sábado, 2 de março de 2019

Uma história real de sábado de manhã


Não preciso de sair de casa para procurar entretenimento. Da janela do meu quarto vejo filmes. O de hoje, foi uma história sobre a custódia de um filho e os dias de visita.

Já se tinham passado mais de 10 minutos e o motor de um veículo ainda roncava à porta. O som a entrar pelo quarto, incomodando a leitura do livro que me estava a proporcionar tanto gosto. Os automóveis não têm razões para pararem aqui. Ou estacionam ou vão embora. A curiosidade e o incómodo fez-me levantar o rosto do livro e espreitar na janela. Uma camioneta de caixa aberta estava parada à frente da porta da casa, com o motor a roncar ruidosamente.


Não menos de três segundos, surge um automóvel renault, que abruptamente estaciona à frente. 

Mas que é isto? Pensei. Nem se pode estacionar ali. 

Tão depressa como o veículo estacionou e travou, a porta do condutor entre-abriu-se e a voz de uma mulher gritou do interior. A voz de um homem respondeu. E nesse mesmo segundo "materializou-se" o indivíduo, caminhando até a frente do seu veículo, respondendo algo à mulher que permaneceu no interior do carro.

Trocam poucas e cautelosas palavras que sinto que é ela a querer saber algo em tom algo repreensivo e ele a responder. Ele atravessa a frente do seu veículo e abre a porta do lado do passageiro. Que aqui em inglaterra, como se sabe, é a do lado esquerdo. Depois de uns segundos, caminha até a porta do passageiro do automóvel onde está a mulher. Retira um saco, outro saco, puxa o assento da frente para a dianteira e enfia metade do seu corpo na traseira do automóvel. Segundos depois sai de lá a segurar uma criança.

Transporta-a para a carrinha e coloca-a na cadeirinha colocada no assento de passageiro.

A mulher então sai do carro. É loura, cabelos esticados, longos. Bem cuidada, boa aparência, jovem. Mas tem na atitude algo de insatisfação. O homem veste um blazer azul claro, com barrete, tem o cabelo louro e curto e um rosto cheio de sulcos, que o faz parecer bem mais velho que a mulher.

Ela, num carrinho novo e brilhante, ele, numa camioneta de serviço, de caixa aberta e com pedaços de troncos de árvore como carga.

Entre os dois sente-se algum incómodo. Mal se aproximam um do outro. Ela aguardou que ele se dirigisse ao automóvel e fosse buscar a criança. Não lha entregou. Ele foi buscá-la e só depois é que a mulher, perguntando se ele tem fraldas e remexendo numa malinha vermelha e branca, consegue atrair as atenções do homem. Que caminha até ela. com as mãos nos bolsos. Mas logo regressa à carrinha. É a vez de ser ela a ir ter com ele. Talvez para verificar a criança ou despedir-se? Não dá para ver, o arbusto tapa a percepção. Ela regressa ao carro dela, tira o que parece ser uns doces, e volta para os entregar na carrinha. A coisa é rápida. Se algum deles gostava de ter uma reaproximação, nota-se que muita coisa má já rolou entre eles. É paupável um mau estar, uma cordialidade forçada e desejada curta para não azedar. Tensão, um olhar na mulher, um gesto a criticar, a postura do homem. De outro modo... como explicar a entrega de uma criança ao pai, num sábado de manhã, em plena estrada?

E é assim que "vejo filmes" da vida real, ehehe.
Os seus sons estão sempre a "tocar" à janela.
Tudo se desenrola à entrada da porta de casa. 

Isto não é surreal?


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