sexta-feira, 1 de março de 2019

Lições da vida aprendem-se tarde


Durante grande parte do início da minha atividade profissional, era a que tinha o CV mais completo e diversificado, cheio de qualificações e experiências que iam muito além do que quer que fosse a que me candidatasse. 

E isso por vezes, era o que me excluía de uma candidatura: "tem qualificações a mais, com isto você pode arranjar melhor".

Agora dou por mim a querer um emprego num escritório - algo simples, como introduzir dados num sistema operativo, talvez atender umas chamadas... e, nada.

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Durante o início da minha atividade profissional, na maioria das oportunidade que tive (estágios), fui encontrar pessoas que não tinham estudado ou adquirido especiais qualificações para exercerem a actividade onde se encontravam. Estavam, claramente, a trabalhar em algo muito acima dos seus estudos. Faltava-lhes a base, aquele conhecimento e entendimento do todo. Sabiam fazer aquilo que era preciso fazer, e pronto. 

Sem perceber, para essas pessoas fui, muitas vezes, considerada uma ameaça.

Nesse tempo - no meu caso, o conhecimento era visto como uma ameaça. Não para todos, mas grande parte dos colegas, que se sentiam ameaçados pela "vaga" de estudantes universitários qualificados que iam ali bater à porta à procura de emprego, podendo ameaçar a posição deles, que estavam ali há uns anos mas sem qualificações. Aquele que aparecesse com capacidade virava um alvo. Como se ameaçasse os que já lá estavam. E assim existia um lobby

Se uns achavam positivo incluir na equipa alguém com mais qualificações - outros detestavam a perspectiva. Então testavam a jovem, a ver se, pelo menos, era uma "delas". Se falar mal da vida alheia fosse algo que demonstrasse fazer com naturalidade, ficava bem vista. Se me queixasse do trabalho ininterruptamente e do mau salário, ao menos era uma "boa" colega. Só que, como estagiária, nem salário recebia, pelo que fazia o que fazia com imenso gosto. O que também não lhes agradava. Numa ocasião em particular da minha vida, cansei de ouvir tanto mal dizer. E quando me pediam para participar, respondia que não sabia - porque realmente não sabia NADA da vida alheia. E opinar sobre a mesma era algo que não ia mais além do: "Ah, não sabia." ou "isso é boato". - o que deixava uma das colegas em particular furiosa. Uma que foi ali parar por cunhas, cuja formação nada mas nada tinha a ver com a profissão.


Porém ela exercia com uma certa falta de mestria uma prática que costuma ser infalível: lançava charme a tudo o que era homem (ou mulher) numa posição acima da sua. 


Um belo dia no refeitório, um desses homens dirige-se à nossa mesa e põe-se a falar com ela. Mais uma vez estranho... a falha dela em ter aquela cortesia de fazer as apresentações. Se bem que eu estava a comer. E como não era nada comigo, continuei, deixando o casal a conversar. Mas o homem olhava-me e ele mesmo apresentou-se. Cumprimentei-o, respondi a uma pergunta que me fez com a simpatia que a situação demandava e não fui mais além. 


No momento seguinte a ele se afastar, ela disse-me que eu tinha sido muito rude com o "fulano" x, que era uma pessoa "importante" porque mal lhe falei. E que ela sentiu-se mal e eu tinha-a super-envergonhado. Dali a dias, a versão já estava no "eu ter-me atirado a ele".


Não fiquei até ao fim deste estágio. Por causa das maledicência dela, que já tinha recrutado seguidores.

FIZ MAL.

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Mas o que vim aqui escrever é que a vida está cheia de ironias. Se no início da minha vida profissional percebi que aquele era um meio onde quase todos tinham ido parar por acaso e sem qualificações - sendo eu das poucas da primeira ou segunda geração saída da universidade com ampla formação e estudo, agora dou por mim a tentar executar uma função que não exerci nestes anos e não me abrem as portas. Preferem os currículos com experiência recente. 

Oh, ironia!

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