lembro-me que fiquei cinco dias a viver na primeira casa a "favor", embora a contribuir para as despesas. Mas fiz questão de dizer que só ia puxar o autoclismo, de resto não ia cozinhar nem lavar roupa. Só precisava de internet e do sofá, onde dormi até o meu quarto ficar vazio.

Enquanto não ocupei o quarto não usufrui do espaço como normalmente. Na hora do almoço, saía de casa para deixar os restantes à vontade. Comi sempre saladas do supermercado, na rua. Não cozinhei, só tomei dois duches... pedindo permissão e dizendo que ia ser rápida.

Sou tão diferente que não sei... Muita vez duvido de mim mesma - outra coisa que tenho de aprender a equilibrar. Uma pessoa põe em dúvida os valores que lhe foram transmitidos como corretos para aquela circunstância.

Mas quando coisas destas acontecem é que percebo que não estou errada nas minhas presunções.

Cá está o que disse acima... se as raparigas tivessem dialogado, se comportado normalmente numa casa onde estão de favor, não dava em merda. Estão a usar o espaço como se fosse delas, sem cerimónias, sem perguntar onde colocar um prato... fica mal. Dá problema.


Mas a "malévola" não soube entrar em acção. Ia para deixar escrito "talvez tenham sido as miúdas que estão no quarto da P" - o que deixaria explícito a presença de hóspedes.

Não escrevi assim. Não especifiquei.
Ainda tenho muito a aprender ahah.




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